segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sob os ombros de gigantes

Quando escrevo, seja para o blog, para a faculdade ou para qualquer outra coisa, e exponho minhas idéias, tento sempre partir do pressuposto de que:

1) Sou humano, portanto sou imperfeito;
2) Se sou humano, sou suscetível a falhas, e por isso, as idéias que expresso podem estar equivocadas;
3) Apesar de ser tentador evitar o erro simplesmente não escrevendo, prefiro dar a cara à tapa.

Acho que estas premissas são válidas para todos os homens e mulheres, para qualquer ofício humano que pratiquem. Acho engraçado como costumamos criticar aqueles que vieram antes de nós, baseados no conhecimento que temos hoje, e que só existe por que nossos antepassados tiveram coragem de errar. A Física de Descartes é praticamente inútil hoje, mas suas idéias continuam vivas até hoje. Ele é um dos gigantes sobre os quais estamos apoiados. No futuro, se ele existir, seremos nós quem sustentaremos diretamente o conhecimento das gerações por vir. Para isso, precisaremos errar bastante, para que eles tenham o que arrumar no futuro.

Não que este blog especificamente seja o baluarte de uma nova era ou algo assim, mas... por que não?

Estados Mentais

Engraçado como subimos do inferno para o céu em tão pouco tempo - e como a viagem de volta também é rápida!

Eros versus Tânatos

Por séculos, filósofos, cientistas e pessoas comuns têm buscado definir qual é a essência humana: somos criaturas naturalmente bondosas que foram pervertidas pelo ambiente hostil, como Rousseau dizia? Ou somos poços vivos de podridão que tentam, em vão expiar seus pecados, como Freud acreditava? A discussão continua viva, mas acho que a melhor resposta que temos, até agora, é a defendida por Frankl e muitos outros: podemos ser os dois – depende apenas qual lado favorecemos mais.

O mal, essa força que nos leva a destruir e ferir, existe em potência dentro de todos nós. Mais do que isso, é parte constituinte de nosso ser, sem o qual seríamos meras criaturas bidimensionais. Portanto, não há maneira de extirparmos ele de dentro de nós sem ferirmos profundamente a nós mesmos, e talvez a humanidade como um todo. Entretanto, não podemos simplesmente dar vazão à nossas pulsões de morte, causando dor e tragédia ao nosso redor, na vã esperança de que desta maneira estaremos vivendo de forma saudável. O que fazer, então?

Não há consenso sobre a resposta para esta pergunta, mas acredito já a termos encontrado. Até onde eu saiba, ela não é exatamente nova, mas mesmo assim não há nenhuma comprovação científica de sua veracidade – apenas de gerações incontáveis de mestres de todas as partes do mundo, que alcançaram um estado superior de consciência e serenidade. É a aceitação de nossa própria maldade interior. Aceitar não significa resignar-se e deixar-nos levar por todo impulso de crueldade que perpassa nossos pensamentos; é meramente constatar sua existência. Um médico não pode tratar um doente que não admita sua enfermidade (a não ser que o médico em questão se chame Gregory House). O mesmo se aplica para nossa maldade. Talvez, ela não seja tão má assim. Como tudo neste universo, há um lugar especial para ela, e se for bem utilizada, será capaz de gerar transformações positivas ao longo prazo. Não falo só da crueldade, mas da ignorância, da irreverência exacerbada, da infantilidade. Por que deveríamos fazer como muitos dos meus professores fizeram, comigo e com colegas meus, partir do pressuposto que este tipo de coisa é absurdo, inaceitável, e causar estragos no desenvolvimento alheio?

Tenho observado que, mesmo pessoas pouco desenvolvidas são capazes de atos de amor, amizade e bondade. Talvez não com o mesmo grau de consciência que os mestres, mas no fim das contas, um ato de bondade é um ato de bondade, independente da intenção por trás dele. E o bem aparece em todos, apesar do mal. Isso deve significar algo.

