quinta-feira, 24 de julho de 2008

A Sempre Condicional Liberdade

Tal como muitos filósofos e cientistas antes de mim, preocupo-me com a questão da liberdade humana. Este debate divide-se basicamente em duas posições, aparentemente irreconciliáveis e antagônicas: ou o ser humano é livre, ou não o é.

De fato, o ser humano é largamente determinado por causas sob as quais ele não exerce o menor poder – sua carga genética de Homo sapiens e membro de sua família, e o meio ambiente em que vive – físico, natural e social. O argumento de que o ser humano é livre para ser o que bem deseja é na maioria das vezes falho, pois parte do pressuposto de que há dentro de nós um ser autônomo, que nos faz agir de acordo com seus desejos, deus ex machina. Diria que isto é absurdo, se não fosse tão ingênuo. A diferenciação geralmente feita entre organismo e ambiente é meramente didática, pois não temos como viver sem um ambiente. Mesmo que me retirasse para o meio do nada, eu ainda viveria num ambiente composto por nada (e ainda teria o problema filosófico de definir o nada absoluto para resolver, o que não é nada legal). E também não tenho como fugir dos meus genes, muito menos dos milhares de anos de seleção natural e evolução que formaram a raça humana, que continua a modificar-se.

Ainda assim, acredito que somos livres, não de forma total e plena, mas circunstancialmente. Em nossas vidas, somos obrigados a tomar muitas decisões. Algumas são praticamente inconseqüentes, como que tipo de pão comprar, outras são mais graves, como que profissão seguir. É neste vácuo de escolhas que nossa liberdade reside. Claro, mesmo quando tomamos decisões somos influenciados pelo nosso passado, mas sempre podemos escolher algo completamente diferente de tudo que já vivemos ou conhecemos. Pode não parecer ser uma grande liberdade, mas é ela, e essencialmente ela que pode nos levar a sermos heróis ou vilões, santos ou pecadores, auto-realizados ou perdidos no abismo hedonista do mundo material.

Como disse, são nossas experiências com nosso ambiente que nos determinam. Assim sendo, quanto mais eu sei e conheço do mundo, mais livre sou, pois meu repertório comportamental é maior e mais variado. Uma pessoa que nunca saiu de sua cidade natal muito provavelmente é mais apegada aos seus hábitos e costumes que uma pessoa que viajou pelo mundo todo e conheceu estilos de vida diferentes do seu. Não quero dizer que pessoas viajadas são mais livres que pessoas que nunca saíram de casa, mas é mais provável que o sejam. Mas não se conhece o mundo apenas através de viagens, mas também de livros, jornais, filmes e qualquer outro meio de comunicação. Talvez seja melhor dizer que pelo menos um poderoso veículo de nossa libertação é a informação, ou o conhecimento, pois com ela, somos capazes de agir de formas mais variadas. Com o conhecimento, podemos nos libertar do nosso passado e criar um novo futuro, diferente de tudo que viera antes de nós.

De fato, o ser humano não é livre, enredado que está em seus genes e condicionamentos. Os primeiros, não podemos mudar tão facilmente. Os segundos, contudo, estão sob nosso poder, apesar de na maior parte do tempo os deixarmos comandar. Liberdade é nossa capacidade de auto-reforçarmos nossos comportamentos mais desejáveis. Assim sendo, o ser humano pode não ser livre, mas caminhar paulatinamente para uma maior liberdade.

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Não fiquei muito satisfeito com o texto em si - achei que ele ficou um pouco confuso e desconexo - mas achei que seria interessante compartilhá-lo no blog, e ver se alguém aqui tem algo a dizer a respeito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como ficam as questões de responsabiliade, mérito e culpa a partir dessa tua concepção de liberdade? E fazes alguma diferenciação entre liberdade e livre-arbítrio, ou estás tratando como sinônimos?