quinta-feira, 27 de maio de 2010

Minha Irrelevante Opinião - Bastardos Inglórios

Então... seis dias sem atualizações. Acho que agora seria uma boa hora para mudar isto e publicar um textinho, nem que seja só para dizer "hey, tem novidade no meu blog!" ou "eu não sou tão relapso assim!" Talvez uma boa maneira de fazer isto e não deixar transparecer minha intenção seria fazer uma resenha de filme - é um tipo de texto que atrai as pessoas, e que não costumo fazer com muita freqüência. Considerando que andei assistindo um bom número de filmes esta semana (três - uma quantidade fenomenal considerando minha rotina), vou revisar o último: "Bastardos Inglórios", dirigido pelo Quentin Tarantino.

OK, sei que, se tomar a internet como parâmetro, eu estou quase sete meses atrasado para fazer uma resenha dessas, mas como só consegui assistir o filme ontem, acho que estou perdoado. Além disso, penso que toda e qualquer opinião omitida sobre todo e qualquer filme já produzido, filmado e exibido neste planeta tem seu valor, vou publicar aqui a minha. Se vocês discordam de mim, é por que vocês estão errados.

Bem, Tarantino é um daqueles diretores que todo estudante de Cinema da PUCRS diz achar o máximo - prova de sua popularidade é o fato de seu sobrenome (e apenas isto) ser utilizado para rotular seus filmes, da mesma maneira que críticos de arte rotulam uma pintura de acordo com o sobrenome do pintor. Todo aspirante a intelectual cult deve, obrigatoriamente, citar pelo menos dois filmes do Tarantino em uma conversa de boteco como sendo "geniais", para provar que ele é realmente cult e não ser confundido com um desses tipos que gostam de filmes pop, como Star Wars e "Senhor dos Anéis". E, aparentemente, pelo o que vejo na internet, Tarantino é bem quisto também entre críticos profissionais de cinema, caras que são pagos especificamente para ver filmes e escrever o que eles acharam. Então, levando tudo isto em consideração, parecia razoável que eu fosse ver um filme dele, para ver se o que dizem é realidade.

A oportunidade surgiu esta terça-feira, graças à Secretaria de Difusão Cultural da UFRGS, que periodicamente faz exibições gratuitas de filmes no Campus do Vale, onde passo a maior parte do meu tempo este semestre. O filme, como vocês já devem ter adivinhado, era "Bastardos Inglórios" e, apesar do horário ser um tanto quanto ruim, decidi ficar sem almoço para assistí-lo.

Agora, vem a pergunta que não quer calar: o que eu achei de "Bastardos Inglórios"? Bom, eu achei muitas coisas. A primeira que me vem à mente agora é a estética do filme: os cenários são bem construídos, de maneira fidedigna à época em que se passa a história (Segunda Guerra Mundial), e há algumas cenas muito marcantes por causa de sua beleza, especialmente uma do primeiro capítulo (por que Tarantino tem mania de dividir seus filmes em capítulos, como se fossem livros), além de ser filmado quase todo em cores brilhantes (pelo menos é essa a minha impressão). A segunda coisa que me vem à mente é o que eu poderia chamar de o "encadeamento das cenas". Sendo eu um indivíduo que cresceu assistindo blockbusters de Hollywood, e ao mesmo tempo um aspirante à pseudocult intelectual, consigo notar diferenças bastante grandes entre filmes norte-americanos e filmes europeus. "Bastardos Inglórios", apesar de ser um filme "Made in USA", tem uma certa atmosfera de Velho Mundo, não só por tratar do teatro europeu da Segunda Guerra Mundial, mas também na maneira como as cenas são conduzidas e mostradas. Algumas partes que seriam tomadas como "irrelevantes" em um filme tradicionalmente hollywoodiano por serem "lentas demais", como o Coronel Landa sendo servido de leite e bebendo, ganham um certo destaque. Talvez "destaque" seja uma palavra forte demais, mas me parece evidente que elas não são descartadas para deixar o filme mais "dinâmico" e "adrenalínico". Pessoalmente, gostei disso.

