domingo, 31 de agosto de 2008

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 5)

Sorte de hoje: Não deixe que os amigos abusem de você. Trabalhe com calma e em silêncio.

Porque toda vez que vejo esta sorte a expressão "estupro consentido" vem à minha mente?

Um Sentido e algumas coisas aleatórias

Eu devia estar dormindo, pois já são 5 da manhã, e além de eu não ter nenhum trabalho de faculdade urgente por fazer, amanhã eu tenho que estar de pé e alerta às 10 da manhã, pois o caminhão com as tralhas da minha mãe chega mais ou menos nesta hora. O que me manteve acordado foi a necessidade de escrever um texto sobre a minha possível experiência de estágio, e como isto pode influenciar em minha formação. Não é frescura, mas necessidade mesmo! Chega um ponto em nossas vidas que coisas que antes eram apenas atividades de lazer tornam-se tão importantes quanto comer ou respirar. O Viktor Frankl conta, em um de seus livros, uma história que, quando da iminente evacuação de um campo de concentração, os prisioneiros esvaziaram as prateleiras da biblioteca do comandante do campo. Ele faz um comentário que, nessas horas, o espírito é mais importante que o estômago. Tenho que concordar com ele. Sinto-me muito mais satisfeito agora, por ter escrito algo que há tempos vem me incomodando, do que se tivesse ido dormir. É como se eu tivesse feito algo mais duradouro e importante para a humanidade ao privar-me do meu descanso que se tivesse sido indulgente comigo mesmo.

Also, eu escrevo frases mais compridas quando estou cansado.
Estou levemente chapado de sono. Levemente, apenas.

A Faculdade, os Estágios e Tudo Mais

O ensino superior, e os cursos de graduação de forma especial, tem entre seus principais objetivos a formação de profissionais capacitados para o mercado de trabalho. Isto envolve muitos fatores, como o ambiente de ensino, a relação com os professores, a teoria ensinada, a perspectiva de emprego após a formatura e o que se faz nos estágios. Isso tudo acaba por formar um certo tipo de personalidade - estudantes de Engenharia tornam-se mais metódicos com o tempo, estudantes de Filosofia mais questionadores, estudantes de Geologia tornam-se mais maconheiros. Claro, poderia-se afirmar que os cursos, devido às suas estruturas, já atraem pessoas com estes traços de personalidade, mas acredito ser inegável que com o tempo eles são reforçados e aprofundados.

Isto acontece de forma ainda mais dramática na Psicologia. Para ser um psicólogo, é necessário primeiro desenvolver uma personalidade sintonizada com o campo de trabalho, para poder utilizar com sucesso as técnicas ensinadas durante o curso. Por isso, acredito ser especialmente crítico os locais onde nos formamos enquanto "seres-psicólogos". Há dois tipos principais de locais de formação: a instituição de ensino e os locais de estágio. Também poderia incluir nesta lista os "locais e/ou oportunidades de extensão" e "grupos de pesquisa", mas como estes dois últimos geralmente são muito parecidos com locais de estágio, ou são muito ligados à instituição de ensino, preferi não diferenciá-los, apesar de também considerá-los de extrema importância para a formação do profissional em Psicologia.

A instituição de ensino nos influencia desde o primeiro dia de aula, até mesmo desde antes, como foi meu caso. Estudo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma das maiores e mais prestigiosas universidades do Brasil inteiro. Não acho que isto influencie positivamente na formação de melhores psicólogos, mas certamente forma um estilo de agir diferenciado. O Instituto de Psicologia onde estudo é relativamente isolado das demais unidades orgânicas (faculdades, institutos e escolas), mas é impossível fugirmos do fato de que estamos inseridos em uma universidade enorme e cheia de diferenças. Um bom exemplo disto é a maneira como o REUNI, projeto de expansão das universidades federais, leva estudantes de diversos cursos e campi a reunirem-se no DCE para discutir como ele está sendo implantado e quais serão as conseqüências futuras disto. Mas além disto e apesar de nosso relativo entrincheiramento, por estudarmos em uma universidade plural e gratuita, temos literalmente centenas de oportunidades para expandirmos nossas visões com pessoas de outros cursos e locais - seja fazendo eletivas no Campus do Vale, cursos de extensão no Campus Centro, ou simplesmente indo jogar sinuca no Diretório Acadêmico da Comunicação (DACOM) com os malucos do jornalismo. Certamente, uma pessoa que estuda na Universidade de Caxias do Sul (UCS) também tem muitas oportunidades de fazer coisas semelhantes, mas muitas destas serão mediadas e/ou atrapalhadas pelo fato da UCS ser um monstro parasita que suga dinheiro de seus alunos particular. Até é possível para um estudante de Psicologia fazer umas disciplinas da Biologia, só que daí sai mais caro, e não é muito convidativo. A Lady Hell não me deixa mentir quanto a isto.

As características do nossa unidade em particular também são de grande importância. No Instituto de Psicologia, recebemos uma formação teórico-filosófica muito mais sólida do que em muitas outras universidades, além de sermos enormemente incentivados a participarmos de pesquisas (talvez) inéditas e dos aspectos políticos e burocráticos de nossa formação. Eu, por exemplo, participo ativamente das políticas estudantis do Diretório Acadêmico de Psicologia (DAP), sendo membro da comissão responsável pela formulação e estruturação dos estágios curriculares e metendo o bedelho constantemente em assuntos diretamente relacionados com nossa formação, como qualidade das aulas e do material à nossa disposição, além de trabalhar como bolsista de Iniciação Científica do Laboratório de Fenomenologia Experimental, que lida majoritariamente com pesquisa básica (isto é, não aplicável diretamente a situações da vida real). Um exemplo de atividade de extensão em que participo é o projeto "Juventude em Cena", do qual sou monitor.

Todas estas experiências certamente marcam minha formação, e se alguma delas tivesse ocorrido de forma diferente, eu também seria diferente. Talvez muito diferente. Por exemplo, se ao invés de ter entrado na UFRGS, eu tivesse entrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), eu estaria envolvido por contingências sociais completamente diferentes: teria que pagar pela matrícula, seria um chinelão entre os ricaços, teria que pegar ônibus para ir e voltar das aulas, não teria conhecido as mesmas pessoas, estaria em uma instituição completamente diferente, e muitas outras coisas que sou incapaz de enumerar aqui. Outro bom exemplo é o ano de meu ingresso: entrei em 2007. Se tivesse entrado em 2006, eu seria colega direto do Bruno e do Marcelo, estudaria o currículo antigo e provavelmente teria me incomodado com o processo de reforma curricular. Da mesma forma que se tivesse ingressado em 2008, eu estaria muito mais tranqüilo, pois haveria à minha frente a turma de 2007 se ferrando (muito mais) com os imprevisíveis ajustes curriculares.

Bem, acho que estou fazendo digressões demais. O que quero dizer de fato é que, a mudança de um fator me tornará um estudante diferente, e no futuro, um psicólogo diferente. E para piorar a situação, sou incapaz de prever quão diferente serei, pois não posso executar um "programa de simulação profissional", que reuna todas as variáveis envolvidas, faça alguns cálculos e me apresente resultados sobre minha personalidade futura. Devo fazer a disciplina eletiva de Análise Experimental do Comportamento ou Pesquisa em Psicanálise? Dou preferência para os textos de Avaliação Psicológica ou Psicopatologia II? E aqui, chego no ponto que me levou a escrever tudo isto: e estágio, onde eu faço?

Os estágios influenciam nossa maneira de agir tanto quanto a instituição de ensino em si, mas de uma maneira qualitativamente diferente, pois, ao contrário da universidade, que é predominantemente teórica e envolta em uma "bolha asseptica" (há quem diga que é uma torre de marfim), nos estágios somos jogados no meio da sujeira da vida real, prática, onde os livros são de pouca ou nenhuma valia para nós. Talvez meu professor de Filosofia fique impressionado com o fato de eu ter lido "O Ser e o Nada" inteiro (não, eu não li nada), mas o médico que manda em mim no meu estágio no Hospital de Clínicas só vai achar isto interessante na medida que servir para alguma coisa, como varrer o chão ou fazer aquele pirralho chato parar de chorar. OK, estou exagerando um pouco, e tecendo muitas fantasias, pois nem comecei a fazer estágio ainda. Mas acho que não estou tão longe da realidade aqui.

Acho que a influência dos estágios também é mais crítica que a maior parte de nossas horas/aula por que, além de serem predominantemente práticos e realistas, nós escolhemos onde vamos fazê-los. Melhor dizendo, escolhemos onde queremos competir por uma vaga como estagiário, pois, excetuando o fato de que não somos pagos e não sabemos nada, é um trabalho como qualquer outro. Mesmo em um mundo ideal, onde pudéssemos estagiar no local que mais nos agrada, teríamos que escolhê-lo, e renunciar a todos os outros possíveis locais. Um local de estágio é, de certa forma, uma microcultura, com suas práticas, piadas internas e gírias, e é muito provavelmente irrepetível. O Marcelo esses dias me falou como há um cachimbo de crack pendurado na parede do seu posto de saúde, e que os residentes de Medicina com quem ele trabalha chamam bebês com menos de 1kg de "abortinhos"; o Bruno me falou como todos os estagiários do ambulatório onde ele trabalha podem prescrever receitas médicas; e eu mesmo poderia escrever um post inteiro sobre como eu fiquei rindo com meus "empregadores" na entrevista de seleção para bolsista e das minhas tentativas de fazer com que uma guria pare de chutar os outros no Juventude em Cena. As combinações de variáveis envolvidas em cada uma destas situações são únicas, e apresentam forças e fraquezas próprias. Não posso mudar o que já se passou comigo, e acho que mesmo se pudesse não o faria. Contudo, sou levado a pensar: onde devo fazer meus estágios curriculares?

Antes de tentar responder esta pergunta, devo dizer que não sei nem mesmo COMO serão meus estágios, burocraticamente falando. Teoricamente, eu já deveria estar fazendo o Estágio Básico I, que seria uma introdução ao campo de trabalho, mas isto foi adiado para o próximo semestre, pois não se sabia como esta introdução seria feita - e ainda não se sabe. Mais para o final do curso, terei que fazer os estágios de ênfase. Estes, apesar de já serem um pouco mais estruturados por "canibalizarem" os estágios curriculares do antigo testamento currículo, serão provavelmente muito modificados, graças à uma resolução do Conselho Nacional de Educação, que corta o número de horas de estágio do nosso currículo em praticamente dois terços. Assim, qualquer coisa que falar aqui pode mudar de uma hora para a outra. Isso dá um sabor de aventura para a faculdade, mas não deixa de ser uma bela merda também quando se quer predizer qualquer coisa a nosso respeito. Outra coisa que torna meu exercício de olhar no futuro um tanto quanto inconsistente é o fato de conhecer poucos locais onde o pessoal faz estágio. Ainda assim, falarei o que sei a respeito deles, e o que os torna atraentes ou não para um futuro estagiário como eu.

O local de estágio mais clássico para estudantes de Psicologia de Porto Alegre é o Hospital Psiquiátrico São Pedro, vulgo "Glorioso" (porra nenhuma). É cheio de história, coisas por fazer e internos que provavelmente morrerão ali dentro, além de ser um prédio absolutamenta pavoroso para se andar à noite. O que não me atraí nele é o fato dele estar intimamente ligado aos Departamentos de Psicanálise e Psicopatologia e de Psicologia Social e Institucional. Ou seja: é um antro de psicanalistas e esquizoanalistas.

