sábado, 29 de novembro de 2008

Time after Time

Com as férias se aproximando, começo a pensar um pouco na experiência de fazer faculdade. Sempre tive a impressão que cada mudança de semestre acarreta não só uma alteração na organização do tempo, mas também do espaço. Sempre volto para o mesmo prédio, mas nunca para a mesma faculdade, ou, melhor dizendo, descubro alguma coisa nova sobre ela e passo a enxergá-la sob outro prisma. Creio que isto ocorre graças ao fato de nunca termos aula na mesma sala por dois semestres seguidos, mas também pelos conteúdos, professores e mesmo colegas que sempre mudam.

A passagem do primeiro para o segundo semestre foi estranha - ainda era bixo, verde na UFRGS, mas tinha adquirido um saber que me deixava quase em pé de igualdade com muitos de meus veteranos.

A passagem do segundo para o terceiro semestre foi ainda mais estranha, pois, finalmente, deixava de ser calouro e tornava-me eu mesmo um veterano de pleno direito, e junto com meus colegas adotava os recém-chegados como protegidos.

A passagem que se aproxima transformará os meus bixos, aquelas criaturinhas ingênuas, bobocas e perdidas que acolhi um ano atrás em também veteranos, enquanto eu caminho a passadas largas em direção à antigüidade de um "vôterano" (o Marcelo e o Brunão, por sua vez, vão virar bisavôteranos). Na verdade, dizer que mudar a folhinha do calendário e o fim das aulas nos transforma em algo é incorreto, pois passamos o ano inteiro nos metamorfoseando, nos tornando algo diferente e (esperamos) melhor, e o fim do semestre apenas oficializa nossa chegada a um ponto de referência desse nosso crescimento fluido, por onde todos os que fizeram faculdade antes passaram, mas que no final das contas não quer dizer muito.

Dito isso, mal posso esperar para ver as caras novas que irão habitar o nosso prédio conosco no próximo ano.

As Provações da Faculdade XXXII

Lá vou eu fazer meu último trabalho de Psicopatologia II. Que merda.

Ciência da Desorganização

Tenho a seguinte teoria: quanto mais sujo e desarrumado for um local da casa, mais importante ele é. Segue foto da mesinha do meu computador, que corrobora esta hipótese.


Dei uma limpada nela, e tirei os copos e pratos dali, mas continua uma baderna.

Uma conversa sobre a importância da Psicologia

O texto que segue é uma formatação mais bonitinha de uma conversa que tive com uma amiga e colega de curso, a Pri. Quisera eu ter tido essa conversa antes de entregar meu trabalho de Ética, pois nele são expressas idéias que há tempos tento formular. Agradeço à Pri por me deixar publicar nossa conversa e, obviamente, por tê-la construído comigo. Para os mentalmente lentos, Heart of Sword sou eu, Pri Zorzi é minha amiga, e colori as nossas falas de forma diferente para nos diferenciar. Lá vai:

Pri Zorzi diz:
Ah, essa fala-vômito...

Heart of Sword diz:
Tô fazendo uma fala-meio-vômito agora, no sentido que não paro de digitar. Tô elaborando o que diabos me irrita nele.

Pri Zorzi diz:
Eu to tentando pensar também. Mas falei fala-vômito no sentido de que fede, é nojento, e de onde veio essa sempre tem mais. E uma fala-vômito não raro incita outras...

Heart of Sword diz:
Ah sim, da mesma forma que uma fala inteligente estimula outras (Mas que pode também ser soterrada por vômito, como aconteceu com uma pergunta que eu fiz na aula de Ética e que foi sumamente ignorada, apesar de sua genialidade).

Pri Zorzi diz:
Huahuahua... Que pergunta era? (e não te esqueça que a aula era Ética, aonde falas-vômito ganham um bônus +4)

Heart of Sword diz:
Pra que servem os psicólogos, e por que não deixamos tudo na mão dos psiquiatras?

Pri Zorzi diz:
É uma boa pergunta, mas tu acha mesmo que psicólogos são desnecessários?

Heart of Sword diz:
Se eu achasse que a Psicologia é desnecessária, eu já teria largado o curso. Pra falar a verdade, acho que ela é muito útil, necessária, até, só que eu queria ver o que meus colegas iriam dizer. Não foi uma provocação, foi um chute na boca do estômago da turma pra fazer ela falar... Ou pelo menos deveria ter sido, considerando que a única resposta direta à pergunta foi uma colega minha choramingando que a gente é muito submisso aos médicos.

Pri Zorzi diz:
Eu sei, e eu acho que daria uma excelente discussão. O pessoal às vezes tem medo de pensar a utilidade do curso, talvez com medo de constatar que a Psicologia pode ser suplantada por outras coisas. Mas as pessoas da turma normalmente ignoram perguntas assim. Todas as turmas.

Heart of Sword diz:
Não tinha formulado dessa maneira. Eu pensei que era mais uma coisa de "naturalizar" a importância do psicólogo, como se a importância da Psicologia fosse como a importância do ar ou da água pra humanidade, pedantismo.

Pri Zorzi diz:
É que todo mundo sabe que a Psicologia esbarra em várias outras áreas do conhecimento. O que eu acho muito natural, visto que os possíveis "objetos de estudo" da Psicologia são abrangentes, mas acho que as pessoas tem muito medo disso. Eu acho Psicologia super importante. Mas eu prefiro um psiquiatra bom do que um psicólogo ruim. Pra qualquer função.

Heart of Sword diz:
A Psicologia não tem um objeto de estudo ou área que seja só dela.

Pri Zorzi diz:
Claro que não. E por que deveria? Pra assegurar mercado de trabalho, só se for.

Heart of Sword diz:
Não acho que deveria.

Pri Zorzi diz:
Eu sei que tu não acha. Se achasse não teria problematizado a questão, mas muita gente acha, creio eu.

Heart of Sword diz:
É que fica uma coisa meio... "se outros podem fazer, psicólogo não é necessário de verdade". O que, claro, não é verdade, mas a sensação fica.

Pri Zorzi diz:
Algum professor em algum momento comentou (lamento não lembrar mais) que basta a gente ser bom no que faz que sempre vai ter trabalho pra gente. Acho que Psicologia é antes de tudo um olhar diferenciado.

Heart of Sword diz:
Esses tempos eu pensei em um exercício filosófico interessante para identificar a importância da Psicologia. Imagina que cai um avião no meio da Amazônia com um engenheiro, um médico, um militar e um psicólogo (todos sobrevivem, só pra constar).

Pri Zorzi diz:
(sim, imagino)

Heart of Sword diz:
Os três primeiros tem funções óbvias no grupo: descobrir um jeito de voltar pra casa, cuidar da saúde do grupo, caça e proteção. E o psicólogo, o que faz? (Um podia ser um zumbi, mas isso não vem ao caso).

Pri Zorzi diz:
Cuida da alimentação, oferecendo seu corpo para ser devorado pelos demais (Subitamente imaginei uma tese de mestrado: "Um psicólogo zumbi seria melhor que um psicólogo comum? Um paradigma ético-estético do mundo capitalístico contemporâneo").

Heart of Sword diz:
Pôr todo mundo sentado em círculo para analisar a dinâmica do grupo? (A professora de Ética e sua dietética poderia cuidar da alimentação. Exceto se ela fosse um zumbi. Daí ela comeria cérebros e deu).

Pri Zorzi diz:
Acho que isso bate um pouco no estereótipo de psicólogo como uma pessoa com cérebro de ameba que faz todo mundo dar as mãozinhas e se sentir melhor. Sério, pra algumas pessoas psicólogo é a mesma coisa que padre. Isso me dá nos nervos.

Heart of Sword diz:
Acho que, nessa situação, o psicólogo poderia trabalhar para manter o grupo coeso. A experiência como um todo é estressante: no meio do mato, com fome, longe de casa, com gente estranha... E, se ele for bem sucedido, pode garantir a cooperação do grupo e, consequentemente, sua sobrevivência.

Pri Zorzi diz:
Sim, foi o que eu pensei... Parece o tipo da situação aonde seria necessário um psicólogo...

Heart of Sword diz:
Isso é tri importante. Qualquer pessoa poderia tomar esse papel para si, mas ter uma pessoa que trabalha exclusivamente com isso é muito melhor (eu imagino). Só que, ao mesmo tempo que é importante, também é ignorado, por que psicólogo "é coisa de puto" ou "charlatão".

Pri Zorzi diz:
Acho que é ignorado por que todo mundo pensa que sabe fazer... Sabe, no estágio de escolar agora eu aprendi bastante coisa sobre a função de um psicólogo. É impressionante como numa escola todo mundo demanda uma escuta: direção, professores, alunos, pais... Todo mundo tem problema pra cacete. Claro, qualquer um poderia oferecer essa escuta, mas eu acho que a gente é treinado pra oferecer uma escuta mais qualificada. É isso o que a maioria das pessoas esquece. Parece que todo mundo nasce meio psicólogo e que a gente passa cinco anos na faculdade catando coquinho.

Heart of Sword diz:
Acho que algumas pessoas leigas poderiam se sair tão bem quanto um psicólogo nesse papel, mas são poucas.

Pri Zorzi diz:
Sim, concordo, tem gente que tem uma sensibilidade natural, sei lá... Mas são poucos. Acho que isso é desvalorizar o saber do psicólogo: achar que qualquer um pode fazer isso. E é muito engraçado que as pessoas acham que tu sabe horrores só por ser psicólogo... Tipo, elas pensam que é só dizer o nome e o psicólogo já pode dar o perfil completo (bom, alguns psicanalistas fazem isso, mas...).

Heart of Sword diz:
Olha, pra ser franco, acho que isso tem seu fundo de verdade - a gente é treinado pra prestar atenção em coisas aparentemente irrelevantes e desconexas e a ligar os pontos entre elas... Daí parece meio mágico. Mas é um troço complicado, e muitos erros acontecem nesse processo.

Pri Zorzi diz:
Pois é, o problema é que as vezes as pessoas esperam muito desse processo. Tipo um professor que te encaminha um aluno e espera que depois de uma ou duas consultas já se note a diferença.

Heart of Sword diz:
Ou o clássico caso da pessoa que tu conhece na festa que, quando fica sabendo que tu é estudante de psicologia diz "tu não tá me analisando?" ou "interpreta esse meu sonho? [segue relato de como ele sonhou que um bisão estuprava sua vó]".

Pri Zorzi diz:
Hahahahahahaha... É, por aí.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dada

Tenho a sensação de que ando negligenciando o blog, mas não tenho nenhuma boa idéia de post. Por isso, catei a imagem mais absurda que pude encontrar em uma rápida pesquisa nos intertubes e a publico aqui. Have fun.

Dramas de Estágio (Parte 8) - O Império Contra-Ataca

Saiu meu primeiro resultado de seleção de estágio! Meus serviços escravos foram gentilmente recusados pelo Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Já esperava por isso, pois não me destaquei muito durante a entrevista coletiva. Não falei merda nem nada, mas não fui especialmente criativo ou enérgico.

Ainda assim, eu não sei como conseguiram selecionar alguém só com aquela entrevista coletiva chinelona, onde todo mundo, sentado em um círculo (psicólogo adora essa frescura), falava seu nome e por que gostaria de fazer estágio no HCPA. Disse que não fui especialmente criativo ou enérgico, mas não acho que dê pra dizer que alguém foi isso durante a entrevista. Foi um negócio morno.

Mas, deixando a falsa modéstia de lado, problema deles que não me selecionaram. Para ser sincero, apesar do HCPA ser inicialmente um dos locais que mais me interessavam, ele foi perdendo o apelo com o tempo. Não quero fazer como a raposa de Esopo que diz que as uvas que ele não alcança estão verdes - OK, um pouquinho eu estou fazendo - e o HCPA ainda me parece um lugar bacana para fazer estágio, mas acho que há outros lugares ainda disponíveis para estagiar, e que me possibilitariam excelentes chances de aprendizagem.

