sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Narrativas

Acabei de checar meu e-mail. Pois é, nada de novo aí, considerando que faço isso quatro ou cinco vezes por dia. O que me levou a escrever um post a respeito foi uma mensagem que recebi, contendo o programa de uma disciplina obrigatória, Método Clínico e Diagnóstico. Como quase a totalidade das cadeiras de clínica, ela segue a orientação psicanalítica de Jacques Lacan. Quem lê este blog ou convive comigo e tem QI suficiente para discutir questões psicológicas sabe que eu detesto psicanálise, e que tenho espasmos de raiva quando ouço algum colega meu falar, com cara de sujeito suposto saber entendido, alguma bobagem que o Freud ou Lacan disseram em algum momento como se fosse a mais profunda verdade, ou quando leio os horríveis e incompreensíveis textos deste último cidadão ou do Deleuze e Guattari. Pelo menos costumava ser assim.

Não quero que me entendam mal - continuo não gostando deles por vários motivos, filosóficos, científicos e pessoais, mas nos últimos tempos, mas tenho os visto por um ângulo completamente diferente. Eu gosto de Neurociências, Psicologia Experimental e tantas outras coisas parecidas, considero elas importantes métodos de busca da verdade, mas não os únicos. Por mais que me desagrade, o saber produzido pelos psicanalistas, esquizoanalistas e toda essa trupe que não gosto também é importante. Numa visão pós-moderna, a ciência é uma narrativa, uma maneira de dizer algo a respeito do mundo, e existem muitas maneiras de fazer isto. Todas elas, seja a ciência moderna, a poesia, a literatura, a psicanálise, a mitologia, a religião, são importantes, por exporem lados diferentes do mesmo objeto, e se superpõem e se complementam. Seria uma pena se qualquer um desses desaparecesse e fosse suplantado em nome de uma maior cientificidade.

Este post marca a minha conversão ao Lacanismo? Não, continuo achando "O Estádio do Espelho na formação do [eu]" uma charlatanice, assim como praticamente todos os outros textos lacanianos que tive quer ler para a faculdade, mas há pessoas que os apreciam, e não há nada de errado com isto. Minha personalidade e meu destino me fizeram gostar de coisas como Terapia Cognitivo-Comportamental, mas meus gostos não são infalíveis, e não devem ser usados como modelo universal do que é certo. Seria um leito de Procusto. Quero dizer que todas as formas de conhecimento são equivalentes e que "tudo vale"? Sim, mas só até certo ponto. A ciência trouxe muitas vantagens para a humanidade, e continua trazendo. Porém seu alcance tem limites, como tudo que é humano. Para aquilo que seu discurso não abarca, há outras maneiras de pensar, como a religião e (ai ai) a psicanálise. No sentido oposto, é impensável substituir inteiramente a Medicina moderna pelo xamanismo ou por uma análise, por que isto seria estúpido e perigoso. Agora, fazer as três ao mesmo tempo para tratar um problema de saúde, por que não? Pode ser benéfico. Eu mesmo tenho tentado, quando leio alguma coisa de psicanálise, tirar algo de positivo, por mais detestável que possa ser, e incorporar na minha prática profissional.

Muito critiquei o pós-modernismo por sua atitude de "tanto faz", nihilista, mas a tolerância que perga é admirável. Posso não gostar das idéias de Freud ou de Lacan, mas quem sou eu para saber se eles não encontraram alguma verdade?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

De volta dos mortos... outra vez

Pois é, fieis, valorosos e parcos leitores do Espadachim Cego, voltei ontem da praia e estou aqui em Porto Alegre desde hoje de manhã. E, ao contrário do que tinha prometido no post anterior, não escrevi absolutamente NADA no tempo que fiquei em Paraíso – nem a respeito da Expedição Austral, nem sobre nada. Em compensação, li bastante. Não que isto seja alguma novidade bombástica, já que eu sempre leio bastante, mas quero deixar claro que meu tempo não foi de todo mal aproveitado.

