sábado, 19 de julho de 2008
Oh não! Ainda mais algumas notas sobre minha alimentação!
Ainda mais algumas notas sobre minha alimentação
Mais algumas notas sobre minha alimentação
Algumas notas sobre minha alimentação
Argonautas do Asfalto - Parte IV
Antes de começar o relato propriamente dito, gostaria de abrir um parênteses, e dizer que, talvez não tenha sido a melhor das escolhas falar sobre o ENEP cronologicamente, pois, de certa forma, ele está além do tempo. O Marcelo bem disse que cada um viveu seu próprio ENEP. Eu acrescentaria que cada um o viveu em seu próprio tempo.
O Direito de Sonhar e o Dever para Realizar
Realizar um sonho é sempre uma tarefa solitária. Podemos contar com a ajuda de pais, amigos e parentes, mas no final das contas, está tudo sobre nossos ombros. E o caminho para realizarmos o que buscamos é árduo, longo e envolto na névoa misteriosa do futuro, que tudo promete, mas tudo esconde e muito nos engana. O futuro é sempre promissor, mas nunca certo. E, diante desta incerteza, desta solidão, já vi muitos amigos e conhecidos meus desistirem, e meramente aferrarem-se ao seguro e conhecido, por mais desagradável e indesejável que ele seja, e por mais brilhantes que suas esperanças fossem. Frequentemente, alegam que “o mundo” não permitiu que realizassem seus sonhos. Asneira! O mundo não está aí para nos dar respostas ou coisas prontas, mas para ser um desafio para nosso caráter e força de vontade! Nele, estão todas as ferramentas que precisamos para transformar sonho em realidade, e todo o material para construirmos nosso castelo nas nuvens. Devemos, contudo, não nos acomodarmos com o que é confortável, nem nos desanimarmos com as oportunidades que perdemos. Para cada porta que se fecha, outras três se abrem para nós. É preciso, entretanto, estar atento para elas.
Estamos aqui para nos tornarmos tudo que podemos ser, e há poucas coisas que considero tão tristes quanto alguém que poderia ser grande, um símbolo de coragem e perseverança para toda a humanidade, mas prefere ser um pouco mais do que nada, por ter medo do que terá de enfrentar. Choro por todos os sonhos que morreram antes de nascerem! Como seres humanos, somos frágeis e finitos, mas através de nossa coragem para realizarmos nossos sonhos, nos tornamos imortais, mesmo que no fim nada dê certo. “É melhor que alguém cumpra sua própria tarefa como puder, mesmo falhando, que assumir deveres dos outros, embora pareçam bons” diz o Bhagavad Gita. Talvez o que os outros desejam para nós seja mais belo ou mais grandioso, mas somos nós quem devemos decidir qual é a verdade de nossa vida. De certa forma, sermos nós mesmos da forma mais autêntica e profunda é atingir a imortalidade, e qualquer ato contra esta auto-realização de quem quer que seja é o maior crime que pode ser cometido por um homem ou uma mulher.
Por isso te peço, ó desconhecido que lê estas palavras, que não desista do teu sonho, por mais distante que ele pareça. Não quero fazer coro com as vozes do desânimo, e dizer-te que nada podes fazer, e encher-te o coração de desespero. Já há pessoas demais fazendo isto! Prefiro ser aquela voz distante, porém segura, que te encoraja a fazer o impossível. Vai, contra todas as probabilidades, te lança no desconhecido e conquista teu destino! Torna-te eterno através da tua audácia e da tua sinceridade, mesmo que por um segundo apenas. Vai, e faz aquilo que ninguém antes conseguiu. Quem sabe tu não consigas? Vai, e mostra para este mundo cruel, pessimista, materialista e cego que a força do teu espírito é a maior de todas as forças.
Argonautas do Asfalto - Parte III
Mais uma vez, poucas lembranças vêm a minha mente sobre o quarto dia de ENEP. Posso dizer que foi um dia agradável, que passei bem aninhado nos braços da menina de saia amarela, mas com poucos acontecimentos marcantes. Porém, os poucos eventos de que me recordo foram verdadeiramente extraordinários.
