sábado, 5 de abril de 2008

Neurociências e Ciência Humana

Nos últimos dez ou vinte anos, as Ciências Humanas e as Ciências Biológicas tem se unido cada vez mais, e esta união, as Neurociências, possibilitou muitos progressos científicos, que beneficiam tanto pesquisadores básicos, que fazem ciência por ciência, quanto pessoas trabalhando em áreas mais próximas da vida cotidiana, como psiquiatras, psicólogos e neurologistas. Entre os principais desenvolvimentos, cito a organização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), o catálogo de transtornos mentais e comportamentais que permitiu uma unificação na linguagem do campo do psicodiagnóstico (um verdadeiro feito), a possibilidade de tratamento ou até mesmo cura de muitas doenças, e uma maior compreensão do ser humano como um todo.

Entretanto, apesar de todos estes progressos, parece existir medo por parte dos geisteswissenschaften, os cientistas humanos, a respeito disso tudo. Há a freqüente pergunta – para onde a ciência nos levará? – feita por muitos destes indivíduos, que temem que este conhecimento nos levará invariavelmente para uma ditadura eugenista, onde os “geneticamente ruins”, ou “neurologicamente ruins”, ou “bioquimicamente ruins”, serão excluídos da sociedade e tratados como sub-humanos. Sinceramente, acredito que os fatores que tornaram o Holocausto nazista possível não foram os avanços científicos, mas uma ideologia elitista e enviesada, e principalmente, falta de conhecimento empírico sólido. Sendo um pouco cínico, se Hitler soubesse que eliminar todas as pessoas com distúrbios mentais ou síndromes graves não faria a menor diferença, já que na próxima geração outros tomariam os lugares dos eliminados, ele teria poupado dinheiro com munição e câmaras de gás (com alguns pelo menos). Mas, se os cientistas sociais humanos da Alemanha nazista tivessem pesquisado com mais empenho (ou menos discurso), teriam chegado à conclusão que as diferenças de desempenho cognitivo entre raças era basicamente cultural (incluindo aqui o viés do examinador sobre o examinado), e que não há justificativa básica para extermínio sistemático destes indivíduos.

Outro exemplo de medo esdrúxulo que já ouvi a respeito dos perigos das Neurociências, é a possibilidade de no futuro, policiais levarem máquinas portáteis de PET scan, Eletroencefalograma e ressonância magnética funcional em suas viaturas para poderem identificar “possíveis criminosos” de acordo com seus padrões cerebrais e prendê-los preventivamente. Quem teve esta idéia absurda meus caros, não foi o Dr. Hobo, mendigo tchuco e teórico da conspiração, mas uma professora de ensino superior, graduada e pós-graduada em universidades bem conceituadas no mundo acadêmico. Pena que ela esqueceu das aulas de neurologia, onde ela aprenderia um pouco a respeito do conceito de “plasticidade neural”, que define que o cérebro está em constante mudança, sendo então impossível, ou no mínimo indesejável tentar identificar lombrosianamente possíveis criminosos.

Mas estou sendo injusto aqui. Esta professora deve saber o que plasticidade neural é: ela só preferiria dizer que “ela é limitada”. Já ouvi argumento assim em uma discussão epistemológica sobre neurociências – argumento este que ignora toda a variedade de personalidades e talentos, devida pelo menos em parte da capacidade do cérebro modificar-se de acordo com o contexto e a necessidade.

Mas, sendo um pouco psicanalítico agora, acredito que haja algo por trás desta defesa dos direitos humanos que ainda não foram violados. Em um texto que li para a aula de Psicopatologia, um psicanalista e psiquiatra questiona a importância atribuída aos manuais diagnósticos (DSM-IV e CID-10). Em sua maioria, as críticas são válidas, pois muitos psicólogos e psiquiatras tratam apenas do “sintoma do sujeito”, e esquecem que existe um “sujeito do sintoma” – um sujeito que sofre, que vibra, que ri e que chora, e que exibe um sintoma que atrapalha sua vida e as vidas dos outros. Mas, em certo ponto do artigo, ele levanta a “inquietante suspeita de que a própria psiquiatria, impulsionada em sua vertente naturalizante pelos progressos experimentais propiciados pelos sistemas operacionais, possa estar-se transformando em uma neurologia híbrida e de segunda mão”. Em outras palavras, o autor deste texto teme que, um dia, avaliem-se apenas os fatores biológicos e deixe-se de lado o relacionamento clínico, e que os psiquiatras sejam substituídos pelos neurologistas. É o mesmo medo que descrevi anteriormente, mas dito de uma forma que deixa escapar “a verdade inconsciente”: de perder o emprego.

Como ele bem disse, teme-se que a Psiquiatria e a Psicologia sejam engolidas e substituídas pelas Neurociências. Pessoalmente, não acho que isto acontecerá, já que as relações interpessoais, a cultura e a transcendência humana não podem ter suas atividades reduzidas ao funcionamento neuronal. O que acho mais provável de acontecer é que de agora em diante, e mais do que nunca, estas duas ciências vão se beneficiar cada vez mais das pesquisas neurocientíficas, e psiquiatras (que já tem um treinamento muito similar ao dos neurologistas) e psicólogos serão mais neuropsiquiátras e neuropsicólogos, mas nunca neurologistas pura e simplesmente. Repito, não há como compreender o comportamento humano em sua totalidade apenas com PET scan e MRI.

Não vou ser ingênuo e dizer que todo o rebuliço em torno das pesquisas neurocientíficas por parte de cientistas humanos seja puro medo de ir para o olho da rua com um diploma obsoleto, mas questiono até que ponto existe um verdadeiro interesse em defender os coitadinhos.

Comunidades no Orkut que me fazem doer os rins

Achei a seguinte comunidade no Orkut hoje:

"Positivismo é saúde!"

Vou perguntar isso para meus professores e ver o que eles respondem.
Curiosamente, este é um post filosófico por tratar justamente da falta de filosofia em si próprio.

Estilos Arquitetônicos de Universidades Contemporâneas





Faltou ainda um estilo arquitetônico:


O Bloco de Lego Gigante.

Imagens gentilmente copiadas do webcomic PhD e da página do Instituto de Psicologia UFRGS.