quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Nem só de pão...

Adivinhem qual é a pilha dos livros que ainda tenho que ler.

Minhas Aulas na Faculdade

Inspirado em um veterano meu, que fez uma avaliação em seu blog sobre como foi o desenrolar das suas muitas disciplinas no ano de 2007. Legitima viadagem de psicólogo, portanto, vou fazer o mesmo aqui no Espadachim. Vou dividir esta tarefa em 3 partes: avaliação das aulas do primeiro semestre, avaliação das aulas do segundo semestre e expectativas para as aulas do terceiro semestre.

Moving on...

Primeiro Semestre:

Psicopatologia e Cultura - Obrigatória
Overview:
Uma cadeira promissora, que segundo nossos veteranos, foi incluída no nosso currículo para servir como uma "provocação", que nos levasse a pensar de maneira crítica. Não foi bem assim que aconteceu. Pra começo de conversa, tivemos três professores diferentes. Todos doutores formados por universidades bem conceituadas, mas isso não impede que as suas aulas sejam chatas ou os torna imediatamente capazes de interligar conteúdos, como seria necessário nessa disciplina.

Esta disciplina é responsabilidade do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia e, portanto, puxaria para a Psicanálise. Admito que isso já me deixou com o pé atrás com as aulas, mas mesmo assim devo admitir que a primeira parte do semestre, dada pela primeira professora, foi bem interessante (uma doutoranda da Psiquiatria nos deu uma aula de história da Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise, bem por alto, mas foi bom para nos integrar um pouco com essa baderna que é nosso curso).

Com a segunda professora, entramos em uma outra fase, e num conteúdo que não tinha nada a ver com o que tinhamos visto na primeira parte. Ela falava de cinema, subjetividade, psicanálise, dava uns textos que ela escreveu para umas revistas tipo "Marie Claire" e "Nova" (nada contra elas. As vezes elas publicam artigos de divulgação científica muito interessantes), e outras coisas desconexas do gênero. O ponto alto deste ciclo foi o nosso debate (que tava mais para "bate") com a professora sobre a seriedade e validade da Psicanálise. Deixamos a mulher a beira das lágrimas, com a quantidade e qualidade das perguntas feitas. Vale dizer que a réplica mais contundente que tivemos foi "com o tempo eu sei que vocês vão mudar de idéia".

O terceiro professor chegou, mas eu não estava lá para ver sua primeira aula (esqueci de mencionar que Psicopatologia e Cultura era nossa única aula no turno da manhã, e que naquele dia em especial eu tinha me passado no sono). Uma pena, pois elogiaram bastante o homem e a aula em si. Tenho minhas suspeitas se foi tudo isso que disseram, mas as explicarei em outra ocasião. Fui na segunda aula dele, onde assistimos e discutimos o filme cult do momento no círculo intelectualóide de esquerda, "Estamira". É um filme muito bom, recomendo para quem puder assistir (e, mais uma vez, explicarei em outra ocasião por que digo que classifiquei-o como filme cult do momento). Mas como já tinha assistido antes, não foi grande coisa. Depois dessa aula, nunca mais vi o eminente professor nas nossas aulas, pois ele preferiu mandar os seus capachos mestrandos para fazer o trabalho sujo de passar o conteúdo. Coisa que não fizeram, ou se fizeram, foi de forma muito esquizofrênica.

Na quarta e última parte, a primeira professora voltou e deu aulas que estavam em sintonia com as suas primeiras aulas. Ela foi diligente e não faltou uma vez sequer, e organizou as aulas de maneira eficiente. Quanto ao conteúdo, não cabe aqui dizer que eu matei algumas várias aulas para ler outras coisas por que achava tudo bobagem.

Métodos de Avaliação:
Da mesma forma que o conteúdo, os métodos de avaliação foram quebrados e sem muita lógica. Tivemos que entregar um trabalhinho na segunda parte da disciplina, e um outro ainda mais bobo sobre "Estamira" no terceiro, que eu aposto que não valeu para nada. Tivemos uma prova dissertativa no final do semestre, onde teríamos que dizer "quais foram as contribuições da Psicanálise no campo da Psicopatologia e Cultura". Tomamos no cu. Como poderíamos falar qual a contribuição da Psicanálise para a Psicopatologia e Cultura se não sabíamos nem o que era uma nem o que era a outra? O jeito foi improvisar e escrever o que dava como dava. A maioria do pessoal escreveu à Psicologia Social (explico isso ainda nesse post), enquanto que eu escrevi como um verdadeiro Existencialista, disfarçado de Psicanalista. Deve ser por isso que eu fui mal na prova.


