sábado, 17 de maio de 2008

Essência e Existência

Há poucas generalizações que sinto-me tranqüilo em fazer. Uma delas é que todo ser humano tem uma vocação, um talento especial. Alguns preferem trabalhar com pessoas, e para isso viram médicos, professores, psicólogos ou padres; outros preferem os desafios dos números e das coisas, e tornam-se matemáticos, físicos de partículas ou engenheiros. E por mais engenheiros e psicólogos que existam, não há dois neste mundo que vivam e vejam sua profissão da mesma forma. Isto é central em Ciências Humanas e em relacionamentos pessoais e um fonte inesgotável de perguntas.

Na Personologia, a ciência que estuda a Personalidade humana, há uma certa controvérsia quanto a se o enfoque das pesquisas deve ser nas diferenças ou semelhanças encontradas nas pessoas. Devido ao grande sucesso de modelos teóricos como o dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade, os psicólogos e demais cientistas envolvidos com pesquisas em Personalidade têm dado preferência aos estudos de essência, Nomotéticos, e deixado a individualidade, estudada pelos métodos Idiográficos, em um segundo plano, mas acredito pessoalmente que esta divisão é meramente didática e portanto um tanto quanto arbitrária, e estudar ambos os lados da moeda é de suma importância para que possamos realmente compreender o ser humano.

Passamos nossas vidas procurando por respostas – um teólogo busca entender Deus, um Sociólogo a sociedade e um Físico a matéria e a realidade em si. Por mais amplas e gerais que sejam as perguntas a que tentamos responder, por mais impessoais que possam soar, para nós e para os outros, sempre estamos tentando esclarecer nossas próprias duvidas. Da mesma forma, toda busca individual por algo maior é uma busca em nome da Humanidade – uma pergunta feita por uma pessoa é a dúvida de todo o mundo. Às vezes, temos a sorte de, em nossas buscas, encontrar um resposta que sirva para a raça humana como um todo

Por isso, acredito que é impossível separar o “pessoal”, o “único” do “coletivo”, do “Quando se procura uma essência humana, se procura tabém uma forma de permitir que a existência única, pessoal e intransferível de cada um seja mais rica, feliz e espontânea. E por outro lado, todas as pessoas individuantes, que buscam tornarem-se mais existencialmente sinceras são únicas no mundo em seu modo de ser, mas compartilham entre si muitas características. Estas duas maneiras são de suma importância para uma maior compreensão de nós mesmos, e se realmente quisermos isto, devemos desenvolver novas maneiras e complementar as antigas de estudar tanto a Essência de todos quanto a Existência de poucos, buscar alternativas em todas as ciências que estudam o ser humano e abandonar preconceitos há muito sedimentados. Não vejo caminho mais nobre e necessário para nossa civilização.

Amor, Paixão e outras coisas

Nossa sociedade adora a palavra “Amor”, pelo menos quando se refere ao amor romântico, entre duas pessoas diferentes que decidem um dia ficarem juntas, compartilharem a vida e terem filhos. Depois deste amor, o relacionamento mais valorizado é o libidinal – sexo, beijos e coisas deste gênero. Minha escolha entre “Primeiro” e “Segundo” é arbitrária, pois não sei dizer qual valor é mais bem visto na sociedade, já que ambos são cobertos de glórias pelas novelas, romances baratos, comerciais e pelas pessoas comuns.

Durante quase toda minha vida, fui um fracasso em obter estes dois tipos de relacionamento, pelo menos da forma bem-vista: com muitas mulheres gostosas diferentes, o tempo todo e sem cansar. A pressão da sociedade para que eu fosse este Amante Latino que nunca fui era (e é) acachapante. Acho que as garotas com quem fiquei eram bonitas, mas estes relacionamentos nunca duraram mais que uma semana, e apesar de desejar algo mais profundo, nunca saíam da superficialidade de uns amassos. O primeiro corte, como Cat Stevens canta, é sempre o mais profundo, e o primeiro relacionamento que tive foi uma decepção total: eu teria me entregue como se só existisse ela no mundo, mas eu era só um peguete. Eventos posteriores similares nesta seara, somados às minhas tendências para a introversão e para a Eudaemonia (1) sedimentaram ainda mais a crença de que meu destino é a solidão de um celibato, de vagar só e sem descanço pelo mundo, um andarilho forte em um mundo de fracos sedentários, que convivem em sociedade apenas por terem medo de qualquer outra coisa. Para ser sincero, ainda penso assim, e não sei se posso ou devo mudar estas crenças, centrais para mim, ou, se devo e posso, quanto devo mudá-las.

