sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Capacitor de Fluxo



It's what makes time travel possible.

Meu Caminho

O vestibular é o pesadelo que atormenta todo estudante do Ensino Médio, com crescente força, desde o primeiro até o terceiro e último ano. Comigo não foi muito diferente, pois mudei de idéia sobre que curso fazer diversas vezes. Na maioria das vezes, considerava fazer um curso relacionado com as Ciências Exatas, como Engenharia Civil ou Polímeros (esse último eu nem sabia do que se tratava, mas achava o nome bacanoso).

A partir do final de 2004, passei a considerar cursos mais relacionados com seres humanos de forma geral, tanto que em 2005 fiz vestibular para Medicina. Tinha recém passado para o terceiro ano, e escolhemos este curso por ser incrivelmente difícil de passar. Assim, não roubaria a vaga de ninguém. Ainda assim, já havia parado de pensar em Engenharia.

Ao longo de 2005, passei a pensar em cursar Ciências Jurídicas e Sociais, em outras palavras, estava interessado em entrar para a Faculdade de Direito. Não era uma idéia realmente fixa, mas na época me interessava bastante, tanto que no Portal de Profissões da UCS o primeiro estande que visitei foi o de Direito, e no encontro com profissionais, fui ouvir o que uma advogada tinha para dizer de sua área. É questionável se esta é uma disciplina que pode ser considerada uma Ciência Humana, mas acredito que é indiscutível que está ligada ao campo humano de pesquisas de maneira muito forte.

Cheguei a me inscrever para o vestibular de 2006 para Direito, mas por causa do intercâmbio, decidi nem aparecer no dia das provas.

Enquanto estava nos Estados Unidos, meu coração começou a pender para outro lado, e passei a questionar seriamente se queria realmente ser um advogado (por motivos pessoais basicamente, mas quando disse para alguém que queria fazer Law School a resposta "great, another lawyer" não foi realmente um incentivo).

Então, voltei para o Brasil, fiz cursinho e passei para Psicologia. Isso quem lê o R&A sabe há tempos. Talvez alguns saibam da minha antiga indecisão sobre que curso fazer, mas poucos sabem o que me levou a querer estudar a Ciência da Alma (amoladores, considerem este nome licença poética).

Na verdade, na maioria dos testes vocacionais que fiz, os resultados indicavam que a carreira mais adequada para minha personalidade seria na área das Exatas. E sendo mais sincero ainda, não sou capaz de explicar racionalmente porque desisti do Direito pela Psicologia. Só sei dizer que sentia, do fundo do meu ser, que não havia mais nada que eu pudesse ou quisess fazer que não fosse Psicologia.

Entretanto, ao contrário do que poderia esperar, não me encaixo exatamente no perfil de um típico estudante de Psicologia. Como disse meu veterano Marcelo, "o lado B da sociedade é o lado A da Psicologia", pois a grande maioria dos estudantes de graduação são perfeitos bicho-grilos: fumam maconha, não gostam de produtos industrializados por que causam a poluição e o aquecimento global, apoiam o MST, lêem ou fingem que lêem Marx, e gostam de demonstrar sua "consciência social". Enfim, esta descrição deve lembrar muito o filme "Tropa de Elite". Vi o filme, e não noto tantas diferenças assim, exceto uma: o pessoal lá no Instituto adora a palavra "multidisciplinaridade", que significa trabalhar com vários profissionais diferentes no mesmo lugar. Eles gostam desta palavra porque os faz sentirem-se e parecerem abertos, tolerantes, mas isso vai tudo por água abaixo em situações como a da recente polêmica sobre a pesquisa neurocientífica com os meninos da FASE (tava demorando pra esse assunto pipocar por aqui também). Só é multidisciplinar quando os psicólogos decidem o que é bom, caso contrário é eugenia e extermínio.

Não vou estender-me muito neste assunto, que além de polêmico é muito interessante (apesar de já ter me enchido os pacová de tanto que discuti a respeito), só gostaria de usá-lo como um exemplo. Exemplo de que a grande maioria dos estudantes de Psicologia acredita que o que eles aprendem em suas formações básicas como psicólogos é o suficiente para entender o mundo e explicá-lo. Gostam de alguns autores de Antropologia e Sociologia, por que falam a mesma língua, e concordam em quase todos os pontos. Entretanto, quando falamos de autores dos ramos biológicos, a coisa muda de figura. "Biologizar" é um insulto, e não consigo entender bem o porquê. Linhas da própria Psicologia, se adotam uma metodologia mais científica, e levam em conta os fatores biológicos, também são considerados heréticos.

