sexta-feira, 7 de março de 2008

Bixos

É engraçado ver como a entrada da turma de calouros muda completamente a dinâmica social que estávamos acostumados do Instituto de Psicologia. Primeiro, por que eu deixo de ser bixo para virar veterano, e aquela auto-imagem de ser "verde" no curso vai se esvaíndo, mas deixando no lugar uma sensação de ser um impostor, que não merece ser chamado de "veterano".

E segundo, por que são 40 caras novas na "Escolinha de Psicologia do Titio Lacan" que é nosso instituto. 40 só de Psicologia, por que temos mais um curso completamente novo, Fonoaudiologia, e suas 30 bixetes.

Hoje efetivamente começaram as aulas obrigatórias (minha primeira aula foi a infâme Processos Grupais I). Não foi o primeiro dia de aula dos bixos, pois eles tiveram que comparecer ao mal-falado Seminário de Introdução à Psicologia, mas hoje foi a primeira vez que pude observá-los nos intervalos das aulas. É um sopro de vida nova ver o que eles estão lendo e como estão reagindo: já conheço as minhas reações para as disciplinas oferecidas por cada departamento, já conheço as reações dos meus colegas e já mais ou menos sei o rumo que nossas discussões tomam. Nada disto acontece com os bixos. Tirando aquele um que outro que fez um pedaço do curso em outro lugar, são todos realmente "greenhorns" (iniciantes) nos verdejantes campos da Psicologia, e, tirando aquele um que outro que já fez algum outro curso na UFRGS, são todos filhos recém-nascidos da Grande Mãe URGS. Eles não estão condicionados como nós estamos, e as reações deles são (eu acredito) em sua maioria mais espontâneas. Claro, admito que já fizemos a cabeça de vários deles falando bem ou mal de alguns professores, disciplinas e/ou linhas teóricas (eu ainda não falei para nenhum deles como a Psicanálise fede a esterco de vaca), mas isto leva algum tempo. No momento, eles não foram subjetivados enquanto estudantes de Psicologia (o enquanto é obrigatório nessa oração).

Gosto de chegar de mansinho, e ver sobre o que eles estão falando. Segundo uma das bixetes, eu tenho até uma cara especial para isto. Pergunto o que estão achando das aulas, se estão sendo ruins como foram as nossas um ano atrás. Isto fica mais divertido ainda por que somos os primeiros veteranos do novo currículo. Os nossos veteranos podem dizer como foram as cadeiras antigas que foram modificadas do currículo antigo, podem dizer como foram os veteranos deles nessas mesmas cadeiras, mas não podem dizer como foram as nossas. Somos a "turma coringa do baralho", pois ninguém pode prever no momento como as coisas vão sair conosco. É barbada dizer que no currículo antigo 90% dos graduandos virava ou psicanalista lacaniano ou psicólogo social, e que só 10% ia para o Lado Desenvolvimento da Força Psi. Isso é bem diferente conosco, pois a estrutura do curso de graduação foi toda alterada. Isso se estende em menor grau para nossos bixos, mas podemos mais ou menos prever o quê eles terão de encarar na grande maioria das disciplinas (exceto aquelas que foram devidamente remodeladas graças às inúmeras calúnias por nós proferidas).

Com a Fonoaudiologia, o território é ainda mais desconhecido, pois não é só um currículo novo: é um curso inteiro feito do zero, e que não "pertence" apenas à Psicologia, pois eles têm aulas em quase todos os campi da UFRGS. Posso dizer com um grau de certeza bem elevado que eles vão se foder mais do que a gente com o constante remodelar e alterar das disciplinas, e que eles (elas, aliás) vão forjar a personalidade inerente ao curso durante os próximos 4 anos de faculdade. Elas são ainda mais interessantes de bater papo: é um curso que só tem quase mulher, 28 contra 2 homens, sendo que um tem namorada, o que já torna tudo muito mais interessante pra muito cueca por aí, e que cujo conteúdo está numa intersecção da Psicologia com a Odontologia (a outra unidade orgânica envolvida na criação do curso). Com certeza, o curso de Fonoaudiologia terá uma personalidade diferente de Psico e de Odonto, mas vai ter elementos dos dois. Um dos estudantes de Fono (homem mesmo) já procurou o DCE para ver como se faz para criar um Diretório Acadêmico para o curso bebê. Sugeri que o nome seja Centro Acadêmico de Fonoaudiologia - CAFONO, e que ele apareça na próxima reunião do DAP para ver os detalhes burocráticos dessa indiada que eles estão planejando. Pretendo, sempre que possível, bater um papo com os Fonos, apesar de suas aulas serem de manhã e nem sempre no Campus Saúde. Gosto de gente nova, tanto do meu curso quanto de outros cursos, por causa da variedade de idéias novas que surgem com eles. Quase todas estas idéias invariavelmente irão morrer, asfixiadas pelo academicismo e pelas idéias que mandam agora por lá. É melhor aproveitar e falar com estes bixos cedo em seu primeiro ano, antes que o genocídio mental comece.

Em 2009 está prevista a criação do curso de Serviço Social, pelo Departamento de Psicologia Social e Institucional. Daí a coisa vai ficar bem mais interessante.

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Não, eu não vou escrever um post sobre atualizar o blog :)