Entretanto, um filme não se resume a cenários e cenas: ele deve contar a história de algo ou alguém, e deve ter personagens que a contem ou interpretem. Quanto a isto, eu tenho alguns problemas a resolver com "Bastardos Inglórios". Não é que eu não tenha gostado dos personagens, ou da história que eles contam. Na verdade, há muitas coisas que tornaram a experiência de assistir este filme muito agradável - Brad Pitt como o tenente Aldo Raine está ótimo. Ele fala com um carregado sotaque (artificial) do Tennessee, é irreverente, destemido e um grande fã de violência gratuita. A equipe dele, "Os Bastardos Inglórios", um time composto apenas de soldados judeus infiltrados atrás das linhas inimigas para espalhar o terror entre os nazistas compartilha de seu temperamento e gosto por sangue, e são muito bons em seu trabalho de assustar os alemães. E é aqui que eu começo a ter problemas. Segundo o TVtropes, os Bastardos poderiam ser classificados como Heróicos Sociopatas, por que, apesar de cometerem atos de violência que o adjetivo "horrendo" não é suficiente para descrever, eles os cometem em nome de um bem maior, qual seja, ganhar a guerra de derrubar Hitler. Só que, ao longo de todo o filme, eu não consegui simpatizar mais com eles por isso. Na verdade, eu alternava entre sentir-me neutro em relação a eles e torcer abertamente contra seu sucesso.

Muito diferente foi meu relacionamento com os nazistas. O Coronel Hans Landa é tão ruim ou pior que os Bastardos, só que de uma maneira tão charmosa que eu preferia as cenas onde ele estava presente do que as do Brad Pitt (a não ser quando os dois estavam juntos) - não há como não gostar desse Desgraçado Magnificente! Não chegava a torcer para ele, por que torcer para ele era torcer para Hitler... pelo menos até um certo ponto, mas quase fiz isso em alguns momentos. Outro personagem nazista pelo qual eu nutro mais simpatia do que pelos Bastardos é o One Scene Wonder sargento Rachtman, que, mesmo ameaçado de morte, se nega a entregar seus companheiros e morre como um homem de valor nas mãos de um judeu ensandecido com um taco de basebol na mão. Se fosse resumir "Bastardos Inglórios", eu diria que é o único bom filme que me fez torcer pelos nazistas por causa dessa única cena.

Sim, sim, sim... há também um outro fio de história correndo paralelo aos Bastardos Inglórios tocando o terror no Exército Alemão ocupando a França, que é da dona de um cinema em Paris cujos pais foram mortos por Landa. Um herói de guerra alemão, interpretado por aquele cara de "Adeus Lenin!", se apaixona por ela e oferece, inadvertidamente, uma chance dela se vingar do Terceiro Reich. É, essa parte é legal também, mas da mesma maneira que os trailers de um filme são legais: você os assiste, você gosta dele, mas quando o filme propriamente dito começa, você esquece deles. Não achei essa parte da história tão marcante assim, portanto, não vou escrever mais nada a respeito dela, exceto que ela continha um dos poucos personagens realmente simpáticos do filme, e mesmo ele não se salvou no final de ser um filho da mãe.

Então, em poucas palavras, o que achei de "Bastardos Inglórios"? É um bom filme, mas só recomendo para quem gosta de Tarantino, um diretor que, por mais qualidades que tenha, não me agrada muito.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ilusões Pessoais

Descobri, um pouco através das leituras, e muito através da experiência pessoal, que todos nós temos um conjunto de ilusões próprias sem as quais não poderíamos viver. Chamo-as de "ilusões" não por serem mentiras, mas por serem aquilo que o William James chamou de "verdades dependentes de nossa ação pessoal". Obviamente, tenho algumas destas ilusões, mas aquela que mais amo é a idéia de que eu sou um asceta.

Asceta, da maneira como eu defino, significa alguém que conquistou a si mesmo, tem pleno controle sobre seus impulsos e está constantemente testando seus próprios limites. O ascetismo, para mim, é manifesto em duas esferas distintas da vida: a acadêmica, através dos estudos e dos trabalhos de faculdade, e a esportiva, no treino constante e dedicado do corpo.

Agora, como vocês bem devem ter percebido, minha definição é por demais exigente para que um mero ser humano como eu possa alcançá-la um dia. Isso se torna ainda mais óbvio se eu disser que eu acabei de perder o treino de Kung Fu que eu queria fazer hoje, para compensar o treino que eu faltei na segunda. Significa isto que minha ilusão é desprovida de valor, posto que eu não consegui pô-la em prática? Por muito tempo, eu acreditei que, se eu falhasse uma vez, tudo o que eu fiz anteriormente imediatamente perdia o  valor. Como vocês podem imaginar, isso me causava bastante sofrimento, que eu chamaria de desnecessário. Hoje, adoto uma visão diferente - eu vou falhar, e não há nada que eu possa fazer contra isto. Entretanto, eu posso insistir em viver a minha ilusão, dia após dia, até que se torne inegável que, apesar de no fundo ela não existir, ela mudou alguma coisa neste mundo. Adotando esta atitude perante a vida, percebi algumas coisas a meu respeito: falhei no treino desta semana, porém, eu não continuo treinando a quase 7 anos? Não mudei muito de lá para cá e não me disciplinei, mesmo que seja um pouquinho? Creio que sim. Por que, então, deveria eu me considerar um fracasso total? Isso provavelmente só vai fazer com que eu desista de algo que eu valorizo, e me fará sentir ainda pior.

