domingo, 30 de março de 2008

Um Sentido Transcendente de Ciência

Ultimamente, tenho estado intelectualmente ocupado com questões epistemológicas – será a ciência um fim em si mesmo, ou apenas um movimento político?

Os defensores da primeira posição defendem, de forma semelhante ao que os parnasianos diziam da arte, que a ciência a si se basta, e vão além, dizendo que tudo pelo bem da ciência é aceitável. São os chamados positivistas e cartesianos, que acreditam em um mundo externo real, objetivo e material, passível de mensuração e controle, onde a opinião própria e subjetiva dos indivíduos nada conta diante dos fatos concretos da experiência.

Do outro lado do front, posicionam-se os ditos pós-modernistas. Eles questionam o valor absoluto da ciência, ressaltando seus processos políticos, frequentemente ignorados ou até mesmo desmentidos pelos positivistas. Para os pós-modernistas, não existe uma realidade externa tangível, realmente material ou mesmo real, e a subjetividade exerce um papel extremamente, se não o mais, importante em nossa realidade.

Enquanto a posição positivista pode defender a tortura de animais e seres vivos para “o bem da ciência”, os pós-modernistas frequentemente atacam a validade e a necessidade de experimentos, defendendo que a ciência deva se tornar uma hermenêutica, ou seja, limitar-se apenas a descrever os fenômenos, sem buscar relações causais.

São duas posições problemáticas, pois com o positivismo, corremos o risco de colocar a ciência em um pedestal e fazer sacrifícios em seu nome, enquanto que com o pós-modernismo corremos o risco de passar os dias apenas descrevendo as coisas, imersos em um oceano de intelectualismos, cheio de palavras bonitas e complicadas, porém nenhuma atitude, nada que faça nossa vida realmente melhor.

Depois de muito pensar a respeito destes dois posicionamentos epistemológicos, percebi que em ambos, falta algo fundamental. Não em seus discursos, mas em suas práticas e em sua filosofia mais profunda: um sentido. Para os cartesianos, a ciência é o princípio, o meio e o fim de todas as coisas, e tudo que for para ela e por ela vale a pena ser feito, ao passo que para os pós-modernistas tudo o que importa é a subjetividade, e a ciência e seus “fatos” mutilam a subjetividade, e portanto deve ser abolida, ou pelo menos grandemente limitada. Mas e a humanidade?

Ah sei, parece retórica barata clamar pela humanidade (Oh the humanity!) em um texto sobre ciência, mas tanto o positivismo quanto o pós-modernismo esqueceram-se de que sua função fazer do mundo um lugar melhor, para nós que hoje vivemos, e para as futuras gerações ainda por vir, seres humanos e outras espécies de seres vivos também. Focamo-nos demais nas políticas mesquinhas de agora, e deixamos de lado este sentido transcendente da ciência, de preocupar-se com todos os que vivem sobre este pequeno planeta azul, de fazer suas vidas melhores materialmente, mas também mais significativas espiritualmente.

A política influencia a ciência, mas esta não deve nunca abandonar a busca de uma Verdade apenas por que ela parece inatingível.

"Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!"

Mário Quintana

sábado, 29 de março de 2008

A Reforma Psiquiátrica - Verdades, Mitos e Política

Estava pensando um dia desses sobre o que vejo na faculdade, e o tema da Reforma Psiquiátrica e do Movimento Antimanicomial vieram-me instantaneamente à mente. Tive aulas de Psicologia Social e Políticas Públicas com Simone Paulon, uma das principais pesquisadoras da área, compareci à terceira edição do Mental Tchê em São Lourenço do Sul e muito ouvi meus veteranos falarem a respeito.

Basicamente, os princípios que norteiam a luta antimanicomial são os da humanização dos serviços de saúde mental, e por uma maior descentralização do poder dentro destes serviços, agora concentrados nas mãos dos psiquiatras. O ideal da reforma psiquiátrica é, em outras palavras, garantir que seus usuários sejam tratados como os seres humanos que são, e não como os internos de hospícios tem sido historicamente tratados, como animais. Neste ponto, acho que todos, desde psiquiatras até psicólogos concordariam.

Mas não consigo parar de me questionar se a reforma psiquiátrica até agora empreendida conseguiu fazer o que se propôs. Ela está dando certo?

Com certa freqüência, vejo notícias de jornais falando sobre como usuários de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que deveriam de certa forma “substituir” os hospitais psiquiátricos, são mau atendidos, não recebem seus remédios, que vivem um constante “entra-e-sai” do CAPS. Estes jornais frequentemente defendem que isto não pode continuar desta maneira, e que a única solução seria restabelecer os manicômios. Vários colegas de curso, ao se depararem com tais reportagens, saem bradando que a mídia é “reacionária” e que foi “comprada” pelos psiquiatras. Poderia pensar assim também, e não ter que agoniar-me com as dúvidas que agora me afligem, e ser aceito como mais um feliz estudante de Psicologia com pensamento crítico, mas prefiro ser levemente reacionário e ignorante, e questionar se o que estes jornais afirmam (o mau atendimento de usuários de CAPS) é verdadeiro ou não. E, usando um pouco do abominado senso comum, não vejo o que a mídia teria a ganhar fabricando notícias sobre o sistema substitutivo. Nenhum jabá corporativo valeria a sua credibilidade se este sistema funcionasse perfeitamente.

Admito minha ignorância a respeito deste assunto, pois não conheço nenhum CAPS por dentro, e as poucas coisas que conheci a respeito da reforma psiquiátrica me foram apresentadas por seus defensores, o que torna seu testemunho um tanto quanto suspeito. Sempre que ouvimos um psiquiatra criticar a reforma psiquiátrica, dizemos que ele é “enviesado” e tem “motivações políticas”, pois seu poder com esta reforma esta se esvaindo. Mas por que não dizemos o mesmo quando um psicólogo defende a reforma, pois ele está ganhando poder com ela?