Para aqueles que foram selecionados pelo HCPA: minha vingança será maligna. Not.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Regras da Internet aplicadas à Academia

Regra 34: Se você pensou, tem um artigo a respeito.
Regra 35: Se ainda não existe, logo, logo alguém receberá uma bolsa do CNPq para pesquisar a respeito.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 9)

Eu sei, Sorte do Orkut é chinelagem, mas agora que os vagabundos que administram esse site decidiram mexer seus traseiros gordos e colocar sortes novas no banco de dados, todos os dias vejo uma bobagem nova para comentar. Quando li a de hoje, logo vi que tinha sido traduzida do inglês, pois seu sentido estava levemente deturpado. Por isso, aqui vai ela na língua original:

Today's fortune: A good listener is not only popular everywhere, but after a while he knows something.

OK, por que eu me dei ao trabalho de configurar meu perfil no Orkut para a língua inglesa só para colocar essa fortune aqui? Sinceramente, foi por identificação. Durante meu envolvimento nestas eleições, eu basicamente afinei meus instrumentos de audição que, apesar de serem levemente ruins em determinadas situações, me permitem entender bastante coisa a respeito dos outros. Deve ter alguma coisa a ver com querer ser psicólogo essa viadagem.

Eleições - Epílogo

Continuando o assunto do post anterior, mas começando um texto novo, gostaria de fazer um balanço mais rápido do que aprendi com estas eleições, e como procederei com este novo saber. Não é um texto muito bem estruturado. Apenas escrevi alguns comentários sobre o que penso ser importante dizer a respeito do DCE, suas eleições e como encaro a situação (por que a minha opinião é a mais importante do universo).

Primeiro, concluí que é extremamente importante a união dos estudantes, e que é necessário algum órgão ou instituição política minimamente organizada para aglutiná-los. Porém, este órgão não precisa ser o DCE, nem a política nele feito deve emular o DCE. Com isso, quero dizer que processos eleitorais são desnecessários, pois consomem tempo, dinheiro e, mais importante ainda, energia humana, levantando os ânimos de todos e favorecendo confrontos inúteis e desgastantes. Seria ingenuidade minha acreditar que é possível criar tal órgão no mundo que vivemos, pois, gostando ou não, a maioria das pessoas de hoje vive em um nível de consciência que não permite a existência de uma verdadeira autogestão, e que, mesmo que eu criasse um Diretório Central Alternativo dos Estudantes e ele se tornasse importante, ele rapidamente degringolaria e cairia no jeito antigo de fazer política, com mentiras, jogos de poder e confrontos inúteis.

Segundo, apesar da chapa 1 ter vencido, pretendo trabalhar com eles no próximo ano na construção do Núcleo de Saúde, que integrará os estudantes da área da Saúde da UFRGS e possibilitará uma maior riqueza na formação de todos, mas apenas se tornar-se realidade. Considero este projeto importante demais para deixar de construí-lo, apesar de saber que, da mesma forma que os demais núcleos do DCE, ele também estará completamente infiltrado de politicagens.

Terceiro, por ter conhecido os bastidores das eleições para o DCE, aprendi muito mais sobre o comportamento humano do que se tivesse apenas observado à distância segura, como fiz ano passado. Contudo, considero minha carreira política encerrada, e nas próximas eleições, procurarei outra forma de envolvimento, mas não concorrerei por chapa alguma para vaga qualquer, nem apoiarei ninguém. Se me envolver de forma mais profunda, será na Comissão Eleitoral, abrindo urnas onde for necessário e enchendo o saco dos candidatos para na colarem cartazes onde não devem e não achacarem ninguém para votarem neles. Ainda assim, tenho a impressão de que serei muito mais uma babá zelosa das chapas do que um jogador ativo, pois a sensação de que é tudo uma grande brincadeira continua.

Quarto, para as valorosas pessoas que se interessam por política e querem participar das próximas eleições do DCE, deixo um conselho: vá em frente, pule de cabeça, distribua panfletos, passe em salas de aula, cole cartazes, mas não espere mudar a universidade com isso, pois continua sendo apenas um jogo*.



*Esse parágrafo poderia virar um bom texto para o PSIU! do ano que vem.

sábado, 22 de novembro de 2008

Dias de Eleição, Jogos de Poder

Já se passaram alguns dias desde o fechamento de todas as urnas, o fim das eleições para o DCE e a apuração dos votos - que indicaram a vitória da Chapa 1, seguida pela chapa 2, por nossa chapa, a 3 e, em último lugar, a chapa 4. Apesar de ainda haver um forte cheiro de pólvora no ar, e escaramuças entre facções rivais ainda acontecerem aqui e ali, tudo está decidido, e o próximo ano será o quinto do grupo que atualmente gere a instituição estudantil mais forte da UFRGS. Ainda assim, sinto que há algumas coisas para dizer sobre os dois últimos dias de votação, da apuração e do "sábado de cinzas", onde todos os envolvidos ainda estão curando sua ressaca eleitoral (seja por derrota ou vitória).

De longe, o segundo dia de pleito foi o mais agitado de todos. Enquanto eu estava no modorrento Campus Saúde, e no politicamente periférico Instituto de Psicologia, assistindo as pessoas votarem, no Campus do Vale, o mais importante em termos políticos dentro da UFRGS (tanto para movimento estudantil quanto para a política em geral), militantes da chapa 1 brigaram e agrediram partidários da chapa 2, por causa de alguns cartazes. Há grande discordância sobre os detalhes desta briga: alguns dizemque os caras da chapa 2 colavam cartazes difamando um dos principais membros da chapa 1 (adivinhem quem?), outros dizem que eles estavam arrancando cartazes da chapa 1 e colando os deles próprios, partidários da chapa 1 alegam que quem foi acusado de agressão nunca teria chance de bater na pessoa agredida, graças a diferença de tamanhos (algo como Davi e Golias), e que, na verdade, ele tropeçou nas escadarias onde estavam discutindo e caiu de costas, enquanto os membros da chapa 2 acusam a chapa 1 de truculenta e terceiros ficam se perguntando o que diabos está acontecendo. Mas algo aconteceu, e alguém da chapa 2 se machucou no Vale por causa de alguém da chapa 1, que ou cometeu um ato violento ou omitiu ajuda no momento. E isso foi o suficiente para jogar merda no ventilador.

Fiquei sabendo disso enquanto fiscalizava a urna da Psicologia, conversando com colegas de chapa e de curso. Enquanto algumas pessoas expressavam sua indignação com a falta de civilidade no processo eleitoral, eu apenas me divertia - um prazer mórbido de ver o circo pegando fogo. Mas como tinha mais o que fazer do que discutir as implicações políticas deste acontecimento, fui para casa pegar alguns equipamentos necessários para meu trabalho de Avaliação Psicológica, que seria feito naquela tarde ainda. No caminho, passei do lado da entrada para a infame FABICO - quartel-general da Chapa 1 e da Comissão Eleitoral, por alguns motivos mui suspeitos. Olhando para o prédio, vi o poderoso chefão da chapa 1, andando de um lado para o outro, falando no celular com a cara preocupada e agitada. Na hora que eu o vi, pensei "ai ai ai, eu vou acabar envolvido nisso", mas como já estava envolvido mesmo, continuei meu caminho como se nada tivesse visto de anormal. Nisso, quando passo na frente dos portões de ferro daquela faculdade, encontro um outro colega de chapa, que me intera das novidades, e explica a agitação do nosso amigo-rival. Cinco minutos antes, o poderoso chefão da chapa 2, junto com alguns capangas, apareceram na FABICO e ameaçaram os membros da chapa 1, em retaliação ao que acontecera no Campus do Vale. Também aqui os detalhes estão confusos, pois alguns dizem que isso nunca aconteceu, enquanto outros afirmam a procedência dos capangas (ora do DCE/PUCRS, ora moradores da vila Santa Maria, ora um grupo de extrema direita da Universidade Federal de Santa Maria, mostrando com clareza o famoso "efeito telefone sem-fio"), enumeram as barbaridades por eles cometidas (ameaças de agressão e estupro, bater nas janelas da sala onde a Comissão Eleitoral estava reunida, pressionar pela abertura da urna da Medicina) e a maneira como foram expulsos da FABICO (ou uma união de forças entre Brigada Militar, Polícia Federal, Segurança da UFRGS e corajosos membros do DCE e Comissão Eleitoral os expulsaram, ou que eles simplesmente sairam andando). Bem, todos estes boatos não são importantes, mas não tenho dúvidas de que algum tipo de invasão aconteceu ali do lado de casa. Depois de conversar com esse meu colega e antes de ir embora, a menina que participou da mesa durante o debate na Psicologia, aquela dos belos e assustadores olhos azuis, me chamou, me contou a mesma história e pediu para que eu avisasse meus colegas e tomasse cuidado. Achei doce da parte dela fazer isso, mesmo não me sentindo ameaçado por ninguém. Na verdade, apesar de preocupado com a segurança dela e de seu namorado, quase não consegui conter o riso por ver o fogo virar um incêndio de grandes proporções, e queimar não só o circo, mas tudo o que estava ao seu redor. Talvez se tivesse presenciado tudo não achasse tão engraçado, mas um pouco de ação durante aquela votação morna vinha bem.

Voltando para a faculdade, contei a novidade para meus colegas que trabalhavam como mesários (bebendo café), que ou ficaram mais indignados ainda, ou acharam toda a situação ainda mais cômica. Deve ser o mal daqueles que vivem em locais onde a animação depende do que acontece fora.

Ao contrário do que eu imaginava, o terceiro dia foi o mais parado de todos. Apesar da briga e das ameaças de agressão, nada de mais grave aconteceu. Talvez as pessoas envolvidas tiveram súbito insight e pararam de brigar, ou parou de ser vantajoso fazer aquilo tudo. Acho a segunda alternativa a mais provável. E enquanto esperava pelo fim das votações, conversei um pouco com alguns militantes de outras chapas. Apenas no último dia apareceu alguém da chapa 2 ali na nossa humilde e pouco importante urna. Não me pareceram monstros, nem nada do que era dito sobre eles pela chapa 1. Achei eles um tanto quanto fracos em metodologia de pesquisa e particularmente suscetíveis a preconceitos (segundo uma das gurias da chapa 2 que estava lá, as duas vizinhas que fumavam maconha eram as duas pessoas mais seqüeladas que ela conhecia, e isto parecia ser prova suficiente de que todas as drogas são ruins e fazem mal), mas nada mostruoso. Conversamos amenidades - sobre urnas, votos, drogas, seqüelas (quando chegou aqui eu dei um jeito de ir embora). Também havia militantes da chapa 1 fiscalizando nossa urna. Não há nada de extraordinário para se dizer a seu respeito, exceto que carregavam alguns walkie-talkies consigo. Achei estranho, pois, afinal de contas, para que(m) eles seriam usados? Fiquei sabendo mais tarde, através do Lorenzo, que, perdendo seu tempo tentando fazer mais racional um dos tópicos na comunidade da UFRGS no Orkut, falou que viu o pessoal da chapa 1 chamando reforços pelos walkie-talkies toda vez que uma urna era aberta na engenharia, tradicional reduto do Movimento Estudantil Liberdade, para fazer de tudo para fechá-la.

Por fim, na sexta-feira, foi feita a contagem dos votos, dando a vitória para a chapa 1 com 2300 votos, seguida pela chapa 2 com 1600 votos, nós com 505 votos e a chapa 4 com 411 votos. Demorei um pouco para acreditar nestes números, por terem sido divulgados através do Orkut, um meio de comunicação muito confiável, mas depois de pesquisar um pouco, conclui que são estes os números mesmo (estou curioso para saber da votação na Psicologia). Ao contrário das nossas expectativas, não ficamos em segundo lugar. Aliás, longe disso. Talvez nunca tivéssemos chance, exceto em nossas mentes orgulhosas e imaginativas. Meus colegas de chapa consideram a campanha uma vitória, por termos sido capazes de fazê-la de forma coerente, democrática e aberta, e que no próximo ano teremos mais força ainda para concorrer ao DCE. Tenho minhas dúvidas quanto a isso.