Em todo caso, gostaria de deixar claro que, apesar deste lapso meu, não abandonei a idéia de escrever sobre minhas aventuras na Patagônia e que, de agora em diante, consagrarei uma parte do meu dia exclusivamente para escrever. Hoje retorno à minha tranqüila rotina de férias, lendo, escrevendo e treinando, que durará apenas até segunda-feira quando recomeçam minhas aulas e, com sorte, meu segundo estágio (que ninguém sabe quando começará a convocar seus escravos estagiários). Não prometo a taxa de atualização obscena do ano passado (que levou o Marcelo a dizer que “escrevo feito um tarado”), mas garanto que continuarei escrevendo bastante por aqui.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Histórias por vir

Um aviso aos leitores deste blog: amanhã de manhã irei para Paraíso, praia povoada no verão por velhos, crianças e pessoas sem internet, por isso, não atualizarei o blog até quarta-feira. Eu sei que dizer isso é bobagem, considerando que aquelas atualizações diárias que eu fazia antigamente foram para a cucuia, mas o que vim dizer neste post mesmo é que, apesar de longe da internet, não estarei ocioso. Aproveitarei meu tempo livre e escreverei sobre a Expedição Austral. Aguardem (ou não. Tanto faz de qualquer jeito).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre o tempo e relógios esquisitos

Morei e cresci em Caxias do Sul por quase toda minha vida, mas desde que comecei a faculdade em Porto Alegre, há dois anos, não tenho sido muito diferente de um turista, vindo para a cidade natal em alguns finais de semana e logo voltando para a capital para continuar os estudos. Dá para perceber que minha relação com a cidade mudou de morador para visitante só pela organização sintática do meu texto - eu volto para Porto Alegre de Caxias do Sul, e não o contrário.

Esse distanciamento me faz ver Caxias de outros ângulos que antes me eram inacessíveis. Quando se vive em um lugar, não se nota suas mudanças, apenas paulatinamente. Devargazinho, um detalhe que outro muda, até que, 10 anos depois, já não se vive mais na mesma cidade, apenas no mesmo local. Agora, quando apenas se visita um lugar, todas as mudanças são - ou parecem - bruscas. Não por que sua presença mágica faz com que as coisas se transformem de repente, mas como você não estava por aqui acompanhando os detalhes mudando a passo de formiga, vê apenas o resultado, e não o processo. Hoje tive esse impacto pelo menos duas ou três vezes.

Caxias do Sul é o pólo industrial mais importante do estado, mais do que a própria capital, arrisco dizer, atrái muitos investimentos e pessoas, e por isso muda muito rapidamente. A última vez que estive aqui e pude ver o centro da cidade com mais calma foi a quase um mês. Dá tempo para muita coisa mudar, ou, pelo menos, parecer muito diferente. Logo na rodoviária, quando desci do ônibus, percebi que as coisas por lá estão mais arrumadas, bonitas. Não gosto de rodoviárias e acho todas elas feias e sujas (por que são mesmo), e a daqui de Caxias parecia mais limpa do que de costume. Claro, fizeram uma rampinha bonitinha ao lado do desembarque, colocaram uns vidros bonitos e pintaram as paredes de branco com detalhes em azul e amarelo. Da última vez que desci lá, só havia poeira e cimento para todos os lados. Eu poderia ligar os pontos e pensar "olha, terminaram a reforma", e de fato fiz isso, mas só depois que o impacto do local estar tão diferente ter passado.

Depois, já fora da rodoviária e no centro da cidade, atravessando a Sinumbu, do lado da praça Dante Alighieri, vejo uma coisa estranha naquele pedaço de calçada no meio da rua. À primeira vista, parecia um daqueles relógios que também dão a temperatura, só que mais afrescalhado. Numa inspeção mais atenta, percebi que era quase isso - era uma bomba-relógio um marcador contando quantos dias faltam para a Festa da Uva de 2010. 364 dias até o grande festival de terra, pão e vinho com o qual eu não poderia me importar menos. Da última vez que passei por ali, ao contrário do que aconteceu no caso da rodoviária, não havia nada que indicasse a futura aparição do Inri Cristo e seus anjos do Apocalipse daquele trambolho prateado. Eu sei que para ele aparecer ali ocorreu todo um processo, desde a liberação da prefeitura até a construção do mecanismo e sua eventual fixação anal ao solo, mas para eu que só vi ele hoje, parece que ele caiu de alguma nuvem no céu. Foi ali, naquele momento quando todas estas coisas fervilharam em minha cabeça, que este post nasceu.

