domingo, 11 de abril de 2010

Dinâmica de Grupo no Kung Fu

Quem lê meu blog há algum tempo sabe o que eu penso da disciplina obrigatória de Processos Grupais: eu não gosto muito. Entretanto, gostaria de deixar claro neste post que, enquanto eu tenho um certo horror à dita cadeira, eu realmente gosto do assunto, e lamento muito o fato de só ter acesso à uma perspectiva teórica nesse campo. Também gostaria de dizer que, apesar de todas as minhas reclamações, eu consegui aprender alguma coisa com todas as observações de campo que fiz e relatórios que escrevi. Claro, possivelmente eu aprendi o que eu sei de Dinâmica de Grupo não por causa da cadeira, e sim apesar dela, mas vou deixar essa discussão para quando eu estiver bêbado na frente do nosso diretório chamando o professor de fascista na cara de um monitor de Dinâmica outra ocasião. Então, por que eu resolvi escrever um texto sobre Dinâmica de Grupo para meu blog? Simples, por que eu observei um curioso caso ontem à noite, e não tinha ninguém com quem compartilhar minhas hipóteses.

O caso em questão é a Equipe de Competição de Kung Fu da qual faço parte. Basicamente, este grupo é composto por alunos de Kung Fu que, além de comparecerem aos treinos durante a semana, também participam de um treino especial no sábado, mais focado em aspectos técnicos e em condicionamento físico. Para participar desta equipe, não é necessário pagar nenhuma taxa a mais (além da mensalidade da academia). Entretanto, é preciso comprometer-se de maneira inequívoca: deve-se comparecer a todos os treinos marcados e justificar as eventuais faltas, que mesmo assim devem ser relativamente raras. Além disso, é preciso uma boa dose de "amor à camiseta", pois estes treinos, além de ocorrerem durante o final de semana e serem bem puxados, duram em média duas horas, e com certa freqüência, tem durado mais do que isso. Aqui eu poderia dar vários exemplos de como os membros da equipe já demonstraram sua dedicação, mas para isso eu precisaria escrever um post inteiro. Nosso professor durante a semana é também o nosso técnico e, portanto, quem coordena os treinos. Contudo, como ele está ausente em muitos finais de semana por motivos de viagem, alternamos entre sábados em que ele coordena as atividades e em que o aluno mais velho o substitui.

Como se pode imaginar, estas duas classes de treino são bastante distintas uma da outra, por que, apesar de respeitável, o aluno mais velho não é um professor, e por isso não consegue centralizar o funcionamento geral do grupo da mesma maneira que ele (e, por motivos de respeito, nem mesmo quer que isso aconteça). Em ambos os casos, o treino é sempre exigente fisicamente e bastante técnico, sendo que a diferença entre os dois é bastante sutil. Essa diferença repousa basicamente na uniformidade do treinamento: quando é o professor quem comanda, a equipe parece mais uma equipe, enquanto que, nos dias em que ele é representado pelo seu aluno mais velho, ela parece mais um grupo de pessoas com um interesse comum, treinando no mesmo lugar, na mesma hora algumas coisas parecidas. Não posso dizer que sem o professor deixamos de ser uma equipe. Posso, entretanto, dizer que quando ele está presente, nós certamente sentimos muito mais como uma.

De maneira resumida, posso dizer que a presença do professor no treino faz muita diferença. OK, não disse nada de novo até aqui - qualquer estudo ou teoria de Dinâmica de Grupo leva em conta a influência que um líder ou presença carismática exerce sobre um grupo. Porém, o que me impressionou, e me levou a escrever um ensaio a respeito desse fenômeno é o fato de eu nunca ter visto de maneira tão clara e óbvia este fenômeno. E não foi durante o treino que eu o percebi (até por que eu estava mais ocupado em suar e grunhir), mas depois. Para quem quer fazer parte da equipe de competição, participar dos treinos é obrigatório. Depois do treino, porém, cada um pode fazer o que bem entende de sua própria vida, e, costumeiramente, muitos de nós escolhemos irmos, todos juntos, até um restaurante na Lima e Silva, o Cavanhas, para comer, beber (nada alcoólico, devo dizer), jogar conversa fora e rir alto. Até ontem, todas as vezes que fomos para lá, fomos só os alunos, e nos comportávamos de maneira muito parecida com quaisquer outros grupos de amigos: sentávamos em uma mesa comprida, fazíamos nossos pedidos, comíamos, ríamos alto e conversávamos, sempre em pequenos grupos localizados ao longo da comprida mesa. Com o professor, contudo, foi bem diferente. Não que nós não comemos, não bebemos nem conversamos ou rimos um pouco mais alto do que o normalmente aceitável. Fizemos tudo isso, porém, com a presença do professor, tudo pareceu muito mais ordenado: os pedidos, a distribuição dos pratos, a conversa foi menos caótica e no final, até empilhamos a louça suja para que o garçom a recolhesse toda de uma vez. E nunca antes isso tinha sido feito. Quando só os alunos vão para o Cavanhas, não somos muito diferentes dos demais grupos lá reunidos. Porém, quando o professor vai junto, nós continuamos a nos comportar como se estivessemos em aula, por que a presença dele evoca um respeito que vai além da academia.

Bem, esses são os meus pensamentos a respeito do assunto por hoje. Não é nada muito profundo, mas certamente é curioso e interessante a diferença que faz uma figura de autoridade em um grupo. Para finalizar este texto, gostaria apenas de dizer que lamento o fato de minhas observações serem tão superficiais, porém, quero dizer que na cadeira de Introdução à Antropologia, terei que fazer observações parecidas com esta, e provavelmente poderei exercitar minhas habilidades de observação de Dinâmica de Grupo. A propósito, preciso de uma idéia de situação social para observar. Alguém tem alguma sugestão para me dar até essa terça-feira?