Há um próximo horário para treinar, e mesmo que eu não recupere o treino de segunda, eu pelo menos não vou perder mais um treino. Isto não é o ideal, mas é bem melhor que desistir.

Histórias que entretêm - O Terror de Chapéu

Um dia, eu acordei, e, inexplicavelmente, encontrei do meu lado aquela criatura. Se estivessem no meu lugar, muitas outras pessoas considerariam-se abençoadas por terem ganho a chance de conviver com ele. Eu, da minha parte, não consigo compreender o que estas pessoas vêem neste ser, e tudo o que mais quero neste momento é que ele desapareça para sempre. A pior parte de tudo isto é que, tão inexplicável quanto foi a sua chegada, é a maneira como ele continua em minha vida.

Como eu disse, um certo dia, eu acordei, e ele estava lá, do meu lado. Alceu Valença. Enquanto eu lentamente despertava e tentava compreender o que estava acontecendo, ele olhava fixamente para mim, com aquela expressão facial que só tarados conseguem manifestar. O mais assustador não era ter Alceu Valença deitado na mesma cama que eu e me olhando com desejo sodomita no olhar, e sim o fato dele estar usando chapéu de aba larga. Nem quando percebi que ele estava completamente nu fiquei mais aterrorizado do que quando vi aquele horroroso chapéu.

Tremam mortais, e se desesperem!

Como era uma manhã de domingo, pensei que estava ainda sob o efeito do álcool, ou que alguém tivesse colocado Rohypnol na minha bebida, e comecei a me estapear para despertar logo, e a apalpar meu corpo para ver se tinham removido algum de meus órgãos vitais com um bisturi enferrujado. Lentamente, contudo, percebi que aquilo não era uma ilusão da minha mente degenerada, e junto com minha compreensão, aumentou meu desespero. Preferia ter perdido meus dois rins e um pedaço do fígado a ter que passar por tamanha provação. Tomado pelo medo, congelei, e fiquei ali, deitado, encarando meu possível molestador. Nem eu, nem ele nos movíamos, e ele continuava a me olhar de maneira obscena, com aquele terrível chapéu preto a encobrir seus olhos obscenos e seu sorriso pederasta.

Não sei quanto tempo se passou até eu tomar coragem e balbuciar algumas palavras - podem ter dois segundos, dois minutos ou duas horas - e perguntar "quem é você?" Era uma pergunta imbecil, por que eu sabia que ele era o Alceu Valença. Creio que ele pensara o mesmo, pois continuou quieto, me olhando. Como ele não tentou pular para cima de mim quando eu abri a boca, senti-me encorajado a lhe fazer outra pergunta, desta vez mais válida e importante do que a anterior: "o que diabos o senhor está fazendo de chapéu na minha cama, e como veio parar aqui?" Não sei bem por que eu tratei de maneira tão formal alguém poderia muito bem ter violado minha virgindade anal durante meu sono, porém, outra vez, ele se manteve em silêncio, e seu sorriso aumentou.

Temendo que ele subitamente pulasse em cima de mim, saí tão rapidamente quanto consegui da cama em direção à porta, de maneira que pudesse fugir se fosse o caso. Sentindo-me muito mais seguro com esta mudança de posição, fiz uma última pergunta. A resposta que ele deu congela meu sangue toda vez que lembro dela.

Eu - O que você quer de mim?
Alceu - "Morena Tropicana, eu quero teu sabor, ooo io io io!"

Ali, naquele instante, ficou claro o que ele queria. O medo tomou conta de mim, e imediatamente corri para fora do quarto, rumo à porta e à rua. Entretanto, antes mesmo que eu pudesse encostar na maçaneta, ele estava lá, me esperando com seu chapéu. Quando eu o vi, ele começou a cantar outra vez "tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais!" enquanto caminhava ao meu encontro. Esgueirei-me por outra porta, e corri até a cozinha, onde peguei a maior faca de cortar bifes que pude encontrar e me pus em guarda. Antes mesmo que eu percebesse, ele já estava lá, olhando para mim com aqueles olhos terríveis.

Alceu Valença watches you in your sleep. Alceu Valença watches you in your nightmares!

Minha tentativa de defender-me mostrou-se vã, pois, no momento em que o vi, a faca escorregou de minhas mãos e eu caí de joelhos, dominado pelo horror de ter diante de mim um cantor nordestino de forró usando chapéu preto. E, assim que ficou clara a minha derrota, ele cantou uma última vez:

Foi mistério e segredo
E muito mais
Foi divino brinquedo
E muito mais
Se amar como
Dois animais...

Ao ouvir estas palavras, desmaiei, e encontrei refúgio no doce esquecimento do sono.