E dentro deste clima, eu sou um herege. No primeiro semestre de faculdade, meu único interesse era a Psicologia, e também achava que estudando apenas seus autores eu não precisaria me preocupar muito. Mas depois de certo tempo de estudo, comecei a pensar de maneira diferente. Uma das definições mais amplas para o que é a Psicologia é "ciência que estuda o comportamento, pensamento e motivações dos seres humanos"; o ser humano é definido como um animal biopsicossocial: influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Não só um ou outro, mas todos os três, interatuando uns com os outros e consigo mesmos. Complexo, não? Muito. Percebi que me tornaria um profissional muito limitado se fosse um "homem de um livro só", que só lê o que gosta, seja só Psicologia Humanista, Foucault, Psicanálise Lacaniana ou Genética. Somos muito mais complexos do que a maioria de nós quer acreditar, e por isso, não devemos nos ater a estudar apenas um assunto e nos acharmos grandes entendedores. Muitos de meus colegas não lêem só sobre Psicologia, mas também sobre Sociologia, Antropologia, Ciências Políticas e demais Ciências Sociais, e dou-lhes total crédito por isso. Mas, por preguiça ou preconceito pessoais, deixam de lado assuntos importantes, como Genética, Bioquímica, Neurociências, Etologia, Psiquiatria, Farmacologia, e muitos outros assuntos de grande relevância para a melhor compreensão de nossas próprias ações.

Disse antes que sou um herege da Psicologia, por que dentro deste campo tão preconceituoso, tão moralmente inflado, tão indignado com a falta de ética dos outros (nunca a própria), tenho interesse por assuntos "biologizantes". Sabem essa tal pesquisa que eu falei? Pois é, já fui chamado de fascista por defendê-la, e ainda tive que aguentar o amigo que assim me chamou dizer que sou eu quem precisa estudar sobre multidisciplinaridade e tolerância, por que ele já é tolerante demais por me deixar viver (essa última parte eu só inferi). Como revanche, escrevi um dos e-mails mais bem estruturados que já escrevi, com referências bibliográficas no formato da APA no final do corpo do texto, desmontando todos os argumentos furados que o amigo conseguiu escrever. Tenho convicção que ele não mudou de opinião, seja a respeito da pesquisa, seja a meu respeito, mas me vinguei. E de forma limpa.

Se antigamente acreditava que Psicologia era o único caminho que poderia seguir, hoje penso de maneira diferente. Claro, duvido que teria sido tão divertido fazer Medicina ou Biologia, mas creio que teria seguido o mesmo caminho: estudar e compreender o ser humano.

Memética: Ciência e Arte da babaquice

Vocês já ouviram falar de memes, correto? Sabem que, na blogosfera, esta fossa nasal da internet (o esfíncter já tem dono), memes são uma idéia que um blogueiro tem, posta em seu blog, e pede para blogs parceiros fazerem o mesmo. A internet por si só está cheia de memes. Aquelas correntes de e-mails, alarmes falsos de vírus do Orkut, piadas do Capitão Nascimento, e muitas outras bobagens que de tão numerosas iriam tomar todo meu tempo. Desnecessário dizer que a vida real também está cheia de memes.

O conceito de meme foi proposto originalmente por Richard Dawkins, para explicar como e porquê os seres humanos têm e passam idéias adiantes. A menor unidade de pensamento seria o "meme". Este termo foi escolhido por ser relacionado com memória, e por soar de forma muito parecida com "gene" (um termo mais apropriado seria "mneme", mas daí a sonoridade iria para o espaço). Os memes, tal como os genes, têm como função se procriar e se espalhar pelo mundo, com a diferença que os genes realmente existem, enquanto que os memes são só um construto muito bem bolado. Dawkins teve uma idéia genial (o conceito de meme é um meme em seu próprio direito) para explicar como funciona nossa comunicação, apesar de os memes não contemplarem idéias mais complexas, como religião e filosofia, ou por que alguns memes têm sucesso e outros não, mas a idéia em si é muito boa para explicar a idiotice humana.