É uma questão complicada. Ouço dizer bastante que por trás de toda teoria técnica há um discurso político. Que os psiquiatras defendem os hospitais psiquiátricos por que nestes eles detêm poder absoluto. Mas isto torna a eficácia das técnicas psiquiátricas nulas, meros epifenômenos do sistema político da saúde mental? Sei que, historicamente, pacientes psiquiátricos foram simplesmente empilhados em prédios sujos e escuros e lá esquecidos, mas será que foi (e é) assim mesmo? Mais uma vez, admito minha ignorância, pois nunca conheci um hospital psiquiátrico de verdade. Fui no São Pedro uma vez, mas acho que não posso tomá-lo como modelo, já que, por ter sido o primeiro do estado, ele é um símbolo da força dos psiquiatras, e portanto é um alvo preferencial dos ataques reformistas. Acho que a Clínica Paulo Guedes de Caxias do Sul seria um melhor exemplo, por ser um tanto quanto ignorada no plano político estadual (nunca me falaram nada a respeito dela. É só São Pedro na cabeça).

Recebi um e-mail uma vez, através da lista do COREP, falando sobre uma dessas reportagens “reacionárias” que saiu n’O Globo do Rio de Janeiro, sobre pacientes psiquiátricos morrendo na rua. Não lembro direito dos detalhes, mas lembro que o autor da mensagem conclamava a todos nós a repudiar a tal da reportagem, e a trabalhar rapidamente para “conter os danos causados” por ela. Por “contenção de danos” neste contexto, imagino que fosse convencer a opinião pública de que a reportagem não refletia a realidade. Não sei se reflete, e confio que meus colegas mais experientes esclareçam este tópico. Mas fico pensando... por que a mensagem deste e-mail era sobre “conter os danos causados” pela reportagem, e não “impedir que mais mortes aconteçam” por causa das falhas do sistema substitutivo? Os argumentos de que não há dados estatísticos sobre as mortes dentro de hospitais psiquiátricos, e que se mantivermos o apoio da opinião pública, a reforma poderá continuar, e a condição geral dos usuários do sistema de saúde mental melhorará foram os primeiros que eu usaria em defesa da contenção de danos e de uma publicidade eficiente. Mas um mestre de Karatê me perguntou durante um treino: o que é melhor: ser eficiente ou parecer eficiente? É uma posição filosófica bem diversa da máxima maquiavélica de que parecer é mais importante do que ser. Além disso, devo admitir que Artes Marciais e Políticas Públicas são domínios bem diversos, e que muitas coisas que se aplicam à uma, não se aplicam á outra. Mas será que parecer é mais importante do que ser?

Dizem que a melhor forma de propaganda é o boca-a-boca: alguém usa seu serviço, gosta, e recomenda para os amigos e conhecidos. Desta maneira, se você for bom no que faz, logo terá uma clientela cativa. Não sei se há estudos confirmando este fenômeno, mas casos anedotais a respeito disto existem por toda parte. Seria demais supor que a melhor publicidade para a reforma psiquiátrica é seu funcionamento eficaz? Cansei de ouvir que “político, tudo é”, para citar ainda outro e-mail que recebi sobre estas pendengas. A parte técnica, prática e funcional não quer dizer absolutamente nada? É só um mal necessário, como o extintor de incêndio obrigatório em todos veículos automotores (que diga-se de passagem, não serve muita coisa)? Utilizando-me desta lógica, é possível defender a substituição da Psicologia e da Psiquiatria no tratamento de transtornos mentais, e colocar Terapia de Florais em seus lugares. Afinal, não é tudo política? Se eu for um terapeuta floral muito eficiente no campo da política, eu posso passar por cima de todas as pesquisas empíricas irrelevantes e fazer do meu discurso mais importante que todos os outros. Certo?

O que quero questionar não são os objetivos da Luta Antimanicomial, muito nobres, mas seus meios, que, pelo que me parecem, não são lá grande coisa. Claro, os seus defensores conseguiram transformar a reforma psiquiátrica em lei, e isso demonstra grande habilidade e força, especialmente quando se pensa que o adversário principal da reforma seja o cartel médico. Impedir que as freqüentes ondas de ataque vindas do “outro lado” derrubem a lei é outra prova de poder. Mas e os pacientes psiquiátricos, como ficam? Não tenho a menor dúvida de que há milhares de psicólogos, enfermeiros, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e outros tantos profissionais que trabalham com saúde mental preocupados com as condições daqueles que procuram sua ajuda. Mas as reportagens que vira e mexe aparecem, falando sobre pacientes de CAPS morrendo feito moscas, por mais questionáveis que possam ser, trazem à tona algo que pode ser verdadeiro: o sistema substitutivo não está dando conta do recado. Isto é verdadeiro realmente? Não sei. De novo devo admitir minha ignorância sobre este assunto, já que não conheço o “front”, e passo (por enquanto) todo meu tempo atrás de livros e polígrafos xerocados. Mas se simplesmente refutarmos estas afirmações como sendo “descabidas”, ou mesmo “reacionárias” e “mentirosas”, sem discutir criticamente o que acontece, vamos tirar os psiquiatras de seus locais de poder, e colocar os psicólogos em outro. E chamar quem é contra isso de desalmado ou coisa pior.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Para além da Política e Opinião

Em um processo científico, a crítica é fundamental. Primeiramente, por que ela permite que o pesquisador seja privilegiado com informações advindas de outros campos, e desse modo, pode enriquecer seu delineamento experimental. Segundo, por que alguns erros óbvios não são tão óbvios quando olhamos muito perto, e alguém mais distanciado pode apontá-los. Portanto, é sempre salutar quando um cientista promove debates sobre pesquisas alheias, pois isto potencializa o progresso. Mas entrar na justiça para proibir uma pesquisa, com a desculpa de “discutir com a sociedade” não é só desonesto, é covarde e mesquinho.

Esse é um assunto antigo, tanto aqui, quanto no Amoladores de Facas. Já cansei de falar a respeito das posições adotadas por muitos dos críticos da pesquisa que será (ou não) realizada por neurocientistas da UFRGS e da PUCRS com meninos internos da FASE, utilizando-se de técnicas como Pet Scan, Eletroencefalograma e Ressonância Magnética. Mas através das discussões de que participei sobre ela, pude notar várias incongruências no discurso destes “campeões dos direitos humanos”.