Outro local de estágio clássico para os estudantes do Campus Saúde é o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o maior da rede pública municipal (não sei se esta afirmação é correta por fazer parte da autarquia federal que é a UFRGS). Devem existir muitas seções, departamentos e serviços interessantes para conhecer ali dentro - o que um estagiário poderia muito bem fazer - mas dois chamam minha atenção mais fortemente: o Serviço de Psiquiatria e o Serviço de Neuropsicologia. O primeiro por ser, sem exagero, um importante centro mundial de pesquisas em saúde mental, e o segundo por ser oferecido explicitamente como local de estágio para nós, e uma inesgotável fonte de interesse para mim. Contudo, o HCPA me parece um pouco menos atraente justamente por ser parte da UFRGS e provavelmente compartilhar de seu modo de pensar. Claro, não há só psicólogos por lá, como também enfermeiros, nutricionistas, (principalmente) médicos, farmacêuticos e muitos outros tipos de profissionais que sou preguiçoso demais para ficar imaginando (terapeuta floral não deve ter). Isto certamente deve dar ao HCPA um clima mais pragmático e aberto, mas posso estar muito enganado. Seria um local perto de casa, pelo menos.

As duas "cerejas do bolo" são o Instituto Psiquiátrico Forense (IPF) e o ambulatório coordenado pelo meu professor de Genética, o Renato Flores. Acho o IPF altamente interessante justamente por não ser uma instituição de saúde mental, mas um presídio para criminosos que foram consideradospsicologicamente deficitários ou doentes, mas ainda perigosos demais para um hospital geral ou psiquiátrico. Em outras palavras, loucos perigosos. OK, talvez não, mas com certeza meu pai vai ter um treco quando ler que eu cogito pleitear uma vaga de estágio num local cheio de assassinos mais mentalmente instáveis do que assassinos costumam ser. O IPF tem dois problemas em potencial: o primeiro deles é que não sei se vou me relacionar com os internos ou ficar só cuidando da papelada para os psiquiatras. Acho que é óbvio que, se quero voluntariamente estagiar em um local cheio de loucos ditos perigosos, não é pra cuidar da burocracia. Saber se este problema é real ou não é fácil, pois uma veterana minha já está fazendo estágio lá, e basta perguntar para ela qual o trabalho de estagiário por lá. O segundo problema é mais complicado: por questões burocráticas, talvez a vaga no local cesse de existir. Como não tenho informações mais precisas a respeito disto, prefiro não fazer nenhum comentário.

O ambulatório do Renato Flores localiza-se no Campus do Vale, anexo ao prédio do Departamento de Genética, e atende basicamente casos de violência e doenças genéticas. Só isto já seria o bastante para despertar meu interesse, mas o fato dele ser cordenado pelo Renato Flores o torna fascinante. Não que o Flores seja bonito ou algo assim. Beeem pelo contrário. Mas a personalidade dele lembra muito a do Dr. House. Ele tem um advogado à disposição do ambulatório, e o último e-mail que recebi do professor sobre as aulas de genética terminavam com a frase "Nós vamos acompanhar a situação e , caso não ganhe a cadeira vamos entra na justiça para defender o direito do guri". CA-RA-LHO. Só pode ser empolgante trabalhar num lugar assim. Mas talvez eu esteja idealizando, e seja tudo uma bela merda (o Bruno provavelmente poderia me esclarecer este fato, e na verdade, já esclareceu essa semana, quando me disse que começou a receber casos cada vez mais escabrosos. E "escabroso" no meu léxico é sinônimo de "foda" e "divertido"). Virtualmente, é um local de estágio perfeito, excetuando-se o fato de estar encravado no meio do território da UFRGS, e, talvez esteja impregnado demais com a "Urguianidade" que me cerca no Instituto de Psicologia (se bem que deve ser difícil).

Também existe a possibilidade de fazer estágio em uma das muitas clínicas psicológicas particulares espalhadas pela cidade, como o Instituto Delphos de Psicologia Humanista, o Instituto Wilfred Bion de Psicanálise e a Clínica WP, só para ficar nas que eu lembrei agora. Eu provavelmente entraria em contato com muitas pessoas diferentes e exerceria o papel de psicoterapeuta, o que já é interessante em si, mas não veria muito mais do que isto. Em outras palavras, seria uma experiência pobre em estímulos distintos, e um hiperativo como eu quer novidades.

Por fim, o último local de estágio que consigo pensar são os postos de saúde. O Marcelo estagia num desses. Não me parecem ser especialmente interessantes, simplesmente por serem comuns e com poucos atrativos. Metaforicamente, se eu fosse uma criança, o IPF ou o ambulatório do Renato Flores seriam uma loja de doces e um parque de diversões, enquanto o posto de saúde seria uma biblioteca. Obviamente a loja de doces (com cartão) e o parque de diversões são muito mais atraentes e encerram muitas possibilidades em si mesmas. Mas isto não significa que eu não possa aprender muito mais na biblioteca se eu me aplicar para tanto. Claro, quem me conhece atualmente com certeza diria que eu preferiria os livros aos doces e aos brinquedos, mas não sou capaz de dizer se um possível estágio em posto de saúde seria tão positivo quanto imagino que os outros dois locais seriam. O Marcelo me relata casos interessantes que ele vê lá, e discussões com os residentes de Medicina que não encontram igual em nenhum outro lugar da UFRGS, quiçá de Porto Alegre. Pode ser que eu acabe num destes, e goste muito da experiência. Sei lá.

Colegas que leram este post, especialmente vocês dois que eu citei ad nauseam, deixem seus comentários a respeito do que disse aqui, especialmente se vocês discordarem de algo!

sábado, 30 de agosto de 2008

Músicas Bonitas

Posto aqui uma das músicas mais marcantes da trilha sonora do filme "Gladiador" - "Now We Are Free". A letra não faz sentido algum (especialmente se levarmos em consideração que a cantora inventou a língua em que canta), mas continua sendo muito bonita.

Criatividade

Quando pensamos em criatividade ou invenção, pensamos em um processo linear, com início, meio e fim determinados, em ordem certa e invariável. Bem, penso que este modelo é muito limitado, pois acredito que muito poucas pessoas trabalham desta maneira.

Meu próprio processo criativo é bastante confuso, se comparado com este modelo ideal. Não há um começo pré-determinado, apenas um fim – que é quando eu termino de escrever, desenhar, pintar ou o que quer que seja. O começo do meu processo criativo pode se dar com a leitura de um livro, que leva uma idéia a pipocar na minha mente. No caso dos textos, é geralmente uma máxima filosófica ou afirmação categórica que faz todo sentido para mim. Eu poderia escrevê-las aqui no blog como as imagino originalmente, mas talvez elas fiquem carentes de sentido. Começo, então, a pensar em todo um corpo de texto que introduza o assunto, exponha meu ponto de vista expresso pela máxima e minhas justificativas para acreditar nisto. Vou imaginando os argumentos com o tempo, e se estou perto do computador ou com papel e caneta em mãos, os escrevo. Às vezes, consigo imaginar textos inteiros em minha mente, mas os esqueço por não conseguir escrevê-los em material mais permanente do que meu fluxo de consciência, ficando apenas a máxima que iniciara tudo. Quando chego no computador, preciso, a partir dela, reconstruir tudo, e poucas foram as vezes que consegui reconstituir perfeitamente a idéia anteriormente perdida.

Acho que o processo criativo é mais complicado que isto. No livro “Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers relata o depoimento gravado de um de seus clientes sobre justamente isto que estou falando. Este cliente relata que criar alguma coisa é um processo muito parecido com revelar uma foto (à moda antiga, já que na década 1950 não existiam máquinas digitais): você embebe o papel especial naquele líquido estranho. A imagem começa a se formar em um ponto, e vai se espalhando pelo papel, até ocupá-lo por inteiro e tornar-se um todo coerente e integrado. Ele expressou de uma forma bela e precisa algo que há tempos já imaginava, mas nunca conseguira pôr em palavras. Bonito, não?

Humildade e Verdade

Acredito que foi Descartes que disse pela primeira vez, no Discurso do Método, que o “bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: todos estão convencidos de terem o suficiente”. Não sei qual foi sua intenção original ao escrever isto, mas atualmente soa como uma fina ironia – pois mesmo os psicóticos se crêem as criaturas mais sãs do universo.

Acredito que esta fé absoluta na razão, esta crença de que somos plenamente capazes de entender e resolver qualquer coisa é uma das maiores fontes de miséria humana. Esta quinta-feira fui surpreendido por uma afirmação de um colega meu. Durante nosso percurso entre a parada de ônibus e o RU, ele disse que “quem faz filosofia não tem senso crítico, mas quem faz ciência tem”. Obviamente, ele se intitula um cientista. Alguns segundos depois ele reviu sua posição, já que eu e outro colega meu despejamos argumentos contrários, e ele fora forçado a ver que toda a ciência repousa sobre a base de uma metateórica filosófica. Ainda assim, esta afirmação evidencia o que acredito ser justamente a falta de senso crítico de meu colega. É tão garantido para ele estar certo que todos os outros sempre estarão errados, por mais absurdas que sejam suas próprias opiniões (do meu colega, entenda-se). Fiquei um tanto quanto indignado com isto, pois me é inconcebível ter tamanha certeza. Mas isto também me levou a pensar: até que ponto eu não faço o mesmo?

Ontem tive uma prova incontestável da minha prepotência. Já afirmei várias vezes que sou arrogante, mas nunca antes experienciei isto como tão verdadeiro e profundo. Em outras palavras, nunca me senti tão humilde, e tão necessitado de humildade quanto ontem. Trouxe-me à consciência, mais uma vez, a necessidade da honestidade, pois é impossível ser humilde sem ser absolutamente honesto. Muitas vezes nos enredamos em filosofias solipsitas e radicalmente relativistas não por que realmente acreditamos nelas, mas por que elas nos tornam invulneráveis a críticas e a erros. Torna-nos “perfeitos”. Mas que perfeição é esta? A verdadeira honestidade, como eu a vivencio, não é complacente nem justificadora: é absoluta. Desconfie de alguém que tem sempre respostas e justificativas para tudo, pois em algum momento ele estará errado, mas não terá coragem de admitir e mentirá. Para ele, é preferível manter a imagem idealizada de si mesmo do que buscá-la – a busca envolve dor, ao passo que a idealização consiste meramente em ficar sentado sonhando. Uma pessoa honesta, por outro lado, admitirá antes de mais nada que ela mesma não é honesta, que em algum momento ela invariavelmente cairá na fraqueza de justificar-se, e que é necessário estar sempre atento para não sustentar uma ilusão egoísta.

Não sei definir ao certo se a honestidade é decorrente de um profundo desejo de conhecer a verdade, ou se desejamos conhecer a verdade por que somos honestos. Muito provavelmente sejam as duas coisas. Posso, contudo, dizer que quanto mais ilusões abandonamos, mais capazes de identificar erros nos tornamos, e mais próximos da verdade chegamos.

Treino e Fluxo

Ontem no treino tive uma sensação curiosa. Ela era mais empolgante ali no momento, sendo que contá-la aqui, depois de tantas horas passadas após ter acabado, não faz justiça ao que senti.

Professor de Kung Fu é bicho sádico. Eu imagino que eles não dormem à noite, pois ficam maquinando e imaginando novas e dolorosas formas de treinar seus pupilos. Deve existir uma revista especializada nisso, que só professores com mais de 10 anos de cátedra podem assinar!

Ontem, depois do aquecimento, do alongamento e dos treinos de forma de praxe, o professor ordenou “todo mundo vai lá pegar dois tatames e montem aqui, a parte áspera para baixo e a parte lisa para cima”. Eu já treino há tempo o suficiente para poder imaginar que nada de bom pode vir depois de uma ordem dessas. Exclamei um impotente “ai” e fui pegar meus dois tatames e montá-los. Como eu bem imaginava, seria um intensivo de rolamentos. Para quem não sabe, “rolamento” é uma classe de técnicas usadas para cair no chão sem se machucar, e imediatamente se levantar. Elas foram idealizadas para situações de risco de vida, especialmente brigas, e as treinamos de forma tal que, quando for necessário, sejamos capazes de cair, levantar e bater... ou correr, o que for mais conveniente. Este intensivo é famoso por ser cansativo ao ponto de ser alucinógeno (tente ficar rolando de um lado para o outro no chão sem ter algum tipo de delírio).