E, ainda impressionado com como as coisas mudam, quase chegando ao lar, vi que pintaram uma das casas aqui da rua de um verde bem chamativo, ao contrário da cor antiga, apagada demais até para eu lembrar. Ficou bonito. Sábado estarei indo gerundicamente para Paraíso, a praia onde passei todos os verões de minha infância. Faz pelo menos um ano desde a última vez que estive lá, quando tive o choque de descobrir muitas coisas mudadas. Provavelmente há mais novidades que caíram do céu me aguardando por lá para me surpreenderem.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A Alquimia do Estágio

Na sociedade ocidental contemporânea (ai, que clichê essa introdução!), os jovens geralmente passam boa parte de suas vidas estudando, e ao longo deste percurso, enfrentam muitas mudanças e crises de identidade, como diria o velho Erik Erikson. Em relação à escola, a primeira crise é quando começamos a freqüentar o jardim-de-infância ou a creche, e pela primeira vez conhecemos pessoas que não são nossos parentes. Depois, vem a 1ª série, o ensino médio, o vestibular, o começo da faculdade e o começo dos estágios. Pois é, caros amigos, como vocês bem sabem, estou enfrentando esta última crise.

Considero a “crise de estagiário” qualitativamente muito diferente de todas as outras crises que a antecederam. Quando se entra no ensino médio, faz o vestibular ou começa a faculdade, apesar da mudança de contextos e cobranças, você continua fazendo a mesma coisa – estudar. Pode ser que o 1º ano do ensino médio seja mais difícil que a 8ª série do ensino fundamental, que o vestibular exija que você decore muita coisa irrelevante (por exemplo, que Frederico Westphalen é uma cidade produtora de jóias semipreciosas) e que na faculdade você tenha que estudar assuntos muito mais específicos do que história, matemática ou geografia, mas, em essência, para superar todas estas crises a estratégia é a mesma: ler livros, fazer anotações em aula, tirar dúvidas com os professores e colegas. Quando você começa a estagiar, isso tudo, apesar de continuar importante, torna-se insuficiente, pois sua competência e aprendizado não serão medidos por provas e testes, mas na prática, atendendo pacientes, melhorando a vida deles, fazendo o que é necessário. E isso é muito mais complicado do que dissertar sobre a natureza do Self, ou discutir os aspectos teóricos das crenças centrais. De certa forma, é um pouco como ir para a escolinha pela primeira vez, com a diferença que, agora, seus erros influenciam muito mais pessoas do que seus coleguinhas, seus pais e as “tias”.

Como já disse por aqui, esta sensação de desamparo é tão grande, que quando confrontei meu primeiro paciente, pensei “tudo que estudei foi para nada!”, pois senti-me absolutamente despreparado para fazer qualquer coisa. Naquele momento, pareceu extremamente verdadeiro dizer que ler não adiantava para nada, mas esta afirmação não se sustenta diante de uma análise cuidadosa e honesta, como percebi alguns minutos mais tarde. Os estudos não me prepararam para trabalhar, mas onde e como eu estaria se não tivesse lido absolutamente nada, exceto o básico para passar nas disciplinas da faculdade (e que não é tanto assim)? Acho que é razoável dizer que eu estaria ainda mais perdido e fazendo estágio num lugar cagado como a Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS ou no CAP-SOP.

Não, para quem enfrenta os estágios, as leituras são ainda mais fundamentais. Eu poderia cair na falácia de dizer que quem começa a trabalhar deve descobrir o que funciona e o que não funciona tudo por conta própria, que a teoria não funciona na prática e que estudar é perda de tempo. Mas não vou fazer isso. Teorias são sínteses das experiências de outras pessoas, e não ler a respeito delas é jogar fora o conhecimento acumulado por outras pessoas muito boas que se dignaram a dividi-lo. Mas o problema todo não é ter conhecimento sobre o que fazer no estágio (se fosse, os filósofos teriam emprego garantido), mas saber o que fazer. Essa diferenciação entre “saber” e “conhecimento”, e a relação entre “saber” e “poder” foi descrita por Michel Foucault, pensador francês e careca. Só agora percebo o valor do que ele diz (aliás, teria esquecido completamente dele, se não fosse o Brunão me lembrar dele ontem, conversando entre um paciente e outro).