Michel Foucault, importante filósofo e sociólogo francês, através de suas pesquisas, concluiu que, por trás do discurso psiquiátrico de várias épocas havia um discurso político, que era mais significativo do que o discurso técnico. Por exemplo, era comum que mendigos, bêbados e outros moradores de rua incômodos fossem internados em hospícios, para que não incomodassem a “boa sociedade” com sua visão asquerosa. Por chocante que possa parecer, isto ocorre até hoje. Basta apenas visitar um hospital como o “glorioso” São Pedro, ou o Instituto Psiquiátrico Forense. Foucault apontou algo incômodo, porém verdadeiro, uma verdadeira mancha em nossa sociedade. Mas, como bom guru que se tornou (duvido que por desejo próprio), teve seus ensinamentos devidamente postos no Altar da Certeza.

Numa das primeiras discussões em que me envolvi sobre essa pesquisa, reclamei que os críticos estavam focando-se exclusivamente na política, deixando de lado as questões técnicas. Recebi como resposta “político, sempre é”. Tirei de contexto, o que pode ter desvirtuado seu sentido original, que dizia que posicionar-se contra ou a favor de uma pesquisa é um posicionamento político, mas representa bem o que quero demonstrar. No agora famoso debate da TVCOM sobre este mesmo assunto, Martha Narvaz começou sua parte dizendo exatamente isto aqui:

“A gente sabe que existem diferenças de discurso teórico, que são os discursos da biologia, discursos da genética, discursos da psicologia, e dentro da psicologia, tem a psicologia experimental, que pensa diferente de outras linhas teóricas. E a gente sabe que todos esses discursos vão disputar no meio acadêmico a sua condição de verdade.”
(grifo meu)

Este debate deveria ser exibido para todos os calouros de Ciências Humanas da UFRGS, com o título “Como não fazer ao se posicionar em um debate”. Ela é tão ruim debatedora que foi uma dor ter que voltar o vídeo várias vezes para pegar a parte que eu queria. Destaquei a última frase da citação, que considero paradigmática. Em outras palavras, ela diz “nossos discursos valem a mesma coisa, não importa qual seja mais útil, ou empiricamente validada. O que conta é opinião”. Ao longo de todo o debate, diversas vezes ela diz coisas do tipo “é uma opinião minha, pessoal, mas essa pesquisa é eugenista!” Não acredita? Vai lá e olha todos os quatro vídeos. Não sou masoquista pra ficar olhando tudo de novo. Mas enfim, o que ela faz é colocar coisas bem diversas, desde Terapia Cognitivo-Comportamental até Terapia de Florais no mesmo balaio, joga fora todos os experimentos que atestam a eficiência da primeira e colocam em dúvida a da segunda, e diz que o que importa é o discurso político. Quem tiver mais muque é quem está certo (um discurso legitimamente nazista). Peguei pesado, admito, primeiramente por que ela não falou de TCC e de Florais, e muito menos defenderia esta última, mas com este exemplo, pretendo demonstrar o sofisma que ela utilizou como argumento. Se eu quisesse defender que a Terapia de Florais é superior à Terapia Cognitivo-Comportamental, eu utilizaria argumentos muito semelhantes aos da doutoranda Martha.

Desprezar a parte técnica da ciência, e focar-se apenas nos aspectos políticos que envolvem a teoria é perigoso. A História, para quem a Martha apelou quando falou no mr. Hitler, dá um bom exemplo do que aconteceu quando a técnica foi ignorada: Trofim Lysenko. Para quem não conhece esta figura e não está com paciência para ler o artigo da Wikipédia, Lysenko foi um geneticista soviético que decidiu ignorar as descobertas de Gregor Mendel no campo da genética, tirou uma teoria própria do ar, convenceu Stalin que não existia coisa melhor no mundo, expurgou seus rivais teóricos do país,e aplicou suas teorias nas plantações de trigo da União Soviética. O que aconteceu em seguida foi uma queda espantosa na produtividade, falta de alimentos e fome generalizada. O lado que ficou com o velho Mendel conheceu destino mui diferente, a Revolução Verde, o maior salto em produtividade de colheitas. Imaginem se, lá nos idos de 1940, geneticistas ocidentais influenciados por Lysenko começassem a falar que tudo é discurso, e convencessem os presidentes de seus respectivos países a proibirem pesquisas em genética mendeliana, só na lábia?

Em um campo como as Ciências da Saúde, isto é tão ou mais perigoso. As Neurociências tem se mostrado extremamente promissoras nos últimos dez anos, trazendo benefícios concretos para a humanidade, e não para o conceito abstrato de “progresso científico”. Elas têm beneficiado pessoas. Se existe um discurso político por trás das neurociências, da Terapia Cognitivo-Comportamental? Certamente. Estes discursos políticos influenciam os rumos da pesquisa? Qualquer um que trabalha com pesquisa sabe que sim. É o discurso político o fator mais importante por trás da ciência? Não. O fator mais importante é o bem-estar de todos os seres humanos, estejam eles envolvidos ou não no processo científico.

Peguei apenas um extremo da discussão e ampliei-o para tornar meus argumentos mais claros por contraste, mas nem de longe as posições aqui criticadas representam a opinião da maioria. Muitos de meus colegas são contrários a esta pesquisa, por temerem que os meninos envolvidos fossem tratados como absorventes (ignorados depois da pesquisa), que os procedimentos envolvidos acarretassem mal físico ou psicológico, ou que as vias políticas pelas quais os pesquisadores caminharam para ter acesso à FASE fossem duvidosas. Mas nunca endossaram seu boicote. O palestrante do último seminário em pesquisa em psicologia levantou justamente o problema do discurso positivista por trás desta pesquisa, mas rechaçou a idéia de apelar para a Justiça proibir sua realização. Questionou a teoria e os métodos. Baseou-se em opinião e política, mas foi muito além delas. Foi um verdadeiro cientista.

terça-feira, 25 de março de 2008

Mais do mesmo

Saíndo da aula hoje, acompanhei meu veterano e bom amigo amolador Marcelo até a parada de ônibus. Íamos conversando a respeito de seu local de estágio, um posto de saúde onde, segundo ele, há apenas três psicólogos, e um monte de gente de outros cursos da área da saúde, como Enfermagem e Nutrição, e que não poderia ser melhor.