Lembro-me que, quando treinava em Caxias ainda, havia as aulas específicas de rolamento, que ocorriam quando o professor bem entendia. Estas não eram intensivas, mas extensivas, e tomavam toda uma hora. Eu tinha medo destes dias. Rolamentos envolvem cair, e cair envolve a força da gravidade, que, se mal administrada, causa dor. Oh sim, eu conheço a dor de cair repetidas vezes. Uma das piores idéias que já tive foi ir treinar dois dias de rolamentos seguidos, na quinta e na sexta-feiras. Passei um fim de semana inteiro dormindo de bruços e tomando na bunda analgésico.

Ontem eu não tive muito tempo para sentir medo. Eu simplesmente montei meus tatames, e, ao comando do professor, caí e me levantei de novo. Em minha mente não havia nada, apenas a sensação dos movimentos. Se errava alguma coisa, analisava rapidamente o que precisava concertar e aplicava na próxima tentativa. Não existia lugar para medo, insegurança, hesitação ou alegria. Tudo isto era irrelevante diante dos rolamentos.

Depois que terminamos o intensivo, estávamos cansados, e certamente alguns de nós ficaram doloridos e com hematomas, especialmente os mais novos. Curiosamente, não acredito que isto tenha acontecido apenas por não saber executar o movimento físico perfeitamente, por “inexperiência pura”, por assim dizer. Tenho a impressão de que foram aqueles que temeram a dor e o ferimento que mais sentiram dor e se machucaram, pois sua atenção estava por demais tomada para prestarem atenção nos próprios movimentos. Engraçado como o medo, que surgiu ao longo de bilhões de anos de evolução como um mecanismo de proteção e sobrevivência, seja aqui o responsável por aquilo que tentara evitar.

Findo o treino, os exercícios e tudo o mais, voltei para casa. Estava feliz com o treino do dia, pensando como fora produtivo. Foi então que me ocorreu que não me sentira feliz durante quase nenhum momento do treino, e tampouco triste ou assustado. Percebi que passara o tempo inteiro concentrado no momento à minha disposição para agir, na minha ação. “Oh meu Deus” pensei comigo mesmo “passei o treino inteiro em fluxo”.

Eu adoro o Kung Fu.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

You've been falsified!

Karl Popper strikes again! Acabo de descobrir que o anônimo do post sobre atenção, de fato, era alguém que eu não esperava ter comentado. Com isso, minha hipótese de que as pessoas não lêem meu blog por que são preguiçosas e/ou desatentas foi por água abaixo. E, com isso, experimentei o que o Marcelo chama de "a alegria de ser falseado". Eu tenho que admitir que um dos meus pecados é a arrogância. Eu subestimo os outros e superestimo a mim mesmo. Essa pessoa não só me provou errado, como provou que estava errado faz muito tempo, por que já lê o blog desde muito antes de eu escrever aquele post! Mas, ao contrário do que poderia se pensar, eu fiquei muito feliz de estar errado, pois, além de perceber que posso ter mais leitores do que imaginara originalmente, a pessoa que me falseou é muito especial. Não vou dizer quem é, pois vou deixar nas mãos dele ou dela fazer isto.

Este acontecimento trouxe à tona o meu empolamento, e a fragilidade dele também. É algo que preciso trabalhar e transcender. Que este post seja apenas o primeiro de muitos passos em direção de uma maior humildade.

Outra perguntinha

Agora uma outra pergunta para quem lê este blog: sobre o que eu poderia escrever para o próximo post? Estou sem idéias no momento. Sinto-me mais tranqüilo no terreno das Ciências Humanas e Sociais, e um pouco menos seguro com Neurociências e Biologia, mas agüento o tranco. A coisa fica mais complicada com Ciências Exatas tipo Física ou Matemática, mas se for do interesse coletivo, eu posso estudar um pouco e fazer algo interessante (se bem que Matemática pura não me parece lá muito interessante). Deixem um comentário neste post e falem o que lhes parece mais interessante ^^

Uma perguntinha

Trago boas notícias. Recentemente, consegui uma bolsa de Iniciação Científica no Laboratório de Fenomenologia Experimental. Isto significa muitas coisas, mas a principal é a que eu vou ganhar dinheiro. E isto encerra um problema em si mesmo. No final de setembro, receberei meu primeiro salário, e para inaugurar minha entrada no mundo dos trabalhadores escravos assalariados, gostaria de gastar meu primeiro salário em alguma coisa interessante. Pensei em comprar livros, mas gostaria de outras sugestões. Então, por favor, querido leitor, deixe um comentário respondendo à pergunta "no que o Andarilho deveria investir seu primeiro salário?" Antes de mais nada, já digo o que não vou fazer: gastar tudo em trago, comer em uma churrascaria, ir pra zona. Se alguém tiver uma sugestão de livro específica, também será bem vinda. Para dar uma delimitada nas sugestões, informo que meu salário é em torno de 300 reais, e que estou disposto a gastar tudo, já que pouparei todos os salários subseqüentes para uma pequena viagem que pretendo fazer.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Atenção (Parte 2)

Já falei aqui que fico pasmo com a falta de atenção alheia. O que mais me impressiona é a quantidade de pessoas com conta no Orkut, e quão poucas delas realmente verdadeiramente olham o perfil dos outros. Digo isto por que, até onde eu sei, ninguém descobriu este blog pelo meu perfil, apesar de tê-lo colocado em relativa evidência.

Eu também falo com alguma freqüência aqui dos meus problemas com gurias. Basicamente, já não tenho mais dificuldade com elas, seja na hora da aproximação, seja no "pulo do gato". Para ser sincero, não sou ruim nessa brincadeira (especialmente se me comparar comigo mesmo três ou quatro anos atrás, quando a própria idéia de flertar me assustava). O que realmente me incomoda é quão difícil é encontrar alguém que me acompanhe. Melhor dizendo, é difícil encontrar alguém compatível comigo. Não sei explicar, mas parece que eu ando em uma freqüência diferente do resto do mundo, e é realmente difícil encontrar mais pessoas que estejam na mesma sintonia fina. A atenção é uma das características que marcam esta diferença, pois, até hoje, nenhuma das gurias em que estava interessado foram capazes de encontrar por conta própria este blog. Por que? Não sei. Mas não é por que escondi o link. Se uma amiga minha entrasse no meu Orkut, visse o link, clicasse, lesse e deixasse um comentário "Oi! Esbarrei no teu blog no Orkut!" ela realmente subiria no meu conceito.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dia do Psicólogo

Hoje, oficialmente, é o Dia do Psicólogo. Já fiz um long post a respeito da (falta de) importância da nossa profissão, e acabo de voltar de uma palestra na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) sobre o mesmo assunto. Contudo, acho que mais um questionamento cabe ser feito. Na última aula de Ética, perguntei o que impedia a Psicologia de se tornar um curso de graduação para charlatões e aproveitadores.

Primeiro, quero deixar claro que acho nossa profissão de extrema importância, não por sermos capazes de fazer coisas que ninguém mais é. Pelo contrário, frequentemente tenho que ouvir piadinhas sobre como terapia é uma enganação, e que seria melhor pagar 10 reais para um amigo ficar te ouvindo do que ir num psicólogo. Nossa força reside na nossa trajetória de formação, cuja gestalt nos torna capazes de realizar muitos serviços e trabalhos diferentes em vários contextos, e de conseguirmos, até um certo ponto, darmos uma certa unidade para tudo isto. Em outras palavras, o psicólogo é o coringa do baralho, especialmente entre as profissões da saúde. Mas cheguei à esta conclusão depois de muito refletir, e tenho a impressão de que é justamente esta reflexão que falta aos meus colegas de faculdade e muitos psicólogos formados. Para eles, a importância de nossa profissão é auto-evidente.

René Descartes é muito criticado no nosso meio, principalmente por causa de sua filosofia racionalista. Mas há uma parte da filosofia dele que não deve nunca ser esquecida: a Dúvida Metódica. Duvidar de tudo, a não ser que tenhamos um bom motivo para acreditar. Muitas vezes esquecemos de que nossas teorias, no final das contas, são só um amontoado de hipóteses. Úteis, sem dúvida, mas esperando serem falseadas. Antes de concluir que a Psicologia é verdadeiramente útil, eu preciso ter um motivo, e para encontrá-lo, preciso pensar o que seria do mundo se não existissem psicólogos ("a better place" diria um veterano meu). Depois dos médicos, somos a classe mais corporativista da área da saúde. Nosso Conselho Regional frequentemente está envolvido em campanhas que, se bem sucedidas, garantem uma maior reserva de mercado e aumentam o "nosso" poder. Poderiam me perguntar se esta não é uma das funções do CRP, e se os outros conselhos profissionais não fazem o mesmo. Bem, tenho que admitir que, excetuando o CREMERS, cuja atuação contra a Reforma Psiquiátrica eu vi espalhada por inúmeros outdoors pela cidade, não conheço nenhum outro conselho profissional, como o de Odontologia, Enfermagem ou Fonoaudiologia. Apesar da minha blatante ignorância, também seria forçado a admitir que todos estes conselhos praticam a política do "farinha pouca, meu pirão primeiro", e que o CRPRS apenas tenta manter nossa classe com condições dignas de trabalho praticando a mesma política. Não deixa de ser errado. Ou dez homens estuprarem uma mulher é mais aceitável do que só um estuprar?

Estas comemorações do Dia do Psicólogo sempre são recheadas de eventos interessantes, mas todos são até certa medida auto-aduladores. "Yay! Viva nós, e nossa extrema importância para a sociedade, que seria apenas um amontoado de lixo sem nós!" é basicamente o que se vê por aí, de forma mais sutil. A própria palestra do dia tinha como título "O que é Ser-Psicólogo?", e todas as palestrantes falaram partindo do pressuposto de que somos essenciais. Mas será que somos mesmo?

Que a Psicologia cumpre um papel na nossa sociedade é óbvio: sua própria existência atesta este fato, e se ela se tornasse completamente inútil, ela desapareceria. Mas da mesma forma que psicólogos, jornalistas, astrólogos e traficantes também cumprem um papel - que não necessariamente corresponde às fantasias de classe. Um traficante de cocaína pode se ver como o "Libertador da Favela", mas não passar de um assassino. A mesma lógica vale para os psicólogos. Somos realmente "médicos da alma", "portadores do archote", "guias do crescimento pessoal" como gostamos de acreditar? Ou não passamos de farsas, que ganham dinheiro em cima dos outros usando conhecimentos falsos e enganadores?

Esta não é uma pergunta fácil, e não há uma resposta universal: cada psicólogo deve encontrar a sua verdade. Se, ao se questionar isto, chego à conclusão de que a Psicologia não vale a pena, devo procurar outra profissão, pois caso contrário serei um péssimo psicólogo. E, devo ser sincero, vejo muitos motivos para dizer que meu curso e futura profissão fede. Mas, se mesmo com todos estes deméritos, ainda acreditar que há algo para se fazer com a Psicologia, que ela pode criar um mundo mais justo, caia de cabeça, estude e invista na sua formação, por que realmente vale a pena! Apesar de todas as minhas dúvidas e queixas, eu acredito que a profissão mais digna para mim é a de psicólogo, não importa o que eu faça futuramente com meu diploma. Porque? Não sei. Este é meu enigma, e provavelmente passarei minha vida tentando sem sucesso solucioná-lo. Mas outras pessoas, outros colegas meus podem encontrar respostas absurdamente diferentes para esta pergunta. Um amigo meu concluiu hoje, depois da aula de Neuropsicologia, que ele estaria melhor se estivesse cursando Engenharia Elétrica. Vou sentir falta dele, tanto em aula quanto nos intervalos, se ele realmente pular fora. Mas, ei, esse é o enigma dele, e eu não tenho direito de intervir. O que considero inaceitável é assumir que a Psicologia tem um valor intrínseco inalienável. Não, não tem.

