sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Star Wars e a Filosofia Perene

Uma lição surpreendentemente profunda de Yoda.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um dia qualquer no RU

Se há uma lição que a UFRGS nos ensina, é que nada é garantido, especialmente o cardápio do RU. No final do ano retrasado, uma época particularmente ruim nos subsídios para o RU, ficamos sem sobremesa e sem guardanapos por pelo menos dois meses. E hoje mesmo, quando fui almoçar, dei uma olhada rápida no cardápio de toda a semana. Na sexta-feira, junto com os clássicos feijão e arroz, aparecia um prato que nunca um estudante da UFRGS imagina ser servido no RU: pizza. Surpreso com esta descoberta, subi as escadas para o restaurante e, no meio do caminho, passei por dois amigos olhando outro cardápio e comentando a respeito. Eis o diálogo (tal como o lembro):

A - Olha só, aqui diz que vai ter pizza sexta-feira no RU.
B - Aposto que amanhã vão riscar isso aí e escrever "purê" por cima.

Quando se depende do RU para comer, aprende-se rápido que isto acontece muitas vezes ao longo do ano, e que nunca se sabe quando aquela pizza ou bolinho de arroz virará purê ou repolho refogado. Hoje mesmo tive que provar o amargo gosto da decepção: a sobremesa, que era para ser melancia, virou melão.

E assim a vida segue aqui em Porto Alegre, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Dramas de Estágio (Parte 11) - Jedi Academy

Já fazem duas semanas desde que comecei a atender no Ambulatório do Departamento de Genética, e dentro de um mês iniciarei meu estágio básico oficial no Morada São Pedro. Posso dizer que, apesar de ainda ter um ano inteiro como estagiário pela frente, este assunto está encerrado, ou melhor dizendo, o barco já está em alto-mar, e não há mais nada que eu possa fazer a respeito (exceto sair do estágio no São Pedro, o que seria o equivalente a pular na água e ir nadando até o mar, mas vou deixar essa metáfora para lá). Restam-me ainda os dois estágios de ênfase obrigatórios, e um possível terceiro estágio opcional, caso eu decida cursar as três ênfases (depois de comer muito cocô).

Um dos fatores que mais influenciaram minha decisão sobre quais em locais estagiar foi o tipo de experiência que eles me proporcionariam, e que quanto mais variadas elas fossem, melhor. Decidi trabalhar tanto no São Pedro quanto no Ambulatório de Genética por que são dois ambientes muito diferentes, tanto no público que atendem quanto na metodologia que empregam, e por que acredito que este "choque de culturas" me será benéfico por estimular uma maior flexibilidade cognitiva e enriquecer meu repetório como psicólogo. Só estou trabalhando no Ambulatório até agora e não tive oportunidade de comprovar isso na prática, mas estou bastante seguro de que minha hipótese está correta.

Quando pensei pela primeira vez onde fazer meus estágios de ênfase, cheguei em três locais ideais: o Instituto Psiquiátrico Forense, o Estação Psi e a Clínica São José. Contudo, analisando friamente e comparando estes locais com os que trabalharei por todo este ano, eles são parecidos demais. Tanto o Insituto Psiquiátrico Forense, quanto o Estação Psi e o Ambulatório atendem pessoas em conflito com com a lei - a única diferença entre eles é que, no primeiro, o público consiste de pessoas com sofrimento mental severo, que torna a internação necessária, enquanto que nos dois últimos são menores em conflito com a lei. E a Clínica São José, da mesma forma que o São Pedro e o IPF, atende pacientes psicóticos. Seria mais do mesmo para mim.

Tendo isto em vista, comecei a pensar em outros locais para aprender outras coisas, e passei a cogitar locais que antes não me atraiam tanto. Para a ênfase em Psicologia Social, eu poderia fazer estágio em alguma secretaria municipal, como a Secretaria Municipal de Educação (SMED), que já tem uma parceria forte com a UFRGS, e para a ênfase em Desenvolvimento Humano, em uma clínica particular. Interesso-me especialmente pela WP. Falarei a respeito disto mais para a frente.

Cinema e Ação

Esse final de semana, assisti dois filmes seguidos de Star Wars. O primeiro foi "Clone Wars", longa de animação digital e o segundo foi "Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança" da antiga trilogia. Além de poder ver a história em dois momentos muito diferentes, também há outra diferença intrigante: a velocidade dos dois filmes. "Clone Wars" é ação do começo ao fim: duelos de sabre de luz, explosões grandes e barulhentas, milhares de dróides e clones confrontando-se na tela ao mesmo tempo, muitas cores extremamente brilhantes e chamativas, e uma trilha sonora que aumenta ainda mais o impacto visual, tudo feito com a mais moderna tecnologia disponível para os diretores de cinema. "Uma Nova Esperança", por outro lado, apesar de ser claramente um filme aventuresco, é muito mais parado, leva muito mais tempo para explicar sua história, introduzir seus personagens e apresentar seu universo ao espectador. Mesmo suas cenas de batalha são muito mais lentas - basta comparar o assalto à Estrela da Morte pela Aliança Rebelde com qualquer outra cena de batalha espacial de qualquer um dos filmes da nova trilogia, ou, fazendo uma comparação ainda mais dramática, o duelo entre Darth Vader e Obi-Wan Kenobi em "Uma Nova Esperança" e "A Vingança dos Sith".

Apesar de não tratar estritamente do mesmo assunto, este post tem muito em comum com um texto que o Marcelo escreveu sobre doce de figo. Neste artigo, ele comenta que, ao contrário de sua avó e sua tia, ele geralmente dispensa os doces mais tradicionais, como ambrosia ou pessegada, pois, tendo sido criado em uma época tão cheia de comidas fortemente doces e estimulantes (quando não coloridas), os doces que os mais antigos comiam já não são suficientemente "potentes" para atingir seu limiar de doçura e satisfazê-lo. Tanto Marcelo quanto eu pertencemos à uma geração superestimulada, não só em termos gustativos, mas também em termos cinematográficos.

Quando "Star Wars" saiu nos cinemas pela primeira vez, lá na década de 1970, fez estrondoso sucesso por causa de seus efeitos especiais, cenas de ação e história envolvente. Meu pai, por exemplo, esperou ansiosamente pelo lançamento do Episódio VI no Brasil, por longos dois ou três anos. E, mais uma vez, aqui é que está: que seqüência de filme popular levaria tanto tempo para entrar em cartaz hoje em dia? Mais importante ainda, quais as chances de um filme como os da antiga trilogia de "Star Wars" fazer sucesso hoje em dia? Não quero ser apressado e dizer de cara que suas chances são zero, mas é forçoso acreditar que, competindo com megaproduções como "Piratas do Caribe", "Homens de Preto" e, por que não?, os últimos três filmes da saga de "Star Wars", elas seriam bem pequenas.

Somos uma geração acelerada. Uma professora minha, cuja linha de pesquisa é "psicanálise, cinema e cadeias associativas", em todas as suas pachorrentas aulas falou que, nos princípios da Sétima Arte, os cineastas lançavam mão de recursos de linguagem como mostrar um galo cantando ou a mensagem "E na manhã seguinte..." para explicitar a passagem do tempo. Hoje em dia não se faz mais isso por que simplesmente não é necessário. Apenas assistindo o filme, sabemos que é outro dia a partir de sinais muito mais sutis, como a mudança de roupa, de cenário ou através do diálogo. Se trouxéssemos para os dias de hoje um dos irmãos Lumière, ele seria incapaz de entender um filme como "Batman Begins". Não precisamos ir tão longe: minha avó não consegue assistir "Forrest Gump" sem ficar perguntando onde está o guri do começo do filme, por que ela não consegue entender que ele cresceu e é o Tom Hanks (e por que ela sempre dorme a metade dos filmes que assiste), e mesmo meu pai se perde com a história de alguns filmes! Isto não acontece por burrice ou algo parecido: eles simplesmente não estão acostumados. Nós, por outro lado, crescemos neste mundo acelerado, superestimulante, louco, somos neurologicamente preparados para absorver informação "de alta velocidade" e estes filmes "vibram na mesma freqüência" que nós. Para os amantes da tecnologia e do futurismo, isto é fantástico, a própria evolução acontecendo diante de nossos olhos, mas ela não necessariamente é uma coisa boa.