Entretanto, desde que entrei para a faculdade, tenho desenvolvido meu outro lado, mais festeiro, gregário e extrovertido. Devo isso graças aos excelentes colegas de faculdade que tenho, que são divertidos e sensíveis, ao ambiente social mais afável de Porto Alegre e, last but not least, meu desejo de renascer e ser algo diferente. Até agora, foi um processo lento, doloroso até, mas que tem valhido muito a pena. E ele não pára. Continuo em mutação. O fato de eu escrever isto neste blog é um sinal disto.

Há pouco tempo, encontrei alguém diferente. Não sinto repulsa por sua presença como senti em relacionamentos anteriores, pelo contrário, quero estar perto dela. É uma sensação que não esperava sentir nesta vida. Não faz muito tempo, mas tem sido bom. Entretanto, tenho medo. Tenho medo de que seja tudo uma ilusão minha, que a cortina do palco desabe e acabe com toda a alegria, ou que minha tendência para a solidão acabe com tudo e machuque esta pessoa. Pode dar tudo errado, mas vou adiante. Quem sabe dê certo desta vez?





1. A “Boa Vida”, em oposiçãoà Hedonia, a “Vida Prazerosa”. Em outras palavras, minha tendência a preferir ficar treinando Wushu a ir numa festa nestes locais fechados, barulhentos, afrescalhados e com nomes do tipo “Blue Up”, “Yes Music Hall” ou “Conde D’ Bar”.

Alma Mater

Estudo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS, mas chamo-a apenas de URGS. Muitas coisas nela me entristecem: a burocracia, a politicagem, a indiferença, a estupidez, a arrogância. E ainda assim, não gostaria de estar estudando em nenhum outro lugar no mundo.

A URGS sempre teve algo de mágico para mim, desde muito antes de pensar em estudar nela. Há toda uma mística por trás dela, e de quem nela estuda. Aqui em Porto Alegre isto é um pouco reduzido, mas em Caxias do Sul, quando falo onde atingido por uma explosão de admiração, espanto e (às vezes) inveja. “Nossa, tu estuda na Federal!” dizem muitos (. Apesar de achar que há um certo exagero na maneira como sou tratado, entendo por que isto acontece. Quem estuda na URGS teve que primeiro passar por um concorrido vestibular, e uma vez lá dentro, precisa rebolar para manter-se em dia com os estudos. É, eu sei como é isso. Por isso e por outros motivos, dizem que o ensino da URGS é o melhor quando se trata de Ensino Superior.

Mas não é isso que me faz amar esta universidade. Há algo de especial nos prédios antigos e mal cuidados, que passa uma impressão de força, sabedoria, algo que só uma instituição centenária tem – as marcas de ter nascido em outra época. Adoro caminhar pelo Campus Centro justamente por este ar de história que lá respiro.

Mas há algo que vai além do que os prédios dizem. São as pessoas com quem convivo, os trabalhos que sofremos fazendo, as risadas que rimos, a indignação que sinto com as injustiças que sofremos, as batalhas que enfrentamos, as festas que festejamos e as viagens que viajamos. Acima de tudo, uma sensação de estar no lugar e no tempo certo para mim. Nenhuma outra universidade no mundo me daria isso.

Não sei o que será da minha vida depois da minha formatura: ir trabalhar ou continuar estudando, ou fazer qualquer outra coisa fora disso. Pode ser que entre para outra universidade para fazer um mestrado ou mesmo outra graduação – mas não será a Grande Mãe que a URGS foi para mim. Qualquer que seja o caminho que seguir, sentirei orgulho e alegria em dizer que estudei na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a minha Alma Mater.