Com este post "comemorativo", não quero desancar nem elevar a Psicologia às alturas. Desejo apenas lançar uma provocação para quem quer que leia este blog e que esteja envolvido na mesma área que eu. Desconstrua o que você sabe sobre os psicólogos, a faculdade e todos os livros que lemos. Veja que não há nada eterno e sagrado por trás deles. Mas reconstrua tudo de novo, e encontre um novo e pessoal sentido para tudo isto. Feliz Dia do Psicólogo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Dias de Paz, Dias de Luta (Parte 2)

Detesto matar treino, especialmente na academia. É sinal de apatia garantida no dia seguinte. Mesmo o pior dos treinos (menos produtivo) é melhor do que a melhor das lagarteadas, e poucas vezes deixei de treinar e senti que valeu a pena. Hoje foi uma destas raras vezes. Aconteceu a primeira reunião do DAP deste semestre. Ao contrário das outras reuniões em que fui, pelo menos 10 bixos participaram também.

Gosto de ir treinar por que sinto-me reenergizado pela ação. Não precisei ficar correndo e socando hoje - a reunião já me deu esta energia.

Claro, não deixei de ser realista. Dos 10 bixos presentes hoje, só 3 continuarão comparecendo. And I'm pushing it. Talvez esperar que um deles continue vindo já seja demais. Mas foi bom ver que não estou tão sozinho quanto imagino às vezes.

The storm is coming...

Um retrato melancólico dos meus últimos dias antes do furacão branco passar pelo meu apartamento. Oh, the humanity!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O Ser-Psicólogo

Estimulado pela leitura dos textos da disciplina de Ética, recomecei a pensar em uma questão que tem me atormentado desde o primeiro semestre da faculdade: para que serve um psicólogo? Segundo o decreto de 1962 que regulamenta a nossa profissão, é da alçada do psicólogo:

1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de:
a) diagnóstico psicológico;
b) orientação e seleção profissional;
c) orientação psicopedagógica;
d) solução de problemas de ajustamento.

2) Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos,
paraestatais, de economia mista e particulares.

3) Ensinar as cadeiras ou disciplinas de Psicologia nos vários níveis de ensino, observadas as demais exigências da legislação em vigor.

4) Supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de Psicologia.

5) Assessorar, tecnicamente, órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais, de economia mista e particulares.

6) Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia.


Sendo brutalmente honesto, é bem possível que outros profissionais realizem estas funções de forma tão ou mais satisfatória que muitos psicólogos: psiquiatras, neurologistas e médicos em geral passam muito mais tempo estudando e poderiam muito bem fazer os diagnósticos e orientações do item 1, dirigir os serviços de Psicologia do item 2, ensinar as cadeiras do item 3, supervisionar os profissionais e alunos do item 4 e realizar as perícias do item 6. O que sobrasse poderia ser deixado ao encargo de assistentes sociais e enfermeiros, tornando absolutamente desnecessária a demanda pela criação de uma classe profissional inteira. Mas não foi assim que as coisas aconteceram.

Antes de mais nada, devo dizer que a única atribuição exclusiva dos psicólogos é o item 6, sendo que quase todos os outros profissionais ligados de uma forma ou outra à área da saúde mental podem realizar as demais atribuições. Certamente psiquiatras podem dar aulas de Psicologia e fazer diagnósticos, assim como assistentes sociais podem dirigir serviços de saúde mental como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). É questionável e combatido se mesmo o item 6 deva ser atribuição exclusiva da nossa classe. Sendo assim, não é tão alienígena pensar que o profissional estrito senso da Psicologia seja dispensável. Mas, por uma miríade de motivos, ele não é.

De fato, médicos especializados como neurologistas e psiquiatras passam mais tempo estudando, fazendo faculdade, residência e especializações do que os psicólogos, sendo assim melhor qualificados para o trabalho, pelo menos em teoria. Ainda assim, seria simplesmente perverso deixar tudo na mão dos médicos e dar atribuições apenas secundárias para outros profissionais, por que o longo tempo de estudos os impede de praticar a profissão em tempo integral, e se apenas psiquiatras fossem responsáveis pela saúde mental, provavelmente teríamos uma crise no atendimento de doentes mentais. Os pacientes internados em instituições psiquiátricas, na sua maioria psicóticos, certamente sofreriam, pois, como não haveria médicos o suficiente para os atender, seriam negligenciados e provavelmente tratados como animais. Isto acontece ainda hoje. Mas seriam as pessoas normais, os neuróticos (1), que seriam mais afetados, pois não haveria psicoterapeutas o suficiente para atender a todos. Além disso, a classe médica é extremamente corporativista, muitas vezes priorizando seus ganhos em detrimento do bem dos pacientes. Não seria bom que uma área tão importante como a saúde mental dependesse inteiramente deles (2).

Historicamente, a Psicologia é uma ciência puramente aplicada. Wundt, Fechner, Helmholtz e a maioria de seus precursores preocupava-se com questões bastante abstratas, como a consciência e os sentidos. Só durante a 2ª Guerra Mundial, onde os psicólogos foram empregados em larga escala pelas forças armadas dos EUA para selecionar soldados (3), e depois dela, com milhões de ex-combatentes de volta em casa com transtornos de comportamento (o mais proeminente deles sendo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático), é que os departamentos de Psicologia das faculdades deixaram de ser redutos de pesquisa pura e se tornaram locais de treinamento de psicoterapeutas e avaliadores psicológicos, que auxiliariam e cooperariam com os psiquiatras na cura das doenças mentais (4). No Brasil, que não esteve tão diretamente envolvido na 2ª Guerra quanto os EUA, o processo foi um pouco diferente, mas também envolveu uma maior necessidade de pessoas aptas a trabalharem com problemas mentais.

E, apesar de até um certo ponto emular a Psiquiatria, a Psicologia é algo completamente diferente. Um de meus professores diz que nós somos os estudantes que mais sofrem de crises de identidade, pois desde o início do curso somos bombardeados por escolhas que virtualmente irão influenciar nossa carreira. Como um outro professor disse, só o nosso currículo tem disciplinas de Filosofia e Fisiologia (5). Estamos ali no meio de tudo e de todos, entre as Ciências Naturais, as Ciências Sociais, as Humanidades e a Religião (6). É uma verdadeira bagunça.

Em seu texto “A Preparação do Psicólogo: formação e treinamento”, Luiz Cláudio Figueiredo (7) faz uma diferenciação entre o treinamento técnico e a formação do psicólogo. O treinamento seria o ensino e prática de técnicas profissionais específicas, como a aplicação de testes psicométricos e a psicoterapia. É necessário, mas não suficiente ensinar estes conhecimentos para ter um bom profissional no final da faculdade, pois em profissões que lidam diretamente com seres humanos, tecnólogos são inúteis, ou até mesmo prejudiciais. É necessário formar o espírito do futuro psicólogo, torná-lo capaz de refletir sobre como, quando, como e por que aplicar (ou não) as técnicas que lhe foram ensinadas. Para forjar “Ser-Psicólogo”, Figueiredo acha importante que existam disciplinas formativas (8), que ajudariam a “elucidar o que está implicado em nossos fazeres, ajudar a esclarecer nossos lugares e convocar-nos para nossas posições” (9). Temos algumas destas disciplinas no nosso currículo, mas não acho que sejam elas que nos formem. De fato, elas são fóruns onde podemos discutir mais clara e abertamente, junto com nossos colegas e professores, as problemáticas que nos assombram, mas em última análise, todo o curso o é também. Não é uma ou outra disciplina específica que nos torna psicólogos, mas toda a gestalt (10) universitária em que estamos inseridos, que engloba nossas aulas, os conflitos teóricos entre professores e departamentos, e também as idas aos bares, as festas, as caminhadas até a parada de ônibus e todas as discussões, intra e interpessoais, que temos nestes contextos que acabam por formar este “Ser-Psicólogo” em nós, que (idealmente) nos torna capazes de serviços tão díspares como Recursos Humanos (11) e Psicoterapia.

Preciso ser honesto e admitir que não respondi minha pergunta inicial: para que serve um psicólogo? Eu enumerei vários motivos contrários à dissolução da Psicologia e suas atribuições em diversas outras profissões, mas não dei um único motivo para mantê-la como tal. Por que precisamos de psicólogos na nossa sociedade, e o que nos torna verdadeiramente úteis? Esta pergunta pode parecer um tiro no pé (12), mas todo e qualquer estudante sincero consigo mesmo deve fazê-la, esteja cursando Psicologia, Medicina ou qualquer outro curso que seja. E preciso admitir que não há nem ao menos um bom motivo para afirmar que o psicólogo é absolutamente indispensável. Contudo, há algo que não posso negar: em nossa sociedade, temos muitas pessoas que, apesar de terem a sua disposição todos os bens materiais possíveis, ainda assim estão perdidas, seja mentalmente ou espiritualmente. E, neste estado, são acometidas de diversas moléstias que, apesar de não serem explicitamente biológicas, ainda assim causam grande sofrimento. E para saírem desta situação, elas precisam da ajuda de outros, pois alguém precisa portar o archote que lhe iluminará o escuro caminho à sua frente. Apesar de acreditar que qualquer um possa ajudar o próximo a encontrar o seu caminho, são aqueles que buscam a Psicologia como profissão que mais ativamente se empenham para tanto. Pensando sobre qual é a principal missão de todo o psicólogo, cheguei à conclusão que é ser o guia para a mudança humana, para o crescimento e para a auto-realização. Disse anteriormente que não vejo nenhum motivo para afirmar que o psicólogo é absolutamente indispensável. Devo fazer uma pequena correção: nossa profissão pode ser dispensável, e pode ser até que venha a desaparecer no futuro, mas ela tem um propósito, e este propósito existirá enquanto a raça humana viver, e ele justifica a existência dos psicólogos.

O que acredito ser a missão da Psicologia é, no final das contas, a missão que acredito que todos nós partilhamos: ver, com clareza crescente e cada vez mais, a Verdade Absoluta, mesmo que no fim ela não passe de uma miragem.


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1. Pessoalmente, acho o termo “neurótico” bastante antiquado e datado, mas o utilizo no texto por ser amplo o suficiente para abranger todos os transtornos não-psicóticos, e por ter caído no senso comum como significando algo perturbado e não saudável (“minha mãe é neurótica por causa da limpeza”).

2. Não que todos sejam assim, mas o CREMERS (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul) é tinhoso, e o Conselho Federal de Medicina não fica atrás. Basta perguntar para qualquer profissional da área da saúde sobre o projeto de lei do Ato Médico, ou da Reforma Psiquiátrica.

3. Acho que esta prática começou ainda na 1ª Guerra Mundial, mas não tenho certeza.

4. Por isso que, por muito tempo a Psicologia foi praticamente uma cópia da Psiquiatria, buscando apenas curar as doenças, e não melhorar o medíocre.

5. Curiosamente, os professores que disseram isso foram os de Genética e de Filosofia, respectivamente.

6. Psicanálise, a religião dos metidos à entendidos da vida dos outros.

7. Aquele mesmo de “Matrizes do Pensamento Psicológico”, livro que aterroriza quase todo estudante de primeiro ano de Psicologia, especialmente nas aulas de História.