Uma hora da noite, resolvi sair e caminhar pelo campus, isolar-me um pouco dos demais e refletir sobre o que estava vivendo ali. Sentei-me do lado da piscina olímpica, onde um aglomerado de capivaras pastava. Pensei sobre o ENEP, sobre tudo que aconteceu antes dele e o que seria de mim depois dele. Não seria o mesmo, já sabia. No caminho de volta, encontro mais uma vez William e outro ser, desta vez carioca, indo até o Atacadão. Como Will já tinha uma bermuda (apertada) e chinelos, desta vez iriam comprar bebidas. Mais uma vez, aceitei o convite de ir junto com eles até lá, e mais uma vez, pus-me a imaginar por que fiz isto. O motivo da caminhada já evidenciava que me sentiria outra vez como um peixe fora d’água com os assuntos da conversa. Lembrei de Jung. Em sua autobiografia “Memórias, Sonhos e Reflexões”, ele fala que, por causa de seus interesses em filosofia, teologia e ciência, sentiu-se muitas vezes solitário e sem nenhum semelhante com quem poderia agir de igual para igual. Muitas vezes me senti assim, talvez por arrogância, talvez não, e lamentei a falta de um amigo para conversar verdadeiramente, e não repetir o que todos repetem.
No alojamento, aconteceria uma festa. Minha atitude perante ela não foi muito diferente das demais – ler era mais interessante. Porém, mais uma vez o destino guiou-me para outros lugares e conversas, ao invés de me deixar só com meus livros. Chico, deitado e com apenas a cabeça para fora de sua barraca, pediu uma opinião sincera, minha e de Roger, o oitavo gaúcho do ENEP, e nono membro de nossa sociedade, sobre questões de movimento estudantil, trabalho e motivação. Para ser sincero, nada poderia acrescentar de extraordinário à conversa. Por isso, fiquei apenas escutando. Nesse ínterim, Marcelo se aproximou, sentou e fez o mesmo que eu, escutou. Tenho a impressão que o Chico apenas queria alguém para conversar e expor o que pensava, pois foi o que mais falou, apesar de ter pedido opinião alheia. Foi Roger quem fechou com chave de ouro a pequena assembléia. Citando o Bhagavad Gita, livro sagrado do hinduísmo, disse “é melhor fazer mal os próprios deveres do que realizar bem os deveres dos outros”. Naquele momento, achei a frase bonita, mas ela pouco ocupou minha mente consciente. Minha mente inconsciente, percebo agora, foi muito afetada.
Finda a conversa, preparava-me para cair de cabeça no mundo da leitura e do esquecimento, quando o Marcelo se aproxima de mim e pergunta “Qual a tua opinião sobre a Astrologia?”. Foi uma pergunta inusitada, vinda do meu veterano, positivista até os ossos. Antigamente, para ele coisas como Astrologia eram simplesmente pseudocientíficas, e portanto descartáveis. Mas, ao longo do ENEP, ele dera sinais de que algo mudara. A Biodança o atingira de forma muito mais profunda do que poderia então supor. Elaborei a melhor resposta que podia dar, a mais adequada teoricamente e a mais sincera e congruente possível. A conversa que se seguiu foi uma das mais inspiradoras, desafiadoras e instigantes que tive desde que entrei para a faculdade. Não lembro de tudo o que foi discutido, nem cabe aqui relatar. Digo apenas que foi uma longa e produtiva conversa, e que, depois dela, nem eu, nem o Marcelo éramos os mesmos.
Não lembro em que dia ocorreu a segunda oficina de Biodança. Pouco importa também. Participei dela, e pude constatar o que causara tamanha comoção em meu veterano. É uma experiência para poucos, pois exige muito desprendimento emocional. Lembro de ter visto pelo menos duas pessoas chorando ao final da oficina, graças a grande carga afetiva produzida pelos participantes. Como disse o próprio Marcelo, não dá para explicar: só vivenciando para entender.
Tão breve quanto possível, publicarei a quarta e última parte parte desta série.