No final de seu post, Marcelo lança uma pergunta: estará o doce de figo com os dias contados? Tenho, eu também, uma pergunta para fazer: chegará o dia meus pais não conseguirão mais entender os lançamentos do cinema, por não terem a velocidade mental necessária para tanto, e que clássicos como "Casablanca", os antigos "Star Wars" e "O Poderoso Chefão" serão escanteados e esquecidos pelas gerações mais recentes por serem parados demais? Francamente, eu não sei. Contudo, eu tenho um palpite.

Mesmo sendo lentos (pelo menos se comparados com os filmes de hoje em dia), os episódios antigos de Star Wars ainda me divertem, me inspiram, me emocionam, não por que seus efeitos especiais de explosões sejam fantásticos, ou por que suas cenas de ação sejam estimulantes ao extremo, mas por que sua história me toca. Luke Skywalker não tem a mesma pinta de herói implacável que seu pai Anakin, mas consegue ser muito mais próximo de nós. Eles têm aquilo que faz de nós humanos, e não qualquer outra coisa por aí. Talvez nossa geração consiga processar muito mais informação do que nossos pais ou nossos avôs, mas estejamos perdendo gradativamente a capacidade se contentar com pouco, de achar doce de figo gostoso apesar de não ser uma explosão de sabor como o leite condensado, ou de apreciar a beleza lenta de um pôr do sol e, talvez, estejamos deixando de ser cada vez menos humanos para nos tornarmos cada vez mais máquinas. Mas são só "talvezes", que podem ou não tornar-se realidade. Não creio que isto acontecerá, pois acredito que, sempre que estivermos ali, quase caíndo no abismo da desumanização, haverá quem nos lembre de apreciar um filme pelo que há de humano nele.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Dramas de Estágio (Parte 10) - Jedi Knight

A Lady Hell, do Play the Coin, criou uma série intitulada "'Trabalhando' nas férias". Nas suas próprias palavras, ela criou esta série "para auxiliar as pessoas que, à despeito do solzão brilhando lá fora, do calor convidativo para um chopp ou ceva bem gelada e da lezeira provocada antes, durante ou depois do almoço, necessitam trabalhar. Afinal, as contas não se pagam sozinhas." Atualmente, me enquadro nesta descrição, apesar da minha situação ser muito mais suave: sou bolsista de iniciação científica e estagiário no ambulatório do departamento de genética para casos de agressão e violência. No primeiro emprego, ganho 300 reais por mês para ficar mexendo em uma caixa de madeira estranha e ficar fazendo perguntas ainda mais estranhas para desconhecidos catados pelos campi da UFRGS, além de outras coisas relacionadas à ciência, sem nenhum horário fixo. O segundo trabalho é voluntário (ou seja, nada de pilas pra mim), mas tem uma carga horária baixa - apenas um turno por semana atendendo pacientes. Contudo, apesar de ser relativamente pouco tempo, eu estou aprendendo horrores.

Apesar de ter começado com minha bolsa ainda no meio do ano passado, considero o estágio no ambulatório (que na verdade é uma extensão - vou estagiar oficialmente no Hospital São Pedro) meu primeiro emprego de verdade, pois apesar de estar localizado no Campus do Vale, seu ambiente é muito diferente do acadêmico. Lá há todos os elementos que um serviço subordinado à uma universidade necessariamente teria, mas o que acontece dentro daquelas salinhas transcende o meramente intelectual. Estou atuando como psicólogo, atendendo pacientes, fazendo diagnósticos e, ainda que não tenha feito isso até o momento, dou receitas médicas, que são assinadas pelo coordenador do ambulatório, formado em Medicina, mas confia em nossas decisões.

É uma experiência simultaneamente aterrorizante, desafiadora e envolvente. No meu primeiro dia no ambulatório, fiquei apenas assistindo alguns atendimentos, para conhecer o modus operandi do local e saber melhor o que fazer no próximo, quando finalmente encararia meus primeiros pacientes. Contudo, achava que, nestes primeiros encontros, o professor estaria comigo, guiando a mim e as sessões, até eu sentir-me confiante o bastante para fazer isto sozinho. Que nada. Logo no primeiro atendimento da tarde, ele entrou na sala, apresentou o ambulatório, a si mesmo e a mim para o gurizão que atenderia, me deu algumas diretrizes sobre quais os objetivos daquela entrevista e saiu, me deixando sozinho. Por um segundo, foi como se o chão tivesse desaparecido debaixo dos meus pés e minha mente esvaziado de qualquer idéia, deixando-me sem reação. Contudo, não pedi por ajuda, pois já sabia que a resposta seria "sei lá, te vira, tu que é o psicólogo aqui" ou algo parecido. Não estava sendo abandonado, mas ganhando carta branca para fazer o que eu achasse necessário (dentro dos limites cabíveis dados pela lei e meu bom senso). Era necessário honrar esse voto de confiança, e foi o que fiz. No final do dia, depois de duas consultas, já estava formulando livremente hipóteses de diagnóstico sobre meus casos e fazendo planos de tratamento. Creio que nos próximos atendimentos não vou nem mais precisar que o professor apareça na salinha.

Outra coisa que me dei conta após um dia de trabalho como psicólogo foi a importância das leituras para nossa prática. Até o segundo ano, o grosso da minha formação foi feita pelos livros - muitos deles, e tão variados quanto poderiam ser. Sem sombra de dúvida, sou o cara que mais lê em minha turma, mas mesmo assim, quando me vi frente a frente com meu primeiro paciente (um gurizão de 14 anos), não pude deixar de sentir que nada do que li me preparara completamente para aquele momento. Mas a coisa é mais complicada que isto, pois não quão preparado estaria se não tivesse estudado nada, e depois de ter terminado meus atendimentos, fiquei pensando em quais livros ler para melhor conduzir minhas intervenções. Atualmente, no campo da psicoterapia, que envolve médicos, psicólogos, assistentes sociais e, pelo menos no ambulatório, cientistas sociais, advogados e enfermeiros, a teoria mais importante é a das Terapias Cognitivo-Comportamentais. Digo "terapias" no plural por que há vários modelos diferentes de atuação, com diferentes técnicas, mas que se baseiam no pressuposto de que os pensamentos, comportamentos e sentimentos se influenciam mutuamente, e que é, alterando a forma como o paciente pensa, é possível levá-lo a se comportar e ter emoções mais saudáveis. Minha explicação está bastante simplificada, mas creio que captura a essência do chamado Modelo Cognitivo.