8. E sugeriu os nomes mais divertidos para elas, como Psicoantropologia e Psicohistória.

9. Parte entre aspas foi retirada do texto, com algumas mudanças na concordância verbal.

10. Palavra alemã que é geralmente traduzida como estrutura ou forma, mas que também significa as qualidades desta.

11. Departamento muitas vezes encontrado dentro de grandes empresas, e geralmente responsável por “comer o c* da galera com farofa” segundo meu estimado amigo Jeffbass.

12. Não acho improvável que algum colega de profissão, ao ler este texto, deixe um comentário me xingando por questionar a importância da nossa profissão. Depois dos médicos, a classe mais corporativista é a dos psicólogos.

Vida de Universitário Solteiro - compras

Já faz mais de um ano que estudo na UFRGS e moro sozinho em Porto Alegre. Desde a primeira semana até agora, muita coisa mudou, mas a mais gritante de todas as mudanças diz respeito à minha alimentação. Não só por causa das frescuras que inventei para deixar minha vida mais difícil, mas também a forma como eu consigo comida.

Sempre comi no RU, mas nos finais de semana e dias de greve, quando não temos janta, eu preciso me virar e comer em casa ou em algum outro lugar por aí. No começo da faculdade, eu dependia pesadamente do que eu trazia de Caxias do Sul: comidas congeladas, queijos e sucos. A comida eu colocava numa sacola térmica, o suco na mochila, e voltava para Caxias quando tudo tivesse acabado ou prestes a acabar. Ainda trago bastante coisa da casa dos meus pais (até por que são eles quem pagam, cabendo a mim apenas a tarefa de carregar tudo para Porto Alegre), mas o tempo me ensinou - o mais exato seria dizer que me obrigou - a me virar, e a descobrir formas alternativas de conseguir mais comida por menos dinheiro, começando de forma atrapalhada, até alcançar níveis mais elevados de sutileza.

Minha primeira descoberta foi a Feirinha. Aqui perto de casa, todas as segundas e quintas-feiras, no galpão da Associação de Funcionários do Hospital de Clínicas (ASHCLIN), uns vendedores se juntam e vendem produtos industrializados por um preço consideravelmente abaixo do preço de mercado. Ali dá para comprar pão, bolachas e, principalmente, sucos de caixinha. Mas como eu fui abandonando gradativamente os sucos e as porcarias doces, eu fui deixando a feirinha meio de lado.

Minha verdadeira evolução ocorreu nos corredores dos supermercados, o Zaffari em especial. Depois de algum tempo treinando Kung Fu na minha atual academia, comecei a dar umas passadas rápidas no Zaffari logo ao lado e fazer algumas compras. No começo, eram só caixas de Bis, chocolates ou balas. Depois, comecei a comprar pão. Senti-me especialmente adulto e autônomo (com o dinheiro do meu pai, admito) quando comecei a comprar peito de chester e queijo. Mais tarde, comecei a comprar frutas: primeiro bananas e maçãs, que consigo calcular o tempo de apodrecimento. Depois, comecei a comprar bergamotas. Hoje, para meu grande orgulho, comprei uma manga e uma bandejinha de morangos.

O que me deixa mais orgulhoso comigo mesmo é o baixo custo de tudo isto - com 20 reais posso comprar tudo o que preciso para me alimentar durante uma semana inteira (levando em conta que o RU esteja aberto na hora do almoço). Aboli quase todas as frescuras da minha alimentação, ou pelo menos, do que compro.

Bem, sou obrigado a admitir que perdi o rumo deste post - eu tô cansado. Acho que isto fica claro pelo fato dos parágrafos serem levemente desconexos. Não acho que este post esteja bom. Na verdade, está bem ruim. Mas vou publicá-lo ainda assim por que esse assunto é legal. Se algum dia me interessar de novo, reescrevo ele.

domingo, 24 de agosto de 2008

Writing Binge

Meus hábitos como escritor são um tanto quanto erráticos: numa semana escrevo muito, e na outra, nem abro a página do Blogger. Isto assim se sucede por que quando começo a escrever, eu entro em um tipo de transe, um writing binge, uma compulsão por escrever, muito parecida com a compulsão alimentar que acomete as pessoas com bulimia. Geralmente, minha inspiração vem "do nada" - digo isto entre aspas pois elas são derivadas do que li ou vivi, sendo a idéia aparentemente espontânea, surgindo nas horas mais inesperadas. É um modo de funcionamento legal, que permitiu desenvolver bastante minhas habilidades literárias, mas não tenho muito controle sobre ele. Tanto é assim que este mês não atualizei muitas vezes o blog (OK, não tantas quanto gostaria).

Tenho muito mais dificuldade em escolher voluntariamente um assunto e escrever a respeito, sem ao menos ter um destes meus estalos. Mas é um tanto quanto exasperante querer escrever algo e ter que ficar sentado esperando pelo Espírito Santo para me inspirar. Estou pensando em começar a escolher assuntos à esmo, ver se são interessantes, aprender a respeito, escrever alguma coisa e, caso fique bom, publicar por aqui. Ainda fico meio dependente de inspiração, mas a coisa fica mais auto-dirigida e menos dependente do acaso.

sábado, 23 de agosto de 2008

Norte

Neste momento solitário que vivo em meu apartamento, acompanhado apenas da música e da chuva caíndo lá fora, as memórias brotam em minha consciência, e o som das gotas tamborilando no chão da rua e no vidro de meu quarto levam-me diretamente à uma tarde de 2005 - acabara de almoçar, e recebera uma mensagem de uma certa menina, pedindo para que fosse até onde ela estava. Apesar da chuva que fustigava minha face, atendi seu pedido, e peguei o ônibus que passasse perto do colégio dela. Lá chegando, fui quase que imediatamente mandado de volta, como se eu fosse qualquer um e não tivesse a menor importância. Na verdade, para ela, eu era qualquer um e não tinha a menor importância. Apenas estive no lugar certo na hora certa com ela algumas semanas antes. Lembro-me muito vivamente da chuva escorrendo por meus cabelos, e da minha raiva de fazer tanto por tão pouco.

E esta mesma memória me joga de volta para o ano de 2008, há apenas alguns meses, quando planejei e executei uma viagem para Novo Hamburgo no Dia dos Namorados - uma hora e meia dentro de um ônibus apenas para entregar uma rosa para uma outra menina e ir embora. E, mais uma vez, todo meu esforço foi debalde, pois esta outra menina também não estava disposta a abrir mão de muita coisa por minha causa.

Nestas duas vezes, senti grande revolta e raiva por dar tudo e não receber nada em troca, de ir além de mim mesmo por outro que, não exagero, mal notava minha existência. Mas hoje, percebo que toda chuva e poeira que encarei me purificou, me tornou mais forte, confiante e decidido, e que, por mais que naqueles momentos eu senti-me desprezado, eu era verdadeiramente livre, pois nenhuma distância ou barreira me impediram de ir onde quisesse para ficar com quem eu queria, mesmo que o desejo não fosse recíproco! Junto com a liberdade veio o amargo gosto da solidão, mas também a autêntica felicidade que apenas os que buscam a Verdade sentem. Sim! Em cada jornada que andei, não buscava apenas os beijos e abraços desta ou daquela menina, mas a minha própria Verdade, que dá sentido para minha vida! Não posso culpar estas meninas por não perceberem o valor da minha renúncia, por que estão demais presas na teia que condiciona seu pensar, seu agir e seu sentir. Não posso esperar que entendam por que um homem age. Eu também ainda estou muito preso nesta mesma teia - percebo isto todo dia e cada vez mais - mas não há nada que eu deseje mais do que libertar-me, mesmo que para isto eu precise me ferir, me magoar e me humilhar, como aconteceu nestas minhas duas jornadas. Percebo, neste momento solitário que vivo em meu apartamento, acompanhado apenas pela música e pela chuva, que não posso esperar que mais ninguém além de mim tenha tal norte, que não posso culpar ninguém por buscar algo que não a Verdade, mas que devo ser tolerante e compassivo. A liberdade é para os poucos que amam a solidão.

Neurose Dominical

Frequentemente, sou assaltado por uma dúvida cruel: vou treinar na academia, ou fico em casa lendo? As duas atividades me proporcionam igual prazer, só que em alguns dias eu desejo mais ficar correndo e suando, enquanto em outros prefiro ficar deitado no sofá da sala do meu apartamento com um livro em mãos.

Hoje, fui mais uma vez assombrado por este questionamento, e depois de muito pensar, decidi ficar em casa, pois achava que não tinha lido o suficiente. Foi um erro, pois fiquei apático, como um animal de zoológico, pois nenhum dos livros ao meu alcance me interessaram. Fiquei, então, lendo apenas por não ter nada melhor para fazer. Se tivesse ido para a academia, a sensação seria completamente diferente, pois teria deliberada e ativamente buscado o treino.

O psicanalista Sandor Ferenczi percebeu que seus pacientes ficavam mais deprimidos em feriados e finais de semana, e chamou este fenômeno de neurose dominical - a "domingueira" que volta e meia assola o Marcelo. É curioso que isto aconteça justamente no nosso tempo livre, que deveria ser o mais feliz de todos. Estou tendo um episódio de neurose dominical, e o tédio torna até mesmo os livros mais legais em amontoados sem graça de papel escrito.

Acho que se tivesse ido treinar, isto não estaria acontecendo. A atividade física tem umas propriedades miraculosas, tanto que nosso cérebro libera endorfinas quando exercitamos nossos músculos! Deixei isso de lado por que achei que seria melhor procurar a realização de hoje nos livros. Má idéia, pelo menos hoje. Amanhã terei um dia cheio, e esta apatia desaparecerá, e no domingo de manhã, vou para a academia treinar, para evitar que este dia também seja meio neurótico.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A maior decepção do mundo

Hoje eu fui almoçar no RU bem feliz: no cardápio dizia que a sobremesa era pavê. Mas quando eu cheguei no RU, era melão! Me enganaram!

Por isso hoje eu sou um cara mais infeliz, por que não comi pavê. E o pavê que fazem no RU é tão gostoso... Resta a dúvida que nunca será sanada: não fizeram pavê hoje, ou quando eu cheguei já tinha terminado? Talvez eu prefira nunca saber.

Lei da Atração

Hoje, finalmente publiquei a edição número 16 do Psiu!. Não muito tempo depois de ter colocado os jornais no Diretório, apareceu um cidadão procurando representantes do DAP para entregar a convocatória da reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB), e logo em seguida fui convidado para trabalhar como bolsista no Laboratório de Fenomenologia Experimental , que além de ser um assunto que me interessa dá dinheiro. Podem dizer o que quiserem daquele filme "O Segredo", mas que uma coisa atrai a outra, ah, atrai.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Atenção

Lembro-me de ler um trecho de um livro de Lord Baden-Powell, o fundador do movimento escoteiro, onde ele fazia troça dos gregos, que chamavam o ser humano de "antropos" - o que olha para cima - quando raramente as pessoas olham para cima. Ele dizia isso baseado em experiência própria, pois quando fugia para o mato atrás de sua escola, ele se escondia dos professores nas árvores mais altas, onde seus professores nunca pensavam em procurá-lo. Já testei empiricamente a afirmação do Chefe Escoteiro Mundial, e devo dizer que as pessoas não olham para nada em seu redor. São cegos.