Tenho visto, nestes dias como estagiário, que conhecimento e saber são duas coisas distintas, mas intimamente ligadas – lendo eu tenho idéias sobre que intervenções fazer em uma consulta, e aplicando-as, vejo quais idéias são boas, quais não são e com quais eu trabalho melhor. Outra conversa com outra pessoa, a Mariza, psicóloga (já formada) do ambulatório pode ilustrar melhor o que quero dizer. Em um dado momento, quando ia pegar uma folha de papel para escrever alguma coisa durante uma consulta, nos esbarramos no corredor, e ela me pergunta “precisa de alguma coisa?” – perguntei se ela não teria um pouco de experiência para vender (tipo o Tome of Experience do Warcraft III, que seria realmente útil na vida real). Ela me respondeu citando um psicanalista cujo nome já esqueci que disse que, com o tempo, as nossas leituras iriam se amalgamando em nós mesmos. Achei essa uma metáfora muito bonita, e que resume bem a maneira como penso a relação entre teoria e prática.

Transformar o conhecimento em saber, aplicar a teoria à prática, especialmente em uma profissão como a Psicologia, é um processo extremamente pessoal, ao mesmo tempo simples e difícil. De forma poética, poderia dizer que é um processo alquímico, onde precisamos transformar o chumbo de nossos estudos no ouro de nossa prácita. É bom poder conversar com professores e outros psicólogos com experiência clínica (mesmo psicanalistas), pois eles podem dar idéias interessantes e nos ensinar novas maneiras de encarar um problema. Mesmo assim, eles não vão estar lá conosco quando atendemos um paciente particularmente complicado, e como vamos aplicar nosso conhecimento e transformá-lo em saber ainda é problema nosso. E eu tenho pilhas de chumbo aqui para transformar em ouro.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Arte de usar palavrões

Quando se escreve um texto, há vários recursos disponíveis, mas que cujo uso precisa ser bem pensado para não estragar com tudo. O melhor exemplo disto são os palavrões.

Palavrão é uma coisa complicada, por que ao mesmo tempo que pode dar uma ênfase poderosa à mensagem que se pretende passar, também pode desmoralizá-la por ser vulgar. É como lítio - na quantidade certa, impede as violentas variações de humor do Transtorno de Humor Bipolar, mas se passar um pouco da dose terapêutica, mata. OK, lítio também pode levar a obesidade e depois do décimo surto não medicado não adianta nada, mas isso não vem ao caso aqui.

Descobri hoje um blog muito legal e que exemplifica bem o que quero dizer neste texto aqui - o Substativolátil. A autora e gatinha Mirian Bottan (tem a foto dela no blog) escreve crônicas (eu acho) sobre coisas corriqueiras como o fato dela odiar telefones, considerações filósoficas sobre gramática e o agora e outros assuntos legais mas que ainda não tive tempo de ler. De vez em quando, aparece um "bosta" ou "cu" nos textos dela, mas é com tanto jeitinho, tanto charme, que parece natural que estas palavras ditas feias apareçam onde aparecem. Claro, ela escreve bem (ou eu não teria usado ela como exemplo), e sabe como dosar os "termos tabu", mas aposto que ela demorou um pouco para dominar esta arte, errando bastante, que muitas pessoas de talento ainda não a dominaram, e escrevem textos cheios de potencial, mas que perdem apelo ou força por que colocaram palavrões demais ou fora de lugar. Textos sobre política na blogosfera são os mais afetados por este problema (e por serem bobagens pura, mas não vem ao caso, novamente).

Isso tudo, creio eu, se aplica também à língua falada, essa que a gente usa todos os dias com as outras pessoas. Lembro de uma reunião do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre particularmente agitada que assisti, onde um médico particularmente indignado com a rapidez com que os gestores mudavam falou que "tem muito motel que inveja nossa rotatividade" (OK, não é palavrão, mas é potencialmente muito ofensivo), ou todas aquelas discussões onde alguém encerrou magistralmente sua argumentação bem estruturada e ponderada com um "pô, se é pra ser assim, vai tomar no cu!" ou coisa parecida. Mas aqui está o pulo do gato: colocar palavrões em um texto ou fala só fica bom se o texto ou fala for bom por conta própria, e o palavrão servir apenas como um recurso, e não ser o argumento principal (como é o caso deste post aqui). Se isso não for respeitado, teremos um texto bagaceiro. Tipo aqueles fimes como "Todo Mundo em Pânico" ou "Superhero Movie", só que em palavras.