Venho pensando nisso faz algum tempo. Em outras universidades, como a UCS e a UFSC não tem um Instituto de Psicologia, mas um Departamento de Psicologia, que fica dentro de um Centro de Ciências Humanas, e compartilham o mesmo prédio com os departamentos de História, Geografia, Antropologia, Filosofia, Sociologia e outros cursos de graduação e pós-graduação em Ciências Humanas.

Na UFRGS, isso não é assim por capricho da história: no tempo da ditadura, quando o Campus do Vale foi construído, mandaram todos os cursos de Humanas para lá, para que não enchessem o saco do governo. O então Departamento de Psicologia, por estar localizado no Campus Saúde, e não no Centro (e talvez por só ter courinho de pica na Psico), não sofreu uma mudança forçada, e ficou dono do campinho do prédio do antigo Ciclo Básico. Absolutamente sozinho.

Claro, os estudantes de muitos outros cursos têm aula no nosso prédio, mas raramente se conversa com eles. Este ano, abriu o curso de Fonoaudiologia, que está sediado (pelo menos por agora) justamente ali no nosso prédio, mas ninguém (exceto eu) vou conversar com eles, nem que seja para falar mal dos professores.

Acho que esta falta de diálogo com outras áreas, outros cursos empobrece muito nossa formação. Ficamos o dia inteiro discutindo Foucault, Deleuze, Lacan, às vezes algum chato puxa Popper (chato por que gosta de Filosofia da Ciência, e provavelmente é um amolador de facas), outro mais inovador trás alguma coisa sobre novos desenvolvimentos em psicoterapia ocorrendo nos EUA (e é provavelmente ignorado pela maioria). E isso é tudo. Muito pouca variedade de pensamento, é sempre o mesmo ar velho e podre que respiramos. Trocar uma idéia com o pessoal das Ciências Sociais traria algo novo pelo menos.

segunda-feira, 24 de março de 2008

O AVC de uma Neuroanatomista

Neste vídeo de 20 preciosos minutos, uma neuroanatomista relata a experiência de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Vale a pena assistir.

Fantasia e Realidade

Sempre gostei do gênero Fantasia, seja através de livros, desenhos animados ou jogos de estratégia. Destes, um que muito me marcou foi a série de jogos de estratégia “Warcraft”, que se passa no mundo fantástico de Azeroth. Sempre fui fascinado pela grande quantidade de raças e povos diferentes convivendo em um mesmo planeta, mesmo que raramente esta convivência fosse pacífica. Em Warcraft, as raças mais famosas são os Orcs e os Humanos, mas existem também os Anões, os Gnomos, os Altos Elfos, os Elfos Noturnos, os Trolls e os Minotauros, para ficar só nas principais durante o terceiro jogo da série, sem contar os creeps, raças neutras que apareciam durante os jogos para ajudar ou atrapalhar o jogador.

Toda essa diversidade racial fazia o mundo que vivemos parecer um tanto quanto monótono, povoado apenas por nós, seres humanos. Então, lembrava-me que todas estas raças foram inspiradas em povos de Homo sapiens que existem ou existiram sob a face da Terra, e só em algumas, fazendo de Warcraft apenas uma simplificação enfeitada de nossa realidade. Na realidade, não precisamos, ou pelo menos não temos como, “nerfar” (enfraquecer) uma civilização para que o jogo fique mais justo para todos. Se o mundo fosse um jogo de estratégia, uma fragata da Marinha dos Estados Unidos, que domina os oceanos Pacífico e Atlântico, estaria em termos de igualdade com um barco da Marinha da Bolívia, que apenas patrulha o lago Titicaca.

De repente, o mundo real é muito mais interessante que a fantasia, apesar de não ter orcs ou elfos.

domingo, 23 de março de 2008

Psicanálise e Psicopatologia

Acabo de postar meu comentário sobre o conto "William Wilson" de Edgar Allan Poe no fórum online da disciplina de Psicopatologia. Não consigo ler nem o que escrevi, quanto mais o que os outros escreveram. Oh Senhor, por que me abandonastes?

Vida Dura (Parte 9)

Desde que comecei a faculdade, me tornei um especialista em ônibus, com ênfase nos intermunicipais. Se existisse um sistema de milhagens para passageiros da Caxiense, eu seria um dos maiores premiados.

E do alto de minha experiência de viajante, posso dizer que não existe ônibus mais fedorento do que o intermunicipal com banheiro. Pensem bem: em um dia inteiro, um veículo desses realiza, pelo menos entre Caxias do Sul e Porto Alegre, umas 6 viagens. Nessas viagens, de duas horas cada, há sempre quem precise ir no banheiro para satisfazer suas necessidades fisiológicas (por alguma coisa pra fora). E quantas vezes o banheiro é higienizado ao longo do dia? Provavelmente, só duas vezes - antes e depois de começarem as viagens.

Toda vez que eu entro em um busão eu sinto o bodum de urina parada, merda e vômito interagindo e reagindo de formas ainda mais fedorentas com o plástico do assoalho. Quem dera eu pudesse ficar com o nariz entupido cada vez que fosse viajar. Minha vida seria muito mais cheirosa. Ou ignorada. E nestas viagens, o ar condicionado apenas atrapalha, pois o mesmo estoque de oxigênio do início da viagem é refrigerado e jogado de volta para os passageiros, cheirando cada vez pior. Tive a sorte de hoje andar em um ônibus que permite abrir as janelas - e entrar ar puro e cheiroso. OK, nem tanto. Mas o ar enfumaçado de Canoas é bem melhor do que o ar embostalhado do busão.