Antes de continuar, devo dizer que eu não sou especial, e que não sei até que ponto eu não sou cego para o mundo. Ainda assim, tenho a impressão de que vejo mais do que os que estão ao meu redor. Um exemplo disto é este próprio blog. Nunca divulguei ele massivamente, ao contrário do que já fiz com o R&A, tendo, no máximo, passado o link para um amigo por vez. Originalmente eu não fazia nem isso. Mas depois de um tempo, fui amolecendo, e passei a fazer coisas que anteriormente abominava. Colocar o link do Espadachim Cego no Orkut, na guia de "Página web" e até mesmo na guia de feeds no lado esquerdo da tela, que informa quando ele é atualizado! Eu imaginava que o blog não tinha muitas visitas por que eu deixava nas mãos dos internautas de acharem ele - tá no meu perfil do Blogger, é só ir lá e clicar - e que isso mudaria se eu colocasse um link no meu Orkut. Ledo engano. Ninguém clica. Isso não é uma reclamação sobre como meu blog é bom e é subvalorizado, e que as pessoas deveriam ler. Para ser sincero, eu escrevo por que me faz bem, não por que as pessoas queiram desesperadamente ler (apesar de levar em consideração o pessoal que realmente lê, comenta e às vezes reclama por atualizações). Mas eu fico realmente impressionado com esta cegueira. Acho que, se colocasse o link no corpo do texto principal do Orkut (no "Quem Sou Eu", que, aliás, precisa de um texto novo escrito por mim e para mim) a coisa mudaria um pouco de figura, mas isso já seria divulgação ativa, coisa que não quero fazer.

E acho que sou um pouco diferente dos demais, pois eu realmente procuro as coisas. Quando adiciono alguém no Orkut, eu olho as comunidades e procuro por algum link de blog, flog ou qualquer outro tipo de site. Acredite se quiser, mas o Orkut realmente reflete sua personalidade: não é à toa que você entrou na comunidade Eu Odeio a Xuxa ao invés de Existencialismo, ou vice-e-versa. E também não é à toa que você escreva no seu flog sobre todas as mulheres que você comeu no final de semana ao invés de falar sobre Epistemologia da Psicologia e questões existenciais. Não quero apontar quem está certo e quem está errado aqui - não faria sentido. Apenas quero ressaltar que o coração das pessoas só é tocado por algo que já está lá - "onde está teu tesouro, também está teu coração". E, obviamente, há mais pessoas que se interessam por sexo do que por filosofias complicadas. Quando olho as comunidades "orkuticas" dos outros ou seus blogs, eu quero conhecê-las melhor. Eu sou um buscador, isso é um traço de minha personalidade, ainda que eu não seja lá muito bom nisso (alguns colegas meus discordariam desta afirmação, depois do episódio do vídeo dos Smurfs que encontrei na internet). E, ao contrário de mim, a maioria das pessoas não procura entrar em contato com o "mundo fenomenal" alheio, pois estão absortas demais no seu próprio: atualizam o perfil do Orkut de hora em hora, publicam vídeos, fotos e textos em seus sites pessoais, adicionam amigos até estourar o limite imposto pelo site, mas raramente vão além disto. E eu não estou falando de coisas complicadas como ler meus carregados textos sobre Psicologia, mas olhar as comunidades que os outros fazem parte! Eu cansei de ver pessoas ficarem surpresas sobre detalhes da minha vida, quando estava tudo lá, naquele maldito link "comunidades". Fico feliz quando percebo que alguém realmente se deu ao trabalho de fazer isso, não por que quero que as pessoas saibam tudo sobre mim, mas por que é algo difícil de se ver.


Eu poderia sair culpando estes sites de relacionamento por isolarem as pessoas ou algo igualmente irracional (como "é um plano do FBI para conquistar o Brasil"), mas o Orkut é apenas um reflexo de nossa civilização egocêntrica. As pessoas são desatentas em suas vidas offline, até mais frequentemente do que no Orkut. Não as julgo, ou pelo menos tento não julgá-las. Prefiro tornar-me cada vez mais atento e consciente do meu ambiente e dos que vivem ao meu redor.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Melhores Músicas da História VII

Wonderwall
Oasis
Composição: Noel Gallagher

Today is gonna be the day
That they're gonna throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you gotta do
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now

Backbeat, the word was on the street
That the fire in your heart is out
I'm sure you've heard it all before
But you never really had a doubt
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now

And all the roads we have to walk are winding
And all the lights that lead us there are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how

Because maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

Today was gonna be the day
But they'll never throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you're not to do
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now

And all the roads that lead you there were winding
And all the lights that light the way are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how

I said maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

I said maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

I said maybe
You're gonna be the one that saves me
You're gonna be the one that saves me
You're gonna be the one that saves me

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Já fazia algum tempo que não postava algum clipe de uma música bonita. "Wonderwall" é uma maravilhosa maneira de quebrar esse jejum. Agradeço à Lady Hell, que colocou um pedaço da letra na mensagem pessoal do MSN e me inspirou a procurá-la no YouTube.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Filmes de Herói

Acabo de assistir o filme Batman Begins, depois de ter assistido quase em seqüência toda a trilogia cinematográfica Spider-Man. Filmes de herói são repetitivos, especialmente os feitos em Hollywood, mas talvez seja justamente algo que se repita neles que os tornam tão numinosos para mim. Um colega meu disse que filmes são como livros, e que depois de um tempo nos tornamos mais seletivos quanto ao que assistimos. Esse meu amigo, ao contrário de mim, acha filmes de herói uma pura perda de tempo.

Não sei ao certo por que fico tão fascinado por que fico tão fascinado por estas babaquices infantis. Os behavioristas diriam que meu comportamento de gostar de histórias de pessoas usando capas e máscaras foi reforçado de maneira consistente, e portanto se mantêm até hoje. É uma explicação bastante racional e plausível. Mas não é o bastante justamente por não ter um coração. Talvez o grande motivo para este tipo de filme fazer tanto sucesso apesar de usar uma fórmula tão gasta seja que sua mensagem faça eco no fundo de nossas almas, não só a minha, mas como a de milhares de outros que gastam seu suado dinheiro para ver filmes como Dark Knight no cinema. Batman e Spider-Man nos atraem e nos emocionam (eu chorei em muito filme de herói) e nos inspiram por serem modelos do que aspiramos nos tornar. Com a possível exceção do Batman, todos os super-heróis são caricaturas da realidade que, dotados de poderes além da imaginação humana, decidem por uma vida dedicada ao combate à injustiça e à busca pela verdade. Não é uma vida fácil - por ela, Peter Parker precisa renunciar ao amor de Mary Jane, aos estudos, ao trabalho remunerado, e Bruce Wayne, pelo menos o encarnado por Christian Bale, é levado a vestir a persona de um playboy irresponsável e decadente, para que ninguém desconfie de suas atividades como morcego. Existem heróis em nosso mundo, certamente menos exuberantes e poderosos, mas por isso mesmo muito mais impressionantes e inspiradores. Mohandas Gandhi, cuja vida foi levada às telas em 1982. Uma das cenas mais impressionantes que já vi em um filme foi a jornada até o mar, que Gandhi liderou para boicotar o sal vendido pelos britânicos e demonstrar que a independência da Índia não era sonho, mas fato consumado. Em cada cidade que ele passava, mais e mais pessoas se uniam a ele. Poder nenhum além da verdadeira vontade poderia ter feito isto.

Mas não importa quantos blockbusters cheios de efeitos especiais, heróis e mensagens bonitas saiam todos os anos dos estúdios de Los Angeles, a grande maioria das pessoas que vão assistí-los, seja no cinema ou em casa, não vão ir além do espanto mais superficial: a violência do filme, os gráficos, os carros usados no filme. Alguns, especialmente crianças, vão sentir-se inspiradas, e vão desejar ser o Batman, mas isso não vai durar, seja por que vão se encher o saco com o tempo ou por que os pais ou os amigos disseram que é pura fantasia. A parte grosseira, violenta e material sim, é apenas uma forma fantasiosa que a história tomou. Mas parece que a mensagem verdadeira e mais profunda (pelo menos na minha opinião) se perdeu entre a fumaça e os espelhos dos efeitos especiais: a de que não existem heróis da ação, apenas da renúncia. A força de Batman não reside no seu tanque de guerra, ou a do Homem-Aranha em suas teias, mas no fato de terem aberto mão de seu conforto para combater o crime. A ação é secundária.

Talvez algumas pessoas sejam capazes de ver esta mensagem, mas ficam apenas no plano cognitivo. Consideram-se virtuosas e heróicas, mas nada fazem de verdade. Elas podem até ter um enorme potencial para fazer o bem, mas como bem disseram em Batman Begins, "não é o que sou por dentro, mas o que faço que me define". Não adianta ser um grande guerreiro apenas em pensamento - é necessário agir no mundo real, ou coletivo, em que vivemos.

E, talvez, haja quem não fique apenas no plano cognitivo, e que vão além de ficar sentado olhando outro ser nobre. Para ser sincero, cada vez mais acho que existem cada vez menos este tipo de pessoa. E espero do fundo do meu coração ser uma delas.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Uma Definição de Psicologia

A Psicologia é uma entidade difícil de definir ou conceituar. Fico reticente até em chamá-la de “ciência”, pois não há consenso sobre quase nada a seu respeito, nem se é ciência, nem sobre sua metodologia e muito menos suas bases metafísicas. Por isso, a definição que darei aqui é idiossincrática, baseada no que eu tenho aprendido e considerado mais apropriado. Por isso, o título deste post é “Uma Definição” e não “A Definição”. Não espero que minha definição seja definitiva, mas apenas um exercício intelectual, para pôr à prova meus conhecimentos de Psicologia e Neurociências. Colegas de curso que lerem este texto e acharem que falta explicar alguma coisa, sintam-se a vontade para comentar.

O único consenso que há em Psicologia é que seu objeto de estudo é o ser humano. O que é um ser humano é uma questão muito mais delicada, que evitarei no momento. É possível ser um pouco mais preciso, e dizer que em Psicologia se estuda o comportamento humano. Esta é a definição mais sucinta e clara que temos, mas é pouco abrangente, pois classifica como iguais coisas completamente distintas como atividade mental e atravessar a rua, sendo a única diferença entre as duas o caráter público e observável da segunda. Segundo minha própria opinião, uma definição mais precisa diria que a Psicologia estuda o pensamento, o sentimento, a motivação e o comportamento humanos, sejam eles conscientes ou inconscientes. Apesar de mais precisa, minha definição borra as fronteiras da Psicologia com outros campos e ciências, como a Sociologia, a Biologia e as Humanidades (Artes e Literatura) – o que, pessoalmente, acho muito positivo, considerando a grande interface existente entre estes e outras disciplinas.

Que estudamos o comportamento humano é óbvio – mas o que é o comportamento humano? Segundo a corrente behaviorista, é tudo o que um ser humano faz: comer, andar, chorar e pensar, e que é desnecessário, e até mesmo contraproducente, considerar a mente como sendo algo qualitativamente diferente do corpo. Isso é uma birra que vem desde o tempo de Descartes, que classificou a alma, origem do pensamento, como sendo feita de uma substância diferente da matéria grosseira que constitui o resto de nosso organismo, sendo imaterial e não-observável, em outras palavras, impossível de ser estudada empiricamente. Esta birra está sendo superada agora pelas Neurociências, que têm encontrado muitos correlatos cerebrais para atividades mentais, “materializando-a”. Não seria descabido, então, considerar a cognição como um mero comportamento. A cognição, segundo António Damásio, consiste em imagens (verbais ou não) que o cérebro humano aprendeu a “desenhar”, para auxiliar-nos a avaliar nosso ambiente, nosso estado corporal e, com base nestas informações, planejar nossas atitudes futuras, de forma a maximizar nossa sobrevivência. Entretanto, apesar de ter uma base física verificável, sua natureza ainda é muito diferente dos comportamentos expressos. Por exemplo, ao contrário do que acontece no “mundo real”, quanto mais eu tento ignorar um pensamento, mais eu penso nele. Apesar de possuírem base material, os nossos pensamentos ainda são “imateriais”, por assim dizer.