Na mesma comunidade da UFRGS, reações diversas. Alguns, ligados à chapa 1, exaltavam a sua vitória, enquanto membros de outras chapas lambiam suas feridas e criticavam o processo eleitoral ("Quem ganhou a eleição? A Comissão Eleitoral" dizia uma mensagem bastante irônica). Mais algumas acusações de golpismo, agressão e ditatorialismo foram trocadas, mas nada que seja digno de nota, ou mesmo divertido. Um outro tópico levantava a possibilidade de criar um DCE alternativo, enquanto uma cidadão perdido perguntava se era possível desativar o DCE. Da minha parte, fiquei elaborando as experiências vividas neste estágio intensivo em Psicologia Política. Pergunto a mim mesmo se o DCE é realmente importante para os estudantes, para a UFRGS, para a sociedade. Se pergunto para qualquer uma das pessoas que participaram de alguma chapa, terei como resposta que sim, com certeza não há nenhum órgão estudantil mais importante que o DCE. Se tivesse feito a mesma pergunta para mim mesmo três semanas atrás, responderia a mesma coisa, ainda que menos veementemente. Agora, depois de tudo encerrado, urnas fechadas, votos contados, vitórias celebradas, lutos elaborados e cartazes e panfletos ainda espalhados pelos campi, duvido que daria a mesma resposta.

Por um acaso engraçado, passei a maior parte das eleições lendo um livro do Tolstoi intitulado "The Kingdom of God is Within You". Digo que foi engraçado por que, apesar do título aparentemente teológico, ele trata das mesmas questões que vivi enquanto concorri para coordenador do Campus Saúde pela chapa 3. E as respostas que ele dá não são apenas verdadeiramente revolucionárias, como soam verdadeiras em meu coração. Para Tolstoi, os governos e Estados foram úteis em épocas passadas, quando era necessário para a sobrevivência submeter-se à vontade de um governante, que defenderia seu povo contra os inimigos e protegeria os fracos dos agressivos, mas que agora são um mal, pois fazem exatamente aquilo que deveriam evitar - entram em guerras desnecessárias e oprimem os fracos. Este livro foi escrito no final do século XIX, e muito dos motivos que o levaram a escrevê-lo deixaram de existir. Ainda assim, continua um livro atual e comovente, que nos leva a refletir. Tolstoi fala também que as pessoas atraídas pelo poder são do pior tipo que há, pois estão dispostos a tudo para conseguirem o que querem: títulos de imperador, rei, presidente, coordenador geral, coordenador de campus, ao invés de todos os valores cristão de bondade, pureza e não-resistência ao mal. Pelo jeito, ele não está tão enganado assim, se levarmos em conta toda a corrupção que envolve os Três Poderes em Brasília, e mesmo nos governos estaduais e municipais.

Mas há uma tese de Tolstoi que me parece mais importante e revolucionária. Para ele, o que sustenta o sistema político e impede o surgimento de uma ordem mais honesta e pura é a opinião pública, que, apesar de sofrer, mantêm o sistema como está por medo do que pode acontecer sem ele e que, no momento que a opinião pública perceber o malefício dos governos, eles cairão, pois não haverá quem os sustente, pois nem os governantes, nem os governados acharão ético fazê-lo. Não sei se Tolstoi está certo, mas durante a minha participação nesta eleição, tive a forte impressão de que estava apenas participando de um jogo, extremamente envolvente e elaborado, mas um jogo ainda assim, sem nenhuma conseqüência, exceto aquelas que os jogadores desejam. Sim, todas as conversas de cara séria, as trapaças, as rasteiras, as estratégias geográficas, as considerações sociológicas, foi tudo muito interessante, intelectualmente estimulante e até mesmo emocionante, mas é um jogo, e para mim, ele acabou. Talvez se tivéssemos ganho a corrida eleitoral poderíamos jogar a próxima fase desse Massive Multiplayer Real Time Strategy Game (MMRTSG), "Administrando o DCE", e eu poderia cumprir missões como "ocupar a reitoria", "fazer marcha até [digite lugar] para protestar contra [digite causa]" e "concorrer à reeleição", mas, mais uma vez, não sei se gostaria de fazer isto.

Reza a lenda que, quando Buda nasceu, um sábio profetizou que ele se tornaria ou um grande rei, e moveria as rodas do mundo, ou um grande iluminado, e moveria as rodas da verdade. Fico pensando quanto tempo perdemos nos preocupando com estas rodas superficiais que acreditamos ser a mais profunda realidade, e que caem ante qualquer brisa, e ignoramos nossa verdadeira missão neste mundo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Dia de Eleições I

Foram abertas as urnas para a votação que decidirá qual chapa comandará o DCE no ano de 2009! Vou tentar ser menos egocêntrico do que estas pessoas que ficam lendo blogs alheios às 3 da manhã dizem por aí, e falar mais dos fatos em si (apesar da minha subjetividade ser muito mais interessante).

Mas, considerando que são só urnas de pano, não há muito o que dizer sobre elas, exceto que são as mesmas usadas nas eleições de antigamente, antes do advento da urna eletrônica (aquela onde a gente aperta botõezinhos coloridos e que no fim faz um barulhinho engraçadinho). Sinto-me parte da história, usando tecnologia retrógrada e facilmente manipulável para a decisão de algo supostamente tão importante quanto a eleição para o DCE! E, coisa suspeita, não é tão mais difícil pegar as urnas eletrônicas emprestadas com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). É algo que vale a pena perguntar para a comissão eleitoral.

A boca de urna foi liberada esse ano, o que significa que é legal membros de chapas ficarem perto dos locais de votação, abordando todas as pessoas com cara de estudante de graduação, tentando convencê-los de que sua chapa é a melhor e, em caso de resistência, "levá-los pela mão" até a urna. Fiquei usando a camiseta da chapa 3 o dia inteiro, mas me recuso a interferir de forma tão invasiva no processo de tomada de decisão de outras pessoas.

Enquanto a comissão eleitoral é a responsável por trazer as urnas para os locais de votação, são os Diretórios e Centros Acadêmicos os encarregados de supervisioná-las e de indicar mesários. No caso do DAP, isso significa que fica de mesário quem está disposto a passar a tarde inteira sentado fazendo nada, até que apareça alguém interessado em votar. Veja bem: ficar sem fazer nada na frente do DAP é prática comum entre estudantes de Psicologia da UFRGS, mas geralmente isso acontece perto da geladeira cheia de cerveja, e com um monte de gente para conversar, esparramados nos nossos sofás ou na frente do computador, e não do lado de um pedaço poeirento de pano. Não que o dito pedaço de pano interfira de tal maneira na rotina dos "DAPianos" a ponto deles alterarem sua rotina de vagabundagem. Bem pelo contrário, a coisa se manteve mais ou menos a mesma de sempre, só que um pouco mais longe da porta do DAP, de baixo da sombra de uma outra árvore, com uma mesa com cédulas em branco e uma urna de pano ao lado. E conversa fiada e cerveja.

Como participo de uma chapa e tinha aula essa tarde, não fiquei o tempo todo com a equipe de mesários. Mas, em um dado momento, depois da urna já ter sido fechada por hoje, cheguei perto da porta do diretório, e ouvi um de meus colegas exclamando "que coisa ridícula!" Esta exclamação poderia ter sido causada por uma ou mais das milhares de coisas que acontecem ao nosso redor e que só chamam nossa atenção quando algo dá errado, mas, considerando que estamos em uma época de maré alta em política, e mesmo becos sem saída como o Instituto de Psicologia tornam-se campos de batalhas importantíssimos para a conquista do DCE, supus que a indignação do meu amigo era causada por alguma coisa relacionada à urna e a uma certa pessoa importante da chapa 1, que estava ali por perto até pouco tempo. E minha hipótese é corroborada quando pergunto o que aconteceu.

Basicamente, o problema foi que, esta pessoa, ao ver meus colegas bebendo cerveja enquanto cuidavam da urna, teve o que meu professor de genética chamaria de "ataque de bichice", e disse que teria de registrar isto em ata, que a urna poderia ser impugnada por isso, mas que na verdade, ele estava fazendo aquilo por que a chapa 2, de direita, estaria tentando impugnar várias das urnas espalhadas pela universidade. Acho louvável que ele seja tão dedicado no cumprimento do regulamento eleitoral, apesar de não entender muito bem por que ele cita a chapa 2 como responsável por isso. Bom, acho que as coisas ficam mais claras ao estudarmos a história das eleições para o DCE, e não precisamos ir tão longe assim - basta apenas lembrar algumas coisas que aconteceram ano passado. Por exemplo, no auge da crise das cotas, o pessoal da Medicina, ferrenhos opositores desta ação afirmativa, e das Engenharias, famoso bastião de "direitismo" dentro da UFRGS, iriam votar em peso na chapa DCE Livre, organizada pelo Movimento Estudantil Liberdade (MEL). Só que, curiosamente, nos locais onde os Famedianos e Projetos de Engenheiros votavam, ou as urnas sumiam, ou não abriam na hora que deviam, ou corriam o risco de serem impugnadas por alguma irregularidade qualquer. Na comunidade do Orkut, a chapa 1 comemorava toda vez que surgia alguma notícia do tipo "Urna na Medicina impugnada!!!!!!". E pelo o que os mais velhos falam, é hábito comum da parte das chapas de situação que concorrem ao DCE fazerem de tudo para minimizar as chances das concorrentes se saírem bem. E, pelo o que meus colegas falam, a chapa 3 lidera as votações na Psicologia (eles acreditam que, dos 21 votos feitos ali até agora, 19 foram para a chapa 3). Como nessas eleições as bobagens que eu digo podem vir a ser muito mais importantes, prefiro não dizer nada de forma clara. Se vocês chegaram até aqui, devem ser inteligentes e capazes de ligar os pontos finais (inclusive essas pessoas venenosas que me chamam de egocêntrico). Não vou deixar nada explícito demais, para obrigar qualquer desocupado interessado em botar mais lenha na fogueira da comunidade da UFRGS no Orkut com o que digo a pelo menos ler o texto inteiro, ao invés de dar uma frase mastigadinha e pronta para ser deturpada.

E esse foi o parágrafo mais cheio de quês já escrito neste blog. Deixo na mão de vocês, vagabundos online, a tarefa de contá-los, por que eu não vou corrigir porra nenhuma.

sábado, 15 de novembro de 2008

Engenharias

Faço Psicologia, e estou feliz com meu curso. Mas, se fosse cursar outra faculdade mais tarde, acho que faria engenharia. Em muitos aspectos, meu raciocínio é mais parecido com o dos engenheiros do que com o dos psicólogos e demais cientistas sociais.

Engenheiros fazem coisas legais. Eles constroem prédios, fazem estradas, computadores, robôs, máquinas... um bazilhão de coisas! Engenheiros são os oompa-loompas da ciência, tornando os sonhos dos demais em realidade, e a Engenharia está em todo lugar onde há um agrupamento humano. Mas, mais do que isso, a Engenharia é do caralho.

Há diversos sabores de engenharia, para todos os gostos possíveis, desde a clássica e sóbria Engenharia Civil, passando pelas inovadoras Engenharias Genética e Biomédica, a hippie Engenharia Florestal, até a festeira Engenharia do Entretenimento. Na UFRGS, há vários destes cursos, mas geralmente são só os mais tradicionais.

Se eu fosse fazer uma engenharia, não faria nem Civil, nem Mecânica, nem Elétrica. Eu faria Engenharia Nuclear. Por que? Para que um dia eu pudesse dizer "I'm a nuclear engineer. I blow shit up." Eu sei que isso não corresponde à realidade, e que dificilmente eu vou me envolver na construção de uma bomba nuclear brasileira, mas só a possibilidade de um dia eu poder fazer isso me permite ser tão abusado. Aposto que se a chapa 2 do DCE, ao invés de ficar falando em incentivar o empreendedorismo entre os estudantes, prometesse construir a bomba atômica da UFRGS, conseguiria muito mais votos. O meu inclusive.

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 8)

Finalmente, depois de três anos apenas reprisando as mesmas frases, o Orkut resolveu inovar e jogar umas frases nonsense novas na mistura. Aqui vai a última pérola que me foi agraciada:

Sorte de hoje: A base de cada estado é a educação da juventude.

