segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sonhos de uma Noite de Verão

Já passei por essa fase antes: é verão, faz calor em Porto Alegre, e do ônibus que me leva para o estágio, vejo as propagandas da Coca-Cola falando sobre como as férias são a época mais fodástica da vida. Quando olho TV, vejo pessoas sendo felizes à beira do mar. Quando abro o Facebook, vejo que meus amigos criaram álbuns cheios de fotos ensolaradas e com títulos do tipo "Bombinhas", "Sol e Mar", "Felicidade." E tudo isso junto me deixa com vontade de ir pra praia.

Mas não é qualquer praia - quero ir para aquela que satisfará todos os meus desejos, desde a simples vontade de descansar, até coisas mais sutis, como sentir o cheiro de comida que pairava pelo ar quando eu costumava ficar dois meses inteiros na casa de praia da minha avó. Começo a fazer planos, e percebo que todos eles dependem de fatores que fogem ao meu controle: a atmosfera, o tempo, meu dinheiro, as outras pessoas. Sim, quero ir para a praia, mas não é qualquer praia: tem que ser uma que tenha gente conhecida, festas legais e um mar azul e tranquilo. A partir desse ponto em diante, os planos se tornam fantasias escrachadas, e me vejo vivendo as mais loucas aventuras e paixões nas areias de Atlântida, Tramandaí ou Florianópolis.

No início do ano passado, comecei um dos meus textos falando justamente sobre esse mesmo sentimento. A propaganda da Pepsi que diziam que o verão "pode ser bom" me faziam pensar em velhos amores tomando banho de sol na praia, apenas esperando algum acontecimento repentino e inesperado, algo que mudaria tudo para sempre. E esse acontecimento era eu, o único indivíduo usando roupas por que acabara de chegar ali de algum jeito muito insólito e original, caminhando despreocupado à beira do mar, com os sapatos jogados às costas e uma cara de que "sim, eu sou o que você quer." Como os seres humanos somos seres profundamente repetitivos, estou tendo as mesmas fantasias neste exato momento.



Por que ainda tenho essas fantasias? Acho que elas persistem por que não foram satisfeitas. Talvez todo sonho seja uma realidade querendo acontecer, e as minhas, desde o ano passado, estão enchendo o meu saco, ansiando por deixarem de ser meras produções imaginárias para se tornarem realidades e, então, memórias de um verão feliz. Elas, tanto quanto eu, depois de tanto tempo alimentadas por "Malhação", novelas baratas e pedaços de conversas ociosas que tive ou ouvi por aí, querem um novo amor, intenso, profundo, que seja maior e mais bonito que todas essas coisas cinzas, inúteis e irritantes que povoam a vida humana. Queremos algo transcendental, algo além do mundano, extraordinário, mas estou aqui, acompanhado apenas de meus delírios, esperando que esse algo mágico aconteça. Ano passado, eu sentei, esperei e me frustrei.

Será que esse ano pode ser diferente? Será que estou pedindo demais? Se eu levantar minha bunda nem tão gorda assim da cadeira e for pedir carona na FreeWay e der um jeito de chegar ao litoral, eu vou ter meus desejos realizados? Queria dizer que sim, e que o meu sonho de uma noite de verão está logo ali, esperando por mim em Cidreira, Pinhal ou (Deus me livre!) Magistério, para abalar as fundações de minha vida e me transformar em outro homem, mais realizado e completo por ter ao meu lado minha alma gêmea. Sim, queria muito dizer isso, e queria muito continuar acreditando que isso é realmente possível. Porém, como deve dar para imaginar, perdi minha fé nessa idéia, do mesmo jeito que um dia eu dolorosamente deixei de acreditar no Papai Noel.

Buscar, buscar e buscar para nunca, nunca e nunca encontrar! E quanto mais nos frustramos, mais ferozes nos tornamos em procurar a porção de felicidade, de amor e paixão que há guardada para nós em algum canto deste planeta. Esse canto, cabe dizer, é variável - durante o verão, é na praia. Durante o inverno, é em alguma pousada em Gramado ou Canela. Durante o cursinho, é na faculdade. Durante a faculdade, é no trabalho ou no mestrado. Nunca ela está onde acreditamos, e quando pensamos que a encontramos, ela de algum jeito some ou muda tanto que não é mais aquilo que queríamos e chegamos a ter.

Esses pensamentos já me desesperaram. Ontem mesmo, aliás. "Será que vai ser sempre assim? Eu mereço toda essa injustiça?" me perguntei várias vezes, sem conseguir encontrar uma resposta que harmonizasse as coisas como são com as coisas como eu quero. Mas não hoje. Hoje vejo algo de forma muito mais clara do que ontem. Tenho comigo o conhecimento duramente adquirido de que a felicidade não é "lá", em lugar abstrato, nem "então", num tempo impreciso e fugídio, mas aqui e agora, onde eu estou, onde sempre estou. Quando parei de procurar em outras praias, e contemplei a mim mesmo é que eu vi que já tinha tudo o que precisava. Não preciso encontrar uma paixão avassaladora e incrível, nem andar com os sapatos jogados às costas para provar alguma coisa. Tudo que eu preciso eu tenho já, comigo, em meu Ser. E apenas por saber disto, todas as outras necessidades, desejos e vontades que eu tinha se tornam velas diante do sol. E é quando me lembro e sei disso que sou realmente feliz.