terça-feira, 24 de março de 2009

Difícil Harmonia

"Tempo, minha gente, é questão de prioridade minha gente" já disse várias vezes meu chefe de tropa sênior, Eli Velho de Guerra. Com isso ele quis dizer que, quando realmente queremos alguma coisa, arranjamos tempo para fazê-la, mesmo que trabalhemos ou estudemos em turno integral. Longos dois anos de faculdade e malabarismo cronométrico me permitem dizer que isto é verdadeiro, mas nem por isso fácil.

Treino Kung Fu duas ou três vezes por semana. Costumeiramente, vou nas terças e quintas no horário das 21 horas, depois que todas as aulas já acabaram e eu posso fazer o que bem entendo. Treinar me faz bem, por motivos e de maneiras demais para detalhar aqui. Contudo, de tempos em tempos, sou forçado a não ir para a academia e ficar em casa estudando ou fazendo algum trabalho para a faculdade. Hoje, por exemplo, resignei-me a ficar em casa para ler os textos para a disciplina de Psicologia Positiva, que é amanhã de manhã, e por isso, vou ter que transferir meu treino para sexta-feira.

Também há um outro lado nessa história - quando eu uso a faculdade como desculpa para minha preguiça de ficar jogado no sofá da sala olhando para o nada ao invés de sacudir minha inércia com o Kung Fu. Costumava fazer isso mais em Caxias do Sul, quando era apenas um estudante secundarista, e me deixava encantar pelas tardes inteiras vazias de atividades e cheias de ócio. Naquela época, eu podia fazer isso sem me sentir muito mal, mas agora, sinto um mal-estar muito grande por deixar a inércia me vencer e me manter parado. Talvez seja razoável dizer que sou muito mais saudável hoje, biopsicossocialmente falando (credo, que palavrão), e que os efeitos desagradáveis da minha preguicite apenas ficassem mascarados por um estilo de vida mais pobre.

Creio que progredi muito desde então na tarefa de conquistar a mim mesmo e meu comportamento, mas isto se deve aos meus esforços contínuos de treinar, de me disciplinar, de fazer o que me proponho a fazer, e isso não se restringe apenas ao Kung Fu ou aos estudos, mas a tudo. Se parar por um tempo longo o suficiente, os bons hábitos desaparecerão e em seu lugar surgirão outros, mas acomodados e pobres. E aí é que está: não me considero grande coisa em termos de disciplina ou força de vontade, mas eu nunca parei de treinar, desde meu primeiro ano do ensino médio até agora, mesmo que tenha sido sempre aos trancos e barrancos, tropeçando agora e me levantando depois. Talvez eu nunca alcance o nível onde a disciplina se torne absoluta e a vontade suprema, mas vou indo nesta direção, passo a passo, com autocontrole e harmonia cada vez maiores.