Psicologia Social I - Obrigatória
Overview:
Essa foi a disciplina que incorpora tudo que abomino na Psicologia, e que nos ensinou a sermos politicamente corretos, subjetivantes, problematizadores, em suma, prolixos e evasivos. Esse é o estilo Psicologia Social de escrever. A professora chegava sempre de 15 a 30 minutos atrasada, e emanava uma aura de "amiguinha da turma", e não parava de nos elogiar. Sempre desconfiei de professores estilo "eu quero ser amigo de vocês, gente", e ela não foi excessão. Apesar disso, a grande maioria da turma adorava ela. Pessoalmente, achava suas aulas um excelente remédio contra a insônia, a fome e as unhas compridas, pois ou eu dormia, ou saía para comer ou cortar minhas unhas.

Métodos de avaliação:
Tivemos dois trabalhos. No primeiro, tivemos que fazer uma análise crítica de um capítulo de livro (daquele cara que não gosta de amoladores de facas), e no segundo, falar sobre temas sociais atuais ou coisa assim (era vago assim mesmo). No primeiro trabalho eu me ferrei, pois segundo a professora eu não fiz uma análise crítica, mas um "resuminho" da história. No segundo, tiramos nota máxima. Como os atentos devem ter notado, o primeiro trabalho foi individual, e o segundo foi em grupo. No primeiro trabalho, fui eu quem escrevi tudo, enquanto que no segundo trabalho uma colega minha fez a maior parte do trabalho. na época não achei isso evidência de nada, mas falarei disso mais a frente.

Processos Psicológicos Básicos I - Obrigatória
Overview:
Aulas pontuais, assuntos interessantes, didática excelente, e apesar de duas professoras dividirem a cadeira, o conteúdo era tão integrado quanto o possível. A maior parte dos meus colegas detestou o conteúdo, mas amolador que sou, gostei, pois foi como uma introdução à Psicologia Experimental e ao método científico. Apesar disso tudo, o tempo era curto, e frequentemente as professoras tinham que passar o conteúdo a toque de caixa, e não vimos metade do que costumava ser visto nas antigas aulas de Psicologia Experimental I, II e III que nossos veteranos cursaram.

Métodos de Avaliação:
Lamento dizer isso, mas por melhores que nossas professoras sejam em seus respectivos campos, elas são péssimas em matemática. Nossa primeira prova foi um misto de questões objetivas e dissertativas. OK, nada muito errado nessa parte, pois apenas uma questão que eu me lembre foi anulada por ser impossível de responder corretamente (responder errado ainda dava). Já a correção foi um deus-nos-acuda, pois teve gente que tinha acertado quase todas e tirado nota 7, e gente que tinha errado mais da metade e tirado 9. Os primeiros foram reclamar e os últimos ficaram bem quietos. Infelizmente, fiquei num terceiro grupo, o menor de todos: o dos que estavam indignados com a própria nota, achavam-na injusta, mas que as professoras tinham calculado direito.

A segunda avaliação foi muito mais empolgante, pois tivemos que criar, desenvolver e aplicar nosso próprio projeto de pesquisa, dentro dos assuntos estudados em aula, e depois apresentar em forma de cartaz, como se fosse um Salão de Iniciação Científica, onde seríamos avaliados por outros professores e estudantes de pós-graduação (e por nossa monitora). A folha de avaliação era bem abrangente, indo desde se os conceitos estavam corretos até nosso conhecimento do assunto. O primeiro professor a nos avaliar foi o marido de uma de nossas professoras, e devo dizer que ele nos deu o melhor feedback de todos, apontando todas as nossas falhas de maneira construtiva e ainda nos dando notas altas (conhecimento do assunto tiramos nota máxima com ele). A segunda pessoa que nos avaliou foi legal com a gente também, apesar de não tanto. Já a terceira... bem, a coisa é mais complicada com ela. Ela chegou, começamos a explicar nosso trabalho, ela disse que achou L-I-N-D-O e foi preencher a folha de avaliação. Longe dos nossos olhos. Estávamos esperando um A e tiramos um C. Aposto que ela ferrou a gente por trás depois de inflar nosso ego ao ponto de explosão. E aqui, mais uma vez, a capacidade de confundir as notas das professoras se mostrou na sua melhor forma, pois dentro do nosso próprio grupo, teve gente que tirou C, e teve gente que tirou A. Eu tirei C, para variar, mas fiquei quieto, pois poderia complicar a vida dos outros.


Desenvolvimento Humano I - Obrigatória
Overview:
Aula melhor avaliada por todos. A professora foi pontual (até demais), metódica e o assunto é interessante. A didática as vezes ficava chata, e a professora era meio formal demais em aula, mas isso irrelevante no conjunto da obra.