Desde então, ele me segue. Não importa onde eu vá, ele está logo atrás, sorrindo pederasticamente por baixo daquele chapéu negro, lembrando-me do terror que se transformou minha vida. E mesmo ele me seguindo por todas as partes e sendo visto por todos, ninguém me ajuda. Tentei gritar por socorro, mas minha voz trancou em minha garganta. Temo pelo dia de minha morte, não por crer que irei para um inferno pior do que o já vivo, mas por recear que ele me seguirá.

Ensaios Enrolativos - Vida de Criança

Sabe, hoje, voltando para casa do estágio, percebi que, apesar da infância ter muitas limitações, como não poder dirigir, beber e trepar socializar de maneira adequada, ainda é uma fase da vida muito boa, por que criança pode sair na rua vestida de Homem-Aranha e ninguém acha escroto. Ninguém reclama, ninguém acha ridículo, ninguém fala nada, e se você sair correndo atrás daquela menininha bonitinha, nenhum PM vai pular no seu pescoço e te prender por atentado violento ao pudor.

Eu sei que a infância é também uma época cheia de problemas, e eu sou sempre o primeiro a apontar os problemas de ser menor de idade, contudo, também é meu dever chamar a atenção da sociedade para todos os transtornos envolvidos no processo de crescer. E eu não quero falar da puberdade - já tem gente demais falando disso, e como sua adolescência foi uma merda, mas ninguém fala da maneira brutal e injusta que perdemos nosso direito de irmos fantasiados de super heróis para a aula. Um senhor de família tradicionalista responderia à minha pergunta dizendo "você é adulto agora". OK, sou mesmo, mas por que não posso me vestir de Homem-Aranha? Deve ter alguma loja que venda tamanhos GG! "Por que você perderia toda a credibilidade" ele continuaria. Só que, como eu perderia credibilidade ao me vestir como um super-herói? Todo mundo confia neles! "Pare de falar besteira e se comporte como um adulto!" seria, provavelmente, a última e furiosa resposta do senhor de família para meus questionamentos (antes de voltar a ler a Veja e reclamar do PT), ao que eu replicaria "tudo bem, desde que eu possa usar minha capa de Batman no processo!"

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Novos Links

Uma atualização rápida: coloquei uns blogs novos na guia "amiguinhos" aqui do lado, o que quer dizer que são blogs de amigos meus ou, pelo menos, blogs de pessoas que visitam o "Espadachim Cego" e deixam comentários de vez em quando. Considerando que eles me linkaram no blog deles, nada mais justo que eu link eles de volta.

O Play the Coin! já estava na lista, mas o link ainda era do Kit.net. Agora está certinho com o link do Wordpress.

Silenciosas Palavras, do meu bixo Willian. Admiro a sensibilidade dos textos dele.

Psicologia no Blog, da Lizandra, de Teresina, no Piauí. Espero que tu apareça em Belém do Pará esse ano para o ENEP, viu?

Juventude em Cena - Não exatamente uma pessoa, mas um projeto de extensão, do qual faço parte desde 20008. Deem uma conferida, por favor, que está muito legal.

Ensaios Evitativos - Microblogging

Eu sei que eu estou alguns meses atrasado para fazer este post, o que, em tempo de cachorro internet, equivale a anos, mas acho que ainda é válido escrever aqui sobre uma dúvida que vem me atormentando nos últimos dois dias:

Pra que serve o Twitter?

Eu tenho um Twitter, apropriadamente nomeado Blind_Swordsman, mas deixei ele inativo por quase dois meses, e voltei a usá-lo só ontem. E, entre uma tuitada e outra, eu me flagrava questionando a utilidade daquilo, ao mesmo tempo que percebia como ficar fazendo miniposts em cima de miniposts é gratificante.

Acho que o Twitter te dá uma sensação de poder: tu pensa "olha só, atualizei meu twitter 12 vezes hoje" e se sente um indivíduo produtivo. Só que, convenhamos, é a mesma sensação de poder de dar a descarga naqueles vasos sanitários com detecção de movimentos. Sabe quando eu consegui escrever doze atualizações para este blog aqui? Só uma vez, e precisei ficar acordado uma madrugada inteira para conseguir essa façanha. Com o twitter, este problema está resolvido, por que, se você fizer um tweet para cada necessidade fisiológica satisfeita, você consegue pelo menos umas 8 atualizações, e com muita facilidade pode aumentar este número com comentários a respeito da textura de suas fezes. Eu certamente consigo escrever um post inteiro para o blog falando sobre as diferentes texturas de excremento que existem por aí, mas isso dá muito mais trabalho. Com o Twitter, 140 dígitos é o máximo que você precisa para dizer "Ha! Atualizei!"

