sábado, 1 de novembro de 2008

Dramas de Estágio

Com a reunião de quarta-feira, foi dada a largada para a procura de locais de estágio pela minha turma. Apesar de aumentada pelo fato de sermos a primeira turma da UFRGS a fazer o estágio básico (que, de tão confuso, fez com que a frase "CHAMA A NAIR", coordenadora da COMGRAD, virasse nosso mote), acredito que a angústia desta busca é a mesma que todas as pessoas que cursaram Psicologia, ou qualquer outro curso que tenha estágio na grade curricular.

Este é um marco em minha vida acadêmica. Até agora, eu podia faltar ou chegar atrasado nas aulas, não entregar os trabalhos na data estipulada ou simplesmente não estar nem aí para o que os professores falam. Como futuro estagiário, tudo muda, a começar pelo fato de que, se perder a data de seleção, perco a vaga sem direito a renegociação. Abandonamos o sistema amigável do ordenamento inútil da Psicologia e entramos em um mundo onde precisamos competir com nossos colegas pela vaga no melhor local de estágio possível. É um ensaio para o mercado de trabalho e, devo dizer, nessas horas compensa ter gostos desviantes da média. Ainda assim, por mais estranho que eu seja, ainda tenho a obrigação de me inscrever em tantas seleções quanto possível, para não passar o ano de 2009 sem estágio algum.

Tem sido uma experiência estressante até o momento. Não há hostilidade entre a turma, mas todos sabem que, se forem escolhidos para uma vaga, os outros não serão. O fato de até o momento existirem poucas opções realmente interessantes não colabora em nada. O que nos tranquiliza é que os estágios básicos foram criados especialmente para a UFRGS, e que não teremos que enfrentar a concorrência de nenhuma outra universidade.

Os e-mails falando de processos de seleção pipocam em meu Gmail. Farei uma pequena análise dos locais disponíveis até o momento, e por que eles parecem interessantes ou não para mim:

Hospital Psiquiátrico São Pedro - O mais clássico local de estágio em Psicologia de Porto Alegre. Atualmente, é o local que mais vagas tem disponíveis para o estágio básico da UFRGS, distribuídas em 5 departamentos e oficinas diferentes. Destes, com exceção do Ambulatório e da Unidade José Barros Falcão, que incluem entre as atividades previstas a prática de Acompanhamento Terapêutico, nenhum é realmente interessante. Aliás, o São Pedro como um todo me é desinteressante por ser tão parecido com o Instituto de Psicologia em seu modus operandi. Passei quase dois anos aguentando a esquizofrenia institucional daquele prédio, e não ter que passar por isto também no meu estágio.

Grupo Hospitalar Conceição - Pelo que falam, o GHC é um gigantesco conglomerado de hospitais, unidades básicas e postos de saúde espalhados por toda a cidade. Tirando isto, não sei absolutamente anda a respeito dele. Parece interessante, simplesmente por ser um hospital grandão, mas nada impede de que seja uma bela bomba.

Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Até o momento, o lugar que mais me chama a atenção, por que é grandão, é high tech (montes de pesquisa na área da saúde são realizadas ali) e é perto de casa. Infelizmente, há poucas vagas disponíveis. Para o eventual colega meu que ler isto aqui, informo que, se você também estiver interessado em estagiar no HCPA, terá que concorrer comigo, e eu não vou dar moleza pra ninguém.

Secretarias Municipais da Saúde e da Educação - Falaram destes dois locais durante a reunião, mas eu estava ocupado demais comendo chocolate no meu canto e delirando sobre o pavê do RU para prestar atenção. Um homem tem que ter prioridades na vida, e o creme colorido e doce que o RU serve com os nomes de "pavê", "pudim" ou "gelatina" deve ser a prioridade de todo bom estudante da UFRGS. Em todo caso, pelo o que posso imaginar destes dois locais, deve ser legal ser um estagiário ali, e ver por conta própria os programas de saúde e educação do município serem elaborados e postos em prática, e toda a política por trás deles. Provavelmente o trabalho não envolve atendimento ao público e deve ser em sua maior parte burocrático, o que considero negativo, mas toda a experiência institucional deve ser fascinante.

Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS - Há, entre os locais listados, dois que classifico como "BIG FUCKING NO-NO". Numa tradução bastante livre, "NÃO ME INSCREVO NEM FODENDO", e a clínica é um destes locais. Nada contra o local em si, apenas não quero fazer estágio no local que é considerado "A Psicologia da UFRGS com esteróides".

Centro de Avaliação Psicológica, Seleção e Orientação Profissional - O segundo "BIG FUCKING NO-NO" é o CAPSOP. Além de ser localizado dentro do prédio da Psicologia (e isto está para o estágio da mesma forma que montar uma barraca no jardim da vovó está para acampar), não consigo pensar em nada mais chato do que trabalhar ali. OK, Avaliação Psicológica é legal, mas toda vez que passo na frente da salinha do CAPSOP sou invadido por uma onda de chatice. Imagina se eu trabalho ali. Não é uma justificativa logicamente fundamentada, mas para mim é o suficiente.

