segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Até logo, e obrigado pelos certificados!

Continuando o assunto da minha formação em Psicologia...

Como disse antes, não comecei a fazer nenhum estágio curricular ainda. Com sorte, começarei no início do próximo ano. Em outras palavras, em quase dois anos estudando Psicologia na UFRGS, o currículo do meu curso apenas me proporciou aulas presenciais. Não quero dizer com isto que passei todo esse tempo apenas ouvindo o que um cidadão com PhD a quem é convencional chamarmos de "professor" tem para dizer sobre Foucault, Bowlby ou Freud, mas, de forma grosseira, que é só isso que a faculdade propriamente dita tem para oferecer ao seus estudantes. Francamente, é humanamente impossível apenas assistir aulas para ser um bom estagiário, quanto mais um bom profissional. Digo isto por que, com o tempo que passamos dentro do Instituto, perdemos perspectiva de quase todo o resto do mundo, que vibra, fala e faz coisas que nós muitas vezes nem ao menos imaginamos, envolvidos que estamos em discutir a cientificidade da Psicanálise ou da Psicologia.

Não me limitei às broxantes aulas presenciais, e fiz muitas outras coisas que a universidade, a academia como um todo e a "vida real" (por que vivemos em conto de fadas dentro da faculdade) me proporcionaram: fiz cursos extracurriculares, fui em congressos e em encontros estudantis, participei e participo de programas de pesquisa e extensão, troquei idéias com pessoas de todas as regiões do Brasil (sem exagero - sul, sudoeste, centro-oeste, nordeste e até mesmo norte) e li muito, não só os polígrafos que os professores disseram que deveríamos ler, como coisas que me interessam e sei que dificilmente verei em aula.

Não há uma coisa mais importante que a outra nesta pequena lista de coisas que fiz. Matricular-se e ser aprovado nas disciplinas é obrigatório se eu quiser ter um diploma de bacharel em Psicologia, mas não me torno um bom psicólogo apenas por comparecer às aulas. Aprendo com tudo que faço. Não é um processo linear e previsível, como uma "adição de conhecimentos" do tipo "Ler Freud = Saber Psicanálise Freudiana", por que poucas pessoas no mundo sabem citar de cor qualquer parágrafo de um livro, e os poucos que sabem talvez não saibam o que estão falando, e por que conhecimento puro e simples não tem muito valor. "Não sejam um vagão de munição, sejam uma espingarda!" já disse um professor de Carl Rogers, que foi muito influenciado por esta filosofia. Não acumulemos conhecimento por acumular, vamos aplicá-lo! Por isso, acho que o que aprendemos não é simplesmente jogado em um depósito mental e de lá retirado quando necessário, mas é integrado aos nossos processos humanos de mudança, modifica e é modificado pelos nossos pensamentos, emoções, motivações e comportamentos. O que aprendemos adiciona força ao que já sabíamos antes, mas não é uma adição puramente mecânica e simplista. Não sei qual seria a melhor forma de explicar isto, mas a imagem mental que tenho do processo de aprendizado é de uma bola de energia, que cresce cada vez que descubro algo novo, até o infinito.

Acho que isto tem muito a ver com a formação do psicólogo, não importa em que área ele atua ou venha atuar. Como disse anteriormente, a boa prática de nossa profissão depende muito fortemente da nossa personalidade, que deve ser moldada (ou amolada) constantemente para continuarmos sendo eficientes e eficazes. Dificilmente o que eu aprendi na faculdade terá uso na minha vida profissional, mas o fato de eu ter estudado, aprendido, assimilado certamente me influenciou, e me tornou cognitivamente mais capaz - em outras palavras, afetou a gestalt da minha personalidade, e essa gestalt em particular nunca se fechará, e estará sempre em mudança. E é essencial que assim seja, pois a própria humanidade muda com o tempo, e é necessário que mudemos juntos para podermos compreendê-la.

Se ficasse o tempo todo na faculdade, indo em todas as aulas mas sendo preguiçoso e lendo só o que eles dissessem para ler, e mais nada, eu certamente seria capaz de passar em todas as disciplinas (o que não é lá tão difícil no Instituto de Psicologia, onde um macaco bem treinado poderia se doutorar), mas ao chegar nos estágios, eu certamente sofreria bastante - afinal de contas, meu único referencial, o único lugar que busquei desenvolver meu repertório "psi" (detesto essa expressão, mas relevem) foi naquele antro de gente bitolada que é a faculdade! Talvez o estágio me salvasse e eu expandisse meus horizontes, mas ainda assim eu não seria a metade do profissional que eu poderia ser se tivesse ido mais vezes fazer programas como almoçar com o pessoal da Psicologia da UNISINOS, ou tomar nescau no corredor do alojamento do ENEP com umas baianas perdidas. Eu fiz isso tudo, e muitas outras coisas que não lembro mais. Certamente, não sou capaz de imaginar como eu seria, que tipo de psicólogo eu me tornaria se não tivesse participado de ENEPs, EREPs e tudo o mais. Mas tenho bons motivos para dizer que não seria tão bom quanto o que estou me tornando.

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