quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mochilas, bolsas e outras porcarias que carregam porcarias

Depois de ler o post da Vane sobre como ela prefere mochilas a bolsas femininas, resolvi escrever um texto sobre isso também. Não por que eu não goste de usar bolsas, mas por que tenho o que dizer sobre mochilas, considerando todos os anos de experiência usando diversos tipos de modelos.

Como disse, já usei muitos e muitos tipos de mochilas, inclusive alguns que seriam mais adequadamente classificados como bolsas. As mais clássicas são aquelas que a gente usa para ir pra escola quando pequenos: coloridas, cheias de compartimentos para coisas pequenas e grandes, com um desenho da Mônica e do Cebolinha na parte da frente. A maneira de carregá-las variava conforme a época. Quando eu entrei na primeira série do fundamental, não havia muita frescura: bota no lombo e leva todas as tuas porcarias pra aula. Ou, para ser mais exato, passa as tuas porcarias pros teus pais carregarem, e vai correndo pro pátio brincar com os coleguinhas. Depois, lá pela terceira ou quarta série, começou a moda de mochilas com rodinhas. A explicação por trás delas é que carregar mochilas pesadas nas costas prejudicava o desenvolvimento postural dos pimpolhos, e portanto, levar os materiais escolares em um carrinho de mão seria muito mais saudável. Pessoalmente, eu acho que isso foi invenção de pais cansados de
 carregarem as tranqueiras pelos filhos, que queriam um jeito de não ter que carregar cadernos, livros, lápis e canetinhas (em sua maioria inúteis, por que só usávamos as canetinhas para colorir), ou sofrer menos na hora de carregar.

Não lembro quando parei de usar "mochilas de carrinho", mas lembro que voltei a usar mochilas de botar nos ombros, como também tive um flerte rápido com bolsas do "tipo carteiro". Ela é usada em um só ombro, com uma alça relativamente grande, e, apesar de ser chamada de "bolsa", ela não é feminina. Aliás, ela pode ser bastante máscula.

Apesar da pesquisa no Google indicar o contrário

O problema é que, para carregar os cada vez mais pesados materiais escolares numa bolsa dessas é o que os psicólogos chamam de "pedir pra se foder". Eu fiz isso, e um belo dia, caminhando para a aula, a alça da bolsa se arrebentou sem mais nem menos. Não que fosse algo surpreendente, considerando todos os livros, cadernos e outras porcarias que, apesar de continuarem sendo inúteis mesmo no ensino médio, eu era obrigado a levar todos os dias para a aula. Fiquei um pouco traumatizado com esta experiência, e só voltei a usar esse tipo de bolsa, e a perceber sua utilidade, esse ano, quando viajei para o nordeste. Todos os participantes do Encontro Nacional de Estudantes de Educação Física (ENEEF) ganharam uma capanga, que é basicamente uma bolsa de palgodão cru. Como eu estava lá para fazer turismo e dormir em um lugar barato, ganhei uma também. Apesar de ser bastante bagaceira (vamos e viemos, era só algodão cru), achei ela bastante prática e cômoda para levar minhas coisas, mais até do que a minha mochila. Porém, admito que era uma coisa do contexto - comparado com Porto Alegre e Caxias do Sul, Fortaleza é uma cidade muito mais relaxada e quente, o que torna o ato de carregar mochila algo bastante desconfortável, e torna o uso de capangas muito mais atraente.

Porém, com a exceção desse breve período no nordeste usando capangas, durante todo meu tempo de faculdade, eu só usei mochilas. Aliás, dificilmente consigo sair pra rua sem uma. Atualmente, tenho duas, mas uso realmente uma só, daquelas de carregar notebook. Como a Vane mesmo disse, elas são muito práticas, pois são cheias de divisórias, além de serem espaçosas. Com ela, eu posso carregar tanto meus livros (nunca saia de casa sem pelo menos três - vai que a fila do banco seja especialmente morosa hoje), quanto meus papéis - polígrafos, prontuários e comprovantes autenticados de matrícula - e o eventual pen drive, bem como meu porta escova de dentes. De vez em quando, levo uma muda de roupa, que fica por cima dos livros, mas isso é bem lá de vez em quando.

