quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Dia de Campanha

Este foi um dia de muitas novidades, pois foi o primeiro dia que panfleteei na entrada do RU. Vesti minha camiseta verde da chapa, peguei minhas coisas, fui para a aula e, quando chegou a hora, fui para a frente do meu Templo de Comida Barata.

Confesso que nunca simpatizei muito com os panfleteiros que rotineiramente infestam as entradas dos restaurantes universitários, pois, além de serem muitos e insistentes, são inescapáveis, pois há apenas uma forma de entrar e sair dos RUs. Então, geralmente só existem duas maneiras de lidar com eles: pegando o que quer que eles estão distribuindo ou não. Claro que também existem diversas variações destes dois comportamentos.

Hoje tive uma oportunidade de ver o outro lado da história: a preparação dos materiais, a divisão das equipes para ir aos locais, a fome e o calor que o pessoal trabalhando passa e, principalmente, a relação com as pessoas da fila. Se é chato para quem tem que ficar esperando na fila recebendo papeizinhos, também o é para quem os distribui. Como eu disse antes, há várias maneiras de receber ou recusar um panfleto: há, sim, aqueles que pegam o panfleto e o lêem em algum momento, mas suspeito que eles sejam poucos se comparados com a maioria que pega a papelada para não se incomodar e a joga fora na primeira oportunidade. O lugar de despejo de panfleto preferido do pessoal que almoça no RU da Saúde é o parapeito da janela do lado das escadarias. Em dias de campanha, ele sempre fica cheio. Deveria ter tirado uma foto para ilustrar este post, mas duvido que falte oportunidades para tanto, com mais três chapas na disputa. Aliás, um dos meus maiores divertimentos esta manhã foi tentar adivinhar quem guardaria o panfleto e quem o deixaria do lado da janela. E entre os que recusam, há os educados, que dizem “não, obrigado”, aqueles um pouco mais ríspidos e aqueles que fingem a sua não-existência, e passam direto por você. Considero estes os “piores”, por assim dizer, pois são os que mais deixam evidente a tua inconveniência, de que tu estás atrapalhando o almoço deles. Não os julgo por isso.

Fiquei um pouco sobrecarregado com a nova tarefa, e em alguns momentos, caí em pensamentos sobre tudo aquilo. Observando meus colegas e eu mesmo na abordagem das pessoas, pensei que estávamos sendo desrespeitosos, invadindo o espaço pessoal alheio e empurrando-lhes papel colorido, da mesma forma que algumas mães empurram comida goela abaixo de seus filhos. Tentei desenvolver uma forma de “panfletagem não-invasiva”, onde, ao invés de pegar o panfleto e colocá-lo na frente do transeunte, eu apenas mostrava ele, e pedia se estava interessado em lê-lo, ou coisa parecida. Creio que tive algum sucesso nisso, pois as pessoas pareciam mais dispostas a aceitá-lo, e mesmo as que recusavam talvez não se sentissem desrespeitadas. Mas isso é apenas uma hipótese feliz, e não tenho como prová-la.

Em um dado momento, quando o movimento estava mais fraco, dei uma lida no nosso material, no que tínhamos escrito, e fui tomado por uma onda de angústia, pois ali estavam escritas coisas que, se dependessem diretamente de mim, não teriam sido impressas, especialmente as críticas contra a outra chapa, a 1. Senti-me angustiado por que, apesar dos pesares, eu concordara com aquilo quando assinei meu nome para a nominata, e quando não fui contrário à proposta de atacar diretamente os seus líderes. Eu fiquei quieto. Eu consenti. E eu associara-me com isto, e estou sujeito aos mesmos riscos que estas pessoas que criticaremos. Até o final da campanha, e, se formos eleitos, durante o próximo ano inteiro, serei taxado como um “cara do PSTU”, “esquerdista do DCE” ou qualquer outra alcunha que nos descreva de alguma forma. Eu sabia disto, mas só hoje ao ler o panfleto senti com toda a força que podia. Mas não vou desistir.

Entre discussões e ações, minhas dúvidas quanto a minha chapa ser a correta crescem. Uma boa amiga minha depois da aula me disse que, apesar de todo nosso discurso de que todos podem chegar, ainda passávamos um ar de superioridade, como se nós fossemos os escolhidos de Marx Deus para coordenar o DCE e guiar os estudantes rumo à luz. Afirmamos que são as mesmas pessoas há quatro anos dirigindo o Diretório Central, e que estão quase criando raízes lá dentro, mas queremos algo mais do que a chance de nós criarmos as nossas raízes por lá também? Não duvido da nossa consciência, mas da nossa congruência, de nossa capacidade de colocar em prática aquilo que dizemos. Em algum momento, uma menina com um adesivo da chapa 1 entrou na fila, sozinha. No que talvez tenha sido uma má idéia minha, ofereci um panfleto para ela, brinquei um pouco, e disse que seria legal ela ler nossas propostas para poder criticar depois. Um dos meus colegas, provavelmente por ter visto o adesivo amarelo e vermelho, chegou perto de nós e começou a resmungar algo que não consegui escutar, mas que pela sua postura não era algo que eu gostaria de ouvir se estivesse sozinho junto com muitos adversários políticos. Mandei-o parar de provocar. Assustamos ela, provavelmente, apesar do meu desejo ser justamente o oposto.

Ao meio-dia e meia, aproximadamente, fui almoçar. Quando cheguei no parapeito da janela, apesar de já saber que ele estaria cheio de papel, distribuído por nós, e vi que minhas suspeitas se confirmavam, fui invadido por uma sensação de inutilidade, que todos os panfletos, cartazes e jornaizinhos eram apenas sujeira irrelevante no processo eleitoral e que não ajudavam ninguém a decidir voto nenhum. Boa parte do meu almoço foi tomada por estes pensamentos.

Após comer e descansar brevemente no DAP (com a nova edição do PSIU! pronta), passei nas salas de aula da Psicologia para anunciar nossa chapa. Outra nova experiência, que, apesar da ânsia que sinto em falar em salas de aula (é, uma mini-fobia bem específica minha), me saí bem.

Também descobri que, na próxima semana, última de campanha antes das votações, ocorrerá um debate entre as chapas no Bar da Psico, ali do lado do DAP. Adoro debates, mesmo os ruins onde sou apedrejado verbalmente, pois são o tipo de desafio intelectual que me deixa empolgado. Pessoalmente, acho que foi uma boa escolha da parte da Comissão Eleitoral, de fazer o debate ali. Não por que eu me sinta mais em casa ou qualquer coisa, mas por que o pessoal da Psicologia, por não ser partidário, não ficará em volta como uma claque, aplaudindo seus candidatos e vaiando os demais. Vai ser divertido. Hohoho.

Numa nota paralela ao assunto, estou bastante receoso de publicar estes textos sobre as eleições no meu blog, pois não sei como meus colegas de chapa reagiriam se os lessem. Claro, escrevi eles de maneira tal que não sejam ofensivos, mas ainda não tive coragem de falar em uma reunião sobre estas questões, que considero fundamentais. Farei isto na próxima reunião, se puder comparecer. Afinal de contas, foi para isso que entrei nessa história.