Outro problema com os palavrões pode ser cultural. Pensando neste assunto, me lembrei da época que morei nos Estados Unidos como intercambista. Uma das primeiras coisas que aprendi na escola foi sobre o uso correto dos palavrões. Em sala de aula é tabu dizer qualquer coisa mais "feia", e não me refiro apenas aos clássicos "fuck", "shit", "ass" e variantes divertidas, mas também "hell" e "damn". Pô, aqui no Brasil um professor pôr pra fora da sala alguém que diz "foda-se" durante a aula é compreensível, mas por dizer "dane-se", alguém já viu? E inferno? Pra mim inferno é para onde psicanalistas as pessoas más vão quando morrem, e não um termo a ser evitado! Aliás, "vai pro inferno" é uma exclamação extramemente sonora de indignação, e muito triste ficaria se tivesse que parar de usá-la.

Então, quando na escola lá nos EUA, eu precisava ter cuidado pra não escorregar a língua e dizer bobagem na hora errada pra não parar no SOE ou qualquer que seja o nome que dão para a "sala de tomar esporro" por lá, por que os professores não toleram este comportamento (exceto o de história mundial, que sabia o gênio que eu sou e que também escorregava na etiqueta de vez em quando), mas não quer dizer que o povo abria a mão totalmente do poderoso efeito moral que dizer "fucking" antes de qualquer coisa tem. Para fazer isto, se lança mão de um mecanismo meio psicanalítico de defesa, mudando só um pouquinho a frase para torná-la aceitável. "Fucking" se torna "frigging", "freaking" ou "flipping"; "shit" vira "shoot" e "holy shit" se transforma nos divertidos "holy schinakees" ou "holy schomoligans". Como nem o santo nome de Jesus pode ser usado em vão, ele vira "Gee" ou "Jeez" ou "Jebas".

Fora da escola, contudo, algumas pessoas de meu círculo de amizades usavam tantos palavrões que eu ficava envergonhado. Não sei se o inglês (a língua, não aquele cidadão que mora no Reino Unido) tem essa característica de ser mais ofensivo, ou eu não estava acostumado a ouvir alguém falar tantos "fucks" consecutivamente, ou se eu fiquei dessensibilizado de ouvir palavrões em português e não sou mais capaz de perceber que xingar nas duas línguas é igualmente ofensivo ou impactante. Como eu não fazia todas estas considerações quando ouvia aquele gringo menor de idade mascando tabaco (proibido por lei) xingando todo o universo, eu ficava vermelho.

Por isso amiguinhos que chegaram até aqui, para concluir este texto, gostaria de dar uma dica, caso você queira escrever um texto ou fazer um discurso com palavrões no meio: vá em frente, só saiba dosar a coisa toda, ou vai ficar com a mesma cara de panaca que eu estou agora, tentando concluir este post.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dica de blog

Não costumo fazer muitos posts divulgando sites ou blogs alheios, apenas quando encontro um que mereça divulgação. Pois bem, encontrei essa semana um blog muito bom, o Contraditorium. Lendo os muitos excelentes textos lá publicados, descobri que sou um alienado da blogosfera, que não sei merda nenhuma do que acontece na internet por que não estou linkado a quase ninguém exceto o Play the Coin! e um que outro blog anti-social como o meu (estou olhando para vocês, Marcelo e Bruno). Mas estou fugindo assunto aqui, até por que não vou me coçar pra deixar meu blog popular (nem os outros dois anti-sociais supracitados).

O que quero dizer aqui é que o Contraditorium é muito bom e vale a pena ler. O autor tem opiniões que variam do divertido ao polêmico, sobre temas muito variados, mas especialmente sobre a cultura da internet. Ficadica.

Drugs

Algumas pessoas são viciadas em chocolate; outras, em álcool, drogas ilícitas, atenção, sexo, dormir. Se eu tenho um vício, algo que preciso pra viver, é treinar Kung Fu. E estou tendo uma crise de abstinência neste exato momento.