São frases como esta que me fazem pensar "Whiskey Tango Foxtrot, de onde o Orkut tira essas coisas e por que coloca como sorte do dia?" Devem ser todos insanos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Dia de Debate

Esta semana que passou foi crucial para as eleições do DCE deste ano, pois aconteceram os debates de campus entre as chapas: terça-feira no Centro, quarta-feira no Vale e quinta-feira no Saúde, finalmente. Por ser eu estudante de Psicologia, e estar mais familiarizado com a rotina do campus, fui convidado pelos meus colegas de chapa a integrar a mesa. Olhando em retrospecto, confesso que não sabia bem onde estava me metendo, apesar de estar correto na minha crença de que me sairia bem.

Como já disse antes, sou bom em debates: sou bem informado, calmo, educado, sei defender meus argumentos de forma segura, porém não rígida demais, e posso aceitar os argumentos dos demais como corretos (ainda que nem sempre o faça na hora certa). Em outras palavras, debater comigo é um paraíso se você quer aprender e ensinar, mas um inferno se quer provar que está certo. E, de certa, forma, o debate de ontem tinha como objetivo provar qual chapa é a melhor, qual está mais certa e qual é mais capaz de fazer seja lá o que um DCE faz. Ainda assim, eu estava em séria desvantagem nesta batalha.

O primeiro fator que me deixou em desvantagem era a estrutura do debate, que foi dividido em quatro blocos: no primeiro, cada chapa dispunha de cinco minutos para se apresentar; no segundo, cada chapa faria uma pergunta para outra, com um minuto para formular a pergunta, dois minutos para resposta, um minuto para a réplica e um minuto para a tréplica; no terceiro, cada chapa responderia a uma pergunta feita pelo público (dois minutos para responder) e, por fim, no último bloco, cada chapa disporia de cinco minutos para fazer uma conclusão do debate, expondo seus argumentos e propostas mais uma vez. Resumindo em poucas palavras por que digo que fiquei em desvantagem: tinha pouco tempo disponível para apresentar de forma decente meus argumentos, e não havia espaço para espontaneidade ali.

O segundo fator era a experiência, tanto minha quanto dos demais presentes à mesa. Foi minha primeira experiência em debates políticos, e a primeira vez que tenho tanta exposição pública – o público em volta, apesar de pequeno em número, era oriundo de vários outros cursos além da Psicologia, muitos desconhecidos para mim, e impossível de ignorar seu olhar. Sabia que não me desesperaria e teria um colapso nervoso, e que me sairia bem, mas eu ainda era um “guri verde” ali. Outros membros da mesa, por outro lado, já participaram de outros debates, em outros anos, ou são lideranças consumadas do movimento estudantil dentro da UFRGS, bem versados na arte de falar para grandes concentrações de pessoas e conhecidos por todos (outra vez, ao contrário de mim, que sou conhecido apenas na Psicologia).

Há também um terceiro fator, que era o estado de ânimo dos presentes e seus objetivos. Explicarei o que quero dizer com isto ao longo do texto. Antes, contudo, farei uma descrição cronológica dos eventos, como eles foram acontecendo até a hora do debate e depois.

Se eu fosse (muito) paranóico, eu diria que a comissão eleitoral me sacaneou ao escolher fazer o debate na quinta-feira ao meio-dia no Campus Saúde, pois é o único dia da semana quando não tenho aula lá, mas no Campus do Vale, até às 11:50 da manhã! Isso significava que teria que sair mais cedo da aula de Genética, uma das poucas que realmente me animam. Ainda paranóico, poderia dizer que também o professor de genética me sacaneou, pois a aula ontem estava especialmente interessante quando peguei minha mochila e fui até o Bar do Antônio, onde combinara de me encontrar com o outro colega de chapa que integraria a mesa comigo. Depois de um pouco de conversa (e de eu ter que responder uma pergunta ética muito previsível sobre genética para meu colega, estudante de Ciências Sociais), pegamos o ônibus para o Campus Saúde, e no caminho discutimos como seria o debate em si, sua estrutura, o que esperar e o que falar. Precisávamos afinar nossos discursos, mas senti-me um pouco direcionado, combinando o que dizer em qual determinada situação, e inautêntico por fazer isso por livre espontânea vontade. Sabia que não era nada de errado, que as outras chapas provavelmente estavam fazendo a mesma coisa naquele momento e que era até esperado que se fizesse isso, mas a sensação continuou, até o momento em que decidi esquecê-la temporariamente e me concentrar na tarefa à minha frente. Eu sabia que em algum momento da campanha eu teria que enfrentar uma situação como esta, e agir contra meus princípios, ser guiado, esquecer meus ideais mais nobres e “pegar pesado” ou “jogar sujo”. Acho que não consegui fazer isso de verdade.

Chegamos ao Campus às 11:30, e fomos direto para o local do debate: o pátio do Instituto de Psicologia. Estava em território conhecido, familiar, e, como num jogo de futebol, jogava em casa. Mas isso não me tranqüilizava, nem me dava uma sensação de superioridade estratégica. Aquele prédio é uma segunda casa para mim, e aquele pátio um lugar mágico e querido por mim, mas para aquele debate, tudo mudava, e ele se transformava em algo diferente, estranho. Poderia ter debatido em qualquer outro lugar no campus, fosse na Medicina ou na FABICO e teria me saído da mesma forma – estaria fora de casa de qualquer jeito.

O evento estava marcado para começar ao meio-dia em ponto, mas, por algum erro de comunicação, acabara sendo atrasado em trinta minutos. Aproveitei para ir almoçar no RU, e fiquei ruminando sobre a campanha, tudo o que já se passou e o que estava prestes a acontecer, bem ali, no meu “quintal”. Depois de comer, voltei para o DAP, onde logo depois de mim chegaram alguns membros da comissão eleitoral, e os ajudei a montar o palco para o debate: mesas, cadeiras e amplificador para os debatedores, sofás, cadeiras e almofadas para os espectadores (que palavra feia essa). O pessoal das chapas foi chegando: primeiro os da 2, depois uns companheiros nossos, uns da chapa 1, ninguém da chapa 4, que deixaram a cadeira vazia e perderam por W.O. Depois de tudo preparado, fiquei apenas esperando a hora derradeira, lendo um livro dentro do DAP e ouvindo o que era dito do lado de fora pelos demais. Uma hora, ouvi alguém dizer “a chapa 1 saiu aplaudida das salas de aula!” Bacana. Todas foram em algum momento, inclusive a execrada chapa 2. É uma questão de estatística – em algum momento sairei aplaudido de uma sala de aula, se passar em muitas e muitas delas. Não tiro o mérito de arrancar os aplausos de uma turma que geralmente está imersa na inércia de uma aula chatíssima, mas sempre que alguém cita estes acontecimentos, não importa de qual chapa seja, soa como se isto fosse a regra ao invés da exceção, do outliner. Esta atitude, junto com muitas outras que presenciei ou ouvi, me levam a definir a política como “a arte de reinterpretar os fatos da forma mais vantajosa possível” – especialmente, mas não exclusivamente, em tempos de eleições.

Com mais atraso do que o esperado, começou o debate. À mesa, sentavam dois representantes de cada chapa. Foi feito um sorteio para ver quem começaria se apresentando. Fomos nós. Dividimos os cinco minutos a nossa disposição em duas partes – na primeira parte falou meu colega, na segunda falei eu. Enquanto ele falava, fiquei olhando para o público e, quando ele começou a falar das fundações de apoio e criticá-las, procurei ver como o Lorenzo, que na segunda reunião da chapa deu a cara à tapa por uma posição mais moderada em relação às fundações, estava reagindo. Curiosamente, ele estava afastado do resto do público, com uma cara de quem acaba de chupar limão. Achei que meu colega de mesa se focou demais no assunto do REUNI e não falou de outras coisas, tão ou mais interessantes para os estudantes da UFRGS (o que, diga-se de passagem, não é incoerente com nossa chapa, cuja proposta principal é ser contra o REUNI), e foi agressivo demais, dando a impressão de que a única coisa que nos diferencia da chapa 1 (além da posição em relação ao REUNI) é que somos mais irritados e rancorosos. Passados dois minutos e trinta segundos, e era minha vez. Fiquei sentado e gaguejei bastante, ou pelo menos mais do que gostaria. O nervosismo me afetou, mas não tomou conta de mim. Em alguns momentos do debate, enquanto eu falava e me sentia nervoso, eu era tomado por uma estranha força que me fazia pensar “foda-se o medo, eu vou falar para valer” e ser enérgico, enfático, concentrado e destemido. Eles logo acabavam e me deixavam com a cara vermelha, procurando palavras que concluíssem meu raciocínio de forma magistral, mas acabei sempre finalizando minhas falas com um anticlímax como “terminei” ou “e era isso”. Sai-me bem, apesar da pouca experiência.

Depois de nós, falaram os candidatos da chapa 2. Naquele momento, não falaram nada digno de nota, muito bom ou muito ruim – apenas o que era esperado deles. Mas, conforme o debate foi andando, eles passaram a falar bobagens em cima de bobagens, fizeram papel de idiotas, e não foi por serem a única chapa de direita, mas por serem idiotas mesmo e não saberem o que falam. O pessoal da chapa 1 queria vender a idéia de que esta eleição, da mesma forma que a do ano passado, era uma luta entre direita e esquerda, e que as chapas 1, 3 e 4 deveriam se unir para bater na chapa 2. Contudo, essa idéia não colou – primeiro, por que não é verdade. Se comparada com o ano passado, a chapa 2 não tem a metade dos apoiadores ou do dinheiro que tinha. Segundo, por que não é necessário bater em quem bate em si mesmo. Como disse meu bixo Carlos, “só faltou eles entrarem em combustão espontânea” de tanto que se queimaram. Não vou transcrever todas as babaquices proferidas por estes indivíduos, exceto que “sem patrões não há empregados” (mostrando que não sabe nada sobre modelos alternativos de administração) e “a eleição para o DCE envolve muita ideologia, mas nós não ligamos muito para isso” (mostrando que não sabem nada de filosofia, e que poderiam ser facilmente manipuláveis). Contudo, só tenho o que agradecer a presença deles no debate, pois, caso não tivessem comparecido, eu seria o pior orador à mesa, e mais cara de babaca.

E, logo após o show de burrices da direita, foi a vez do pessoal da chapa 1 falar. O desempenho deles foi impressionante. Se estivesse na platéia, apenas ouvindo os debatedores falar, talvez eu pensasse que foi apenas mais do mesmo de sempre, mas ter que fazer o mesmo que eles, sentar na mesa e tentar convencer os ouvintes de que a minha chapa é a melhor para o DCE, me fez ver tudo por um ângulo completamente diferente. Primeiro, por que os dois falaram em pé, ao invés de permanecerem sentados o tempo todo como eu e os demais fizemos. Eles não só falaram de maneira clara, como passaram a impressão de que já sabiam o que falar, que tinham um discurso ali, pronto, com o detalhe que, não, não tinham nenhum discurso escrito. Dos debatedores, os da chapa 1 de longe eram os mais notáveis. Ambos estão concorrendo para cargos importantes dentro da burocracia do DCE, militam a um tempo considerável no movimento estudantil e, ainda por cima, são namorados. Ele eu já conhecia há algum tempo, pois em 2007 ele várias vezes passou no nosso diretório em nome do DCE, e ela, estudante de Medicina, é uma das líderes da virada à esquerda do pessoal de seu curso, tradicionalmente direitista e eleitor do Movimento Estudantil Liberdade (representado pela chapa 2 esse ano). Naquela mesa, eles eram os profissionais. Fiquei apenas contemplando a maneira como eles falavam, sem titubeações e usando o que nós tínhamos falado antes a favor deles próprios, e como gesticulavam para dar ênfase ao que diziam. Foi espetacular, e eu pude assisti-los do camarote.