O Humano, Demasiado Humano Gosto de Julgar

O ser humano me fascina. Todos nós somos criaturas extremamente complexas, extremamente contraditórias. A prática de observar comportamentos, tanto nossos quanto alheios, é uma forma de conhecer um pouco mais e melhor a essência de nossa espécie. Entretanto, vemos coisas diferentes quando observamos pessoas diferentes, por motivos muito diversos: local, classe sócio-econômica, genética, educação, forças inconscientes. O que for. E posso dizer, do alto dos meus 19 anos de experiência como ser humano, que as pessoas adoram falar de outras pessoas. Se for falar mal, mais ainda.

Falar mal é uma arte e uma terapia. Acredito ser razoável dizer que todo mundo já se beneficiou desta técnica cognitiva, mas que são pessoas emocionalmente pouco educadas as que mais fazem isto. Não é difícil encontrar motivos para falar mal de alguém, pois como somos imperfeitos, qualquer coisa pode servir: desde comportamentos socialmente inaceitáveis até a cor da roupa. Falar mal dos outros nos dá a impressão de que somos superiores, pois nós não fazemos as mesmas coisas terríveis que eles fazem (como não combinar a cor do cinto com a do sapato), e se fazemos, fazemos melhor por que escondemos. Ou assim imaginamos. Talvez tenha alguém falando mal da gente neste exato momento, apesar de minhas orelhas não estarem quentes agora.

Em casos mais extremos, junto com o falar mal, vem a desaprovação social. Tomemos como exemplo o casal Nardoni. Eu não preciso me esforçar verdadeiramente para achar alguém falando mal deles – é só procurar “Caso Isabella” no Google que eu acho uma pletora de blogs revoltados chamando-os de assassinos selvagens e defendendo a pena de morte para os dois. Eles estão presos, mas se andassem na rua, seriam alvo de, no mínimo, olhares atravessados. Gostamos de excluir os maus elementos de nossa sociedade, por que eugenisticamente achamos que os genes ruins de nossa espécie serão extirpados com eles. Não preciso nem dizer que isto não funciona na prática, pois a única maneira de eliminarmos nossos genes egoístas seria uma guerra nuclear que destruísse a tudo e a todos. Entretanto, não vejo esta limpeza genética como sendo muito eficiente, já que ela não é muito... seletiva quanto ao que elimina.

Não faz muito tempo, um amigo meu, a quem tenho em muita alta conta, fizera algo que considero indigno. Não vale a pena dizer aqui o que ele fizera, mas em todo caso, diria que é grave. E mesmo assim, apesar da gravidade do fato, não consigo repugná-lo. O que teria mudado na pessoa que tanto admiro depois de tal erro? Muito pouco, talvez nada. Não seria este meu amigo imperfeito, e, portanto passível de enganos? Não seria ele tão imperfeito quanto eu? Sim. Então por que deveria eu renegá-lo? Fazê-lo seria o mesmo que renegar a mim mesmo. Por que renegaria a mim mesmo?

Em minhas observações não encontrei muitas pessoas que pensassem de tal maneira. Na maioria dos casos, tudo o que fazem é criticar, apontar o dedo e esquecer que, ao fazerem isso, apontam três dedos para si próprios. Mas como já disse, são apenas pessoas emocionalmente imaturas que fazem isto, que não tiveram chance ou tempo para aprender a perceber as próprias contradições. Em última análise, são tão imperfeitas quanto eu. Então, por que deveria julgá-las por julgarem outros?

O Tempo e o Pensamento

Nossa mente é uma máquina maravilhosa – é através dela que filtramos e absorvemos as informações do mundo, tanto externo quanto interno. E ela processa não só o que aconteceu no passado, mas dá significado para o presente e imagina o futuro. Mas isso traz algumas desvantagens. Se imaginamos que o futuro será catastrófico, isto se torna realidade para nós. Talvez no futuro, o futuro não seja tão ruim, mas agora que penso a respeito dele, não há nada mais real no universo, e por isso sofro, sem necessidade alguma.

Nessas horas, eu gostaria de ter um DeLorean Voador, para ir até o futuro e ver se minhas suposições estavam corretas. Infelizmente, minha máquina do tempo é muito mais rústica: com ela, consigo ir para o futuro, mas para tanto eu preciso envelhecer. E o sofrimento permanece, tão real quanto um espinho a furar minha pele, mas infinitamente mais doloroso por ser mera possibilidade – que precisarei esperar o tempo passar para descobrir se era delírio ou destino.