O que mais diferencia as terapias cognitivo-comportamentais dos demais modelos de psicoterapia é, além de seu tempo de duração, mais curto, o fato de suas técnicas e teorias serem empiricamente validadas. Em outras palavras, há muita pesquisa por trás das TCC, que embasam cientificamente tanto suas teorias quanto suas técnicas. Eu poderia escrever um post inteiro sobre ciência, pesquisa e seus mecanismos, pois adoro esse assunto e há muito sobre o que escrever, mas como este não é o assunto do texto, vou parando por aqui. Contudo, um dos corolários de toda essa produção científica é a publicação de muitos artigos e manuais de psicoterapia, que fazem toda essa informação circular, possibilitando que mais psicoterapeutas tenham acesso a elas, e possam testá-las, formular novas hipóteses, gerar mais informação e alimentar o processo científico (de novo, é mais complicado que isto, mas não quero digredir demais). Têm para todos os gostos, desde os introdutórios até os avançados, os focados em técnicas aos focados em teoria ou nos transtornos a serem abordadas. Atualmente, como vocês podem ver em minhas leituras atuais e futuras no final desta página, meu interesse neste campo está voltado mais para a Terapia Cognitiva, criada originalmente por Aaron Beck, a Terapia do Esquema, um modelo cognitivo com uma proposta diferente para a psicopatologia (ainda não consegui ler muito a respeito, mas o manual Schema Therapy já está comigo), e a ACT, sigla para Acceptance and Commitment Therapy (Terapia da Aceitação e Compromisso), que aborda não o conteúdo dos pensamentos, mas a própria estrutura da mente, explicada de forma muito clara e simples no livro "Get Out of Your Mind and Into Your Life". Tenho também um forte interesse pela Psicologia Humanista-Existencial, bem representada entre meus livros por Abraham Maslow e seu livro 'The Farther Reaches of Human Nature", e pelas Neurociências. Outras leituras, apesar de não tão atraentes assim para mim, incluem a Análise Experimental do Comportamento e as muitas teorias psicanalíticas, que variam enormemente em qualidade (desde C. G. Jung até Jacques Lacan - vocês sabem minhas opiniões a respeito desses cidadãos).

Todas estas abordagens, apesar de divergirem em vários pontos, são altamente congruentes, completando umas as falhas das outras, e suas diferenças apenas fomentam o processo científico. Conheci esses tempos uma menina que cursava, ao mesmo tempo, Ciências Sociais na UFRGS e Psicologia na UFCSPA, e fiquei pensando como este peculiar processo de estudo pelo qual ela está passando irá influenciar sua maneira de olhar o trabalho. Fico pensando agora como a leitura de todos estes livros e teorias, tão diferentes e ao mesmo tempo complementares, irão me moldar. Só vivendo para saber.

Eu e os Livros

Lendo um livro de Henry David Thoreau, fiquei mais uma vez maravilhado com a força da literatura. É impossível para mim deixar de me impressionar com ela. Homens como Sócrates ,Platão, Kierkegaard, Tolstoi e Frankl viveram e morreram anos antes que viesse a existir, nunca os vi, nem os ouvi, mas sinto-os tão próximos de mim como se fossem apenas irmãos que moram muito, muito longe, por causa do poder de suas palavras.

Neste texto de Thoreau que li, ele trata de como as pessoas são incultas, mesmo que saibam ler e escrever perfeitamente, por que não ultrapassam a fronteira da mediocridade, se atendo a ler livros fáceis e rasos, ignorando os grandes clássicos, e como os poucos que o fazem sentem-se solitários, por não terem com quem compartilhar suas descobertas. Senti a dor deste ser fantástico que escreve (a literatura não conhece o tempo - por isso, digo que Thoreau escreve, e não escrevia), pois a entendo e a compartilho.

Thoreau morreu há mais de 120 anos, mas conheço-o como se fosse meu vizinho, meu amigo, meu irmão, pois ele também é membro desta grande fraternidade que vive eternamente através das letras.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Ego e os Mecanismos de Vestibular

Ontem à tarde, depois de arrancar meus sisos, dei uma passada na Refreskata, uma sorveteria aqui perto de casa, para ir no banheiro e tomar alguma coisa gelada para satisfazer meus impulsos hedonistas (o que não foi uma idéia tão boa assim, pois com metade da cara insensível era mais difícil de engolir e sentir gosto). E, em cima de uma lixeira, encontrei um panfleto do meu antigo cursinho, o Mauá. Não há nada extraordinário a respeito deste panfleto - na verdade, é a mesma porcaria de sempre: a cara de uma suposta aluna do cursinho, aprovada com louvor em alguma universidade foda para um curso foda, dizendo "Quem pensa grande faz Mauá!". Foi exatamente isso que chamou minha atenção.

No panfleto, há a foto dessa estudante, uma marca de carimbo que dizia "APROVADO - 2º LUGAR GERAL - Medicina UFRGS" e, logo abaixo, uma listinha de todos os vestibulares que ela tinha sido aprovada: UFRGS, UFCSPA, ULBRA, FURG, UFPEL, UPF. Só faltou UCS, UNISC e PUCRS para ter conquistado todo o leste do estado, e UFSM para ter conquistado todos os vestibulares de Medicina do Rio Grande do Sul (se não esqueci de algum curso em alguma universidade obscura por aí).

Várias vezes já disse por aqui que sou empolado. Depois de voltar da Patagônia, acho que isso se agravou um pouco, pois quando li o panfleto, pensei "heh, eu devia ter me inscrito em uns 15 vestibulares pra passar em todos assim como ela". Imediatamente após este pensamento, percebi a influência de meu ego sobre meu comportamento, e concluí que deveria pegar um panfleto e levar comigo, para lembrar-me de escrever um post a respeito do meu próprio egocentrismo.

Bem, eu realmente poderia ter feito isso. Na minha época de vestibulando, havia pelo menos 35 locais diferentes oferecendo Psicologia como opção, contando todos os campi da ULBRA e outras universidades espalhadas por aí (agora devem ser 38, segundo meus cálculos). É humanamente impossível concorrer em todos estes lugares, considerando a distância e as muitas datas conflitantes. Digamos que, de todos estes vestibulares, eu poderia concorrer em 19: em Caxias do Sul, na FSG e na UCS; em Passo Fundo, na UPF e na IMED; na Grande Porto Alegre, UFRGS, PUCRS, FEEVALE, UNISINOS e FACCAT; mais para o sul, na região de Rio Grande, FURG e UCPEL; em outros cantos do estado que ignoro, umas 6 sedes da ULBRA, UNISC e UNIVATES. OK, vamos diminuir ainda mais o número de possibilidades. Digamos que eu só conseguisse fazer em 12 instituições por causa de tempo, distância e dinheiro. Teria viajado um monte, gasto uma grana violenta em transporte, hospedagem, comida de paradouro, taxas de inscrição e qualquer outra porcaria que aparecesse do nada - teria passado em todas (não falei que voltei mais presunçoso?). Provavelmente, tiraria o primeiro lugar em algumas delas, e, assim, meu rostinho lindo sairia estampado em algum panfleto colorido do Mauá, dizendo que "pra passar, tem que ser Mauá", ou alguma frase igualmente imbecil. Eu iria poder também sair dizendo que fui aprovado em 12 vestibulares diferentes. Agora eu pergunto, para que serviria tudo isso?

Creio que, exceto para satisfazer minha necessidade de auto-afirmação, não serviria para nada. Sempre tive uma certa atração por medalhinhas e penduricos, e poder encher a boca pra dizer todas as universidades cujo vestibular eu conquistei seria, para todos os propósitos, a mesma coisa - uma medalha por sigla, as mais importantes sendo das federais e as menos importantes das ULBRAs, que têm fama de aceitar qualquer um que possa pagar o curso. No fim, eu teria que fazer Psicologia em apenas um curso, mesmo depois de tamanha odisséia de provas. Creio eu que acabaria escolhendo a UFRGS - daria tudo no mesmo, com a diferença que eu teria roubado a vaga de outras pessoas (que entrariam por segunda chamada, mas que ainda assim teriam que suportar a dor de não serem aprovadas em primeira chamada) e teria muito mais motivos para ser arrogante (provavelmente seria).