Ainda assim, muitas vezes os dois me assustavam. Na minha fala inicial, eu abordei o assunto da saúde, e como nós estudantes daquele Campus, chamado Saúde, deveríamos nos unir em nome do bem maior. E ela, como estudante de Medicina e da Saúde, enquanto falava do projeto de sua chapa para a criação do Núcleo Saúdes, olhou para mim com seus profundos olhos azuis e disse “e eu queria chamar O ANDARILHO aqui para participar também”. Sei que foi só uma forma de comunicação não-verbal, para enfatizar o que era dito verbalmente para o público ali presente, mas aquele olhar penetrante e cheio de energia me assustou. Foram os mesmos olhos que se encheram de ternura para falar da irmã ali presente, que encararam o namorado cheio de amor e que vieram falar comigo cheios de simpatia. Estranho quantos paradoxos podem residir em uma só pessoa. Ele, por outro lado, apesar de estar no controle ali, estava sempre na defensiva. Não era de se estranhar, pois tanto o pessoal da chapa 2 quanto nós mesmos criticávamos eles sem dó nem piedade durante o debate, como num pacto tácito. Mas isso acabou prejudicando sua visão do que era um ataque verbal do que não era. Quando chegou a hora de respondermos as perguntas do público, perguntaram para nossa chapa como pretendíamos chamar os demais estudantes que não integrassem a nossa gestão para participarem conosco no DCE. Num arroubo autotranscendental, peguei o microfone e falei que, naquele momento, estávamos só conversando, mas que na hora de trabalhar, iríamos passar de curso em curso e chamar pessoalmente os estudantes para ajudarem, se quisessem. Não fiz menção nenhuma à atual gestão ou à anterior, nem ao menos pensei nelas! Mas, quando foi a vez da chapa 1 falar, ele foi enfático, e até mesmo raivoso, ao dizer “E tu, Andarilho, não podes negar que eu passei um monte de vezes no DA de vocês! Que nós trabalhamos!” CA-CE-TE. Eu pagava para ver minha cara nessa hora, pois fui pego completamente de surpresa. Disse que ele perdeu muito de sua capacidade de discernir o que é um ataque e o que não é, mas na hora, concluí que eu me expressara de forma inadequada e, na minha fala final, pedi desculpas pelo mal-entendido, e expressei meu desejo de trabalhar em conjunto com o DCE, especialmente no Núcleo Saúdes, não importando qual chapa fosse eleita. Fui absolutamente sincero aqui, pois acredito sinceramente que a missão de uma entidade estudantil, seja CA, DA ou DCE, é representar os estudantes de todas as orientações políticas, lutar e defender seus direitos e apoiá-los na hora de cumprir com seus deveres. Foi meu ponto alto neste debate e, depois que acabou tudo, quando cumprimentei os representantes da chapa 1, vi que eles foram tocados pelo o que disse.

Mas foi justamente esse meu espírito conciliador que me causou a maior angústia do dia. Pensando que seria interessante conhecerem quais minhas intenções ao participar de uma chapa para o DCE, entreguei para ele uma cópia do PSIU!, nosso jornalzinho, e falei que havia na última página um texto meu (publicado no post abaixo) explicando as razões do meu envolvimento. Na mesma hora, a expressão facial dele mudou, e disse que isso que eu tinha feito, publicar um texto no jornalzinho gratuito do diretório fazendo propaganda para uma chapa do DCE, era algo grave, e que encaminharia queixa para a comissão eleitoral. Senti-me muito assustado com isso, pois, se fosse realmente proibido pela comissão eleitoral, eu poderia impugnar toda nossa chapa. Mais do que isso, sentia vergonha de ter feito algo de errado, mesmo sem saber. Tentei me explicar para ele, dizer que meu texto era apenas um relato subjetivo das coisas que me levaram a entrar para a chapa 3 e que em nenhum momento pedi votos para ninguém, mas ele parou de me escutar e foi falar com outras pessoas sobre isso. Procurei a comissão eleitoral, expliquei meu caso para eles e pedi se isso acarretaria em alguma punição para nossa chapa. Eles não pareciam dar muita importância para aquilo. Vi então que o representante da chapa 1 estava conversando com alguns colegas meus, e falava que eu tinha feito propaganda através do PSIU! – lendo em voz alta a parte onde diz “Então, decidi agir e entrar para a chapa 3”. Naquele momento, estava assustado demais para perceber que aquilo era, na verdade, um ato de extrema má fé, pois ignorava quase o texto inteiro e pegava duas frases fora de contexto e as lia como uma acusação contra minha pessoa. Para minha sorte, ele estava falando com ninguém menos que o Daitx, o estudante de psicologia mais antigo e o menos ingênuo. Ele falou que, se alguém quisesse escrever um texto fazendo campanha pro Fogaça, não haveria problema nenhum, pois nosso jornal é livre. Naquele momento, quando ia me justificar, falar que o texto não era propaganda, ele disse que “dessa vez a gente releva”, me deu um tapinha nas costas e foi embora.

Depois, falando com amigos e colegas de chapa, ficou claro para mim que aquilo era só um golpe para me desmoralizar perante meus colegas, ganhar os votos deles e me intimidar. Destes, ele conseguiu só último, e por bem pouco tempo. Ainda assim, fiquei muito mal. Eu não era capaz de imaginar que alguém pudesse fazer isto. Qual o propósito? E por que ele faria isto com alguém que tentava ser amigável como eu? Percebi que sou muito ingênuo. E este é o terceiro fator que me deixou em desvantagem ao longo de todo o debate: eu achava que, no fundo, seria um processo honesto, um pouco brutal e infantil em sua forma, mas honesto ainda assim. Fui para o debate sem nenhuma intenção de vender a nossa chapa como a ideal ou a melhor, mas mostrar-me da forma mais transparente possível para todos os presentes, e deixar nas suas mãos que decidissem quem era melhor. Ninguém além de mim foi com esta intenção, com este estado de espírito. Em última instância, o debate não passou de um show pirotécnico, onde as chapas tentavam brilhar mais do que as outras e, se possível, ofuscá-las e destruí-las, por que não basta vencer: os outros têm que perder também. E não só os debatedores fizeram isso, mas também uma boa parte do público, que já tinha chapa definida, e aplaudia toda vez que seus cupinchas terminavam de falar, por mais bestial que fosse.

Acho que todos conseguiram cumprir o que, consciente ou inconscientemente, se propuseram a fazer, especialmente eu: eu me mostrei transparente e honesto para os demais, e não escondi nada. O debatedor da chapa 1 percebeu isso, e viu que eu era inocente e que cairia fácil no seu truque, como realmente caí. Mas acho que deveria agradecê-lo por ter feito isto, pois, no fim, tornei-me mais forte. Antes, eu apenas sabia que a política é um antro de mentirosos, aproveitadores e enganadores, mas até ontem, eu sabia disto apenas intelectualmente. Agora, sei de forma inteira, pois já fui vítima de um destes. E garanto que serei enganado de novo no futuro, pois nunca estarei no mesmo nível deles, que fazem da política sua vida, e da mentira seu instrumento de trabalho. Eu poderia, se quisesse, me igualar a esta pessoa, mas não quero, pois isto significaria mentir e praticar outros atos de covardia. Este batismo de fogo pelo qual passei me levou a decidir que, se o preço de ser verdadeiro é ser feito de idiota, ser enganado e manipulado, assim o serei. “O satyagrahi nasceu para ser enganado” dizia Gandhi. Adoto também esta filosofia para minha vida.

E, pela primeira vez em minha vida, não sinto raiva ou ódio por ter sido manipulado, nem contra mim mesmo, nem contra esta pessoa, pois nós dois agimos conforme nossas naturezas mais profundas. Vivo em um mundo transparente e honesto, onde a verdade é mais importante do que a aparência ou o lucro, e onde o amor e a bondade são as virtudes supremas. Neste mundo, aprendi a ver cada pessoa como um fim em si mesmo, digna de confiança e respeito, e que nunca deveria usá-las de forma unilateral em benefício próprio. Não sei em que mundo este meu amigo vive, mas não posso culpá-lo por lá viver. Posso apenas sentir pena, pois, se o preço de ser honesto é ser constantemente enganado, o preço de enganar constantemente os outros é viver sempre em guarda, na defensiva para que ninguém lhe engane. Não é o tipo de vida que desejo para mim, nem para ninguém.

O debate foi, como um todo, uma excelente experiência. Sinto-me muito bem agora, talvez justamente por ter sido enganado e feito de tonto. Contudo, não desejo repeti-la se for possível.

Por que eu entrei para uma chapa

(Texto publicado no PSIU! número 17, de outubro/novembro de 2008)

Estamos em plena campanha para as eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Quatro chapas concorrem este ano, e como vocês talvez já saibam, estou na nominata (lista oficial de integrantes) da chapa 3, a “Pode Chegar”. Foi uma decisão inesperada da minha parte, porém, ainda assim, um número considerável de colegas disse votará na nossa chapa ou nos apoiará por minha causa. É uma grande responsabilidade. Por isto, acredito que devo dar uma explicação sobre por que decidi concorrer pela chapa 3 para o cargo de coordenador do Campus Saúde.

Das muitas pessoas que conheci por causa da campanha, várias mostraram-se surpresas em ver um estudante de Psicologia envolvido de forma tão profunda nestas eleições. Isto não me surpreende. A nossa entidade política mais representativa, o DAP, é uma auto-gestão, e não tem eleições, chapas nem partidões influenciando seu trabalho – só quem realmente quer trabalhar por uma Psico melhor está lá, sacrificando um tempinho do seu dia informando sobre o que acontece em algum departamento, reclamando do banheiro do segundo andar para a diretoria ou indo nas reuniões do DAP e dando sua opinião. E este jeito DAP de ser é o exato oposto do que sempre imaginei o DCE, com suas campanhas barulhentas, chapas se bicando e siglas como PT, PSOL e PSTU financiando tudo isto. Nenhum dos DAPessauros esconde sua desconfiança em relação a tudo isto, e cita vários motivos para que ninguém se meta nisto. Então, que motivos eu teria para me envolver com esta bagunça?

Vejo a mim mesmo como um indivíduo impetuoso. Não gosto de ser apenas um observador e ficar olhando de longe a ação acontecer, especialmente quando se trata de algo importante, que possa influenciar de maneira positiva os estudantes, o DAP, a universidade ou a sociedade. Não quero ser apenas um espectador. E, com o DCE, não só eu, mas a Psicologia quase que em sua totalidade tem feito isto: olhar e não fazer nada. De vez em quando nós fazemos alguma crítica ao sistema representativo de democracia, elogiamos a nós mesmos e nossa auto-gestão e nos isolamos em nossa conchinha. Não é para menos que o pessoal que eu conheci se surpreendeu. E o DCE, por mais impuro que possa nos parecer, é uma das ferramentas de mudança positiva mais poderosas que os estudantes têm a sua disposição, pois através dele torna-se possível aglutinar a força não só da Psicologia, mas de todos os cursos de graduação da UFRGS e transformá-la para melhor. Eu quero e eu posso contribuir para que isto aconteça. Mas na mesma intensidade em que o DCE pode fazer o bem, também pode fazer o mal, colocando colega contra colega, incitando preconceitos, criando intrigas ou fazendo bobagens em larga escala. Eu também posso fazer isso tudo, apesar de não ser meu desejo. Para ser sincero, esta possibilidade me faz ter medo de realmente ser eleito, pois posso não corresponder a confiança que meus amigos depositam em mim.

Ainda assim, prefiro arriscar. Eu posso cometer muitos erros, mas mesmo a mera tentativa de fazer algo positivo no DCE é melhor do que apenas ficar deitado no sofá do DAP bebendo e reclamando da vida. Não acho que a chapa 3 seja perfeita, e sei que discordo de muitas posições de muitos companheiros que nela também participam. Mas é justamente neste ponto que acredito poder dar a minha melhor contribuição: a de discordar de forma educada, porém firme, de apontar as incoerências que vejo, de fazer como Sócrates e questionar o porquê de nossas decisões. É um trabalho difícil, e o próprio Sócrates pode atestar isto. Mais do que isto, eu quero aprender e crescer com esta experiência, e tornar-me uma pessoa melhor.

Decidi agir, e entrar para a chapa 3. Não peço seu voto, pois não posso assegurar que realmente sou a melhor opção para ser coordenador do Campus Saúde, nem que nossa chapa é a melhor para a UFRGS. Mas prometo que faremos o possível para que isto se torne verdade. Talvez no futuro eu venha a me arrepender de ter tomado esta decisão, mas só vou poder dizer isto depois de ter tudo acabado.