Ele também é um ótimo instrumento de evitação. Identifiquei um padrão nas minhas tuitadas: primeiro, aparece um trabalho da faculdade para fazer. Começo a fazê-lo, até que eu percebo que terminá-lo vai levar muito mais tempo, muito mais trabalho e vai ser muito mais chato do que eu calculara inicialmente. Então, eu procuro uma válvula de escape, algo que me permita fingir que não tenho nada para fazer - e é aí que eu vou pro Twitter, e faço milhares de atualizações. Depois disso, eu tomo vergonho na cara e vou fazer meu trabalho, geralmente passando uma madrugada inteira acordado, e deixo o twitter abandonado por mais alguns meses antes de aparecer outro trabalho chato para fazer. Agora que eu decidi atualizar o twitter com maior freqüência, descobri outro mecanismo de enrolação: acompanhar as atualizações alheias. Não surpreendentemente, mais gente usa o twitter da mesma maneira e na mesma hora que eu (I'm looking at you, Vane)! Então, um comenta o tweet do outro, que comenta de volta, que recebe uma tréplica, até o momento que a gente cansa de escrever frases tão curtas ou precisa trabalhar sério.

Eu imaginava que, com tão poucos dígitos para se expressar, não sairia nada de interessante, mas é justamente o contrário: eu leio coisas muito legais. Atualmente, a onda é fazer piadas com a frase "Misturei Activia", e o povo tem tiradas muito boas (ex.: "Misturei Activia com Falamansa e agora tô cagando à toa"). Ver o que teus amigos estão fazendo neste momento é realmente banal, porém não deixa de dar uma sensação de estar um pouco mais próximo deles. O Saramago disse uma vez que o Twitter é a prova de que estamos voltando à época dos grunhidos. Eu, porém, acho que o Saramago é um velho rancoroso que não gosta de nada que ele não entenda e/ou use ele próprio, característica que, junto com sua fama, lhe permite fazer declarações bombásticas que qualquer um de nós faz todos os dias, mas não tem os meios de divulgá-la por aí. Aliás, o Twitter serve para isto.

Concluíndo: o Twitter é inútil, só que é divertido. Se você é um utilitarista empedernido, fique longe dele, mas fique sabendo que diversão também tem seu uso.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

As Provações da Faculdade XXXVII

Dois meses para acabar com as aulas, e pela primeira vez em sete semestres eu tenho um medo verdadeiro de não conseguir terminar os meus trabalhos. Numa nota tangencialmente relacionada, preciso parar de dormir à tarde.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ensaios Evitativos - O Telefone e o Paciente

Em Psicologia, é considerado prática antiética falar sobre os seus pacientes para pessoas não envolvidas no caso. Por exemplo, vocês nunca vão me ver falando de um paciente específico aqui no blog, a não ser de uma maneira muito vaga e genérica, para que se torne impossível dele ser identificado por qualquer um que não seja o House. Assim sendo, podemos falar de nossa vida profissional, contanto que não envolvamos aqueles que atendemos.

Eu enrolei um parágrafo inteiro só pra dizer que eu detesto ter que ligar pra paciente que faltou atendimento.

Convenhamos, é um saco. Primeiro, por que eu atendo de graça, já que meu estágio é uma instituição pública, gratuita e de qualidade. Hoje eu sou bolsista e ganho 360 reais para trabalhar aqui (apesar da UFRGS só ter depositado 204 reais na minha conta esse mês), mas eu trabalhei um ano aqui inteiramente no amor à camiseta. É uma sacanagem ter consulta grátis e não aparecer. Segundo, eu não gosto de telefones. Toda a situação de telefonar para alguém é bastante desconfortável, e esse desconforto só piora quando o telefonema envolve algum tipo de cobrança. A tudo isto, adicione o fato que, no meu caso, muitas vezes o número telefônico que eu tenho para chamar meus pacientes não é dos pacientes propriamente ditos, e sim de alguém que por acaso mora ou trabalha num raio de 4km da casa do dito paciente. Então, conversas do seguinte tipo são bastante comuns:

Eu- Oi, bom dia, meu nome é Andarilho, eu sou estagiário aqui do Ambulatório da UFRGS, e eu gostaria de falar com a Josmarie*.
Outro- Quem? Não tem ninguém aqui com esse nome. O senhor se enganou!
Eu- O telefone aí por acaso é XYZW-XXYW?
Outro- Sim, é esse mesmo, mas o senhor se enganou!
Eu- Não, eu não me enganei. Não tem ninguém que more aí perto que se chame Josmarie?
Outro- Aaah! Tem a Josita, que trabalha comigo aqui na loja, mas ela mora na outra rua e hoje ela não tá em casa.
Eu- Ai que orgásmico.
Outro- O senhor falou alguma coisa, moço?
Eu- Não, nada. Quando que eu posso ligar de novo?

