quinta-feira, 31 de julho de 2008

Por que Morpheu me atrapalha a vida

Em seu livro "O Atleta Interior", Dan Millman fala que, como treinador de ginastas universitários, ele percebeu que um sinal de progresso é ser mais auto-consciente dos próprios erros - vários dos jovens sob sua batuta vinham lhe falar que, desde que entraram para o time principal, seu desempenho decaíra muito desde o tempo de escola. Contudo, quando Millman comparava vídeos de competições escolares com vídeos atuais, ficava claro para ele que seus alunos estavam melhores do que nunca! O erro deixa de ser algo natural para se tornar algo a ser extirpado. Algo deste tipo está acontecendo comigo, e já relatei muitos dos meus vícios aqui: chocolates, sucos, carne e preguiça, principalmente. Poderia falar de muito mais coisas, mas no momento, quero falar do que considero meu pior e mais enraizado vício: o sono.

Por oito anos, estudei no período da tarde. Isso me permitia dormir até às 9 ou 10 horas da manhã todos os dias. Nos finais de semana, ia um pouco além, e dormia até às 11, ou mesmo até ao meio-dia. Este regime permissivo me tornou quase incapaz de acordar cedo. Quero dizer, acordar por acordar. Quando tenho um propósito claro em minha mente, é muito fácil sair da cama. Tanto é que nunca faltei um acampamento dos escoteiros por que queria dormir mais cinco minutinhos. Não vou dizer que nunca faltei aula por excesso de sono. No Ensino Médio, a coisa mudou de figura, e algumas vezes pedi para meus pais me deixarem matar o primeiro periodo e dormir mais seis vezes cinco minutinhos. E, na faculdade, já perdi duas aulas matinais por que, quando acordei, vi que estava atrasado, dei de ombros e voltei a dormir. Fiz isso no primeiro e no terceiro semestres.

Mas ir para a aula não significa prestar atenção nela. E qual melhor forma de ignorar um professor completamente que baixar a cabeça na mesa e dormir sem o menor pudor? Desenvolvi esta habilidade no Ensino Médio, graças à minha baixa tolerância ao periodo anterior às 9 da manhã, a chatice das aulas e meu fraco sentimento de pertença à minha turma, e por causa dela fui apelidado criativamente de Soneca e o prêmio Leda para Criaturas Inúteis na categoria "Melhor Seguidor do deus Morpheu". Mas foi no cursinho e na faculdade que elevei esta habilidade ao nível da arte. Tal como os iogues, que conseguem controlar seus batimentos cardíacos e pressão sangüínea, para entrar em sono profundo, basta apenas eu baixar minha cabeça, e esperar alguns minutos, "prestando atenção" ao hipnótico blá-blá-blá do professor. Mas este meu poder foi se apoderando de mim, ao ponto de ter dormido em todas as aulas que já tive até o momento. Uma professora minha (que dava aula de manhã) me fazia ficar sentado em cima da minha carteira, pois, desse jeito, ela sabia que eu não dormiria - e se dormisse, cairia no chão e acordaria.

Para piorar minha situação, eu durmo tarde. 23 horas é cedo segundo meus padrões. A faculdade certamente não colabora para mudar isto, pois cansei de ficar acordado até às 6 ou 7 da manhã fazendo relatórios. A pior cagada que já fiz num dia destes foi ter ido para a academia. Cheguei pensando em treinar dois ou três horários seguidos, e saí impressionado que tinha conseguido treinar um horário inteiro. Foi uma dissociação interessante, pois enquanto minha mente funcionava impecavelmente, meus músculos entraram em greve. Falei da minha situação para o professor, que ao término da aula disse explicitamente "vê se dorme". Quando um professor de Kung Fu diz isso, é sinal que, sim, você deve dormir.

As férias viraram meu relógio biológico do avesso, especialmente o ENEP, onde ir dormir às 4 da manhã era rotina. Agora, estou lutando para mudar este comportamento. Como já disse, não encontro problema algum em levantar, desde que tenha um bom motivo. Antes de viagens, sempre tenho medo de dormir demais e perder o ônibus. Foi assim nos dois ENEPs e no EREP que fui, e para o congresso em Buenos Aires. Mas em todos eu acordei muito antes do necessário, e sozinho. A questão é que, apesar de saber racionalmente os benefícios de acordar cedo, não vejo muito propósito. "Acordei às 7 da manhã. Viva para mim! Agora, eu vou... fazer o quê mesmo? Ah, então vou voltar pra cama que é mais lucro." Já fiz isso muitas vezes. Mas eu quero acordar mais cedo, então eu vou mudar este meu hábito ruim. Só não tenho muita idéia de como fazer isso.