Post Obrigatório sobre Big Brother

Depois de escrever um post enquanto assistia a novela, escrevo agora um outro post, dessa vez assistindo "Big Brother Brasil". Sinceramente, acho que este programa é subvalorizado pela academia. Um estudo psicológico sobre os traços de personalidade das pessoas que participam dele deveria ser feito. Tenho a hipótese de que 90% deles seriam considerados patologicamente egocêntricos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A novela e minhas esquisitices

Várias vezes nesse blog eu afirmei que sou um anormal (isto é, fora da curva normal), embasado em observações empíricas. Mais uma vez, venho dizer aqui que sou um anormal. Neste exato momento, enquanto digito estas linhas, estou assistindo a novela das 8, "Caminho das Índias", por que aqui onde estou a TV e o computador ficam no mesmo cômodo. É a mesma história de "O Clone", só que ao invés dos muçulmanos dançando por qualquer peido e dizendo lugares-comuns culturais numa cidade do Marrocos, são hindus dançando como se fossem figurantes em um filme indiano e largando frases pseudoculturais altamente forçadas. Ah sim, até onde eu sei, não há nenhuma trama sobre algum assunto científico controverso (o que é uma pena. Seria do caralho ver uma história sobre a pesquisa neurocientífica com os meninos da FASE na novela). Resumidamente, é insuportável.

Contudo, tenho que dar o braço a torcer para a Glória Perez. Apesar dela não ser exatamente criativa em termos de enredo (a próxima novela dela vai ser na África, escrevam o que eu digo), ela sempre dá um jeitinho de colocar no meio de toda aquela baboseira dos diálogos um pedacinho de filosofia da cultura retratada. Não dura muito tempo, pro povão não ficar esperando demais pra saber o que a Juliana Paes vai fazer da vida e mudar de canal. E é aqui que eu sou anormal: pouco me importa se a Juliana Paes vai casar com o noivo que a família escolheu. Acho muito mais interessante ver o que o brâmane Lima Duarte tem para dizer sobre o Baghavat Gitah.

Numa nota apenas tangencialmente relacionada, os indianos dançando em cima das colunas na entrada da novela (0:32s de vídeo) me lembram de Tunak Tunak Tun. Uma verdadeira jóia.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Lá e de Volta Outra Vez - Voltando do Sul e indo para o Norte

Faz um pouco menos de um mês desde que voltei da Argentina. Contudo, apesar de todo o sofrimento, toda a angústia e privação que passei na Patagônia Selvagem, a estrada chama novamente, e amanhã mesmo viajarei para Campo Grande - irei de avião, voltarei não sei como.

Viajar de verdade, conhecer pessoas e se envolver em mundos até então desconhecidos, é viciante. É diferente de apenas ir a um lugar famoso qualquer, como a Torre Eifel, tirar umas fotos e colocar no Orkut para todo mundo ver - é ter uma história para contar sobre aquela foto onde você aparece seis quilos mais magro e com cara de sono na frente de uma pizza de aspecto duvidoso. Esses dias, recebi um e-mail do Marcelo, com quem viajei pela Argentina. Quando ele tinha o enviado, estava em Aracaju, no Sergipe. Dias antes, ele estava acampado em Belém do Pará em uma tenda feita com troncos de madeira que ele próprio carregara da mata vizinha. Por alguns minutos, arrependi-me amargamente de não estar lá com ele, mesmo sabendo que ele (provavelmente) estava sendo devorado vivo por mosquitos do tamanho de baratas. Sendo um pouco pretensioso para afirmar tal coisa, digo que isto sim é viver. Não quero dizer com isto que deveríamos todos nos converter em sadhus e nos mortificarmos. Creio, contudo, que abandonar todo este conforto estupidificante e correr riscos, aceitar o desafio que a vida nos propõe, é algo que todos os seres humanos são chamados a fazer, mas poucos têm coragem para tanto.