Na realidade, fiz vestibular apenas na UCS e na UFRGS, e acredito que este foi o melhor caminho que poderia ter seguido: treinei aqui em Caxias para ser aprovado em Porto Alegre. Acho valoroso o esforço que muitos vestibulandos empreendem em sua busca por uma vaga, viajando até mesmo milhares de quilômetros como o maluco do Sergipe que, reza a lenda, em 2007 viajou desde seu estado-natal até o Rio Grande do Sul, fazendo todas as provas que encontrava pelo caminho. Mas mesmo assim, apesar de admirável, me parece um reflexo de grande insegurança interior, precisar viajar tanto para conseguir entrar no curso desejado. Minha presunção, apesar de tudo, não é de todo inútil ou nociva: queria estudar na UFRGS, e sabia que passaria na prova e que não precisava fazer vestibular em nenhum outro lugar (minha mãe já não é tão confiante em minhas habilidades, e por isso, só para previnir, me matriculou na UCS. Durante algumas semanas, fui um estudante de universidade particular).

E, à guisa de conclusão, apesar de não ter muito a ver com o assunto geral do post, gostaria de apontar como esses panfletos passam uma mensagem enganosa. Primeiro, são estatisticamente frágeis, pois são poucos os que conseguem o primeiro lugar geral em qualquer vestibular (até onde eu sei, é só um por ano), pouco importando onde ele fez cursinho; segundo, quem tira colocações elevadas no vestibular deve isso não tanto ao local onde estudou (se fez cursinho), mas quanto ele próprio se dedicou, além de ser bem dotado intelectualmente pela natureza e um pouco favorecido pela fortuna; terceiro, só por que o estudante do cursinho X passou em primeiro lugar na Medicina da UNIFODASTICA que todo mundo que estudar lá vai ser aprovado também; quarto, sopa; quinto, não tenho mais argumentos, mas já provei o que queria provar.

Dor e Sorvete

Arranquei dois dentes ontem. Não foram, contudo, outros dentes se não os sisos, aqueles que dizem os antigos são sinal da vinda do juízo. Pois bem, se for assim eu tinha juízo demais, pois a natureza me presenteou com o pacote completo - todos os quatro! Ontem, tirei os dois últimos. Durante toda a operação, enquanto o dentista futucava minha gengiva com facas, serrotes e furadeiras, tinha um pensamento constante em minha mente: Deus abençoe a anestesia!

Como estudante de Psicologia, ouço bastante a respeito de como as Ciências da Saúde tiveram um salto qualitativo e tornaram-se mais seguras com a ajuda da tecnologia, mas não pude deixar de reparar que a extração dentária é bastante grosseira. Basta ver as ferramentas que citei acima - são as mesmas usadas para cortar madeira e, tomadas as devidas proporções, as coisas não mudaram tanto assim desde o século XIX. Enquanto dentista desajeitadamente buscava cavar um siso de dentro de minha mandíbula, lembrei também da amputação que aparece no filme Mestre dos Mares. Não faz tanto tempo assim que operações iguais àquela eram realizadas em hospitais importantes, como a Santa Casa de Porto Alegre.

Como não foi a primeira vez que passei por esta microcirurgia, já sabia o que me aguardava: metade da cara anestesiada por três ou quatro horas (desta vez, não conseguia nem sentir minha orelha), que, assim que esvanecesse, daria lugar à dor torturante, que me deixaria com os nervos à flor da pele. Aqui, agradeço à Deus pelos analgésicos, e por poder me jogar na cama e dormir até a dor tornar-se mais tolerável.

Frequentemente se fala na "culpa judaico-cristã" que permeia toda a sociedade ocidental e impede muitas pessoas de viverem plenamente seus momentos de alegria por que não se sentem dignas de tal presente. Há, também, outro elemento autodepreciativo judaico-cristão presente em nossa cultura e que é uma grande besteira: o complexo de mártir. Esse diagnóstico pouco oficial consiste de um conjunto de crenças que dizem que, além de não merecermos a felicidade, merecemos a dor, e que devemos até mesmo buscá-la, evitando qualquer conforto contra ela como o vampiro evita a prata. Da outra vez que arranquei os sisos, tinha na cabeça que "precisava ser macho e agüentar a dor no osso". Claro, preciso admitir que isso foi hipocrisia da minha parte, por que não recusei a anestesia - só fiquei me sentindo culpado por causa dela ("que viadagem a minha! Anestésico!"). O que fiz foi postergar ao máximo tomar os analgésicos, até não suportar mais a dor. Desta vez, fui uma legítima bichinha: durante a operação, se intuísse a menor possibilidade de dor excruciante, pedia mais anestésico, tomei o bendito paracetamol assim que cheguei em casa e ainda considerei muito seriamente a possibilidade de virar um martelinho de vodka pra sentir menos dor. Foda-se o complexo de mártir.

Mesmo assim, fico pensando a respeito da dor, e quando devemos sentí-la e quando devemos evitá-la. Diz o credo hedonista que o maior bem é o prazer e o maior mal é a dor, e prega a doutrina cristã que somos vermes miseráveis que devem sofrer por que uma mulher comeu uma maçã uns milênios atrás. Estas duas crenças estão presentes em nossa cultura e nos influenciam igualmente. Também há quem acredite que sofremos tanto quanto devemos, e que não precisamos procurar mais dor ainda. Sou mais a terceira opção.
No momento, recupero-me na casa de meus pais, comendo sorvete, lendo livros e vendo filmes (recomendo fortemente que assistam "Juno". Muito bom!). Estou com metade da cara inchada, como se fosse o Kiko, sinto um pouco de dor ainda e cuspo sangue (bem menos do que ontem).

sábado, 17 de janeiro de 2009

Mudanças no blog

Adicionei uma nova porcaria no final deste blog: uma lista de filmes que quero ver. Os dois últimos anos foram bem difíceis em termos cinematográficos, pois a quantidade obscena de trabalho que tenho durante o período letivo me impede sequer de sonhar com cinema, quanto mais ir até a videolocadora, pegar um DVD e assistir. Pretendo aproveitar estas férias e assistir o suficiente para me manter satisfeito pelo ano inteiro. A lista atual consiste quase em sua totalidade de filmes que já vi, mas quero ver de novo, por algum motivo ou outro. Não estou muito criativo no momento para descobrir filmes novos, nem com paciência para sair catando na internet informações sobre algo de bom. A lista será atualizada com o tempo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Ouroboros

Saiu o listão com os aprovados no vestibular 2009 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O ciclo recomeça.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 13)

Quinto Semestre
Possíveis Disciplinas Eletivas

Costumeiramente, eu falo sobre as eletivas que desejo fazer, até mesmo aquelas que não vai dar, no mesmo post em que falo do semestre que se aproxima. Contudo, tanto o quinto quanto o sexto semestres têm tantas eletivas legais que eu não vou poder fazer, que decidi escrever um post inteiramente sobre disciplinas optativas. Destas, talvez eu possa fazer só uma, quiçá duas. Algumas destas disciplinas não estejam disponíveis para este semestre (o que seria muito bom mesmo), por que simplesmente entrei no site da UFRGS e saí copiando aquelas que me pareciam interessantes, junto com aquelas. Enfim, vai ser um estudo sobre todas as eletivas que me interessam agora, até o final do curso.