Pequena ruptura

Credo, eu gosto de escrever!

Bio X Socio

Tendo em mente o que escrevi no meu post anterior, falarei um pouco sobre as pesquisas no campo das Ciências Humanas.

Apesar de existirem muitas forças atuando sobre nosso comportamento, e apesar de existir um certo consenso na comunidade científica de que, em ordem de melhor compreender a nós mesmos, precisamos estudar a todos estes determinantes, as duas forças que são realmente estudadas atualmente são as forças ambientais-sociais e biológicas. Os fatores físicos são um tanto quanto ignorados pelos cientistas humanos, e a parte psicológica só muito recentemente voltou ao centro das atenções (e mesmo assim, coberta por controvérsias, como por exemplo a existência do Livre-Arbítrio). E tradicionalmente, explicações biológicas tem sido feitas por cientistas e militantes de partidos e políticas de direita, graças à influência de Darwin, e devido à influência de Karl Marx, as explicações sociológicas tem sido feitas por simpatizantes de esquerda. Isto não se aplica a todos os pesquisadores, mas uma parcela muito significativa destes cai nesta divisão.

Ao longo da história, partidos e movimentos de direita, tais como o Partido Nacional-Socialista de Hitler, tentaram provar através da genética por que eles eram melhores e por que deveriam ser vitoriosos, ao passo que movimentos esquerdistas, como o Comunismo de Marx, enfatizaram os processos sociais, para ir contra o determinismo biológico. Entretanto, acabaram por cair em um determinismo social.

E, infelizmente, esta dicotomia persiste até hoje, especialmente quando se trata de marxistas, que disfarçam suas crenças de "defesa dos direitos humanos" e "antideterminismo", e associam toda e qualquer pesquisa biológica ao nazismo. Isso explica por que eu tomo tanta pedrada em um ambiente claramente esquerdista como a Psicologia.

A Ciência Humana

O comportamento humano é influenciado por muitas forças diferentes. Na verdade, não se pode precisar com certeza essas forças - a ciência apenas as dividiu da forma mais conveniente possível, para facilitar seus estudos.

De maneira geral, estas forças determinantes são os aspectos físicos, biológicos, ambientais, sociais e psicológicos do ser humano. Não é uma divisão cientificamente embasada, apesar de ser baseada em muitas pesquisas científicas, mas por mim feita de acordo com o que imagino determinar nossas ações.

O determinante físico é simplesmente o mundo em que vivemos: um mundo físico, em que não podemos voar como o Superman, ou ter um laço mágico como a Mulher-Maravilha. E também é neste mundo que nossos cérebros, estômagos e baços vêm a existir e funcionam. Pode parecer óbvio, mas o mundo físico e (aparentemente) material em que vivemos determina muito a maneira como nosso organismo trabalha.

A parte biológica envolve nossa herança genética de primatas superiores, e tudo o que implica nisto. Por exemplo, não temos liberdade para sermos seres humanos hoje e peixes amanhã; não podemos escolher entre defecar pelo ânus ou por uma cloaca; e não sei se podemos viver só a base de luz (controverso, eu sei). Em outras palavras, estamos fadados a sermos seres humanos, e a viver como tais.

O ambiente é o local em que vivemos - acredito que é um tanto quanto óbvio que um indivíduo que nasceu e foi criado em uma zona desértica terá comportamentos muito diferentes de um outro alguém que viveu toda sua vida ao lado do rio Amazonas.

A sociedade é o agrupamento de pessoas dentro do qual nos desenvolvemos e com quem interagimos. É impossível para um ser humano viver sua vida inteira só - somos uma das poucas espécies cujos filhotes recém-nascidos não são capazes de viverem por conta própria no momento em que saem do útero. Isso nos torna criaturas naturalmente sociáveis, ou pelo menos, nos é altamente vantajoso sermos sociáveis. E viver em sociedade, trocando experiências e entrando em contato com muitos outros indivíduos determina de forma bastante acentuada nossa forma de pensar e agir. São hábitos e crenças compartilhadas entre um certo grupo que constituem uma cultura.

E por fim, a parte psicológica do ser humano: como pensamos. É possível dividir o fator mental em inconsciente e consciente. A parte inconsciente, como deve ficar um tanto óbvio, fazemos "sem pensar" - por exemplo, não temos que ficar raciocinando para saber qual perna colocar depois da outra quando caminhamos. A parte consciente é a nossa "mente racional", que faz cálculos, planos e coisas assim. Também é possível fazer outra subdivisão, entre pensamentos racionais e emocionais, mas que na verdade estão ligados de forma muito estreita, como as últimas pesquisas neurocientíficas vêm demonstrando.

Estas são as forças conhecidas e reconhecidas universalmente como determinantes do nosso comportamento. É possível que existam outras forças atuantes, como forças espirituais, advindas das estrelas ou da reencarnação das almas, mas estas não foram satisfatoriamente estudadas e comprovadas. Como disse anteriormente, esta é uma divisão meramente didática, utilizada para melhor se estudar as influências do mundo sobre nós seres humanos. Se observarmos bem esta divisão que fiz, notaremos que uma influencia a outra: nossa constituição cerebral influencia nossa forma de pensar, as leis da física determinam como nosso cerébro pode funcionar, certas qualidades genéticas são preferíveis em certas sociedades, e nossos projetos, como hidroelétricas, alteram de forma significativa nosso ambiente.

De certa forma, todas estas forças são determinantes de nossas ações, em outras palavras, condicionam como sempre iremos fazer as coisas. Todas, exceto nossa Consciência. Não a consciência de termos que comprar pão para o café da manhã, mas a Consciência de que existimos, que sofremos e que um dia vamos morrer. Diria que esta força é um indeterminante, pois nos torna muito mais imprevisíveis. Por mais condicionados que somos física, ambiental, biológica e sociologicamente, sempre podemos fazer o oposto do que é esperado. Na Íliada, Heitor, quando desafiado por Aquiles nos portões de Tróia, poderia ter fugido, se escondido, negado-se a lutar, ou então poderia ter feito um trato com os gregos, entregando Tróia e metade de seus tesouros em troca de sua vida, mas como disse Homero, "por que pensa meu coração tais coisas?" Ele escolheu o caminho que considerou mais digno: sua própria morte. Nossa Consciência é o que os filósofos existencialistas chamam de Dasein - o Ser-Aqui, o Ser-Agora. Não pretendo transformar este post em uma explicação da filosofia existencial (até por que não a compreendo tão bem assim para ficar explicando), mas o Dasein é o que nos torna uma espécie única de animais.