Em suma, bastante complicado. Para ser sincero, este tipo de diálogo saído de uma esquete do Monty Python é relativamente rara. O que é mais comum, contudo, são as conversas altamente desconfortáveis, daquelas que algum personagem de "Friends" chamaria de "Awkward", como esta:

Eu- Oi, é da casa do Robertvaldson*?
Outro- Aqui é a mãe dele, quem gostaria?
Eu- Bom, meu nome é Andarilho, e eu sou estagiário lá na UFRGS. Eu estou atendendo o Robertvaldson, mas ele faltou a última consulta. O que aconteceu?
Outro- Ah doutor, é que a gente decidiu não ir mais.
Eu- (levemente irritado e surpreso) Como é que é?
Outro- Assim doutor, ele não gostou muito de falar sobre as notas dele no colégio com o senhor, daí a gente achou que era melhor ele não ir mais.
Eu- (tentando manter a civilidade) Ele, não, gostou... de falar das notas dele no colégio, é isso mesmo que eu ouvi?
Outro- É doutor.
Eu- Ele está quase rodando na escola, correto?
Outro- Sim doutor, mas...
Eu- (psicopata) E nós mal estamos na metade de maio, certo?
Outro- Sim, só que...
Eu- (com sede de sangue) E ele não quer mais vir para os atendimentos por isso, e a SENHORA deixa, não?
Outro- Sim, mas tem que ver doutor que...
Eu- O que que o Conselho Tutelar acha disso?
Outro- Não sei.
Eu- Pois eu vou descobrir pessoalmente. Bom dia.
*tuu tuu tuu tuu*

Nunca aconteceu nada exatamente assim comigo, porém eu já fui confrontado com questão parecida. E isto me leva ao terceiro ponto que me irrita em fazer telefonemas para pacientes: eu detesto confrontamento, e em muitos casos, não tenho coragem de dar a cara à tapa por que "vai ficar chato". Não vou dar mais detalhes a respeito do caso, mas eu já tive (pai de) paciente que decidiu interromper tratamento por que não gostou de algo que eu disse, e eu só não acionei o Conselho Tutelar por que a coisa não ia ser nada bonita para ninguém. Isso, e por que ia ficar chato.

Escrevi este texto inteiro pra dizer que eu não gosto de ligar pra paciente, por que aqui do meu lado tenho uma folha com nome e telefone de alguns casos que precisam ser retomados, e eu não estou nem um pouco a fim de fazer isto. Porém, eu preciso, e talvez escrever aqui me ajude a parar de enrolar e encarar este fato da vida.




* Nome fictício mas muito verossímil.

domingo, 16 de maio de 2010

Comendo na UFRGS - Um guia para os Restaurantes Universitários

Esta semana, eu realizei um antigo sonho meu. Depois de anos tentando realizá-lo, eu finalmente consegui: eu comi em todos os RUs da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Não só eu comi em todos, como eu já comi todas as refeições possíveis (exceto lanche da tarde, se ignorarmos o fato da janta ser das 17h30 às 19 horas). E o que isto mudou em minha vida? Absolutamente nada! Ainda assim, é algo muito legal, conhecer todos os restaurantes universitários e poder falar com propriedade de como é a comida em cada um deles. Assim sendo, vou aproveitar o embalo e fazer algo que quero fazer já faz algum tempo, e escrever mais um texto falando da experiência de comer no RU, só que desta vez comparando os 5 restaurantes atualmente em funcionamento na UFRGS e seus aspectos menos gastronômicos.

Vou começar pelo RU da Saúde, que, por ter sido o primeiro RU onde eu almocei e jantei, e por ficar aqui do lado de casa e do Instituto de Psicologia, é o restaurante que melhor conheço. Muitos estudantes da UFRGS dizem que este é o melhor restaurante de todos, por ser o mais bonito (sendo chamado de McRU por alguns - eu, inclusive), o mais organizado e ter a comida mais gostosa. Bonito ele realmente é, tanto que é possível comer ali e nem perceber que você está num bandejão, isto é, até você perceber que está de pé, no meio de um monte de gente, segurando uma bandeja de metal cheia de feijão com arroz procurando um lugar para sentar, por que ou todos os assentos estão ocupados, ou foram reservados por algum indivíduo sem a menor consideração pelas regras da casa. Isso, o fato das cadeiras serem desconfortáveis para quem tem perna comprida (em outras palavras, a maioria dos homens). A organização do espaço é notavelmente ergonômica, tanto que é possível pagar no caixa, pegar toda a comida (eu explico depois por que "toda") e o suco antes de ir bater em uma loira oxigenada da Odontologia para pegar o lugar que ela reservou com a bolsa da Daslu sem ter que fazer nenhum desvio. Acreditem em mim, isso é realmente importante. Quanto a comida, eu tenho as minhas ressalvas. Vejam bem, de um ponto de vista científico, é bem fácil de comparar a comida de um RU com a do outro, por que é sempre a mesma coisa para todos: feijão com arroz! Claro, algumas coisas variam conforme o dia e o local, especialmente a sobremesa e o extra (que não sei por que eu chamo de "guarnição"), porém o resto é todo igual. Então, se você almoçou no Centro, e jantou no Vale, saberá explicar com grande precisão qual foi a melhor refeição, por que só vai precisar dizer qual feijão com arroz era melhor. Por isso, digo que não gosto muito da comida do RU da Saúde por que lá é o lugar onde eu mais frequentemente como arroz cru. Não sei se as estagiárias de Nutrição fazem isso de propósito para fortalecer nossa dentição, mas eu não sou exatamente fã. Além disso, as tias do RU da Saúde são as mais mal humoradas. Não gaste seu lindo sorriso com elas, por que elas não vão te dar uma porção a mais de pudim de doce de leite por sua simpatia.