Bioquímica Aplicada à Psicologia
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Eis uma que há tempos me escapa! Não vou me estender muito a respeito desta cadeira, da qual já falei a respeito antes. Os colegas que fizeram dizem que é muito legal, que o professor entende muito do assunto (apesar de não ser muito afeito ao mister) e que realmente vale a pena. Acho que vou ter que esperar mais um ano para saber por conta própria.

Clínica em Saúde Mental Coletiva
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Nunca imaginei que chegaria o dia em que me interessaria por uma disciplina eletiva do Departamento de Psicanálise. Pois é, o dia chegou – o código dessa aqui é PSI03, coisa que antes era o mesmo que “NEM PENSE EM PEGAR!” Mas não estou virando psicanalista. O que acontece é que este é um assunto muito legal, e que só o departamento de psicanálise tem realizado um trabalho constante com ele. E pelo o que sei, a professora entendida é realmente boa no que faz.

Introdução à Prática do Acompanhamento Terapêutico
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Outra cadeira da Psicanálise. Creio que cursar esta disciplina no próximo semestre é inescapável, pois no meu local de estágio provavelmente farei acompanhamento terapêutico. Isso não é ruim, nem cursar a cadeira, nem fazer AT – as duas coisas me interessam muito, ao ponto de influir na minha decisão do local de estágio (que, como vocês sabem, foi um drama e tanto).

Introdução à Sociologia
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Sociologia muito me interessa, mas também é uma cadeira que há tempos quero fazer, mas há tempos falta... huh, bem, tempo. Creio que ela é oferecida o ano inteiro (tanto no primeiro quanto no segundo semestre), mas é justamente isso que me faz pensar que posso deixá-la de lado, e pegar uma cadeira mais rara, oferecida só uma vez por ano.

Psicopedagogia
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Uma daquelas cadeiras que não sei do que se tratam muito especificamente, mas cujo nome me parece interessante e possivelmente não seja uma bomba de verdade. Psicopedagogia, segundo o que posso inferir, estuda as relações entre Psicologia e Pedagogia, lida com transtornos de aprendizado, ensino, sei lá. Realmente não sei muita coisa, mas, depois da cadeira de Psicologia e Educação, a Pedagogia me parece muito mais interessante, e a Psicopedagogia por tabela também. Não sei quando esta cadeira é oferecida, mas para este semestre, está fora de cogitação pegar uma disciplina eletiva que nem sei se é boa mesmo.

Psicologia Hospitalar
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Se eu tivesse feito essa cadeira esse semestre, teria tido aulas mais interessantes que Neuropsicologia (dava colisão de horários entre as duas), conhecido o Hospital de Clínicas por dentro e talvez eu tivesse sido selecionado para o estágio básico no Serviço de Psicologia lá. Ou não. Não fui a estrela mais brilhante naquela entrevista coletiva. Mas teria sido mais interessante do que Neuropsicologia de qualquer maneira.

Sistemas de Classificação dos Transtornos Mentais
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Tinha como certo para mim que faria esta cadeira este semestre. Viria a calhar aprender um pouco mais a respeito do DSM-IV e da CID-10 agora que vou trabalhar em um ambulatório que lida com muitos transtornos mentais, mas depois que descobri que Neuropsicologia do Desenvolvimento vai ser oferecida, é muito provável que terei que abandoná-la mais uma vez.

Neuropsicologia do Desenvolvimento
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Essa é uma cadeira nova, que dois mestrandos estarão oferecendo este semestre. Tenho bastante interesse em Neurociências, e como achei que a cadeira de Neuropsicologia foi meio fraca, quero dar uma compensada por outro lado, e essa cadeira parece abordar exatamente o que me interessa. Contudo, meu tempo é extremamente curto e talvez seja suicídio pegar duas eletivas, junto com os estágios e demais projetos que estou assumindo. Como ponto positivo, a forma de avaliação desta disciplina provavelmente será muito similar à de Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos. Vou esperar o programa da disciplina sair e ver se vale a pena se matar.

Fenomenologia e Psicologia
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Essa cadeira, se sair, vai ser no segundo semestre desse ano. Não creio que tenha que pensar muito se me matriculo nela ou não, por que ela vai ser oferecida pelo meu orientador de iniciação científica (i.e. o cara que paga minha bolsa). Contudo, é uma cadeira que tem tudo para ser interessante, e mesmo se não fosse bolsista no Laboratório de Fenomenologia Experimental e Cognição (LAFEC) eu pensaria seriamente em cursá-la.

Psicologia Analítica
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Na verdade, uma cadeira de Psicologia Analítica é apenas um sonho. Eu e uma colega estamos articulando e conversando com um mestrando que trabalha com Jung na clínica para ver se ele nos daria uma aula a respeito, mas não está nada confirmado. Jung é um autor extremamente importante e ao mesmo tempo extremamente negligenciado pela academia – só vimos algumas rápidas noções de seu trabalho em uma aula de Teorias da Personalidade, e o que sei foi o que aprendi por conta própria. Seria legal ter um professor que entenda do assunto para tirar dúvidas e ter um aprendizado mais constante a respeito.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 12)

Quinto Semestre

Disciplinas Obrigatórias

Chamei uma vez o currículo da Psicologia de “espiral descendente de coco”: todo semestre piora. Esse semestre não poderia ser diferente. Com a exceção do estágio básico, que vai nos possibilitar pôr a mão na massa e salvar nossas vidas de mais teorizações intermináveis, não há muita esperança. Já nem me importo mais. É como se eu estivesse perdido no meio da selva, e tudo que restasse fazer fosse caminhar para frente até encontrar minha salvação, um ponto de referência que me tirasse daquela situação. Estou já no quinto semestre, a exata metade do curso, e de agora em diante, há menos pela frente do que já superei. Now, I soldier on, até a formatura.

Avaliação Psicológica II
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Continuação de Avaliação Psicológica I, só que sobre testes de personalidade ao invés de testes de inteligência. Testes de personalidade são mais úteis e versáteis que testes de inteligência, apesar de mais bagunçados, além de me parecerem mais interessantes. Contudo, não tenho expectativas muito altas a respeito da didática das aulas, que provavelmente serão tão sonolentas quanto as do semestre passado.

Método Clínico e Diagnóstico I
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Antigamente conhecida pelo charmoso nome de MEDEP (seja lá por que motivo), e, por ser uma cadeira de clínica, pertence ao departamento de psicanálise. Até o ano passado, quem dava esta aula era um professor conhecido por sua excelência, tanto didática quanto clínica, e no ano passado, foi um professor substituto que fez tanto sucesso que foi escolhido paraninfo dos formandos deste ano (fez um discurso de merda, mas isso não vem ao caso agora). Seria algo animador pensar que teríamos aula com pelo menos um destes dois indivíduos, mas não teremos: o professor titular vai fazer um pós-doutorado na França (típico de psicanalista) e o contrato do professor substituto expirou. Ficamos, então, na expectativa de quem nos dará aula, e as perspectivas são ruins. Sempre esperamos pelo pior.

Psicofarmacologia
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Um pontinho brilhante na escuridão. Meus veteranos elogiaram bastante esta disciplina, dizendo que o professor é muito bom, tanto didática quanto teoricamente. Vai ser uma cadeira exigente, que provavelmente vai me forçar a lembrar de Neuroanatomia e Neurofisiologia, o que, apesar de ser complicado, não é de todo mal.

