quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 11)

Quarto Semestre

Bom, já fazem três meses desde que o quarto semestre já acabou, e eu ainda não fiz a minha costumeira avaliação das disciplinas. Quase nem lembro delas, para ser franco, e isso parece ser um marco do quarto semestre: ostracismo. Muito pouca coisa das aulas me marcou de fato, pelo menos no que se refere às disciplinas obrigatórias. Pouco a pouco, fui abandonando as aulas, deixando elas de lado e me preocupando com outras coisas mais interessantes. Só não parei em absoluto de comparecer às aulas por que, a Psicologia da UFRGS é molenga e permissiva, mas não dá para abusar e rodar por falta à toa. Fiquei ali, quase no limite do intolerável. Questiono-me agora até que ponto isso valeu a pena, mas detalharei isso melhor por disciplina.

Avaliação Psicológica I – obrigatória
Overview:
Uma dessas disciplinas cujo conteúdo é extremamente importante, mas a forma como ele é dado deixa a desejar. Estaria sendo injusto se responsabilizasse apenas os professores por causa disso – faltei muitas aulas, e nas poucas que eu fui, prestei pouca atenção – mas não sei se há uma maneira realmente eficaz e envolvente de ensinar Psicometria. Arrependo-me um pouco por ter sido displicente com essa cadeira, mas acho que vou aprender mais sobre avaliação psicológica na prática, aplicando os testes para valer e entrevistando pessoas.

Método de avaliação:
Uma prova e um trabalho. A prova foi uma coisinha ridícula, pois fazem 10 anos que o professor usa a mesma. Pisei na bola por tentar estudar demais pelo livro e por não ter decorado as respostas do gabarito. Fui bem de qualquer forma, mas como as notas foram atribuídas por curva normal (mais ou menos como no vestibular, se a média de acertos é baixa, quem acerta um pouco mais vai bem melhor, mas se a média é alta, quem erra um pouco menos é prejudicado), acabei tirando só um B. Quanto ao trabalho, ele foi realmente interessante, pois tivemos que aplicar testes de verdade e realizar uma anamnese com alguém, e isso realmente valeu a pena. Contudo, o trabalho escrito foi chatinho de fazer, mas isso já é meio intrínseco a ele, pois era, no final das contas, um parecer psicológico, e pareceres não são conhecidos por sua riqueza literária.

Psicologia e Educação - Obrigatória
Overview:
Olha, essa cadeira foi uma excelente surpresa. No começo do semestre, não esperava que fosse ser muito melhor do que as disciplinas anteriores do Departamento de Psicologia Social – achei que ia ser a mesma dobradinha de papo furado sobre subjetividade e trabalhos idiotas que não acrescentam nada. Mas foi bem mais do que isso. O assunto é realmente interessante, e a professora fez com que ele não se estragasse, mas ficasse mais interessante ainda, além de ser ela mesma um exemplo de didática e dedicação. Às vezes as aulas ficavam “discutidas” e “desconstrutoras” demais, e mais para o final do semestre, eu fui ficando cada vez mais distante, indo menos nas aulas e participando menos quando presente. Realmente me arrependo disso.

Método de avaliação:
Dois trabalhos e participação em aula. O primeiro trabalho consistia em uma apresentação para a turma e um trabalho escrito em grupo, enquanto que o segundo era um ensaio crítico sobre os textos lidos em aula. Os critérios utilizados foram claros e bem aplicados. Quanto à participação em aula, foi um método de avaliação interessante, pois, na última aula do ano, ela discutiu pessoalmente com cada um de nós qual nota achávamos que merecíamos, e dizia se ela concordava com isso ou não. Ela é bastante honesta nisso. No meu caso, recebi menos nota do que eu originalmente achava merecer, mas diante da metodologia honesta e direta dela, acabei achando que a nota foi muito justa.

Psicopatologia II - Obrigatória
Overview:
A mesma coisa que Psicopatologia I. As aulas não acrescentaram nada de relevante à minha formação, exceto a possibilidade de fazer piadas sobre “André, o pervertido que gostava de chupar homem sujo” que foi o estudo de caso preferido da professora, que o citava sempre (semestre passado era o Jeremias). Bom, não é de surpreender, considerando que a linha de pesquisa da professora é a psicopatologia dos personagens literários. Isso realmente dá crédito para uma instituição de ensino de excelência.

Método de avaliação:
Três trabalhos, um sobre perversão, outro sobre neurose e um terceiro, metido no final do semestre sabe-se lá por que, sobre qualquer coisa. Meu trabalho de perversão ficou OK, e esse último trabalho sem sentido, nem entreguei (e fico muito feliz de assim ter procedido). Meu trabalho de neurose, contudo, ficou uma obra-prima – duvido que alguém no Brasil tenha feito qualquer coisa sobre este assunto com a mesma profundidade e criatividade que eu. OK, chega de acariciar meu pobre ego que tanto quero morto. Contudo, como eu já imaginava, a professora não soube ver estas qualidades do meu trabalho, e para variar, tirei B novamente. Pelo menos já não me importo com isto.

Ética – Obrigatória
Overview:
Cadeira que, pra mim, não fede nem cheira. Teve bons momentos, e no começo do semestre eu estava inspirado para as discussões, mas conforme fomos avançando, as aulas foram ficando mais repetitivas e eu com menos paciência, e então parei de me importar muito (só o suficiente para passar).