Dramas de Estágio (Parte 7) - Ataque dos Clones

Terminei mais um trabalho! Faltam 4 ainda, e mais uma prova, mas estão todos encaminhados de uma forma ou de outra. Quero falar um pouco mais sobre meus estágios. Mas, desta vez, quero falar não sobre os estágios básicos ou de ênfase, mas sobre os extracurriculares, aqueles que não possuem vínculo com a universidade, mas que mesmo assim são importantes pra cacete.

Considero a opção de fazer um estágio nas férias faz um bom tempo. No final do segundo semestre, participei de uma reunião do COREPSUL na UCS e, como estávamos alojados em um dos blocos onde a Psicologia tem aula, dei uma conferida nos murais, e acabei encontrando uma proposta de estágio voluntário no Hospital Geral. Era aberto também para estudantes de Serviço Social, Medicina e alguns outros cursos, além de Psicologia. Anotei o telefone para contato mas, no último dia, achei melhor ter férias e arquivar essa idéia de ficar trabalhando de graça para ser reutilizada novamente.

Contudo, apareceu esses dias na minha caixa de entrada um e-mail a respeito da oitava edição do Estágio de Vivência Transdisciplinar em Saúde Mental, que é um estágio de férias que acontece todos os anos em São Lourenço do Sul e alguma outra cidade (esse ano é Pelotas, e ano passado foi Novo Hamburgo), e que dura duas semanas. Geralmente eu preferiria passar meu tempo livre treinando, lendo ou vendo filmes, mas essa oportunidade parece boa demais para eu não tentar pelo menos. O Brunão fez esse estágio ano passado, nas férias de inverno, e falou muito bem de toda a experiência. Mas, mais do que isso, é o desejo de me aventurar que fala mais alto. Parece uma bola de neve isso: quanto mais eu exploro o mundo e todas as suas possibilidades, mais quero descobrir coisas novas. Não nego que essa possibilidade existe se decidir passar minhas férias em Porto Alegre ou Caxias e coçar meu saco, mas ela é bem menor do que se tentar pegar esse estágio.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Escala Monstros de Energia Física Restante

Se você acabou de sair de um treino físico exaustivo, e quer saber qual seu estado corporal, veja em que ponto desta escala você se encontra:

1. Se você consegue elaborar e pronunciar frases coerentes, você está muito bem. Pare de ser bichinha e treine mais uma hora!

2. Se você consegue pronuciar corretamente frases incoerentes, você está bem, mas aconselho tomar um pouco de água antes de emendar o próximo horário.

3. Se você só consegue balbuciar frases incoerentes, você está começando a ficar mal.

4. Se você só consegue grunhir, comece a se preocupar um pouco. Provavelmente não vai dar para fazer mais aquelas 2 séries de 50 flexões que você tinha planejado. E isso é mau, muito mau.

5. Se você não consegue dizer nenhuma palavra, você também está provavelmente estatelado no chão, babando e tendo delírios psicóticos induzidos pela carga excessiva de exercício que você impingiu ao seu corpo. Mas não se preocupe, pois alguém vai levar-lhe para o hospital (depois do treino), e quando menos esperar, você vai acordar cercado de enfermeiras ou vai estar morto.

Façam bom uso desta escala. E boa demência.

Dramas de Estágio (Parte 6) - Force Unleashed

Foi hoje, gente. Não posso mais me considerar mero estudante vagabundo, pois neste dia, eu participei da minha primeira seleção de estágio. Agora estou no mercado de trabalho, exercendo meu papel de mão-de-obra barata e dispensável. Para todos os efeitos, eu já sou um estagiário, mesmo não tendo um local certo para fazer estágio ainda.

Fui para a entrevista coletiva hoje para as vagas do Morada São Pedro. O caráter coletivo dessa entrevista é duvidoso, pois só eu e um colega meu comparecemos - aliás, só eu e esse meu colega tínhamos nos inscrito para a seleção do Morada. Não sabemos quantas vagas serão abertas neste local, mas a pessoa que nos entrevistou falou que o número de estagiários já variou de 1 a 5 por ano. Então, a chance de nós dois conseguirmos vaga ali é bem considerável.

Mas como não dá pra contar com ovo que a galinha ainda não colocou, me inscrevi para a seleção do Serviço de Psicologia do HCPA, e ainda me inscreverei para a seleção da Unidade Básica de Saúde do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), para a pesquisa-estágio básico "Assédio Moral no Trabalho" e para o CAIS Mental Centro. É uma questão evolutiva: quanto mais variadas forem minhas possibilidades, menor chance eu tenho de ficar a ver navios em 2009 com a questão dos estágios.

Também há a possível possibilidade de sair estágio no Ambulatório de Genética no Campus do Vale. Lanço mão de um pleonasmo aparentemente vicioso por que, na verdade, o estágio lá é uma possibilidade de uma possibilidade bem remota. Duvido que ele saia este ano por que há muita burocracia envolvida no processo de oficializar a vinculação de um local de estágio com a Psicologia da UFRGS, e, até onde eu sei, não há ninguém realmente dedicado vendo essa papelada. Em outras palavras, eu não estou mexendo uma palha por este estágio e estou deixando na mão de quem se importa. Para ser franco, não consigo lembrar de nada que minha turma fez que saiu do chão sem a minha participação. Mas isso realmente interessa a algumas pessoas, que não querem nem pensar em serem supervisionados por psicanalistas (eu não gosto da idéia, mas não acho o fim do mundo), e que fariam de tudo para achar um porto seguro para serem cientificístas. Resta saber até que ponto eles querem isso mesmo ou se são os acomodados que eu imagino serem. Seria mais vantajoso para mim se essa vaga não saísse esse ano, pois ficaria mais fácil para pegar uma extensão lá, mas seria muito bacana mesmo que alguém estagiasse num dos departamentos mais hard science da universidade. Tapa na cara do PSI02! Além disso, enriquerecia as experiências trocadas pela turma, tanto em aula quanto nos bate-papos alcoolizados que temos na frente da matriz do Diretório e de suas filiais na Jerônimo de Ornellas e na Lima e Silva (Tia Vilma e Bar do Rossi).

E cada vez mais me interesso por estagiar no São Pedro, e cada vez menos no Clínicas. Tenho a impressão de que o Residencial esteja mais afinado com meu ideal de Psicologia do que o HCPA. Já desconfiava disso há algum tempo, mas depois de conversar um pouco com o Marcelo a respeito, e, pelo o que ele me disse, o Clínicas não é um lugar tão quente assim para estagiar como eu pensara. Veremos.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Dramas de Estágio (Parte 5) - Rebel Assault

Começou a temporada de seleções de estágio! Segunda-feira, dia 10 de novembro, acontecerá a entrevista coletiva no Hospital Psiquiátrico São Pedro, e dia 20 de novembro, a seleção para as duas vagas no Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas. Há também quatro vagas no Grupo Hospitalar Conceição, e possivelmente o Ambulatório de Genética do Projeto Proteger ofereça uma vaga, dependendo da burocracia.

Estou repensando qual seria o melhor local para se fazer estágio. A idéia de trabalhar no Clínicas ainda me é muito atraente, mas conversei com algumas pessoas que estagiaram no São Pedro, e o que ouvi foi positivo. Além disso, o tipo de experiência que teria em cada local seria muito diferente. Baseado apenas em introspecções, tenho a impressão que, enquanto no HCPA o trabalho seja eficiente, científico e high tech, também será um tanto quanto frio, distante, ao passo que, no HPSP, especialmente na Morada Terapêutica, haja mais calor humano. Mas não sei. Introspecções não são confiáveis o suficiente para se estabelecer teorias a respeito de nada baseado nelas, apenas hipóteses temporárias.

Também tenho a impressão de que o estágio no Ambulatório de Genética não vá sair, dado o adiantado do ano, e o estupro burocrático requerido para oficializar o local para estágio básico (sem falar no preconceito que alguns professores do Instituto têm contra o Renato Flores). Se não sair, pretendo falar com o professor e trabalhar lá como extensionista.

Sou um cara bastante auto-confiante quando se trata de trabalho e seleções de estágio (beirando a arrogância, para ser sincero), mas sei que posso não ser selecionado para nenhum local. Deixo isso nas mãos do Destino.

Por fim, gostaria de deixar um recado para meus colegas interessados em fazer estágio no HCPA, no Ambulatório de Genética e no Morada São Pedro: preparem-se para uma sangrenta e dura batalha, pois eu estarei lá na hora da seleção.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 7)

Sorte de hoje: A estrela da fortuna brilha sobre você.

E ela é um meteoro, vindo na minha direção.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Dia de Campanha

Este foi um dia de muitas novidades, pois foi o primeiro dia que panfleteei na entrada do RU. Vesti minha camiseta verde da chapa, peguei minhas coisas, fui para a aula e, quando chegou a hora, fui para a frente do meu Templo de Comida Barata.

Confesso que nunca simpatizei muito com os panfleteiros que rotineiramente infestam as entradas dos restaurantes universitários, pois, além de serem muitos e insistentes, são inescapáveis, pois há apenas uma forma de entrar e sair dos RUs. Então, geralmente só existem duas maneiras de lidar com eles: pegando o que quer que eles estão distribuindo ou não. Claro que também existem diversas variações destes dois comportamentos.

Hoje tive uma oportunidade de ver o outro lado da história: a preparação dos materiais, a divisão das equipes para ir aos locais, a fome e o calor que o pessoal trabalhando passa e, principalmente, a relação com as pessoas da fila. Se é chato para quem tem que ficar esperando na fila recebendo papeizinhos, também o é para quem os distribui. Como eu disse antes, há várias maneiras de receber ou recusar um panfleto: há, sim, aqueles que pegam o panfleto e o lêem em algum momento, mas suspeito que eles sejam poucos se comparados com a maioria que pega a papelada para não se incomodar e a joga fora na primeira oportunidade. O lugar de despejo de panfleto preferido do pessoal que almoça no RU da Saúde é o parapeito da janela do lado das escadarias. Em dias de campanha, ele sempre fica cheio. Deveria ter tirado uma foto para ilustrar este post, mas duvido que falte oportunidades para tanto, com mais três chapas na disputa. Aliás, um dos meus maiores divertimentos esta manhã foi tentar adivinhar quem guardaria o panfleto e quem o deixaria do lado da janela. E entre os que recusam, há os educados, que dizem “não, obrigado”, aqueles um pouco mais ríspidos e aqueles que fingem a sua não-existência, e passam direto por você. Considero estes os “piores”, por assim dizer, pois são os que mais deixam evidente a tua inconveniência, de que tu estás atrapalhando o almoço deles. Não os julgo por isso.

Fiquei um pouco sobrecarregado com a nova tarefa, e em alguns momentos, caí em pensamentos sobre tudo aquilo. Observando meus colegas e eu mesmo na abordagem das pessoas, pensei que estávamos sendo desrespeitosos, invadindo o espaço pessoal alheio e empurrando-lhes papel colorido, da mesma forma que algumas mães empurram comida goela abaixo de seus filhos. Tentei desenvolver uma forma de “panfletagem não-invasiva”, onde, ao invés de pegar o panfleto e colocá-lo na frente do transeunte, eu apenas mostrava ele, e pedia se estava interessado em lê-lo, ou coisa parecida. Creio que tive algum sucesso nisso, pois as pessoas pareciam mais dispostas a aceitá-lo, e mesmo as que recusavam talvez não se sentissem desrespeitadas. Mas isso é apenas uma hipótese feliz, e não tenho como prová-la.

Em um dado momento, quando o movimento estava mais fraco, dei uma lida no nosso material, no que tínhamos escrito, e fui tomado por uma onda de angústia, pois ali estavam escritas coisas que, se dependessem diretamente de mim, não teriam sido impressas, especialmente as críticas contra a outra chapa, a 1. Senti-me angustiado por que, apesar dos pesares, eu concordara com aquilo quando assinei meu nome para a nominata, e quando não fui contrário à proposta de atacar diretamente os seus líderes. Eu fiquei quieto. Eu consenti. E eu associara-me com isto, e estou sujeito aos mesmos riscos que estas pessoas que criticaremos. Até o final da campanha, e, se formos eleitos, durante o próximo ano inteiro, serei taxado como um “cara do PSTU”, “esquerdista do DCE” ou qualquer outra alcunha que nos descreva de alguma forma. Eu sabia disto, mas só hoje ao ler o panfleto senti com toda a força que podia. Mas não vou desistir.