Estes fatores não atuam em blocos, ou de forma separada, mas ao mesmo tempo e de forma sobreposta, sendo um único comportamento influenciado por vários determinantes. E esta é a grande dificuldade de uma Ciência Humana, pois no atual momento que vivemos, não é possível prever ações de forma precisa (uma professora minha costumava dizer que 30% de precisão em um instrumento psicológico é motivo pra soltar foguete). E frequentemente, para burlar este pequeno problema, os cientistas caem ou no reducionismo - considerando todos os comportamentos como sendo influenciados exclusivamente por um fator, ou no anticientificismo - atacando a ciência preditiva, e limitando-se apenas a descrever os acontecimentos. O representante nato do primeiro movimento é o Behaviorismo Radical, representado principalmente por B.F. Skinner, e do segundo a Psicologia Social que me ensinam na faculdade. Nenhuma das duas é eficiente e abrangente no longo prazo, apesar de terem feito contribuições significativas para o todo.

Todas as Ciências Humanas são complicadas. Mas se eu quisesse moleza, teria feito Engenharia.

Organização do blog

Criei um novo marcador essa semana: Teologia.

Teologia seria a ciência que estuda a existência, presença e comportamentos de Deus. Uma Psicologia Divina. Pelo menos foi isso que os escolásticos da Idade Média fizeram, discutindo de formas extremamente rebuscadas quantos anjos caberiam na ponta de um alfinete, ou o que aconteceria se um mosquito caísse na água benta.

Apesar de este tipo de discussão ser extremamente interessante de ser feita em estados alterados de consciência (vulgo bêbado ou chapado), não pretendo fazê-las aqui. Tem o blog dos Amoladores para esse tipo de coisa. Aqui, quando marcar algum post com o tag "Teologia", será por que trata de assuntos espirituais. Pode ser que a palavra Teologia não seja historicamente a mais apropriada para isto, mas acho que etimologicamente ela é bastante adequada, além de terminar em "logia", como Psicologia, Sociologia e Biologia, fazendo uma organização bem interessante de tags.

Estou pensando se não divido o bloco com os links para os marcadores aqui do lado direito do blog de forma mais sistemática do que mera ordem alfabética.

sábado, 22 de março de 2008

A Verdade ainda me confunde

Em um post antigo, disse que existem basicamente dois tipos de pessoas envolvidas com a ciência: aqueles que buscam ativamente pela Verdade, e aqueles que aceitam uma verdade pronta do guru que mais os agrada. Cada dia que passa na faculdade, cresce mais e mais minha convicção de que isto é verdadeiro. Mas sinto que o que disse neste antigo post, apesar de verdadeiro, está incompleto, e que preciso expandir minhas idéias a respeito.

O grupo das pessoas que aceitam verdades prontas não é um bloco monolítico, que segue as mesmas idéias e ora no mesmo altar. Pelo contrário, são tão numerosos os gurus com centenas e milhares de seguidores que é impossível fazer uma lista abrangente e compreensiva. E apesar das muitas semelhanças entre estes seguidores, a quem Nietzsche chamaria de camêlos, eles não poderiam estar mais distantes entre si, pois ou se segue Fulano até a morte, ou se segue Sicrano até a morte. Qualquer fulanista detestará e criticará todo sicranista sempre que puder, e todo sicranista detestará e criticará todo fulanista sempre que puder. E qualquer um entre os dois cultos será alvejado por ambos.

Dentro deste mundo de seguidores, não é possível, ou melhor dizendo, não é permitido ser eclético - isso é uma heresia. Afinal, para que ler algo de um outro autor, quando o MEU já escreveu algo sobre este assunto, de maneira muito superior que a do outro? Trabalhando com números, só é permitido para um camêlo ser 100% comprometido com as idéias e filosofia de uma causa, e menos do que isso é falta de fé. Mas um camêlo não usa este termo. Na verdade, o mais comum é "espírito crítico" - apenas quem segue o MEU guru tem espírito crítico, pois escolheu o mesmo mestre que EU escolhi, o que prova sua inteligência e principalmente a MINHA, por ter feito a mesma escolha. Mais do que rezar pelo seu guru, o dever de todo camêlo é converter o máximo possível de seguidores para seu guru, pois isto confirmará com ainda mais força a sua sabedoria e a MINHA inteligência. O mais importante de tudo isso, é que camêlos não mudam de opinião nunca. Nunca.

Óbvio, mas não desnecessário dizer, que qualquer um que negue a conversão será tratado com desprezo. Sim, desprezo é a palavra mais precisa para este fenômeno. Talvez, se estivesse escrevendo este texto em agosto de 2007, eu não tivesse nem sequer cogitado seu uso, mas depois de muito tomar pedrada por discordar da opinião dos gurus dos outros, não hesito em dizer que é desprezo. Desprezo por que, quando vêem uma opinião alheia que discorda de sua própria, sentem-se atacados, como se uma leve brisa ameaçasse o lindo altar de palha em que colocaram seu coração, pois alguém não concorda com ele. Por isso, não se dignam a considerar as idéias expostas: atacam diretamente a pessoa que as propôs. Chamam-na de "ignorante", "reacionária", "fascista", o que for melhor para a ocasião. Vale dizer que só citei palavras que já foram atiradas em minha cara por causa de minhas opiniões.

Mas isto, segundo os seguidores, é para nosso próprio bem. "É para tu veres a verdade", dizem. "Quando fores mais velho, estudares mais, vais pensar como nós", falam. Lacan é o caminho, a Luz e a verdade, e tudo e todos que não concordarem com ele estão condenados ao positivismo e à imbecilidade, e são merecedores de todo meu ódio!

