sexta-feira, 18 de julho de 2008

A Conquista da Biblioteca Central

Fiz mais uma incursão em biblioteca desconhecida. Desta vez, fui direto para a capital bibliográfica da UFRGS: a Biblioteca Central, ou simplesmente BC, sediada na própria reitoria. Fui procurar dois livros do Tolstoi. Como o nome já diz, essa biblioteca não é a provinciana biblioteca da Psicologia, mas o centro de todas as bibliotecas da universidade, o supra-sumo de livros, e, consequentemente, de numerozinhos e letrinhas confusas do Dewey Decimal System, meu eterno inimigo. Quando entrei na BC, já me senti desesperado pelo tamanho e quantidade de prateleiras, sem falar a arquitetura opressiva, o teto baixo e as paredes claustrofobicamente próximas, resultados da improvisação do espaço (por que, sem dúvida, aquela sala não foi projetada para ser uma biblioteca).

Não sou mais pego com as calças na mão. Verifiquei duas vezes se os códigos que anotara estavam corretos. Até esbocei uma tentativa de procurar os livros por conta própria, mas como estava distante demais dos números desejados (pelo menos umas cinco centenas), resolvi pedir arrego para a bibliotecária logo de uma vez. Depois de uma rápida consulta ao sistema (o Big Brother Biblioteca), ela me apontou a direção e disse "esses livros estão no corredor 8". Para meu desespero, há três corredores 8 diferentes. Quase comecei a chorar. E quando li as plaquinhas na frente das estantes, e vi que 882 (prefixo dos livros que buscava) não estava lá, quase cometi suicídio ritual. OK, isso é exagero, mas dei uma das minhas ceninhas de desespero imbecil em bibliotecas. Para piorar toda minha situação, aquele lugar fede, por causa do acúmulo de poeira centenária nos livros. O(s) corredor(es) 8 era provavelmente o mais cheio de poeira e mofo dos séculos, pois lá que ficam os livros da Coleção Eichenberg, com livros datados desde o século XVI. A sensação de respirar história vem, nesse caso, com a sensação de pegar uma renite de brinde. Ou de alcançar um estado alterado de consciência. O que vier primeiro.

Fui até o final do corredor 8 que escolhera a esmo para ficar olhando, e descobri que, na outra ponta, também havia plaquinhas com números. E lá estava o código 882 - literatura russa! Depois disso, foi uma tetéia de achar os dois livros que buscava. Eles estavam juntos, lado a lado. São velhos, e suas páginas já não estão mais amarelas, mas marrons por causa do tempo. Senti grande reverência por Tolstoi - ainda hoje ele vive. E fiquei agoniado, quando, na hora de retirar os livros e desmagnetizá-los, a bibliotecária ficou esfregando eles contra uma placa preta. Uma verdadeira falta de respeito com o passado! Isso e as unhas dela, pintadas de amarelo berrante, mas isso não vem ao caso.

Enfim, fui em mais uma biblioteca, mais uma vez sofri por causa do velho Dewey, mas novamente trago os livros para casa. Sobrevivi mais uma batalha para poder contar a história. Uma vitória dos povos livres do Ocidente! Eu acho.

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