Os sentimentos, ou emoções, também tiveram problemas com nosso amigo Descartes, mas de uma natureza diferente. Cogito ergo sum, “penso, logo existo”, é uma das máximas filosóficas mais conhecidas no mundo ocidental. Um de seus sentidos é que, pode ser que nada do que vejo a minha volta exista, mas eu existo, pois sou capaz de pensar e averiguar a minha própria existência. Esta é a base de toda a filosofia cartesiana. Outro significado do cogito é a supremacia do pensamento racional sobre as paixões naturais – amor, ódio, desejo. Se sou capaz de suprimir minhas emoções, eu sou um ser humano pleno. Por muito tempo, no Ocidente, se acreditou firmemente que a única maneira confiável de tomar decisões era através da razão fria e pura, livre de todo e qualquer resquício de emotividade. Para ser sincero, esta crença ainda existe, mas não é mais possível considerá-la correta, nem mesmo cientificamente. Mais uma vez, as Neurociências descobriram que os processos mentais ditos superiores e racionais, que ocorrem primariamente no córtex pré-frontal, dependem pesadamente das atividades cerebrais que ocorrem no sistema límbico, mais especificamente o hipocampo. Esta estrutura, ao contrário do córtex pré-frontal, que é um desenvolvimento recente de nossa evolução, é muito antiga, podendo ser encontrada em animais mais simples (1), como os répteis, e está diretamente ligada com as emoções. Para ilustrar melhor isto, António Damásio, em seu livro “O Erro de Descartes” (2) relata um caso clínico. Um de seus pacientes, Elliot, tivera um tumor logo acima das cavidades nasais, e que pressionava ambos os lobos frontais (3). O tumor era benigno, mas por se localizar em lugar tão delicado, poderia ser tão ou mais fatal que um tumor maligno. Foi feita uma operação, e o câncer foi removido com sucesso. Como é de praxe neste tipo de procedimento, também foi retirada o tecido cerebral imediatamente em volta do tumor, só para prevenir. Como este tipo de câncer não tende a desenvolver-se novamente, o prognóstico de Elliot era excelente.

Contudo, qualquer um que conheça um pouco da complexidade cerebral pode dizer que haveria seqüelas, e o homem responsável, diligente e comercialmente afinado que Elliot uma vez era se tornou um completo relapso e propenso à aventuras impensadas. Depois de muitas empreitadas sem sucesso, Elliot veio procurar Damásio para conseguir um atestado médico, para se aposentar por invalidez. O curioso sobre sua situação é que, para qualquer pessoa que olhasse superficialmente para seu caso, ele pareceria um homem inteligente e robusto, pois nem suas capacidades intelectuais nem motoras foram prejudicadas, e nunca um inválido. Em exames neurológicos, foi identificado que o tumor danificara principalmente os setores orbital e mediano do córtex pré-frontal, além do cerne do lobo, a massa branca que se encontra abaixo do córtex, ter sido completamente destruído. Estes dois setores pré-frontais são responsáveis pela tomada de decisão. Já a massa branca é composta basicamente por axônios mielinizados. Os axônios são os “braços” mais longos dos neurônios, e são responsáveis em passar as sinapses adiante, e efetuar a comunicação entre neurônios distantes e células efetoras (músculos, por exemplo) e fazer com que o corpo emita um comportamento (como correr). A mielina é uma substância de coloração branca que faz com que as sinapses sejam muito mais rápidas – grosseiramente, são como um bom condutor elétrico (4), que melhora a passagem da corrente. Apesar dos meus conhecimentos em Neuroanatomia serem parcos (5), acho que é razoável dizer que, com o cerne destruído, muitas conexões importantes entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico foram perdidas. Ao falar de todas as desgraças que aconteceram em sua vida depois da operação (desemprego, divórcio, não ter dinheiro...), Elliot não demonstrava nenhum traço de emoção. Era como se ele estivesse falando de algo que lera no jornal, e não sua própria existência. Ele é provavelmente o ser mais racional sobre a face da terra, e ainda assim é incapaz de decidir o que fazer.

A motivação está intimamente ligada com a tomada de decisões. O córtex pré-frontal é conhecido como a sede das Funções Executivas. Em termos gerais, elas são responsáveis por administrar a maneira como investimos nossa energia psíquica: sobre o que pensar, o que fazer. Obviamente, fazem mais do que isto, mas não acho necessário explicar mais, e também não me sinto confiante o suficiente para fazê-lo. Mas basicamente, as Funções Executivas são a própria Vontade (6), que é voltada para as metas futuras. Sem ela, viveríamos eternamente no aqui e agora, satisfazendo nossos desejos imediatos. Ela é aquela força que te leva a treinar e correr 10 km ao invés de ficar sentado o dia inteiro assistindo TV e comendo porcaria. Por que fazemos isto? Por que temos uma meta, um motivo. Há um sentido maior para que abramos mão de nosso conforto e façamos coisas aparentemente absurdas. É o que chamo de liberdade, pois nos leva a transcendermos a nós mesmos.

Nos parágrafos acima, procurei definir e diferenciar pensamento, sentimento e motivação, e assim, justificar por que estes três conceitos deveriam ser pontos centrais a serem estudados pela Psicologia, e também pelas Neurociências. Contudo, esta diferenciação é meramente didática e para fins de pesquisa, pois os três processos estão por demais interligados para serem separados: emoções nos levam a eleger metas, que construímos utilizando imagens mentais, da mesma forma que pensar em nossas metas nos levam a sentir diferentes emoções. As combinações são muitas. Isto me leva, por fim, a voltar para o conceito final, comportamento. Como os behavioristas o definem, “comportamento” é tudo o que um ser humano faz, seja mentalmente ou fisicamente, de forma consciente ou não (7). E, de fato, pensar, sentir e perseguir metas são comportamentos, mesmo se acontecerem apenas no mundo platônico das idéias. Contudo, eles só se tornam verdadeiros quando expressados neste mundo, através de nossos organismos. Eu posso passar minha vida inteira sonhando em ser um grande lutador, pensar em milhares tipos de treinamentos para me tornar forte e ser tomado por fortes emoções toda vez que vejo um filme do Bruce Lee, mas continuar igual, preguiçoso e fraco. Levando o solipsismo ao extremo, poderia afirmar que dá tudo no mesmo no final das contas, já que todos iremos morrer. Será mesmo? Prefiro acreditar que não. Considero a missão da Psicologia entender os motivos e as maneiras pelas quais agimos e, com estes conhecimentos como base, ajudar todos os seres humanos a transformarem em ato seu mais alto potencial – em outras palavras, a Psicologia deve ajudar a humanidade a alcançar sua auto-realização e transcender a si mesma. É um processo demorado, difícil e até mesmo doloroso, pois nos obriga a confrontarmos nossas próprias fraquezas. Mas é o único caminho em direção a uma felicidade plena e duradoura.






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1. Quando digo “simples”, quero dizer exatamente isto – com cérebros menores e com menos estruturas. Não quero dizer que são inferiores ou menos evoluídos, bem pelo contrário. Na verdade, poderíamos considerar os próprios répteis como sendo mais evoluídos que nós, por serem capazes de sobreviver em ambientes muito mais inóspitos que os nossos com um sistema nervoso muito menos desenvolvido que o nosso.

2. Pobre Descartes. Assim parece que eu só critico o pobre coitado!

3. Esquerdo e direito, um para cada hemisfério cerebral, caso você tenha faltado as aulas de Biologia na escola.

4. As sinapses são sinais elétricos, mas apenas as sinapses mais simples são apenas elétricas. Ocorrem em nosso cérebro sinapses químicas também, que são mais lentas e mais complexas. Não quero ficar falando disso aqui, mas achei que era importante fazer esta ressalva.

5. Não sei como passei na disciplina de Neuroanatomia no 1º semestre. E também não sei por que cargas d’água resolvi me interessar por este assunto depois do 2º semestre. Deve ter dado tempo para extinguir meu comportamento de fuga à Neuroanatomia.

6. Que tem um outro nome bem bonito também, volição, que faz conjuntinho com cognição e emoção.

7. O que fazemos durante o sono é um ótimo exemplo de comportamentos inconscientes. Todos nós sonhamos enquanto dormimos, e muitos de nós se mexem de um lado para o outro da cama também.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Relativismo e Verdade

Qualquer um que tenha entrado em um debate de qualquer nível já deve ter se deparado com o argumento relativista - minha opinião merece tanto respeito quanto a tua, portanto, não pode ser refutada. Na Filosofia da Ciência, isto é conhecido como "Tudo Vale", princípio idealizado por Paul Feyerabend. Segundo ele, todas as teorias científicas têm o mesmo valor, e pois todas sustentam-se sobre pressupostos radicalmente diferentes umas das outras. Em outras palavras, são incomensuráveis e por isso não podem ser comparadas. Como exemplo, ele citava a Mecânica Newtoniana e a Mecânica Copernicana.

Isto não é um argumento, mas uma defesa detestável, utilizada apenas para defender o próprio ego de ser humilhado por estar errado. É covarde. Há, na história das ciências e da filosofia, pelo menos dois exemplos de "movimentos" relativistas: os sofistas da Grégia Antiga e os pós-modernos atuais. Segundo eles, não existe uma Verdade absoluta, apenas verdades relativas, que podem ser verdadeiras em um lugar, mas falsas em outro. Não sei se existe uma Verdade absoluta - como eu poderia deter a solução para uma pergunta que há séculos atormenta a humanidade? Contudo, acredito que é nossa missão buscá-la sempre, mesmo que ela não exista. No debate na TVCOM entre o Renato Flores e a representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP), a doutoranda Martha Narvaz, o que mais me deixou indignado não foram as idéias (estapafúrdias, diga-se de passagem) que ela expressou, mas a atitude relativista politicista dela. Para ela, basicamente, não existe uma verdade absoluta, e sendo assim, ela pode definir qual verdade é melhor, no caso, a que ela gosta mais. Ela não busca uma verdade absoluta, mas uma verdade "estratégica", que sirva aos seus próprios propósitos, ao invés de servir toda a humanidade.

Ainda assim, apesar do relativismo ser abominado pela maior parte dos cientistas, e talvez das pessoas no mundo, ele ainda assim é indispensável. Não este relativismo absurdo, mas um relativismo tolerante: saber que tudo que se acredita pode estar errado, e ao mesmo tempo saber que tudo o que o outro sabe também pode estar errado. Tente viver em qualquer lugar do mundo, com qualquer tipo de pessoa, sempre partindo do pressuposto que você está sempre certo. Se você não for exilado, preso ou linchado será um grande sucesso. É preciso ser relativista, mas de uma forma humilde, que assume o próprio erro, e não arrogantemente considerando-se acima de erros.

Mas é preciso ir além. Tanto na vida cotidiana quanto na ciência, é preciso saber que sua verdade é relativa, imperfeita e limitada, da mesma forma como a verdade das pessoas ao seu redor, mas usá-las, falhas como são, como ponto de partida para buscar uma Verdade maior, mais perfeita e ilimitada. Outro filósofo da ciência, Karl Popper, dizia que precisamos buscar falsear nossos conhecimentos - testá-los de todas as formas possíveis, buscando provar não que são verdadeiros, mas falsos, e, caso eles "sobrevivam", possam ser considerados verdadeiros, até que um conhecimento melhor seja encontrado. Obviamente, não somos capazes de fazer isto o tempo todo, pelos mais diversos motivos, sendo o principal deles que nos apegamos demais à nossa visão de mundo para buscar sua refutação. Mesmo assim, só por que é um ideal não devemos abandoná-lo.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ser doutor sem ser médico?