Seminário de Métodos e Práticas Profissionais
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Não importa quão ruim as disciplinas de um semestre podem ser, os seminários sempre conseguem ser as piores aulas de todas, pois é a única cadeira em que nem os professores, nem os alunos sabem o que deveria estar acontecendo. O seminário do primeiro semestre era para integrar as diversas questões e correntes teóricas que estávamos vendo – não funcionou. O seminário do segundo semestre era para integrar nossas práticas de pesquisa – acabou virando a aula de fazer relatório bobo (a parte do “bobo” eu fiz com gosto). E agora, vem esse seminário, que pretende integrar os métodos e práticas profissionais de todos nós. Talvez agora a coisa deslanche, mas a experiência diz o contrário.

Estágio Básico I
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A boa notícia das disciplinas obrigatórias. Essa realmente vai ser legal – e se não for, eu vou fazer com que seja na marra.

Creio que fui negativista demais nas minhas previsões. Talvez depois de dois anos de aulas com psicanalistas eu tenha desenvolvido o gosto por ver o pior de tudo (coisa em que eles são mestres), e isso acabe influenciando na maneira como vivencio as disciplinas. Apesar de ter feito as piores previsões possíveis, eu realmente não quero que elas se concretizem. Aliás, com a exceção das aulas que espero serem boas, espero estar errado a respeito de todas elas. É meio ingênuo nessa altura do curso pensar que isso realmente vai acontecer, mas não sonhar não custa.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 11)

Quarto Semestre

Bom, já fazem três meses desde que o quarto semestre já acabou, e eu ainda não fiz a minha costumeira avaliação das disciplinas. Quase nem lembro delas, para ser franco, e isso parece ser um marco do quarto semestre: ostracismo. Muito pouca coisa das aulas me marcou de fato, pelo menos no que se refere às disciplinas obrigatórias. Pouco a pouco, fui abandonando as aulas, deixando elas de lado e me preocupando com outras coisas mais interessantes. Só não parei em absoluto de comparecer às aulas por que, a Psicologia da UFRGS é molenga e permissiva, mas não dá para abusar e rodar por falta à toa. Fiquei ali, quase no limite do intolerável. Questiono-me agora até que ponto isso valeu a pena, mas detalharei isso melhor por disciplina.

Avaliação Psicológica I – obrigatória
Overview:
Uma dessas disciplinas cujo conteúdo é extremamente importante, mas a forma como ele é dado deixa a desejar. Estaria sendo injusto se responsabilizasse apenas os professores por causa disso – faltei muitas aulas, e nas poucas que eu fui, prestei pouca atenção – mas não sei se há uma maneira realmente eficaz e envolvente de ensinar Psicometria. Arrependo-me um pouco por ter sido displicente com essa cadeira, mas acho que vou aprender mais sobre avaliação psicológica na prática, aplicando os testes para valer e entrevistando pessoas.

Método de avaliação:
Uma prova e um trabalho. A prova foi uma coisinha ridícula, pois fazem 10 anos que o professor usa a mesma. Pisei na bola por tentar estudar demais pelo livro e por não ter decorado as respostas do gabarito. Fui bem de qualquer forma, mas como as notas foram atribuídas por curva normal (mais ou menos como no vestibular, se a média de acertos é baixa, quem acerta um pouco mais vai bem melhor, mas se a média é alta, quem erra um pouco menos é prejudicado), acabei tirando só um B. Quanto ao trabalho, ele foi realmente interessante, pois tivemos que aplicar testes de verdade e realizar uma anamnese com alguém, e isso realmente valeu a pena. Contudo, o trabalho escrito foi chatinho de fazer, mas isso já é meio intrínseco a ele, pois era, no final das contas, um parecer psicológico, e pareceres não são conhecidos por sua riqueza literária.

Psicologia e Educação - Obrigatória
Overview:
Olha, essa cadeira foi uma excelente surpresa. No começo do semestre, não esperava que fosse ser muito melhor do que as disciplinas anteriores do Departamento de Psicologia Social – achei que ia ser a mesma dobradinha de papo furado sobre subjetividade e trabalhos idiotas que não acrescentam nada. Mas foi bem mais do que isso. O assunto é realmente interessante, e a professora fez com que ele não se estragasse, mas ficasse mais interessante ainda, além de ser ela mesma um exemplo de didática e dedicação. Às vezes as aulas ficavam “discutidas” e “desconstrutoras” demais, e mais para o final do semestre, eu fui ficando cada vez mais distante, indo menos nas aulas e participando menos quando presente. Realmente me arrependo disso.

Método de avaliação:
Dois trabalhos e participação em aula. O primeiro trabalho consistia em uma apresentação para a turma e um trabalho escrito em grupo, enquanto que o segundo era um ensaio crítico sobre os textos lidos em aula. Os critérios utilizados foram claros e bem aplicados. Quanto à participação em aula, foi um método de avaliação interessante, pois, na última aula do ano, ela discutiu pessoalmente com cada um de nós qual nota achávamos que merecíamos, e dizia se ela concordava com isso ou não. Ela é bastante honesta nisso. No meu caso, recebi menos nota do que eu originalmente achava merecer, mas diante da metodologia honesta e direta dela, acabei achando que a nota foi muito justa.

Psicopatologia II - Obrigatória
Overview:
A mesma coisa que Psicopatologia I. As aulas não acrescentaram nada de relevante à minha formação, exceto a possibilidade de fazer piadas sobre “André, o pervertido que gostava de chupar homem sujo” que foi o estudo de caso preferido da professora, que o citava sempre (semestre passado era o Jeremias). Bom, não é de surpreender, considerando que a linha de pesquisa da professora é a psicopatologia dos personagens literários. Isso realmente dá crédito para uma instituição de ensino de excelência.

Método de avaliação:
Três trabalhos, um sobre perversão, outro sobre neurose e um terceiro, metido no final do semestre sabe-se lá por que, sobre qualquer coisa. Meu trabalho de perversão ficou OK, e esse último trabalho sem sentido, nem entreguei (e fico muito feliz de assim ter procedido). Meu trabalho de neurose, contudo, ficou uma obra-prima – duvido que alguém no Brasil tenha feito qualquer coisa sobre este assunto com a mesma profundidade e criatividade que eu. OK, chega de acariciar meu pobre ego que tanto quero morto. Contudo, como eu já imaginava, a professora não soube ver estas qualidades do meu trabalho, e para variar, tirei B novamente. Pelo menos já não me importo com isto.

Ética – Obrigatória
Overview:
Cadeira que, pra mim, não fede nem cheira. Teve bons momentos, e no começo do semestre eu estava inspirado para as discussões, mas conforme fomos avançando, as aulas foram ficando mais repetitivas e eu com menos paciência, e então parei de me importar muito (só o suficiente para passar).

Método de avaliação:
Três trabalhos: uma apresentação em grupo, um ensaio livre e um trabalho menor sobre casos éticos verdadeiros. Nossa apresentação sobre psicoterapia e serviços de Psicologia pela internet foi OK, assim como os outros dois trabalhos também. Aliás, acho que meu problema foi esse: estava tudo OK, mas não estava lá muito bom. O ensaio livre, que é meu território por excelência (porra, esse blog tá cheio deles!), ficou meia boca por ter sido feito na pressão de ter que ser bom (e por ter sido escrito em cima da hora).