Depois, temos o RU do Centro. Na minha opinião, este RU não é lá muito relevante. Entretanto, a Reitoria deve discordar da minha muito validada opinião, por que frequentemente durante as férias este é o único RU que abre para satisfazer a fome dos estudantes. É o RU que mais tem história, considerando que fica do lado do campus mais antigo, bem na avenida João Pessoa, junto ao DCE e à Casa do Estudante, e até onde eu sei é o único RU que serve café, almoço e janta. Se eu reclamei de maneira velada a respeito da sobrelotação do RU da Saúde, aqui eu vou chorar as pitangas, por que o espaço aqui é uma piada de tão apertado. Entretanto, se por um lado isso é desagradável, por outro é um importante fator de socialização, por que você é forçado a comer lado a lado de pessoas que você nunca viu na vida (e que provavelmente são bem estranhas, considerando que estamos na UFRGS), e pode ter conversas bem interessantes. Além disso, recentemente (a quase dois anos), este RU foi reformado, e ficou um pouquinho mais espaçoso. O que a reforma não resolveu foi a marcada confusão que é comer ali - na minha opinião, só piorou. Você, muito intuitivamente, entra por uma porta lateral, se serve, daí volta até a porta (não a que você entrou, a outra!), pega o suco e daí você vai se espremer entre os caras da engenharia elétrica. Faz algum tempo desde a última vez que eu comi feijão com arroz lá (minha última refeição no Centro foi pão com manteiga e geléia de gosto aleatório), mas, se me lembro de maneira adequada, não era ruim. Ou, se era ruim, o arroz não era tão cru quanto o da Saúde.

Agora crianças, peguem seus cartões TRI, suas merendeiras, seus facões, seu estoque de maconha e se preparem para ficar um bom tempo em um ônibus por que nós vamos para o Campus do Vale! Eeeeeeeeeeeeeeeee! OK, exageros à parte, eu realmente gosto do Campus do Vale. Atualmente, é o lugar onde eu mais tenho passado meu tempo, por causa do estágio e da cadeira de Antropologia que eu peguei ali, e é o campus da UFRGS com o melhor RU de todos. Para quem estuda na mesma universidade que eu, isto vai soar estranho, por que o RU do Vale é o mais criticado de todos, tanto que é o único a ter uma comunidade no Orkut especialmente devotada a criticar os alimentos ali servidos. Isso, e o Campus do Vale é o único entre todos os campi da UFRGS a ter uma comunidade dedicada a dizer que ele fede, mas isso não vem ao caso agora. O que importa dizer agora é que o RU do Vale é polêmico. Eu vou defender ele, por que, apesar da ergonomia do lugar parecer algo tirado da Idade Média (aliás, quando você come lá, se sente como se tivesse entrado em buraco no tempo), todo o lugar ser bastante escuro e mal iluminado, a paisagem é boa e a comida é ótima. Sim, o feijão com arroz deles é o melhor de toda a universidade, e sempre que eu como lá eu sou agradavelmente surpreendido.