Em gritante contraste com estas pessoas, aqueles que buscam a Verdade, não apenas uma verdade conveniente, dificilmente se atêm à um mestre. Na realidade, eles têm muitos mestres ao longo de sua vida: conhecem-no, aprendem, e quando não há mais nada para se aprender, partem em busca de seu próximo professor. Não há um guru superior aos outros; todos são respeitados igualmente pelo que ensinaram e atingiram. Estes que buscam a Verdade, a quem Nietzsche chamaria "crianças", não querem se tornar meros seguidores - querem se tornar mestres em seu próprio direito, e ensinar o que aprenderam com outros mestres, e principalmente aquilo que descobriram por conta própria. Não há dogmas para uma criança: se uma idéia até então considerada imbatível for substituída por uma superior, ela abandona o passado e abraça o futuro. Não há apegos desnecessários ao que já não é mais. De fato, este é o caminho para a grandeza.

Mas os camêlos, estes seguidores inveterados de qualquer um que se diga mestre, abominam a grandeza, e buscam tornar a todos aqueles que a buscam em medíocres. De todos aqueles que eles poderiam detestar, as crianças são seus maiores inimigos. A ironia disto tudo é que muitos dos gurus que hoje são incensados por milhares de camêlos sofreram os mesmos preconceitos, e foram atacados pelos camêlos seguidores dos gurus de antigamente. Muitos dos gurus de hoje foram as crianças de ontem. Claro, seus seguidores fazem questão de dizer como seu mestre foi atacado por suas idéias, mas que triunfaram no final, graças à sua grandeza inata, por buscar a Verdade (que, segundo dizem, ele atingiu). Mas são os primeiros a atacar aqueles que buscam a Verdade hoje, por caminhos diversos dos seus, sem considerar argumentos ou idéias. Elas não são válidas a priori. É como ser fã de um grande corredor da década de 1960, e quebrar as pernas de um menino ou uma menina que queira ser atleta, por medo de ela superar o seu ídolo.

Tenho sentido na pele este preconceito. Ele não é constante, mas é real. Não quero interpretem o que disse como sendo uma auto-vitimização, apesar das idéias aqui expostas serem fruto de ataques a minha pessoa por causa de minhas idéias, nem que me considero superior a ninguém - de fato, nem sei bem se estou no caminho certo. Estou apenas tentando, e vendo qual me trás mais alegria e satisfação. Apenas busco essa grandeza, sem saber muito bem o que é. Só sei que é difícil de alcançar, e talvez por isso valha a pena buscá-la.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Desabafo

Um dos temas mais antigos e mais controversos da Psicologia é a questão de sua cientificidade: a Psicologia pode ser considerada uma ciência? Basicamente, há três posições argumentativas para esta questão: uns dizem que "não", a Psicologia não é uma ciência e nem nunca será, pois seu objeto de estudo é intangível e por demais subjetivo para ser estudado de forma empírica rigorosa, e deve limitar-se a descrever os fenômenos psicológicos; outros dizem que "sim", a Psicologia é uma ciência, pois utiliza o método científico para fazer inferências eficientes sobre o que não é observável, e pode atingir um grau bastante elevado de previsão de comportamentos, indo além da mera descrição; e têm os que dizem "ainda não" - para esses, a Psicologia é uma "Protociência", uma ciência séria ainda em estado de gestação, e portanto cheia de conceitos inúteis.

Meu objetivo com este post não é defender uma destas posições - deixo estas pendengas para os epistemólogos que são pagos para isto. Pretendo fazer uma breve descrição do que tenho observado nos meios que convivo por causa da faculdade. Escrevi o primeiro parágrafo com a intenção de deixar claro que o contexto da Psicologia é uma bagunça, fato fundamental para entender o que vou dizer a seguir.

Dentro da Psicologia, as pessoas tomam posições antagônicas sobre o que uma ciência é, qual sua função e importância para a sociedade e para a humanidade como um todo. Tenho visto um espectro bem amplo de opiniões, tão variadas quanto a própria Psicologia é - em uma ponta deste continuum, estão aqueles que abominam o empirismo, e que colocam a subjetividade humana acima de tudo; na outra ponta estão aqueles que consideram a ciência não só o bem maior da civilização, mas nossa deusa e objetivo supremo, que deve guiar todos os nossos passos. No meio dessa linha contínua, caem todos os outros sabores de opinião sobre ciência. Obviamente, os dois extremos são irracionais, mas se tivesse que detestar um mais do que o outro, seria a ponta Anticientífica, cujos representantes chamarei de "Hippies Abobados". Sua posição é de que a ciência é um demônio que escraviza a todos nós, que todo o mal já criado veio dela, e que seremos livres somente quando abandonarmos os experimentos e vivermos em paz com a natureza, como bons selvagens.

Caricato, eu sei. Mas não foram poucas as vezes que vi estudantes de Psicologia expressarem opiniões muito semelhantes - não apenas remotamente, mas muito semelhantes - as que descrevi aqui. Por exemplo, uma das críticas mas usadas (não necessariamente a mais forte ou inteligente) contra a pesquisa a ser realizada por pesquisadores da UFRGS e da PUCRS com meninos da FASE utilizando técnicas neurocientíficas é "qual o limite da ciência?", ou "devemos colocar a ciência acima do bem estar destes meninos?", e as experiências conduzidas pelo regime nazista com judeus e outros povos oprimidos para comprovar cientificamente que a raça ariana era superior. Também adoram dizer que este tipo de avaliação ignora a subjetividade pessoal, e transforma a todos em meros "robôs". Estes argumentos apenas mostram que estes Hippies Abobados deveriam ter lido outras coisas além de "Mil Platôs" e "O Capital", e visto outros filmes além dos do Michael Moore (não que sejam ruins, mas são bem parciais). Primeiro por que, pelo menos neste exemplo específico, não vão furar a cabeça dos meninos com para ver se a massa cinzenta é diferente - vão fazer PET Scan e Ressonância Magnética, o que não machuca até onde eu sei. Segundo, eles são incapazes de perceber que Hitler e seus amigos não fizeram ciência: fizeram ideologia, o mesmo que os Hippies fazem. Terceiro, o relato em primeira pessoa é fundamental em muitas pesquisas neurocientíficas, o que faz do "avaliado" um co-pesquisador, tão importante quanto quem interpreta os dados.