Entre discussões e ações, minhas dúvidas quanto a minha chapa ser a correta crescem. Uma boa amiga minha depois da aula me disse que, apesar de todo nosso discurso de que todos podem chegar, ainda passávamos um ar de superioridade, como se nós fossemos os escolhidos de Marx Deus para coordenar o DCE e guiar os estudantes rumo à luz. Afirmamos que são as mesmas pessoas há quatro anos dirigindo o Diretório Central, e que estão quase criando raízes lá dentro, mas queremos algo mais do que a chance de nós criarmos as nossas raízes por lá também? Não duvido da nossa consciência, mas da nossa congruência, de nossa capacidade de colocar em prática aquilo que dizemos. Em algum momento, uma menina com um adesivo da chapa 1 entrou na fila, sozinha. No que talvez tenha sido uma má idéia minha, ofereci um panfleto para ela, brinquei um pouco, e disse que seria legal ela ler nossas propostas para poder criticar depois. Um dos meus colegas, provavelmente por ter visto o adesivo amarelo e vermelho, chegou perto de nós e começou a resmungar algo que não consegui escutar, mas que pela sua postura não era algo que eu gostaria de ouvir se estivesse sozinho junto com muitos adversários políticos. Mandei-o parar de provocar. Assustamos ela, provavelmente, apesar do meu desejo ser justamente o oposto.

Ao meio-dia e meia, aproximadamente, fui almoçar. Quando cheguei no parapeito da janela, apesar de já saber que ele estaria cheio de papel, distribuído por nós, e vi que minhas suspeitas se confirmavam, fui invadido por uma sensação de inutilidade, que todos os panfletos, cartazes e jornaizinhos eram apenas sujeira irrelevante no processo eleitoral e que não ajudavam ninguém a decidir voto nenhum. Boa parte do meu almoço foi tomada por estes pensamentos.

Após comer e descansar brevemente no DAP (com a nova edição do PSIU! pronta), passei nas salas de aula da Psicologia para anunciar nossa chapa. Outra nova experiência, que, apesar da ânsia que sinto em falar em salas de aula (é, uma mini-fobia bem específica minha), me saí bem.

Também descobri que, na próxima semana, última de campanha antes das votações, ocorrerá um debate entre as chapas no Bar da Psico, ali do lado do DAP. Adoro debates, mesmo os ruins onde sou apedrejado verbalmente, pois são o tipo de desafio intelectual que me deixa empolgado. Pessoalmente, acho que foi uma boa escolha da parte da Comissão Eleitoral, de fazer o debate ali. Não por que eu me sinta mais em casa ou qualquer coisa, mas por que o pessoal da Psicologia, por não ser partidário, não ficará em volta como uma claque, aplaudindo seus candidatos e vaiando os demais. Vai ser divertido. Hohoho.

Numa nota paralela ao assunto, estou bastante receoso de publicar estes textos sobre as eleições no meu blog, pois não sei como meus colegas de chapa reagiriam se os lessem. Claro, escrevi eles de maneira tal que não sejam ofensivos, mas ainda não tive coragem de falar em uma reunião sobre estas questões, que considero fundamentais. Farei isto na próxima reunião, se puder comparecer. Afinal de contas, foi para isso que entrei nessa história.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Monstro da Política

Apesar de fazer uma semana que a Comissão Eleitoral permitiu o começo das campanhas das chapas para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS, mas somente hoje ela começou, com os inúmeros cartazes da Chapa 1 espalhados por todo Campus Saúde, e provavelmente todos os outros. Queria escrever um post sobre a experiência de ser um protagonista direto nesta eleição, mas hoje este desejo tornou-se necessidade.

Tal qual ano passado, há quatro chapas concorrendo para o DCE e representações discentes: a Chapa 1: DCE Sempre em frente, da atual gestão, fortemente ligada ao PSOL; a Chapa 2: DCE Livre, do grupo de direita Movimento Estudantil Liberdade (MEL), associado ao Democratas e mesma chapa do ano passado; a Chapa 3: Pode Chegar, composta por membros dissidentes da atual gestão do DCE e com ligações ao PSTU; e a Chapa 4: Roda Viva, associada ao PT e composta pelas mesmas pessoas que compuseram a chapa de mesmo número e mesmo nome ano passado. Mas em marcante contraste com o pleito anterior, a disputa não é entre “direita contra esquerda”, “capitalistas vs. socialistas”, “cotas vs. não às cotas”, mas entre duas chapas de esquerda: a 1 e a 3, que, talvez por ambas representarem a atual gestão e serem muito capazes de mobilização, conseguiram recrutar números consideráveis de participantes e apoiadores novos, enquanto que a 2 e a 4 contam com um número reduzido de militantes (detesto essa palavra) e pequena margem de campanha.

A história por trás da cisão do atual grupo dirigente do DCE e como fiquei sabendo dela é digna de nota. Como disse antes, quero participar ativamente na construção de uma UFRGS melhor, mas sempre me mantive longe da política estudantil maior, fora da Psicologia, por desconfiar tremendamente dos jogos que ali acontecem. Porém, meu cansaço de ver as coisas acontecerem ao meu redor e minha vontade de agir superaram minha desconfiança, e me deixaram psicologicamente pronto para participar dela, de algum jeito ou de outro. Recusei o primeiro convite, no começo de outubro, para concorrer dentro de uma chapa para o DCE, mas por causa de meu estado de espírito, fiquei pensando bastante a respeito dele e o aceitei. Por essa época, as pessoas ligadas a movimentos políticos dentro da universidade interessados em gerirem o DCE passam pelos campi e pelas unidades de ensino, procurando pessoas para entrarem em suas chapas, principalmente o pessoal das chapas 1 e 3. Pelo o que vim a descobrir, eles estavam tecnicamente divorciados uns dos outros desde setembro, após uma briga feia que aconteceu por causa do Encontro de Mulheres UFRGS (no qual eu participei como bode expiatório de mulheres raivosas), mas na época apenas eles sabiam disto. Por isso, acabei expressando meu desejo de participar para duas pessoas de duas chapas diferente, uma da 1, e outra da 3, e demorei para ficar sabendo desta cisma que ocorrera. E mesmo um tempo após terem me contado, compareci às assembléias iniciais de chapas das duas. Isso me causou grande angústia, pois não sabia em qual me filiar.

Decidi-me definitivamente numa manhã de sábado, quando uma pessoa da chapa 3 ligou-me pedindo uma assinatura minha, para que pudesse oficializar minha candidatura como coordenador do Campus Saúde. Como estava na casa dos meus pais naquela hora, ele considerou seriamente a possibilidade de pegar um ônibus, vir até Caxias, pegar minha assinatura e voltar. Este é o tipo de idéia absurda que eu mesmo pensaria e, caso fosse necessário, colocaria em prática. Naquele momento vi que eu estava certo em entrar para a chapa 3. E foi assim, baseado numa idiossincrasia, que selei meu destino político dentro do movimento estudantil da UFRGS. Nenhum motivo político ou racional, ou desejo de poder e glória. Apenas a rooteria e o ideal demente de vida, que considera qualquer um disposto a viajar 2 horas apenas para pegar um papel alguém digno de admiração.

Contudo, apesar de ter decido que caminho seguir, ainda estava muito curioso sobre a cisão da atual gestão. Sabia que tinha ocorrido, mas não sabia por que. Como bom aspirante à cientista humano, queria descobrir o que tinha acontecido, e comecei a perguntar para todas as pessoas envolvidas, seja em alguma das chapas ou não, o que teria desencadeado a ruptura, como se estivesse empreendendo uma pesquisa sociológica. Com as entrevistas que realizei, aprendi bastante a respeito não só da política estudantil em si, mas da natureza das pessoas envolvidas. Como disse antes, houve uma briga por causa do Encontro de Mulheres. O motivo, segundo minha confiável fonte afirma, foi por que as meninas do PSTU começaram a fazer intrigas com as demais, dizendo que, se elas não tivessem se mobilizado, o encontro não teria saído. Isto gerou uma epidemia de bumbum doído entre as demais, que começaram a retrucar, e isto acabou envolvendo também os homens e levou, finalmente, à dissolução da aliança entre PSTU e PSOL. Contudo, por mais confiável que minha fonte seja, ela é de segunda mão, não presenciou os fatos pessoalmente e não sabe até que ponto isto é verdade. Por outro lado, a informação que tenho dos integrantes da minha chapa que ajudaram na organização do evento é que, realmente, foram as gurias do PSTU que fizeram todo o trabalho, enquanto as outras coçavam seus sacos imaginários ou algo assim.

Curiosamente, quando perguntei diretamente para as pessoas das duas chapas por que aconteceu tal divisão, obtenho as mesmas respostas. Depois da assembléia geral da chapa 1, conversei com um de seus líderes, que afirmou estar tranqüilo de não ter ninguém do PSTU ali na chapa, pois eles eram antidemocráticos, só se interessavam pelas pautas relacionadas ao seu partido, e que nas outras apenas causavam confusão e discórdia, sendo eles o motivo principal de por que a gestão não crescera e atraíra novas pessoas. Contudo, conversando com pessoas da chapa 3, ouvi que o pessoal do PSOL não é democrático, que monopolizam e manipulam as discussões, que se interessam apenas por aquilo que diz respeito ao seu próprio partido, que se mantiveram distantes dos demais estudantes da UFRGS, e que todos os movimentos do DCE que buscaram o contato com pessoas de fora da gestão foram empreendidos por eles, a atual chapa 3. Repito: basicamente, as acusações são as mesmas. Mudam as palavras, mudam as pessoas a quem se dirigem, mas em essência são iguais. Agora pergunto: como faço para saber quem está certo? Que critério objetivo utilizo para decidir quem fala a verdade? Não há como. O único critério de decisão aqui é subjetivo. Não posso falar muito sobre a democracia na chapa 1 (tenho que falar com meus amigos que dela participam), mas o fato dela incorporar quase 300 pessoas* de 38 cursos diferentes (nenhum da Psicologia, o que me faz sentir muito exclusivo), entre candidatos e apoiadores, mostra que seus líderes não são tão ditatoriais quanto dizem. Da mesma forma, a chapa 3 conta com uns 200 apoiadores também, sendo que muitos deles, eu inclusive, nunca participaram antes de eleições para o DCE, nem eram membros de partido algum. Baseado nestas informações, só posso concluir que ou ambos os grupos definem democracia de jeitos diferentes e conflitantes, ou que ambos são autoritaristas e antidemocráticos, e que possuem objetivos diferentes. Mas por experiência própria, posso dizer que a chapa 3 não é antidemocrática ou coisa parecida. Até o momento, pude discordar dos demais sem problema algum, pois apresentei argumentos razoáveis.