Olim-piada

Copa do Mundo e Olimpíadas. O que estes dois eventos têm em comum, com a exceção de serem eventos esportivos mundiais muito importantes? Antes de começarem e durante seus jogos, não pára de passar propagandas na TV com atletas popstars. Eu me lembro que na Copa de 2006, o queridinho era o Ronaldinho Gaúcho, que só não fez propaganda de absorvente interno por que achou que o cachê pra colocar o OB era muito pequeno, se bem que o Ronaldo Fenômeno também não ficava muito para trás. Agora, o bola da vez é o Giba da seleção de vôlei - em menos de 5 minutos olhando os comerciais do "Globo Esporte" ele apareceu duas vezes, fazendo propaganda de duas porcarias diferentes. Não que haja uma relação causal, mas em 2006 os dois Ronaldos fizeram fiasco e saíram com fama de capitalistas-vagabundos-vendidos-sem-amor-pela-camiseta. Depois que a Copa do Mundo acabou, com o Brasil eliminado nas quartas-de-final e a Itália tetracampeã, não vi mais a fuça feia do Ronaldinho Gaúcho na TV emprestando seu prestígio para alguma marca grandona de... alguma coisa. Bem, até por que ninguém queria o prestígio dele.

Mas eu não quero ficar fazendo críticas ao modelo capitalista - para isso temos os professores de Ciências Humanas das universidades federais. É problema desses atletas se eles emprestam a própria cara para ganhar uma banana vendendo celular ou o que quer que seja. Isso faz parte das regras do jogo e é problema deles se eles querem fazer isso ou não. O que me incomoda mesmo é a maneira como usam o "espírito olímpico" (ou "espírito do futebol" no caso da Copa do Mundo) como motte destas propagandas. Fazem parecer que a Olimpíada é uma grande confraternização de esportistas, que se reúnem pelo prazer de competir e pela paz mundial, e que esta é a coisa mais nobre do mundo. Nada mais distante da realidade. Olimpíada é um evento que reúne um número extremamente elevado de atletas de alto nível, tanto em desempenho físico quanto em egolatria, onde um toma mais anabolizante pra cavalo que o outro pra ver quem ganha a medalha de ouro e o direito de cantar vantagem de ser campeão olímpico, e quem é eliminado cedo na competição passa o resto do tempo bebendo e fodendo. Hmmm, pensando bem, essa segunda parte não é tão ruim assim... Em todo caso, não é nobre ou elevado como passam a imagem por aí.

Sem falar em toda a política por trás das olimpíadas. Todo ano de olimpíada tem algum tipo de protesto contra alguma coisa. Esse ano foi "Free Tibet!", o que levou muita gente a querer boicotar o evento. Quando o evento foi sediado na União Soviética, a delegação dos EUA não foi. Ou algo assim. A escolha da sede também é uma escrotice.

Mas o mais importante de tudo, é que a grande maioria dos eventos são chatos de assistir. Tipo, qual a graça de assistir uma corrida de revezamento, ou qualquer outra prova de atletismo? Não que eu gostasse de ter torcida quando eu mesmo corria os meus 3200 metros nos EUA, mas o fato das pessoas irem assistir um bando de malucos correr em círculos sempre me intrigou. É pra ver quem chega primeiro? Ou por último (nesse caso eu era um cara popular, já que com alguma freqüência eu chegava em último nas corridas)? O mesmo vale pra Fórmula 1 e esses outros "esportes" pra gordo ficar assistindo no domingo de manhã, com a diferença que, nesse caso, o maior esforço empreendido pelos "atletas" é pisar no freio (mas eles devem ter reflexos absurdos para dirigir à 300km/h). Ainda assim, é só ficar assistindo. Quase como filme pornô, ou televisão de cachorro. É sem graça. Vá ler um livro ou caminhar no parque. Eu vou fazer isso enquanto as olimpíadas não acabam. E depois que elas acabarem também.

* Andarilho tem 19 anos, é estudante de Psicologia, gosta de cookies e de xingar psicanalistas, e estava levemente fora de órbita quando escreveu este artigo.