Terminei de ler hoje "O Hobbit", de J.R.R. Tolkien, e, apesar de algumas pessoas acharem o livro infantil, identifiquei-me imensamente com Bilbo Bolseiro, o personagem principal que, um belo dia, conhece o mago Gandalf, e é arrastado para uma grande jornada junto com um bando de anões para matar um dragão do qual nunca antes ouvira falar, e recuperar um tesouro no qual pouco se interessava. Digo que identifiquei-me imensamente com este pequeno ser de pés peludos por que, apesar de sua tarefa ser muito mais dramática que a que enfrentei na Patagônia, vivi o mesmo processo que ele. Ele saiu de sua casa aos trancos e barrancos, preocupado por que não tinha nem sequer um lenço em seu bolso, e quando retornou ao lar, não precisava tanto assim de lenços; quando a viagem começara, nenhum dos anões acreditava que ele fosse capaz de chegar à Montanha Solitária onde dormitava Smaug, o dragão; mas, conforme progrediam, ele crescia em coragem, audácia e habilidade, até que enfim tornou-se o verdadeiro líder da expedição, um herói pequeno em estatura, mas grande em valor. A virada da maré, quando ele passou a acreditar em si mesmo, aconteceu quando ninguém havia para resgatá-lo, mas mesmo assim ele se salvou. Na grande Floresta Negra, ele fora atacado por uma aranha gigantesca e, sem a ajuda de nenhum dos anões, esquivou-se dela e a matou. Mais do que isso, ele ainda resgatou seus companheiros da morte certa, libertando-os das teias das aranhas restantes e liderando o contra-ataque. Lembrei-me do momento em que chegamos em Buenos Aires, depois de três dias buscando transporte para o norte desesperadamente, sem fogareiro, nem barraca. Como Bilbo, conseguimos.

Como Einstein disse uma vez, a mente que expande seus horizontes nunca mais poderá voltar ao seu tamanho original. Depois de uma aventura como esta, ninguém volta o mesmo, pois a insegurança, o comodismo e o medo do desconhecido, todos intimamente ligados, desaparecem, nunca completamente: apenas deixam espaço o suficiente para que possamos perceber que não precisamos deles. Pode-se voltar ao mesmo estilo de vida que se vivia antes de viajar verdadeiramente, mas não da mesma maneira. Sabe-se então que o mundo é muito maior, e que se tudo aquilo desaparecesse subitamente, o mundo não estaria perdido. É uma sensação deliciosa, ao mesmo tempo aterrorizante e prazerosa.

Tendo vivido tudo isto, visto minha Montanha Solitária e morto meu próprio dragão, não posso mais ficar em casa, como se aposentado estivesse de viajar. Como diria o próprio Bilbo, "é um negócio perigoso, sair pela própria porta. Você pisa na estrada, e se não controlar seus pés, ninguém sabe onde eles irão levá-lo".

Um Ano de Jornada

Ontem este blog fez um ano. Queria ter feito um post comemorativo, mas acabei indo comemorar outras coisas com meus colegas de estágio em um bar no Centro e acabei esquecendo completamente de escrevê-lo. Como prova de que superei, ainda que só um pouco, minhas obsessões de exatidão e simetria, faço o post agora, com um dia de atraso.

Apesar de todo este meu drama, não acho que haja muito o que falar a respeito deste um ano de blog. Um colega meu, no início do ano passado, quando este blog estava em seus princípios, me disse que, apesar de não gostar de tudo que escrevo, sempre gostou de como eu escrevo, e que meu estilo melhorou com a faculdade, assim como minhas capacidades de escrita. Não me lembro se ele disse por que isto ocorria, mas imagino que todo o processo de estudar Psicologia, lendo, discutindo em aula e escrevendo trabalhos poliu minhas habilidades literárias e argumentativas. Um ano depois, estas influências continuam me moldando ainda mais, com a diferença que, ao longo do ano de 2008 tive mais este espaço aqui para fazer minhas perguntas ao mundo. Não é uma tarefa simples, pois elaborar uma boa questão envolve discernimento do que não se sabe e do que se quer saber, além da capacidade de colocar tudo isto em palavras. Nem sempre tive sucesso nesta empreitada, e escrevi muita bobagem, mas, se comparado com onde estava há um ano, acho que progredi bastante.

Fez diferença eu criar um blog meu, com um nome e um foco mais idiossincráticos. No Roqueiro & Alcoólatra, agora falecido (apesar de ainda dar alguns suspiros eventuais) eu já fazia tudo isto, mas meus questionamentos mais elevados, espirituais, acabavam se perdendo no meio das bobagens que eu e os outros postadores escrevíamos. Fazendo uma comparação, era mais ou menos como escrever poesia para o Diário Gaúcho - completamente fora de lugar. Hesitei bastante, mas criei o Espadachim Cego. E foi uma boa idéia. Aqui, todos as perguntas que me fiz, mesmo as mais bobocas, puderam ser feitas com maior liberdade, e tentei respondê-las da melhor forma que pude. Para ser franco, não creio que tenha atingido nenhuma resposta satisfatória para nenhuma delas, mas talvez isto seja parte da natureza destes enigmas da vida.