A educação formal no Brasil começa cedo - aos 7 anos os pais são obrigados por lei a colocar seus pimpolhos na escola. Muito antes disso já se começa a perguntar para as crianças o que elas querem ser quando crescerem, mas a partir da primeira série esta questão se torna gradativamente mais importante e presente.

No Ensino Fundamental, ela é feita com alguma freqüência, mas pouca seriedade. Geralmente, quando o professor ou algum outro chato intrometido pergunta para as crianças mais novas com o que elas querem trabalhar, tem como resposta coisas como bombeiro, astronauta, médico (1) ou qualquer outra profissão vistosa - dificilmente as crianças respondem que querem ser psicólogos, nutricionistas ou garis. No Ensino Médio a coisa muda de figura, pois os estudantes estão quase em idade de trabalhar, e esta escolha deverá ser feita muito em breve - na melhor das hipóteses, em 3 anos. Considerando que se espera que os jovens escolham a profissão que praticarão pelo resto de suas vidas, é pouco tempo.

Diante desta escolha, alguns decidem fazer um curso técnico e entrar direto no mercado de trabalho, enquanto outros preferem encarar uma faculdade de 5 anos, aprender um ofício em profundidade, para só então, com um diploma em mãos, procurar emprego. Mas, mesmo entre os que cursam faculdade, há os que preferem continuar estudando por mais tempo ainda, fazendo especializações, mestrados e doutorados. Não sei se dá para dizer que estudantes de graduação em universidades federais são mais propensos a cursarem pós-graduações, mas posso dizer que com certeza eles são muito mais expostos à pesquisa e "produção de conhecimento" do que estudantes de universidades particulares. Também a motivação é diferente para ambos - quem busca estudar em uma federal sabe que, muito provavelmente, vai ter que se dedicar exclusivamente aos estudos antes de começar a trabalhar, ao passo que quem entra em uma particular muitas vezes vai dar prioridade ao trabalho, e cursar só duas ou três disciplinas por semestre e (com sorte) usar o que aprender para melhor seu desempenho profissional. Claro, nem sempre é assim, mas é bem freqüente.

E foi assim comigo. No Ensino Fundamental, não pensava no que queria ser (e se pensava, não era muito sério); no Ensino Médio, eu era obrigado a pensar, por que os professores não paravam de falar no vestibular e como era importante para nossas vidas estudar e entrar para a faculdade para estudar ainda mais. Às vezes, parecia que eles tinham uma visão muito estreita da realidade, pois davam a entender que o único caminho disponível para nós era o Ensino Superior, quando na verdade não é (2). Cheguei no fim do Terceiro Ano querendo cursar Direito. Ainda bem que adiei meu vestibular e fui para os EUA fazer intercâmbio. Isso me deu mais tempo para pensar e chegar à conclusão de que queria fazer Psicologia. Agora, estou no segundo ano da faculdade. Por enquanto, posso me afundar nos livros e estudar feito um condenado sem ter que pagar minhas contas, mas depois que me formar, as coisas mudam de figura. Entre as minhas opções, está fazer mestrado e depois doutorado, além de começar a trabalhar assim que for possível. Sinceramente, por mais que ache que eventualmente engatarei um mestrado, não quero fazer isto logo após terminar a graduação, e muito menos na UFRGS. Adoro este lugar, mas por favor, depois de 5 anos (ou mais) eu quero conhecer outras universidades. Além disso, eu já tive as aulas da pós-graduação, pois a grande maioria dos professores só dá uma aula - o mesmo conteúdo, a mesma entonação de voz e as mesmas piadas (se existirem) foram contadas para todos os seus alunos, tanto de graduação quanto de pós.


Mais do que isso, não quero passar o resto da minha vida dentro da academia, e me tornar como alguns de meus professores, que parecem não saber como as coisas funcionam fora de seu mundo encantado. Talvez um dia eu vire doutor sem fazer Medicina, mas no momento, não consta na minha lista de desejos passar mais 6 anos estudando.










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1. "médico da cabeça" é algo perfeitamente plausível de uma criança dizer, mas pode significar tanto psiquiatra quanto psicólogo ou neurologista.

2. Digo isso por experiência própria. Um dia, no colégio, estavam nos oferencendo a oportunidade de fazermos uma prova simulada da Unisinos. Por mais achacados que fossemos para fazer esta porcaria, não era obrigatório, e eu preferi usar minha manhã para correr atrás da papelada para meu intercâmbio (naquela altura do campeonato eu estava alucinado para juntar tudo que precisava em uma semana). Fui no colégio lá pelas 9 horas para pegar a assinatura da diretora, mas acabei sendo levado pela coordenadora pedagógica, Rita, para a sala de aula para fazer o simulado. Pensando nisto agora, me dei conta de como fui tratado como pirralho mesmo tendo 17 anos, mas na época estava tão acostumado com isto que nem me dei conta. O tempo necessário para decidir que não iria fazer a tal prova foi o tempo que levei para sentar na minha carteira e descobrir que o tamanho mínimo da redação eram 60 linhas. Saí da sala quase imediatamente, encontrei a coordenadora pedagógica e a tia do SOE, Leda (vulgarmente conhecida como "Cotonetão" ou "Beavis"), e num arroubo de assertividade, pedi mais uma vez para falar com a diretora. Tive que ouvir como resposta da Rita que eu deveria estar fazendo o simulado, e não correndo atrás de coisas irrelevantes como "intercâmbios", e da Leda que, se ela fosse minha mãe ela estaria muito preocupada com minhas atitudes (o que não deixa de ser engraçado, já que ela tem seus 60 anos, é solteira, não tem filhos, é provavelmente virgem e provavelmente assim morrerá).

Em Busca da Liberdade

Biologicamente, não somos livres. É uma frase impactante, que choca quase todos os que a lêem. Entretanto, qualquer neurocientista ou pessoa que entenda um pouco mais sobre o assunto a encararia como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E de fato, somos biologicamente determinados - temos sobre nossos ombros o peso de milhões de anos de evolução, passados em mundo material com leis físicas invariáveis e constantes, que determinaram nossos polegares, nossos neurônios, nossos instintos e nossos comportamentos reflexos. Nesses milhões de anos, nossos ancestrais passaram a maior parte de seu tempo em ambientes selvagens, como florestas e estepes, e fazem apenas 3 ou 4 mil anos que nos estabelecemos em cidades. Podemos ter deixado o mundo selvagem, mas o mundo selvagem não nos deixou: ainda somos animais, macacos pelados com mania de grandeza. Além disso, mesmo na dita "civilização", nossas atitudes são fortemente influenciadas por nosso ambiente, tanto físico e social, ou, como Skinner chamou, pelas contingências e metacontingências de reforçamento.

Entre todos estes determinantes físicos, biológicos e sociais, sobra pouco espaço para fazermos algo realmente espontâneo, verdadeiramente nosso. Quase não somos livres, e há quem diga que não somos livres em absoluto. A Ciência já nos deu muitas provas de que vivemos presos em nossos corpos, mas não é preciso abrir uma revista especializada em Neurobiologia para chegarmos a esta conclusão. Basta olharmos em nossa volta, para todos os que nos cercam e para nós mesmos. Quantas vezes não pensamos apenas em nós mesmos e ignoramos todo o resto? Quantas vezes agimos egoisticamente, mesmo sabendo que poderíamos ter sido nobres? Um psicólogo evolucionista diria que isto é absolutamente normal, pois a mãe natureza nos ensinou a lutarmos primeiro por nossas vidas e depois pela dos outros - mesmo a vida social é um reflexo disto, pois a chance de sobrevivência é muito maior em grupos grandes. Por que, então, ainda insistimos nesse mito que é a liberdade? Por que, mesmo golpe após golpe da Física, da Biologia, da Sociologia e da Psicologia, ela ainda se sustenta em seus leves fios metafísicos?

Paradoxalmente, mesmo com todas estas evidências contrárias, ainda nos apegamos ferrenhamente ao nosso ideal de liberdade, ou melhor dizendo, parece que, a cada artigo de neurociência que sai reforçando nosso determinismo, mais nos aferramos ao ideal de liberdade. E, mais paradoxalmente ainda, é esse ideal, talvez miragem, que nos faz melhores. Pesquisas científicas mostraram que é justamente quando não se acredita em livre arbítrio que mais se trapaceia e mente. Quando somos levados a crer que não há escolha, agimos da forma que somos esperados - em benefício próprio, mesmo que em detrimento dos demais. Mas ao contrário, se nos é dada a opção, se nos é mostrado que podemos ser diferentes, escolhemos por sermos o melhor que podemos ser. E se os neurocientistas têm descoberto cada vez mais evidências de nossa escravidão, os clínicos - médicos, psicólogos, enfermeiros e todo e qualquer profissional que trabalhe diretamente com seres humanos - têm feito justamente o contrário, estimulando que seus pacientes e clientes busquem cada vez mais sua própria autonomia. Surpreendentemente, tem dado certo!

Seria isso uma ilusão? Um condicionamento operante mui sofisticado que a natureza desenvolveu? Não sei. Apenas acredito que é muito mais do que isso. Podemos ter toda a história em nossas costas, tanto da humanidade inteira quanto nossa própria, guiando nossos passos e os determinando, mas sempre podemos agir de uma forma completamente diferente, indo contra tudo que nossos genes e nossas famílias dizem. O passado é imutável, e deixa uma marca indelével em nós, e o futuro existe apenas em sonhos. Mas o presente, o aqui e agora existe - é a folha em branco do livro de nossas vidas que encaramos agora, e que espera para ser preenchida. É nesse vazio, onde nenhuma escolha foi feita ainda, que reside nossa fugidia liberdade.

Talvez isto que chamo de liberdade não seja liberdade verdadeira, apenas o começo da trilha que nos leva até ela. Talvez não estejamos prontos para saber o que realmente é ser livre, e devemos primeiro caminhar uma longa jornada presos em nossos corpos, instintos e preconceitos, e gradativamente nos libertamos de seus grilhões - não digo abandoná-los, mas nos tornarmos capazes de fazer o que queremos e o que devemos com sua ajuda, e não apesar deles como ocorre agora. Há na internet um vídeo curta-metragem bem famoso, chamado Dance, Monkeys, Dance. Em poucas palavras, é um documentário sobre a raça humana, feito nos mesmos moldes dos tantos documentários que fizemos sobre outros animais - com um ar de superioridade e prepotência, pois, afinal, somos só macacos. Foi isso que o professor de Genética disse em nossa primeira aula: não passamos de macacos. E, realmente, como esquecemos que somos animais e fingimos que somos superiores, apenas para cometer crimes que chimpanzés não cometeriam? Mas não posso concordar com o professor. Não em tudo, pelo menos.

A maioria das pessoas que assistem ao vídeo prestam atenção apenas no fato que o narrador nos chama repetidamente de macacos (posso apostar que muitos que assistiram a este vídeo devem ter se sentido profundamente ofendidos e/ou humilhados), e como agimos de forma imbecil e mesquinha ao longo de nossa história, e deixam passar uma pequena frase, que considero a mais importante de todas: "os macacos têm tanto potencial, se apenas eles se aplicassem". Este é um dos motivos mais fortes que me mantém cursando Psicologia - por que eu sinceramente acredito que podemos ser mais do que somos. Por este motivo, não acho que sejamos só macacos. Considero um erro acreditar que somos superiores aos outros animais, mas ao invés de dizer que somos "só macacos", prefiro dizer que os demais animais não são "só bichos". Cachorros são mais do que criaturas de 4 patas que babam no carpete e correm atrás de carros, assim como gatos não são só auto-lambedores eficientes. Somos todos seres vivos, dignos de respeito e capazes de crescer, aqui e agora, neste mundo, bastando apenas nos dedicarmos.