Falemos agora do RU da Agronomia. Tenho a impressão de que, para os demais estudantes da UFRGS, este RU é algo como o continente da Oceania: todo mundo sabe onde fica, mas ninguém vai lá por que é longe demais. E, de fato, ir até a Agronomia para quem não faz, bem, Agronomia é bastante complicado. Porém, sendo eu o idiota que eu sou, já fui até lá. À pé, desde o Campus do Vale, o que dá em torno de 30 minutos pela avenida Bento Gonçalves. Reza a lenda que há um atalho de 15 minutos pelo meio do mato entre a Agronomia e o Vale, só que eu nunca descobri onde fica isso, e tenho medo de tentar fazer sozinho (ou sóbrio). Em todo caso, a idéia de ir à pé até a Agronomia foi ruim, mas comer lá, nem tanto. Este RU, ao contrário dos que descrevi anteriormente, não tem o objetivo de servir muita gente, pois, na realidade, só quem cursa Agronomia come lá (SURPRESA!). Portanto, a sensação que se tem ao comer lá é bem diferente da de comer no Campus do Vale ou mesmo na Saúde. Há poucas mesas, e o problema de organização é irrelevante, pois se pode ir do bufê à mesa e da mesa ao balcão do suco sem esbarrar em trinta pessoas diferentes no caminho. As janelas altas e largas deixam o ambiente bem iluminado e aconchegante e a comida... bem, a comida é OK. De maneira similar ao RU da Saúde, o Agronomia é conhecido entre a massa dos estudantes como sendo muito bom, justamente por ser pequeno e servir poucas refeições. Contudo, eu acho que essa fama só existe por que ninguém nunca come lá, com as notáveis exceções dos futuros agrônomos e idiotas presentes (suspeito que estes dois grupos não sejam lá tão distintos). Não que a comida seja ruim, mas não é tão boa quanto a do Vale.

O mesmo eu posso dizer do RU da ESEF. Este foi o último dos restaurantes universitários a ser construído, e o último onde eu consegui comer. Eu o descreveria como sendo mais parecido com um restaurante de família do interior do que um RU, por que... sério, não parece em nada com os demais: ele é pequeno, com mesas bonitinhas e pouca gente. Para ser sincero, ele é o RU mais parecido que há com o da Agronomia, com a diferença que este último ainda me faz lembrar que estou na UFRGS. De novo, organização é uma coisa irrelevante para um restaurante tão pequeno, e a comida é OK. Entratanto, gostaria de reclamar do RU da ESEF por que eu tenho a séria impressão de ter comido feijão feito com carne ou salame, e por não terem avisado que a sopa da guarnição tinha frango.

Creio que era isto tudo o que eu tinha para dizer sobre os restaurantes universitários da UFRGS. Claro, eu poderia começar uma série de posts falando sobre os outros RUs, de outras universidades, onde já comi, mas considerando quão ridículo é ficar fazendo análises críticas de refeições que custam R$ 1,30, eu vou parando por aqui. Todavia, se eu ainda estiver na UFRGS quando o RU da Computação for inaugurado, esperem um comentário meu sobre como é comer lá. Por que eu não tenho mais nada de útil para fazer.

Limpando a casa

Pois é. Mais de um mês sem atualizações. Se este blog fosse uma casa de verdade, os móveis estariam cheios de pó e a comida na geladeira toda estragada (o que me lembra do meu primeiro ano de faculdade). Ainda assim, voltei para arrumar as coisas um pouco, como aquelas donas-de-casa obsessivas fazem de tempos em tempos com suas residências na praia.

Tenho uma hipótese para explicar por que tenho escrito tão pouco ultimamente. Segundo esta minha hipótese, todos nós temos uma quantidade pré-determinada de energia criativa que, se não for investida de alguma maneira para criar algo, é perdida, e quando isto acontece,  ficamos insatisfeitos, por que somos dominados por uma vaga e penetrante sensação de que algo se perdeu. Por outro lado, se utilizamos toda ou quase toda nossa energia para um fim que sentimos nos completar, os outros meios de liberação de energia são esquecidos ou deixados para o segundo plano.

Meus colegas de Psicologia perceberão que eu acabei de reeditar a teoria da sublimação do Freud, mas acho que, até certo ponto, ele estava certo. Se observarmos com atenção, perceberemos que a época em que mais escrevi aqui no blog foi durante meu segundo ano de faculdade, indiscutivelmente o mais inútil de todos até agora. Porém, no terceiro ano, quando começaram meus estágios, minha atividade literária diminuiu bastante, por que estava investindo minha libido em outras atividades, que considero muito satisfatórias. Este ano, que tenho escrito ainda menos, eu tenho tido experiências ainda mais positivas nos meus estágios, e, apesar de ainda ter muitas idéias para textos e ensaios, eu acabo esquecendo deles, sem sentir a "falta" que sentia quando isso acontecia no meu segundo ano. Dito de outra forma, eu estou criando outras coisas este ano: relações com pessoas, conceituações teóricas e principalmente uma identidade mais forte. Pessoalmente, considero impressionante que eu consiga fazer tudo isto.

Porém, penso que isto não se manterá assim para sempre. Gosto muito de escrever, e não quero abandonar meu lado literário, que hoje é representado pelo EC. Entretanto, não posso prometer muitos textos para este ano, a não ser que alguma coisa mude no meu "equilíbrio dinâmico": a satisfação diminuir ou a energia aumentar. Esperemos que a última coisa se realize.