Genética para a Psicologia – Eletiva
Overview:
Melhor disciplina do semestre, sem a menor sombra de dúvida. O nome da cadeira pode parecer meio árido, mas o professor vai muito além da genética propriamente dita, e abarca neurociências, filosofia da ciência, evolucionismo e muitas intersecções possíveis entre estes assuntos, todos do meu interesse. Talvez outro colega meu, mais “teatro subjetividade”, chegado em Deleuze, Guattari e Lacan não curtisse muito a proposta da disciplina, nem a atitude do professor, que adora uma polêmica, mas outro amolador de facas certamente se beneficiaria e se divertiria. Aliás, é justamente a posição debochada e questionadora do professor que faz essa cadeira tão divertida, desafiadora e instigante. Se você fizesse uma afirmação que fosse contra a opinião dele, ele retrucaria “tem paper pra provar isso?” Se você não tivesse um artigo para comprovar tuas opiniões, teria que sentar quietinho e ouvir o resto da aula. Agora, se você tiver o paper, ele certamente vai lê-lo e, muito provavelmente, mudar de opinião. Poderia criticar essa posição materialista e academicista, que só aceita artigos científicos como verdade, mas eu posso contar nos dedos de uma mão só quantos professores meus fariam isso que ele faz.

Método de avaliação:
Duas provas e um trabalho. Para alguém que faz Psicologia na UFRGS, duas provas é o equivalente a um estupro, mas dá para encarar. São provas muito mais interpretativas, de entender o texto e ligar os pontos entre ele e as respostas, e não de apenas decorar o conteúdo. Mas a jóia desse semestre, sem dúvida, foi o trabalho. Tivemos que apresentar um seminário para a turma sobre um paciente com alguma doença genética ou similar, apontando os sintomas e problemas causados, a vida do paciente por causa dela e possibilidades de como lidar com isto. Para isto, tivemos que ir até o hospital e acompanhar os atendimentos destes pacientes, discutir o caso com os professores e pesquisar seriamente sobre o que fazer. Meu trabalho ficou muito bom, apesar de ter sido feito baseado só em telefonemas e uma quase-consulta. Além de muitos pontos de XP (experiência, em nerd), também me rendeu alguns pontos de prestígio. Depois das apresentações, ocorreu uma reunião jurídica, com a presença da mãe da paciente que acompanhei. Meu trabalho serviu de guia para o professor saber onde estava se metendo, e eu fiquei lá, acompanhando e até dando minha opinião de vez em quando. Perdi o primeiro pedaço da aula de Psicologia e Educação por causa disso, e eu não era realmente indispensável lá, mas o fato de ter ficado para a reunião pegou bem. Pelo menos eu acho, já que vou começar a trabalhar lá próxima terça-feira.

Neuropsicologia – Eletiva
Overview:
A única eletiva que realmente me decepcionou. Passamos a maior parte do tempo assistindo as apresentações dos colegas, e a professora quase não deu aula, com a exceção do início do semestre. O conteúdo também não me deixou muito feliz. Achei que seria Neurociências, mas acabou sendo muito mais uma introdução à Neuropsicologia Clínica, com um pouquinho de pesquisa sobre memória. Para quem gosta do assunto e quer trabalhar com isso foi ótimo. No meu caso, só deixou ainda mais claro que não perdi nada em não fazer a seleção para o estágio no Serviço de Neuropsicologia do Hospital de Clínicas (eu nem podia mesmo).

Método de avaliação:
Boa pergunta. Não sei como foi a avaliação. Tivemos que fazer uma apresentação em grupo para a turma, mas não sei como isso seria o suficiente para avaliar e dar notas por todo o semestre. Bem, tirei A e estou feliz com isso.

Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos – Eletiva
Overview:
Foi o que eu gostaria que a disciplina de Neuropsicologia tivesse sido, e portanto, a segunda melhor disciplina do semestre. A dinâmica das aulas me lembrou muito Análise Experimental do Comportamento, que cursei no distante segundo semestre da faculdade – como havia pouca gente em aula, podíamos discutir com mais liberdade os assuntos, que realmente correspondiam ao nome da cadeira. Também foi um excelente substituto às aulas de Psicopatologia, pois realmente discutíamos doenças sérias e seus correlatos neurais aqui, ao invés de ficarmos falando sobre o sexo faz-pipi dos anjos. Como o progresso das aulas dependia quase que exclusivamente de nossas leituras de artigos, precisávamos ler bastante, e nem sempre conseguíamos fazer isso adequadamente. Além disso, os artigos eram complicados, e mesmo quem já trabalha na área se complicava um pouco com alguns deles. Mas nem a professora nem nós deixamos com que as aulas se tornassem maçantes, o que é realmente admirável.

Método de avaliação:
A avaliação também foi muito similar à de Análise Experimental do Comportamento, e baseou-se quase que exclusivamente em participação em aula e interesse demonstrado pelo aluno durante o semestre. Também tivemos que fazer uma apresentação em grupo para a turma (isso é um paradigma na Psicologia). Foi a mesma coisa que a cadeira de Neuropsicologia propriamente dita, mas como a dinâmica de Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos foi muito diferente, foi bem mais adequado.

E não perca, no próximo post desta série: quinto semestre!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Dúvidas pertinentes para a humanidade

Clipes do Queen geralmente me deixam pensando uma coisa: como é que a camisa do Fred Mercury some assim tão fácil? Foram só 5 segundos (de 0:55 à 1:00 de vídeo)!

Por que eu escrevo tanto

Certa feita, estava eu conversando com uns colegas na faculdade quando uma amiga minha diz que descobriu este egocêntrico blog, e que eu escrevia demais. O Marcelo, presente à conversa, foi rápido em acrescentar que eu era perito em dissertar sobre o nada, e que eu estava cada vez melhor nisso, escrevendo cada vez mais e mais sobre coisa cada vez menos relevantes (lembrei-me na hora de um livro intitulado "O Melhor Livro Sobre Nada", onde o autor discutia assuntos relevantes como restos de sabonete, e como eu falo sobre quase exatamente o mesmo tipo de assunto aqui no blog).

Realmente, eu escrevo demais, se comparado com outras pessoas da minha idade, e, realmente, a relevância dos assuntos de minha escolha frequentemente é duvidosa (como a importância de não usar a expressão "intrincado e complexo" em um trabalho universitário). Mas não posso evitar escrever - melhor dizendo, não quero evitar. As idéias surgem em minha mente, e preciso trazê-las para o mundo das palavras, caso contrário morrerão, qual bebês que não saíram do útero materno em tempo. Dramático, eu sei, mas se você é leitor desse blog já deveria saber que tenho fortes tendências para frases hiperbólicas e exageradas. Mas, mesmo deixando toda a dramaticidade de lado, se deixo de dar vida à uma idéia, fico a sensação de que algo bonito se perdeu, mesmo quando a idéia em questão é um tratado inteiro sobre o chiclete que pisei na calçada ou considerações filosóficas disparatadas a respeito da fumaça do cigarro (não, nunca escrevi nada a respeito destes temas, mas certamente escreveria se a oportunidade me surgisse).

Com os meus textos mais profundos, filosóficos e inspirados (ou que pelo menos considero profundos, filosóficos e inspirados), parece-me que não tenho muita escolha a não ser dar-lhes corpo. O processo é sempre o mesmo: em algum momento, tenho uma idéia particularmente sonora, impactante, penso que deveria escrever a respeito no blog, mas nada faço - deixo-a ali onde a encontrei, maturando. De tempos em tempos, parágrafos do texto que escreverei surgem e amontoam-se, até a "substância poética" que os compõe atingir massa crítica, e eu me ver impelido a sentar em algum lugar e esculpir o pensamento com palavras, seja na frente de um computador, seja com papel e caneta. Geralmente um "ensaio sublime", se é que podemos chamá-los assim, demora alguns dias para tornar-se forte o suficiente em meu espírito para poder ser escrito, mas várias vezes no passado, quando confrontado com severa dúvida, sentei-me em casa e pus-me a escrever aqui neste blog mesmo tudo o que me surgia sobre o assunto, costurando as frases e os parágrafos da forma mais coerente, poética e sucinta que posso. Este mesmo texto aqui, que vocês lêem agora, nasceu assim. De certa forma, é como se eles viessem de outro planeta, enviados por alguma civilização extraterrestre mais avançada para o bem da humanidade (to serve men?), e que apenas eu posso transcrevê-los adequadamente. Além de egocêntrico, megalomaníaco, mas é apenas uma metáfora que me pareceu adequada no momento - ou para os homenzinhos verdes (minhas colegas se divertirão horrores comentando estas últimas frases na faculdade comigo).