Método de Avaliação:
Se me lembro bem, tivemos uma prova e um trabalho de campo. A prova foi um pouco difícil, mas não era impossível, e o trabalho foi um dos pontos altos do semestre inteiro. Nele, tivemos que entrevistar crianças pequenas, utilizando o método clínico de Jean Piaget. Fazer e apresentar o próprio trabalho, além de assistir os trabalhos dos outros, foi muito divertido, pois uma de nossas tarefas era apontar nossos próprios erros - e como teve erros. Sabíamos que estavamos indo bem quando a professora estava rindo (pra nossa sorte, ela riu horrores da nossa cara). Parece meio injusto falar tão pouco da melhor disciplina do semestre, mas seria só elogios.


Psicologia e Filosofia - Obrigatória
Overview:
Um assunto fundamental, para qualquer estudante de Psicologia, além de muito interessante, apesar de muitas vezes negligenciado. A qualidade das aulas variou bastante, conforme o humor e a capacidade do professor se concentrar. Cito "capacidade de se concentrar" como separado do humor por que o professor conseguia sair de uma discussão sobre Kant e a Psicologia e ir para Engenharia Elétrica, e depois para História da Psicologia no Brasil, e depois para outro assunto igualmente desconexo. Isso confunde os estudantes, sendo que muitos ficam com a impressão de não estarem entendendo nada por serem burros, quando na verdade o professor é enrolado por si só. As suas melhores aulas foram aquelas que deixamos de lado o Power Point e utilizamos o Discurso Socrático como método de aula.

Método de Avaliação:
As provas deste professor são infames por sua dificuldade, mas poucos na turma tiraram notas muito abaixo de dez. Foi uma prova dissertativa bem longa, mas como já disse, foi tranqüila. Tivemos que apresentar e entregar um relatório sobre o nosso filósofo favorito. Apesar de ter ido um pouco mal nesta parte, considero que os métodos de avaliação utilizados foram justos e coerentes.


Neuroanatomia Funcional aplicada à Psicologia - Obrigatória
Overview:
Disciplina do primeiro semestre que mais me fodeu. O assunto é extremamente interessante, mas eu não pensava assim na época. Como em Psicopatologia e Cultura, tivemos também três professores diferentes, mas talvez por serem de outra unidade orgânica (do Instituto de Ciências Básicas da Saúde) eles foram mais coesos e organizados.

O primeiro professor falou de histologia e essas porcarias com células e neurotransmissores e neurorreceptores. Aulas boas, mas meio bagunçadas.

As aulas do segundo professor começaram com uma grande dose de expectativa, pois logo na primeira semana tomamos um esporro dele por chegarmos 20 minutos atrasados para a aula por causa do trote, e praticamente todos os nossos veteranos chamaram-no de "diabo encarnado" ou coisas semelhantes. Ao contrário do que esperávamos, ele foi um professor extremamente receptivo, que explicava seu assunto, a neuroanatomia em si, de maneira completa e abrangente.
A terceira professora, ao contrário, foi extremamente elogiada por todos os veteranos, mas suas aulas não foram tão boas quanto esperávamos. Ela usa extensivamente o Discurso Socrático em aula, algo muito bom, mas que só funciona quando as pessoas tem um mínimo conhecimento do que está sendo discutido.

Método de Avaliação:
Tivemos três provas, uma com cada professor. A primeira prova foi bem elaborada apesar de fácil. A segunda prova foi uma cravação sem tamanho, pois o professor deve ter pego uma prova da Medicina e tocado pra gente fazer. Por pena, ele nos deu dois pontos por participação ativa na aula prática com os corpos. Essa foi a prova que eu mais me ferrei em todo meu tempo de faculdade até agora. A terceira e última prova foi com consulta: difícil, mas eu dominava o assunto suficientemente para tirar meu pé da lama. Foi a nota C mais comemorada em todo meu tempo de faculdade.


Seminário de Introdução à Psicologia - Obrigatória
Overview:
Uma palavra define esta disciplina: inútil. A idéia original era que ela servisse de ponto central no curso, e integrasse as diversas correntes que estávamos vendo e as discutíssemos, e que a partir disso pudéssemos expandir nossa compreensão da Psicologia. Não foi bem assim que aconteceu, pois frequentemente as discussões caiam em lugares-comuns, ou em bate-bocas imbecis, ou o professor puxava a brasa para o assado dele (orientação de carreira). Ele bem que se esforçou em fazer seu trote bem feito (falei que ele estava em estágio probatório, e que ele vai continuar assim esse ano?), mas era muita areia para o caminhão dele. Tivemos pontos altos, especialmente quando tivemos que entrevistar nossos professores e profissionais de outros lugares e linhas teóricas, mas ficou por isso mesmo.

Método de Avaliação:
Um trabalhinho escrito sobre como foi o meu semestre, no mesmo estilo "como foram minhas férias". Nada de mais, nada de menos, nada surpreendente ou desafiador.