domingo, 30 de março de 2008

Um Sentido Transcendente de Ciência

Ultimamente, tenho estado intelectualmente ocupado com questões epistemológicas – será a ciência um fim em si mesmo, ou apenas um movimento político?

Os defensores da primeira posição defendem, de forma semelhante ao que os parnasianos diziam da arte, que a ciência a si se basta, e vão além, dizendo que tudo pelo bem da ciência é aceitável. São os chamados positivistas e cartesianos, que acreditam em um mundo externo real, objetivo e material, passível de mensuração e controle, onde a opinião própria e subjetiva dos indivíduos nada conta diante dos fatos concretos da experiência.

Do outro lado do front, posicionam-se os ditos pós-modernistas. Eles questionam o valor absoluto da ciência, ressaltando seus processos políticos, frequentemente ignorados ou até mesmo desmentidos pelos positivistas. Para os pós-modernistas, não existe uma realidade externa tangível, realmente material ou mesmo real, e a subjetividade exerce um papel extremamente, se não o mais, importante em nossa realidade.

Enquanto a posição positivista pode defender a tortura de animais e seres vivos para “o bem da ciência”, os pós-modernistas frequentemente atacam a validade e a necessidade de experimentos, defendendo que a ciência deva se tornar uma hermenêutica, ou seja, limitar-se apenas a descrever os fenômenos, sem buscar relações causais.

São duas posições problemáticas, pois com o positivismo, corremos o risco de colocar a ciência em um pedestal e fazer sacrifícios em seu nome, enquanto que com o pós-modernismo corremos o risco de passar os dias apenas descrevendo as coisas, imersos em um oceano de intelectualismos, cheio de palavras bonitas e complicadas, porém nenhuma atitude, nada que faça nossa vida realmente melhor.

Depois de muito pensar a respeito destes dois posicionamentos epistemológicos, percebi que em ambos, falta algo fundamental. Não em seus discursos, mas em suas práticas e em sua filosofia mais profunda: um sentido. Para os cartesianos, a ciência é o princípio, o meio e o fim de todas as coisas, e tudo que for para ela e por ela vale a pena ser feito, ao passo que para os pós-modernistas tudo o que importa é a subjetividade, e a ciência e seus “fatos” mutilam a subjetividade, e portanto deve ser abolida, ou pelo menos grandemente limitada. Mas e a humanidade?

Ah sei, parece retórica barata clamar pela humanidade (Oh the humanity!) em um texto sobre ciência, mas tanto o positivismo quanto o pós-modernismo esqueceram-se de que sua função fazer do mundo um lugar melhor, para nós que hoje vivemos, e para as futuras gerações ainda por vir, seres humanos e outras espécies de seres vivos também. Focamo-nos demais nas políticas mesquinhas de agora, e deixamos de lado este sentido transcendente da ciência, de preocupar-se com todos os que vivem sobre este pequeno planeta azul, de fazer suas vidas melhores materialmente, mas também mais significativas espiritualmente.

A política influencia a ciência, mas esta não deve nunca abandonar a busca de uma Verdade apenas por que ela parece inatingível.

"Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!"

Mário Quintana