terça-feira, 7 de junho de 2011

Descobertas Psicológicas Através da Neurologia

Em algum de seus livros, Maslow falou que o processo científico envolve muito amor, pois o pesquisador precisa amar seu tema de pesquisa para poder estudá-lo. Caso contrário, por que perder tempo com bobagens? Nesse mesmo livro, ele também falou de como, durante sua tese de doutorado, ele olhava com carinho para os chimpanzés que ele estava estudando, e como ele gostava de observá-los.

Depois de duas semanas estudando a obscura patologia chamada neuroacantocitose, começo a identificar em mim mesmo este afeto de que Maslow falava. É uma coisa sutil, que se manifesta das maneiras mais bobas, como ler o título de um artigo e já imaginar sobre o que ele irá falar; olhar as referências e ver os mesmos títulos de sempre; decorar os termos mais complicados (como "herança genética autossômica recessiva"), apenas para mostrar que eu andei estudando; olhar os nomes dos autores dos textos mais citados e considerá-los como velhos amigos - sou praticamente "faixa" do Adrian Danek nessas alturas do campeonato, que, pelo grande número de artigos publicados sobre o assunto, me leva a crer que é o maior entendido do mundo em síndromes neuroacantocitosas. É um superlativo bastante limitado (afinal de contas, quantas pessoas estudam neuroacantocitose no mundo, além dele e de mim?), mas mesmo assim, só consigo pensar no Danek com respeito, por que graças à ele, tive a oportunidade de aprender bastante sobre neurologia.

Por que, sim, estou aprendendo bastante sobre uma nova ciência. Na maioria dos casos, não entendo boa parte do que está escrito nos artigos (creatinofosfoquinase? O que é isso?). Porém, com cada artigo que leio, novas informações são adquiridas, e as antigas são ressignificadas (creatinofosfoquinase, por exemplo, é uma enzima cuja quantidade na corrente sangüínea é utilizada como critério diagnóstico para as neuroacantocitoses). E isso é muito divertido.

domingo, 5 de junho de 2011

Breve comentário sobre uma revisão bibliográfica

Por causa de uma série de fatores, acabei tendo que fazer uma revisão bibliográfica sobre neuroacantocitose, uma doença neurodegenerativa rara pra caramba, que afeta uma em cada sei lá quantos milhões de pessoas. É tão raro que eu quase só tenho encontrado estudos de caso bastante pontuais a respeito, como "neuroacantocitose tratada com carbamazepina" ou "neuroacantocitose e sintomas de depressão".

Porém, o mais engraçado, e o que me fez escrever um texto aqui, é a grande quantidade de estudos de caso indianos que eu encontrei. Apesar de eu ter que fazer um certo esforço para não ler nenhum desses artigos em voz alta imitando um sotaque estereoticamente indiano, sou obrigado a reconhecer que os artigos são de muito boa qualidade.

Outra coisa que essa pesquisa me fez perceber: eu gosto de estudos de caso, muito mais do que estudos de larga escala. Parece que, por se focar em apenas uma pessoa, há mais espaço para detalhes, e para descrever o processo por trás daquele paciente, daquela história. Fico pensando se não deveria fazer um estudo de caso como trabalho de conclusão de curso.