Método de avaliação:
Três trabalhos: uma apresentação em grupo, um ensaio livre e um trabalho menor sobre casos éticos verdadeiros. Nossa apresentação sobre psicoterapia e serviços de Psicologia pela internet foi OK, assim como os outros dois trabalhos também. Aliás, acho que meu problema foi esse: estava tudo OK, mas não estava lá muito bom. O ensaio livre, que é meu território por excelência (porra, esse blog tá cheio deles!), ficou meia boca por ter sido feito na pressão de ter que ser bom (e por ter sido escrito em cima da hora).

Genética para a Psicologia – Eletiva
Overview:
Melhor disciplina do semestre, sem a menor sombra de dúvida. O nome da cadeira pode parecer meio árido, mas o professor vai muito além da genética propriamente dita, e abarca neurociências, filosofia da ciência, evolucionismo e muitas intersecções possíveis entre estes assuntos, todos do meu interesse. Talvez outro colega meu, mais “teatro subjetividade”, chegado em Deleuze, Guattari e Lacan não curtisse muito a proposta da disciplina, nem a atitude do professor, que adora uma polêmica, mas outro amolador de facas certamente se beneficiaria e se divertiria. Aliás, é justamente a posição debochada e questionadora do professor que faz essa cadeira tão divertida, desafiadora e instigante. Se você fizesse uma afirmação que fosse contra a opinião dele, ele retrucaria “tem paper pra provar isso?” Se você não tivesse um artigo para comprovar tuas opiniões, teria que sentar quietinho e ouvir o resto da aula. Agora, se você tiver o paper, ele certamente vai lê-lo e, muito provavelmente, mudar de opinião. Poderia criticar essa posição materialista e academicista, que só aceita artigos científicos como verdade, mas eu posso contar nos dedos de uma mão só quantos professores meus fariam isso que ele faz.

Método de avaliação:
Duas provas e um trabalho. Para alguém que faz Psicologia na UFRGS, duas provas é o equivalente a um estupro, mas dá para encarar. São provas muito mais interpretativas, de entender o texto e ligar os pontos entre ele e as respostas, e não de apenas decorar o conteúdo. Mas a jóia desse semestre, sem dúvida, foi o trabalho. Tivemos que apresentar um seminário para a turma sobre um paciente com alguma doença genética ou similar, apontando os sintomas e problemas causados, a vida do paciente por causa dela e possibilidades de como lidar com isto. Para isto, tivemos que ir até o hospital e acompanhar os atendimentos destes pacientes, discutir o caso com os professores e pesquisar seriamente sobre o que fazer. Meu trabalho ficou muito bom, apesar de ter sido feito baseado só em telefonemas e uma quase-consulta. Além de muitos pontos de XP (experiência, em nerd), também me rendeu alguns pontos de prestígio. Depois das apresentações, ocorreu uma reunião jurídica, com a presença da mãe da paciente que acompanhei. Meu trabalho serviu de guia para o professor saber onde estava se metendo, e eu fiquei lá, acompanhando e até dando minha opinião de vez em quando. Perdi o primeiro pedaço da aula de Psicologia e Educação por causa disso, e eu não era realmente indispensável lá, mas o fato de ter ficado para a reunião pegou bem. Pelo menos eu acho, já que vou começar a trabalhar lá próxima terça-feira.

Neuropsicologia – Eletiva
Overview:
A única eletiva que realmente me decepcionou. Passamos a maior parte do tempo assistindo as apresentações dos colegas, e a professora quase não deu aula, com a exceção do início do semestre. O conteúdo também não me deixou muito feliz. Achei que seria Neurociências, mas acabou sendo muito mais uma introdução à Neuropsicologia Clínica, com um pouquinho de pesquisa sobre memória. Para quem gosta do assunto e quer trabalhar com isso foi ótimo. No meu caso, só deixou ainda mais claro que não perdi nada em não fazer a seleção para o estágio no Serviço de Neuropsicologia do Hospital de Clínicas (eu nem podia mesmo).

Método de avaliação:
Boa pergunta. Não sei como foi a avaliação. Tivemos que fazer uma apresentação em grupo para a turma, mas não sei como isso seria o suficiente para avaliar e dar notas por todo o semestre. Bem, tirei A e estou feliz com isso.

Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos – Eletiva
Overview:
Foi o que eu gostaria que a disciplina de Neuropsicologia tivesse sido, e portanto, a segunda melhor disciplina do semestre. A dinâmica das aulas me lembrou muito Análise Experimental do Comportamento, que cursei no distante segundo semestre da faculdade – como havia pouca gente em aula, podíamos discutir com mais liberdade os assuntos, que realmente correspondiam ao nome da cadeira. Também foi um excelente substituto às aulas de Psicopatologia, pois realmente discutíamos doenças sérias e seus correlatos neurais aqui, ao invés de ficarmos falando sobre o sexo faz-pipi dos anjos. Como o progresso das aulas dependia quase que exclusivamente de nossas leituras de artigos, precisávamos ler bastante, e nem sempre conseguíamos fazer isso adequadamente. Além disso, os artigos eram complicados, e mesmo quem já trabalha na área se complicava um pouco com alguns deles. Mas nem a professora nem nós deixamos com que as aulas se tornassem maçantes, o que é realmente admirável.

Método de avaliação:
A avaliação também foi muito similar à de Análise Experimental do Comportamento, e baseou-se quase que exclusivamente em participação em aula e interesse demonstrado pelo aluno durante o semestre. Também tivemos que fazer uma apresentação em grupo para a turma (isso é um paradigma na Psicologia). Foi a mesma coisa que a cadeira de Neuropsicologia propriamente dita, mas como a dinâmica de Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos foi muito diferente, foi bem mais adequado.

E não perca, no próximo post desta série: quinto semestre!