Nesse aspecto, acontece algo curioso. Muitos estudantes do curso de Ciências Sociais compõem a chapa, da mesma forma que estudantes de História, Pedagogia e outros cursos de Ciências Humanas. E, apesar de Psicologia também ser uma Ciência Humana, geralmente estou politicamente mais próximo do pessoal das Ciências Exatas. Até agora, todas as vezes que discordei da maioria, eu apoiara os argumentos de alguém que estuda Matemática ou Engenharia Elétrica. Foram só duas discussões, mas foram longas, e estas pessoas expressaram várias pensamentos que já passaram pela minha mente em algum momento. Acredito que isto seja, caricaturalmente falando, uma “guerra de classes”, no sentido marxista do termo. A maior discordância que já tivemos até agora na chapa foi a respeito das fundações de apoio privado, empresas privadas que financiam pesquisas na universidade. O pessoal das Ciências Humanas é contra a intrusão destas instituições na UFRGS, e apresentam muitos bons motivos, os principais sendo a corrupção crônica que as envolve e o fato de muitas vezes as pesquisas financiadas beneficiarem apenas a empresa (o principal exemplo disto sendo a linha de pesquisa em cosméticos desenvolvida em uma das engenharias). No outro lado, não há verba pública para pesquisa, e estas fundações, por bem ou por mal, tornam possíveis muitas das pesquisas atualmente em andamento na UFRGS, gerando conhecimento e qualificando o ensino dos estudantes envolvidos. Depois de alguns minutos trocando argumentos (que já esqueci), uma colega falou que as fundações muito dificilmente financiam pesquisas em Ciências Humanas, e então percebi que um maior fluxo de verba pública permitiria que mais pesquisas nesta área fossem realizadas. Isto não explica toda a indignação do pessoal das Humanas contra as fundações, mas pessoalmente considero significativo. E esta diferença entre eu da Psicologia e os demais das outras Ciências Sociais**, tão grande que fez com que alguns na sala acreditassem que eu cursasse alguma Ciência Exata, me levou a concluir que pelo menos um terço da Psicologia é mais matemática do que humana, e é o terço com que mais me identifico.

Tenho encarado a minha participação nestas eleições para o DCE de diversas formas, ou melhor dizendo, tenho elaborado descrições verbais diferentes para o que estou fazendo, que apesar de diferentes, se complementam. Encaro-a como uma experiência antropológica, onde insiro-me em uma comunidade distinta da minha e aprendo sobre a maneira como seus membros vêem o mundo partilhando de suas atividades; vejo-a como um grande jogo de Roleplay (RPG), afinal, como diria um veterano meu, a vida dá XP, especialmente para aqueles que se aventuram; também a vejo como uma missão, de problematizar e apontar para coisas antes ignoradas pelos outros, mesmo que para isto tenha que discordar deles; e, principalmente, vejo minha participação nestas eleições como uma situação-limite. Para alguns filósofos e psicólogos existencialistas, situações-limites são acontecimentos da vida que nos forçam a sairmos de nossa condição anterior, enfrentar a dor e a angústia e transcendermos a nós mesmos, tornando-nos, assim, seres humanos mais plenos. E concorrer para o cargo de coordenador de campus dentro de uma chapa, vestir uma camiseta da campanha, panfletear nas entradas dos RUs, explicar para meus colegas por que tomei a decisão de entrar para uma organização política, mesmo não concordando com a maioria de suas posições, e até mesmo publicar este post tem sido muito desafiador, pois me tira da confortável e segura posição da falsa coerência, de não fazer nada errado por não fazer absolutamente nada, e me faz todos os dias dar a cara à tapa e matar meu ego um pouquinho. Até agora, tem sido difícil e até mesmo assustador, mas muito, muito positivo.


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* Segundo um dos coordenadores desta chapa, o fato de tantas pessoas novas participarem da chapa é prova de que era o pessoal da chapa 3 que atravancava a abertura do DCE. Obviamente o bobinho não teve aula de metodologia de pesquisa, por que a única coisa que esse alto número de colaboradores prova é que eles conseguiram atrair um monte de gente para a causa deles, e que não há nenhuma evidência sólida de que isto não aconteceria se o racha não tivesse acontecido. Pronto, fui chato.

** Sim, Psicologia também é uma ciência social. Tanto que existe a Psicologia Social.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Dramas de Estágio (Parte 4)

Agora é oficial, não tem mais volta. Fui esta manhã no Hospital Psiquiátrico São Pedro, e me inscrevi para a seleção de estágio básico. Já disse antes o que o São Pedro não é meu local preferido, e concorro por uma vaga só para não ficar a ver navios caso não consiga nos lugares que me interessam (Hospital de Clínicas, Projeto Proteger, Grupo Hospitalar Conceição), mas mudei bastante de opinião ao descobrir que há vagas para estagiários do novo currículo da UFRGS na Morada Terapêutica São Pedro. Moradas terapêuticas são, de forma muito simplificada, pequenas comunidades de internos de hospícios em processo de reintrodução na sociedade mais ampla e é uma das iniciativas mais legais da Reforma Psiquiátrica. O Brunão atualmente faz estágio de Psicopatologia lá, e gosta muito do que faz. E como eu sou um bunda mole que copia os veteranos, me animei com a possibilidade de estagiar no Morada, a ponto de até gostar da idéia.

Outra surpresa foi descobrir que, além das infindáveis hostes de psicanalistas e esquizoanalistas, também há uma unidade cuja orientação teórica é a teoria cognitivo-comportamental. Ventos de mudança também sopram no São Pedro. Enfim, mais um bom local de estágio para minha lista, mas ainda me inscreverei para tantas outras seleções quanto puder, e não abandonei o sonho de fazer estágio básico no Clínicas e extensão no Proteger. Apenas não acho tão ruim trocar o Clínicas pelo São Pedro. E o drama continua.

domingo, 2 de novembro de 2008

Dramas de Estágio (Parte 3)

Ainda falando sobre ênfases, decidi fazer uma busca rápida na internet dos currículos de graduação em Psicologia de outras instituições de ensino, da Serra Gaúcha e da Grande Porto Alegre, para ver o que elas oferecem. É bom saber este tipo de coisa, pois, caso eu não esteja interessado em nenhuma ênfase oferecida pela UFRGS, eu posso escolher fazer a ênfase em outra universidade. Claro, provavelmente teria que pagar por isso, especialmente nas instituições particulares. Como este não é meu caso, faço este post apenas para fins comparativos. Lembrando que, como não estudo nestas instituições, só posso me basear no currículo disponível online, o que é uma fonte meio porca de dados:

Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS)
Ênfase em Clínica Contemporânea
O onipresente estágio em Psicologia Clínica. Pela grade de disciplinas, há a possibilidade de aprofundar-se ou em Psicanálise lacaniana ou em Terapia Cognitivo-Comportamental, mas aparentemente os lacanianos mandam mais, pois têm mais cadeiras eletivas específicas para ênfase (seriam as infames "eletivas avançadas"?).

Ênfase em Trabalho e Psicologia
Não tenho muito conhecimento nesta área, mas com o pouco que sei, digo que esta ênfase parece ser "multifocal", pois suas eletivas permitem tanto trabalhar em empresas como Recursos Humanos (e comer o c* da galera com farofa), quanto com Orientação Profissional ou outros campos que não sei absolutamente nada a respeito.

Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Ênfase em Psicologia e Processos de Gestão em Saúde Mental Coletiva
Copiei e colei direto da página do currículo deles: "[Esta ênfase] habilitará o aluno e futuro profissional para a atuação em um conjunto de situações, instituições e contextos, para o diagnóstico, planejamento e uso de procedimentos e técnicas específicas voltadas para analisar criticamente e aprimorar os processos de gestão em saúde mental coletiva em distintas organizações e instituições." Em outros termos, é a ênfase do SUS. Para quem não faz nenhum curso da área da saúde, saiu uma resolução (ou decreto, também não sei) que obriga os cursos desta área a oferecerem uma formação voltada pelo menos em parte para o Sistema Único de Saúde. Como diz uma pixação na parede do DAP, "O SUS É DEUS". É importante pra cacete.

Ênfase em Psicologia e Processos de Promoção da Saúde
Outro "Ctrl-C+Ctrl-V": "[A ênfase] consiste na concentração em competências que garantam ações de caráter preventivo, em nível individual e coletivo, voltada à capacitação de indivíduos, grupos, instituições e comunidades para protegerem e promoverem a saúde e qualidade de vida, em diferentes contextos em que tais ações possam ser demandadas. Esta ênfase se diferencia da primeira no sentido de se voltar não especificamente à saúde mental coletiva, mas para a promoção e prevenção de saúde como um todo, tanto em nível individual quanto coletivo. É uma ênfase que permitirá que o aluno faça uso de diferentes abordagens e intervenções, a partir de diferentes correntes teóricas oferecidas ao longo do curso." Todas as ênfases da UFCSPA são muito boas, por que focalizam a saúde em si, as coisas boas, a prevenção e a promoção, e não o tratamento ou cura. Se fosse fazer vestibular de novo (coisa que não vai acontecer), eu faria para Psicologia na UFCSPA a segunda melhor universidade do Brasil, apesar dela não chegar aos pés da UFRGS.

Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Estágios em Psicologia Escolar, Clínica, do Trabalho, Institucional, Comunitária e Ampliado
Fiquei um pouco confuso com a página da PUCRS. Quando olhei a grade curricular deles, não vi nenhuma menção à ênfases ou algo parecido, mas vi que estavam listados seis diferentes estágios, estes que enumero logo acima. Suponho que, ao contrário de outras universidades, a PUCRS não nomeie diretamente ênfases, mas as distribua pelos estágios. É um esquema interessante. Há também o Estágio Ampliado, onde teoricamente o estudante trabalhe com diversas áreas da Psicologia, mas que também deve ser um baita saco de gatos, onde tudo o que não se encaixa nos outros estágios vai parar.

Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
Estágios em Psicologia Clínica, Escolar, Trabalho e Comunitária
Mesmo esquema da PUCRS. Segundo a webpage deles, "[o currículo] tem 4 estágios básicos, que são desenvolvidos desde 1º semestre do curso (Psicologia: Ciência e Profissão; Observação do Comportamento Humano; Psicopatologia; Intervenção Clínica) e dois profissionalizantes escolhidos entre quatro áreas: clinica, escolar, trabalho e comunitária." O tal estágio profissionalizante deve ser equivalente à ênfase, ou coisa assim.

Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Ênfases em Intervenção Clínica em Contextos Diversos e Intervenção Social-Institucional e Processos de Trabalho
Na UCS, a partir do oitavo semestre, os estudantes podem decidir em qual ênfase se focar: ou Psicologia Clínica ou Psicologia Institucional (grosso modo). Não tenho muito o que dizer sobre as ênfases da UCS em si, já que não achei a grade currícular deles especialmente iluminadora (malditos nomes genéricos).

Faculdade da Serra Gaúcha (FSG)
Ênfases em Psicologia Educacional, Saúde Coletiva e Psicologia do Trabalho e Organizações
Para uma faculdade que abriu faz pouco tempo, a FSG é bastante competitiva. Pelo que pude ver das disciplinas exigidas no currículo deles, a formação deles é bastante ampla e qualificada. Pelo menos na teoria. Por que Universidade Federal também é melhor que particular na teoria (pelo menos é de graça).

Comparando com a UFRGS:
Antes de mais nada, gostaria de dizer que não há como comparar verdadeiramente um curso com outro apenas olhando as grades curriculares. Eu precisaria no mínimo conversar com alguém que estude na PUCRS ou na FSG para saber como as coisas realmente funcionam por lá. Parafraseando uma professora minha, todo currículo é lindo no papel. Lendo algumas ementas de disciplina, várias vezes pensei "como eu gostaria de ter uma coisa dessas na UFRGS". Será que eu iria querer mesmo? Por exemplo, uma das cadeiras do primeiro semestre da PUCRS, Fundamentos Epistemológicos e Históricos da Psicologia, tem em sua ementa que são estudadas "perspectivas psicológicas do ser humano nas teorias Psicanalítica, Cognitivo-Comportamental, Humanista, Gestalt, Analítica Junguiana e em outras propostas atuais." Lindo! Agora é só colocar um professor bem cabeça fechada, que só fale da teoria dele e pronto, foi-se a ementa! Assim sendo, não levem muito a sério as hipóteses que vou escrever a seguir, pois não há nenhum fundamento que as sustentem.
Comparando todos estes currículos, ainda que superficialmente, tive a idéia de que todas as faculdades abordam todos os assuntos, mudando apenas a forma como isto está estruturado. Por exemplo, na UFRGS se faz pesquisa/intervenção em Psicologia Escolar, só que, nas ênfases, este campo fica acomodado sob Psicologia Institucional. Por um lado, isto impede os estudantes interessados em mais de uma área da "Psicologia Institucional" (entre aspas, por que a realidade é mais complicada que isto) de estagiarem em mais de um local de interesse, mas por outro lado, leva a um maior conhecimento de áreas diferentes da Psicologia como um todo.
Horrível esse último parágrafo, mas vai ficar assim mesmo.