Por fim, falta falar sobre o último tipo de mochila que uso: a cargueira. Uso esse tipo só quando viajo e tenho que levar minha casa nas costas - várias mudas de roupa, tênis reserva, material de higiene, saco de dormir... enfim, a tranqueirada toda. Elas são muito práticas, entretanto, trazem consigo o pequeno inconveniente de necessitarem re-organização constante, especialmente em viagens longas, para que não machuquem tuas costas com coisas em lugares inadequados (por exemplo, cabo de panela nas costas é bem pouco confortável). E, com elas, a pérola de sabedoria da Vane de "não levar mais de 5kg no lombo" é sumariamente ignorada. No meu último dia na Bolívia, caminhei pelo menos uns 8km por Santa Cruz de la Sierra com uma mochila que eu pensava pesar 15kg, mas que no aeroporto descobri pesar 20kg. Por sorte, já conheço muita gente da Fisioterapia pra futuramente consertar minhas costas. Minha cargueira já tem mais de dez anos, e continua servindo muito bem aos meus propósitos, mas há modelos mais recentes que são realmente muito bons. Nenhuma é no formato do R2D2, mas são legais também.

Para o Infinito e Além

O trampolim estava logo ali, na minha frente, a uns dez ou vinte metros. Para vencer essa distância, apenas uma rápida corrida é necessária. No entanto, se tudo se resumisse à corrida, seria muito mais fácil. Precisava encontrar a velocidade certa - não muito rápido, para não perder o controle, nem muito devagar, para ter energia cinética o suficiente - fazer o tempo certo e a movimentação certa - como fazer para pular no trampolim sem perder o embalo, e como utilizá-lo adequadamente?

Todos estes cálculos passam pela minha cabeça muito rapidamente, em menos de cinco segundos. Claro, para ter pensamentos tão ágeis, ajuda o fato de eu já ter repetido esse processo várias e várias vezes, ainda que várias e várias vezes sem sucesso, em dois aparelhos diferentes. "Ginástica Artística envolve muita cognição, pessoal" disse o professor cinco minutos antes. Essa afirmação me tranquiliza, não sei bem por que. Talvez a palavra "cognição" torne tudo muito mais familiar, fácil de compreender. Tiro da minha memória de longo prazo uma de minhas estratégias metacognitivas e, enquanto espero minha vez para correr até o trampolim e pular no fosso acolchoado, ensaio mentalmente minha performance: me vejo correndo, em velocidade adequada, rumo ao trampolim. Num rápido e suave movimento, faço a transição do solo para o aparelho, e me projeto para o ar. Ainda em minha mente, insiro as correções que o monitor, o professor e os colegas me sugeriram: menos projeção para frente, mais projeção para cima, tomar cuidado com a posição das pernas, pois elas devem ir dobradas, e não estendidas. Por fim, caio nos colchões azuis, e em pé. Pelo menos na minha imaginação, fui bem sucedido. Agora, só restava fazer isso na vida real.

É chegada a hora. A pessoa que estava na minha frente na fila acabara de fazer sua tentativa. Não sei se ele ou ela conseguiu fazer um salto mortal e cair em pé, e naquele momento, pouco importava, pois toda minha energia tinha um único foco, o meu próprio salto mortal. Reviso rapidamente todo o processo - tantas coisas para fazer em menos de cinco segundos! Olho para o professor uma última vez, para ter certeza de que ele está prestando atenção em mim. Espero um sinal, algo que me diga "pode ir", enquanto pensamentos ricocheteiam dentro do meu crânio. Oliva, o professor, olha para mim e balança a cabeça. É a hora. Os pensamentos que antes me incomodavam desaparecem como num passe de mágica. Não há nada acontecendo em meu organismo que não seja o preparo para salto mortal. Minha mente e meu corpo tornaram-se um só através da ação.

Racionalmente, sei que tudo não passou de um breve momento, mas, relembrando todo o processo, parece uma eternidade. Antes de ir, digo "agora vai!", como que em desafio ao Deus do Fracasso que se intrometera em todas as minhas tentativas anteriores. Corro, salto com os dois pés para cima do trampolim e subitamente me vejo no ar. Nos poucos segundos que tenho ali em cima, sou tomado pela certeza de que eu estou voando, ou pelo menos "caindo com estilo". A gravidade faz seu trabalho, e logo começa a me trazer para o solo. Encolho as pernas e projeto meu quadril. Caio sobre os meus dois pés no colchão, e tão rapidamente quanto posso, olho para o professor e perguntou "fiz certo?" Dessa vez, ele diz que sim.

Saio do fosso, e a tarefa do dia está terminada. Acabou. Eu, porém, continuo pensando nela. Eu quero mais, eu quero voar outra vez, ainda mais alto. Para o Infinito e Além!