Ouroboros II - Nasce uma turma

Sempre achei fascinante a maneira como grupos se formam e se transformam. Hoje ocorreu a matrícula presencial dos bixos, e eu pude observar como nasce uma turma.

Oficialmente, uma turma de faculdade surge quando o listão de aprovados do vestibular é liberada, mas só nasce verdadeiramente no dia da matrícula, quando os colegas se encontram de fato. Demora um pouco para eles se conhecerem bem, criarem amizades sólidas e desavenças amargas, mas a base de todas as relações são criadas ali, esperando para ser chamado pela COMGRAD. Naquelas poucas horas de convivência em um ambiente "desnatural" ninguém se comporta normalmente, ou como se comportaria em uma sala de aula, ambiente onde todos ficarão mais tempo na companhia uns dos outros. Contudo, dicas importantes são deixadas no ar. Baseado em como alguém se portou durante a matrícula, já dá pra dizer se ele ou ela são animados ou apáticos, agradáveis ou chatos, sério ou brincalhão, um possível bom amigo ou alguém para evitar puxar papo. Por exemplo, no dia da minha matrícula, naquele distante mês de janeiro de 2007, fiquei uma hora a mais do lado do Instituto de Psicologia conversando com outros três colegas meus. Destes, dois são grandes amigos meus hoje, em quem confio quase cegamente. Ali pudemos ver que se mantivéssemos relações amistosas nos sentiriamos bem. Obviamente a coisa não é tão direta ou simples, nem tão perfeita quanto posso ter dado a parecer (a terceira pessoa que participou da nossa conversa não se tornou tão amiga minha assim, apesar de estimá-la).

Claro, estou partindo do exemplo da Psicologia, onde é feita uma calorosa recepção aos calouros por parte dos veteranos (este ano, com direito a confete e balãozinho), e há uma sala de espera grande o suficiente para muitas pessoas ficarem ao mesmo tempo conversando. Não sei se isto ocorre, por exemplo, nas engenharias ou na matemática. Contudo, se houver, o processo por trás da formação da dinâmica do grupo é o mesmo.

Isto é só o nascimento da turma, sua concepção, o embrião do grupo. Ao longo dos semestres muitas coisas mudarão - o mais óbvio são colegas que desistem ou colegas que surgem do nada (como tanto aconteceu conosco). Um fator mais sutil é a mudança das relações entre as pessoas por causa da convivência. Grosso modo, as hipóteses que criamos no dia da matrícula são testadas no dia a dia de aulas, as pessoas revelam-se verdadeiramente e, por isso, passamos a gostar mais ou menos delas. Passamos a conhecer suas manias, seus medos, seus gostos, seus sonhos. Isto, tanto ano passado quando neste, também ficou evidenciado no dia da matrícula. Meus bixos, atuais veteranos, inspirados em algo que fizemos ano passado, criaram um perfil de sua turma, para que os novos bixos pudessem conhecê-los melhor. É uma lista bem simples, mas que destila a essência da dinâmica de grupo que rola entre eles (inclusive com aqueles colegas que ninguém sabia o que escrever a respeito). Talvez, daqui a um ano, a turma de 2009 faça o mesmo na recepção da turma de 2010. Provavelmente estarei observando de fora como as coisas vão acontecendo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Elevation

O êxtase espiritual é um fenômeno descrito em milhares de fontes diferentes - antigas ou novas, místicas ou científicas, poéticas ou explícitas - mas todas estas descrições concordam em pelo menos um ponto: o sublime sentimento de elevação e plenitude que invade o ser que transcende a si mesmo.

Estas experiências culminantes, como as nomeou Maslow, vêm sem sabermos por que, mas podem ir a qualquer momento. Sinto-me um tanto quanto elevado neste momento, acima das negras nuvens do sofrimento, da ganância e do apego. Parece que esta sensação que me domina agora perdurará eternamente, mas sei que, cedo ou tarde, ela passará. Na maioria dos casos, elas passam por culpa nossa, de nosso desejo de que elas durem para sempre.

Contudo, neste exato momento, me sinto bem, como se dispusesse de um estoque praticamente ilimitado de energia, e que posso (e devo) distribuí-la para todos ao meu redor. Tentei fazer um pouco disto pelo MSN agora. Espero acordar assim amanhã de manhã, para continuar fazendo isto.