Falta agora, como falta muitas vezes em diversos textos meus, concluí-lo. A conclusão é, pelo menos para mim, a parte mais difícil de escrever: na introdução, apresenta-se o assunto, e dá-se uma pista de sua opinião a respeito; no desenvolvimento, espraia-se os argumentos e as idéias, deixando-as óbvias para quem quer que leia seu texto, e, na conclusão, ata-se todas as pontas deixadas soltas ao longo dos parágrafos, fazendo como que o trançado de um tapete, dando-lhe um sentido final, que transcende o próprio texto. Em outras palavras, justifica-se por que diabos me dei ao trabalho de escrever tanto, e é precisamente isto que me parece complicado: escrevo por escrever, afinal de contas! Creio que acabei me extendendo um pouco demais sobre meu processo criativo, e que preciso agora fazer um último esforço que valide este grande amontoado de palavras que dei à luz. Disse que escrevo por escrever, mas isto não significa que seja algo sem propósito. No fim, acho que o que tenho para dizer, por mais inútil que possa soar (nomes alternativos para o diretório acadêmico?), possui um propósito, e que o universo inteiro perderia algo bom se as reprimisse ou as deixasse morrer. Por isso, continuarei sendo prolixo por aqui, e falando sobre as maiores bobagens que eu desejar, por que, talvez, não sejam tão bobas assim quanto desconfio.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Leituras de verão

Durante o período letivo, eu prometi a mim mesmo que, nas férias eu iria ignorar completamente as leituras recomendadas pelos professores e ler somente o que me agradasse. Como acabei fazendo isso mesmo antes de acabarem as aulas, decidi cortar pela metade as leituras de livros de Psicologia e dar prioridade aos romances e clássicos da literatura.

Gosto de ler livros de Psicologia e ciências afins. Se eu não gostasse, estaria em sérios apuros, pois é a profissão que pretendo seguir, e seria impossível fazer isto sem ler bastante. Contudo, leituras técnicas, por mais agradáveis que possam ser, como os livros de Carl Rogers e Erich Fromm, cansam. O conteúdo é necessariamente complexo e denso, sendo intelectualmente exigente passar duas horas seguidas lendo o mesmo manual sobre técnicas psicoterapêuticas ou considerações teóricas sobre processos cognitivos. Interesso-me por estes assuntos, mas, ao contrário do que pensam meus colegas, não possuo capacidades sobrehumanas de leitura e preciso descansar de vez em quando.

Por isso, tornei quase um hábito meu nesses poucos dias aqui em Porto Alegre desde que voltei de viagem consultar o catálogo das bibliotecas da UFRGS (já sei digitar de cor o endereço) por alguns autores famosos, como Herman Hesse, Aldous Huxley e Leon Tolsoi, ver quais de suas obras estão disponíveis e onde posso retirá-las. Os livros que me interessam mais, anoto o título em um arquivo do Word para lembrar-me mais tarde, e se a oportunidade surge, os retiro e leio. Também sigo bastante o acaso, pegando livros que chamam minha atenção em alguma estante. Por exemplo, ontem fui na biblioteca da FABICO pegar "Sidarta" do Herman Hesse. Não tinha intenção de pegar nenhum outro livro, mas ao passar na seção de literatura alemã, vi vários outros livros interessantes, e voltei para casa com três outros títulos além do que eu pretendia ler originalmente.

Ao contrário dos livros técnicos, romances e histórias são fáceis de ler, quase magnéticos. "Sidarta" terminei de ler hoje, e já estou na metade de "A Metamorfose" de Franz Kafka, que comecei a ler não fazem duas horas. Seria um vício, se não me fizesse tão bem.

Contudo, não acho que parei de estudar Psicologia só porque estou lendo livros de outro estilo. Na verdade, me parece que apenas mudei o foco: com os manuais, aprendo a teoria pura, e com os romances, vejo o nosso objeto de estudo em detalhe, descrito por alguém que tem prazer em fazê-lo. Muito já se disse que aprende-se mais sobre Psicologia lendo a obra de Tolstoi do que qualquer livro científico sobre os Cinco Grandes Fatores de Personalidade e coisas parecidas, mas vou deixar essa discussão para outro post ;).

Cenas da vida de um jovem (futuro) psicólogo

Fui hoje falar com meu orientador de estágio. Tínhamos combinado que, quando eu voltasse, eu apareceria por lá para colocar os últimos detalhes em ordem, fazer um treinamento na burocracia do local. Coisa pouca, pensei na época.

Pois é. Enquanto eu preenchia um formulário, ele chama a secretária e diz "Lúcia, sabe aqueles pacientes da semana que vem que não tem hora marcada ainda? Passa eles pro Andarilho que ele vai assumir os casos". Próxima terça-feira à tarde eu já tenho compromisso. Para quem pensava que teria suas últimas férias sossegado é um bom começo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Back in Black

Agora que estou de volta ao Brasil, com um computador sempre ao alcance de minhas mãos nervosas por escrever, retornarei à antiga rotina de atualizar este blog sempre que possível. Apesar de ter valido a pena, fico um pouco triste por tê-lo deixado às moscas por um mês inteiro, e ter feito a primeira atualização do ano só no dia 12 de janeiro, mesmo tendo tantas coisas para falar.

Mas não se preocupem, fieis leitores do Espadachim Cego, os novos textos, gigantescos e dissertando sobre o absoluto nada, não tardarão em aparecer! No momento, estou planejando algumas coisas novas. A primeira delas está relacionada com a Expedição Austral - contarei algumas histórias que aconteceram conosco durante a viagem e que valem a pena serem compartilhadas por escrito. Creio que farei uns sete ou oito posts nesta série, mas não prometo nada. Também quero postar algumas fotos que tiramos (a maior parte delas foi o Marcelo quem bateu, mas eu não me importo de plagiá-lo dar-lhe crédito por seu trabalho), e fazer um mapa, detalhando nosso trajeto (assim que eu conseguir entender como o Google Maps me permitiria fazer isso).

Feliz Ano Novo com 12 dias de atraso para vocês!

A Expedição Austral - O Retorno II

Estou de volta da Argentina, fazem quase dois dias. As coisas aqui em Porto Alegre não parecem ter mudado muito, mas, para mim, parecem radicalmente diferentes. No final das contas, fui eu quem mudou. De certa forma, sabia que isto aconteceria depois desta viagem, mas não era capaz de imaginar a magnitude desta mudança. Talvez nunca serei capaz.

Diferente de muitas pessoas, acredito que a vida tem um sentido, e que cada um de nós tem uma missão para cumprir em vida. Antes da Expedição, tal como Jonas, eu sabia disto, mas me recusava a aceitá-la. Precisei eu também trilhar um longo caminho para perceber que não quero fazer outra coisa. Talvez isto soe enigmático ou enrolado demais para muitas pessoas, mas para mim, nunca algo fez tanto sentido. Minha vida recomeça aqui e agora, e prometo vivê-la da melhor maneira possível, e cumprir aquilo que me foi designado, mesmo que eu seja incapaz de entender o porquê.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

A Expedição Austral - O Retorno