A Rede Globo de Televisão é uma criadora sem par de memes. Alguém se lembra da novela "O Clone"? Provavelmente não, pois eu tive muita dificuldade para lembrar do nome dela, mas não tive nenhum problema para lembrar de sua criatura mais popular: o bordão "né brinquedo não!". Toda vez que eu escutava essa frase (geralmente, era em sala de aula, vinda da boca de uma colega um tanto quanto "polêmica", por assim dizer) eu sentia um desejo quase incontrolável de tirar as meias e enfiar na garganta de quem derramou o meme por todo o recinto. Os bailes funk cariocas e companias de marketing, com suas músicas e jingles e bordões, também demonstraram um alto nível de capacidade de criar memes. As músicas e os jingles também são conhecidos como "Earworms" - vermes de ouvido - devido a sua prodigiosa capacidade de grudar no ouvido de quem quer que tenha as ouvido, e por sua alta capacidade de reprodução. Ou por acaso você nunca se flagrou cantando "piriguete" ou "tô curtindo o batidão" em voz levemente alta perto de outras pessoas? Por que é assim que eles, memes, se reproduzem - sendo passados de pessoa para pessoa, através de comportamentos verbais (e as vezes, não verbais também). Digo "comportamentos verbais" porque pode ser também por meio da escrita - veja a internet por exemplo. Quem aqui não leu em algum blog ou site sobre o vídeo das Uvas Elétricas do Lasier Martins?

Como disse anteriormente, a memética não se presta para explicar como idéias complexas são passadas de pessoa para pessoa, mas para idéias simples ela é quase perfeita. A memética é perfeita quando se trata de estudar como idéias e pensamentos simples e irracionais se irradiam pelo universo. A Memética, de certa forma, é uma ciência e uma arte. Ciência, pois nos ajuda a compreender, mesmo que de uma forma mais limitada do que gostaríamos, a dinâmica do pensamento humano, e arte, por que espalhar memes por aí envolve um certo trabalho de gênio. E de imbecil (os trabalhos do Kibe Loco ilustram bem os dois casos - ele colocou o vídeo do William Bonner imitando o Clodovil por conta própria, mas repassou muitos memes alheios como se fossem seus).

O fenômeno dos livros de auto-ajuda pode ser explicado através da Memética: o autor escreve um livro cheio de texto simples, muitas vezes reducionistas, incompletos, superficiais, infantis ou perigosos (ou todos esses atributos juntos), com um título catchy (termo em inglês que signfica "de boa sonoridade e memorização") e manda para a editora. A editora publica o livro com uma capa dura bem colorida e bonitinha, alguém compra, devido à campanhas de marketing agressivas ou pelo velho boca-a-boca, lê, acha as idéias legais (e principalmente, fáceis de lembrar), fala para um amigo, esse amigo compra e repete o processo, e assim, um livro boboca vende como água no deserto. e os memes do livro se espalham como gonorréia na zona.

A internet seria um campo fértil para o estudo da proliferação de idéias contagiosas, por causa de sua facilidade para obter e enviar informações. A dificuldade em avaliar a fonte e a veracidade dos fatos também colabora, mas não é central para transformar as intrawebs no nicho preferido dos memes. Um fator que facilita o estudo dos e-memes (essa palavra eu inventei agora) é a possibilidade de, mesmo anos após seu nascimento e "morte", encontrar registros dele em algum lugar (por isso "morte" entre aspas. E-memes nunca morrem. Apenas hibernam).

O ser humano tem uma face racional e uma face irracional. A Memética, que seria um subcampo da Psicologia Social, estudaria este lado irracional, que não pensa, apenas reage e repassa uma idéia para todo um grupo apenas porque ela é simples. De certa forma, a Memética estudaria os comportamentos reflexos de repassar informações simples, e/ou idiotas e/ou desnecessárias para os demais, fazendo com que também seja ligada à Análise Experimental do Comportamento, mas também à Fenomenologia, por também estudar as motivações de quem cria, e em menor escala, de quem repassa os memes.


Eu deveria explicar o que raios é Análise Experimental do Comportamento e Fenomenologia, mas não estou com vontade.