Projeto Quero-Quero: Programa Educação pelo Esporte - Outro local com pouca informação disponível. OK, devem ter falado a respeito na reunião de quarta-feira, mas o pavê do RU é hipnotizante, mesmo à distância. Como o nome indica, envolve esportes, mas mesmo assim, não estou muito interessado, já que não é o tipo de coisa com o que quero trabalhar futuramente.

Ambulatório de Neuropsicologia HCPA - Eu não sei por que eu coloquei este local na minha lista de possibilidades, por que ele simplesmente não é. Mesmo que eu tivesse interesse em trabalhar com isto, eu não poderia, pois o único pré-requisito para o candidato à estagiário é ter trabalhado em algum momento no grupo de pesquisa NEUROCOG/NEUROPSILIN, coordenados por quem? Pela mesma pessoa que coordena o ambulatório. Há três vagas para este local, e apenas três pessoas que atendam ao pré-requisito. "Cartas marcadas" é o termo que vem a minha mente quando penso neste local de estágio. Se eu tivesse tempo sobrando, eu me inscreveria para a seleção só pra encher o saco. Mas tenho mais o que fazer, infelizmente.

Pesquisa Assédio Moral no Trabalho - Esse local é bem peculiar, por que não é um local: é um projeto de pesquisa. Deixe-me fazer uma pequena digressão sobre o funcionamento político do Instituto para explicar o porquê disto. No currículo antigo, apenas dois dos três departamentos ofereciam/exigiam estágios (não sei qual verbo é mais adequado aqui), o de Psicologia Social e Institucional e o de Psicanálise e Psicopatologia, enquanto que o Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Personalidade, apesar de não oferecer/exigir estágio, oferecia muitas linhas diferentes de pesquisa para os estudantes se inserirem, e exigia que todos eles apresentassem um trabalho no Salão de Iniciação Científica. Em outras palavras, a coisa mais próxima de um estágio que o Desenvolvimento tinha até então era a pesquisa. Com o advento do currículo novo, o qual estou cursando, novas propostas de estágio tornaram-se necessárias, e o Desenvolvimento teve que inventar alguma coisa. Só que, ao contrário dos outros dois departamentos, que têm ligações com vários locais diferentes, o Desenvolvimento só tem pesquisa. Um monte de pesquisas, que rendem um monte de dinheiro e linhas para o currículo Lattes, mas só pesquisas ainda assim. Então, para suprir esta nova demanda, eles resolveram aproveitar os locais parceiros de pesquisa (como o HCPA), e os projetos de longa duração (seis meses à um ano) como propostas de estágio. Isso não alegrou muita gente, mas como na guerra urubu é frango, os outros dois departamentos aceitaram isso, desde que as pesquisas escolhidas fossem caracterizadas como estágios e não só como projetos. Pessoalmente, acredito que isto é positivo, pois aproveita os recursos disponíveis, e garantirá uma variação muito grande nos "locais" de estágio oferecidos pelo Desenvolvimento, já que toda pesquisa, bem sucedida ou não, um dia acaba, e será substituída por outra. O lado negativo é a impossibilidade de constituir uma tradição em um local de estágio, como ocorre com o HPSP e a Clínica, mas tradição não é tudo na vida. Mas, voltando à vaca fria, este projeto/estágio não tem local pré-determinado, pois a doutoranda encarregada vai em vários locais de trabalho diferentes para entrevistar pessoas, e o estagiário selecionado iria junto para... segurar a bolsa dela, sei lá. Esse tipo de coisa nômade é realmente interessante, e acredito que eu teria uma boa chance de ser selecionado como estagiário (desta vez, o famoso QI -Quem Indica- está do meu lado). Mas não sei se eu aprenderia tanto quanto em um local fixo.

Projeto Proteger - Ambulatório coordenado pelo Renato Flores, voltado para maus-tratos, mas que lida com uma vasta gama de problemas, inclusive saúde mental. Não há vagas de estágio determinadas para estudantes de Psicologia, mas um veterano meu, o Brunão, é extensionista lá, e segundo o próprio, o ambulatório é um excelente local para estágio básico. Tendo isto em mente, os amoladores de facas começaram uma campanha para transformar isto em realidade. Sei lá se vai dar certo. Tomara que dê. Pelo o que o Brunão fala, dá para ir lá trabalhar só um turno por semana, e ainda assim aprender muita coisa. Meu sonho de consumo é conseguir um estágio no HCPA, e fazer extensão no Projeto Proteger. Veremos no que vai dar isto.