Mas os Hippies Abobados têm um talento especial para verem apenas o que querem ver. Não tentam argumentar racionalmente, pois é mais fácil acusar a pessoa. Se alguém defendesse esta tal pesquisa, ele seria rapidamente tachado de "fascista" ou "ignorante" - acreditem, isso aconteceu comigo mais vezes do que esperava ou achava possível. E estas criaturas (que não chegam ser indivíduos, mas meros membros de uma manada) também não vêem o óbvio: que a se não fosse a ciência, ainda estaríamos nas cavernas. Mas é mais fácil imaginar que temos computadores com internet banda larga desde o princípio do universo. É, eu convivo com gente assim.

Não escrevi isso por que quero denegrir a imagem dos hippies - para falar a verdade, sou amigo de muitos deles. Mas fico impressionado com a facilidade com que estas pessoas descambam da racionalidade para a estupidez, abandonam a discussão de idéias para partir para ataques pessoais. Não entendo como alguém possa achar que é assim que se vai para a frente. Esse post foi apenas um desabafo de um cara que tomou pedrada demais por causa de suas opiniões, baseadas na pouca coisa que leu sobre Ciências Humanas, e portanto falhas e incompletas, e que vai continuar tomando pedrada por que vai continuar abrindo a boca.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Um panorama da minha faculdade

O Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul é uma entidade política e burocrática extremamente complexa por si mesma - isso enche o saco com freqüência, mas tem seus pontos altos.

Primeiro, acho que devo fazer uma breve explicação sobre como o Instituto se estrutura legalmente.

Nossa amada unidade orgânica é composta por três departamentos: o Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Personalidade, o Departamento de Psicologia Social e Institucional e o Departamento de Psicanálise e Psicopatologia. Cada departamento é estruturado de forma independente, mas estão todos subordinados à diretoria e ao Conselho da Unidade, o famoso CU, entidade deliberativa máxima dentro do Instituto. Tão ou mais importantes que os os departamentos são as Comissões de Graduação (COMGRAD), que deliberam sobre nosso currículo e cuidam da nossa matrícula. Digo comissões no plural por que temos duas COMGRADs em nossa unidade: a COMGRAD da Psicologia, e a COMGRAD da Fonoaudiologia, tendo esta última sido criada no final do ano passado para organizar o novo curso.

Além destas 6 entidades, temos comissões e núcleos de menor importância que compõem o aparato burocrático da unidade, como a Comissão de Estágios e o Núcleo de Avaliação de Unidade (NAU). Pelo lado dos estudantes, temos o Diretório Acadêmico de Psicologia (DAP) e o Projeto de Ensino Tutorial (PET). Futuramente, teremos o Centro Acadêmico da Fonoaudiologia (CAF), mas isso já é pro futuro.

Também são vultos importantes os cursos dentro do Instituto. O curso de graduação em Psicologia está sob responsabilidade da COMGRAD-Psico e dos três departamentos, e o curso de graduação em Fonoaudiologia também está vinculado à Faculdade de Odontologia.

Muito importantes também são os cursos de pós-graduação. Há dois destes dentro da unidade: o Programa de Pós-Graduação em Psicologia, vinculado diretamente ao Departamento de Desenvolvimento, e o Programa de Pós-Graduação em Psicologia, vinculado ao Departamento de Psicologia Social, mas com participação dos professores do Departamento de Psicanálise.

Os cursos de pós-graduação são subdivididos ainda: há neles os cursos de especialização, de mestrado, doutorado e pós-doutorado (em hierarquia crescente). Os cursos de especialização são cursos rápidos e leves, por assim dizer. Seus alunos são geralmente profissionais trabalhando no mercado de trabalho (leia-se "mundo real"), e buscam um aprimoramento em suas técnicas, e estudam e trabalham ao mesmo tempo. Em cada PPG há muitos e muitos cursos de especialização diferentes (pós-graduações latu sensu), desde de Terapias Cognitivas Comportamentais à Psicologia Hospitalar. E quando digo que são leves, digo por que em um semestre eu estudo tudo o que um boçal da especialização estuda em dois anos.

Os mestrados, doutorados e "postdocs", por outro lado, são mais demorados, e mais voltados para o lado acadêmico. Não tem como trabalhar e fazer uma pós-graduação strictu sensu ao mesmo tempo: o trabalho de um pós-graduando é sua tese. Com freqüência, estes pós-graduandos dão aula para nós, chinelões da graduação, e quase sempre sem orientação de um professor titular. Fato muito criticado por 75% dos frequentadores da casa, mas deliberadamente ignorada por todos os professores preguiçosos.

Teoricamente, os departamentos deveriam ser apenas um aspecto secundário da organização interna das unidades orgânicas, mas o fato de eles terem que competir por verbas e atenção da reitoria, do CNPq e da CAPES torna isso muito mais difícil. E para piorar a situação na Psicologia, os departamentos não diferem apenas em assuntos abordados, mas também em linhas teóricas adotadas. Em poucas palavras, é um puta barril de pólvora, e qualquer estudante de graduação sabe disso (os de pós não sei se importam com coisas outras que não sua tese).

Com a promoção do Departamento de Psicologia da UFRGS para Instituto em 1996, os três atuais departamentos foram criados de acordo com as afiliações ideológicas dos professores: os psicanalistas lacanianos foram para o Departamento de Psicanálise, os analistas institucionais e psicólogos sociais foram para o Departamento de Psicologia Social e o resto foi para o Desenvolvimento. Historicamente, o departamento mais forte destes três em termos de verba e pesquisa foi sempre o Desenvolvimento. Isto talvez ocorra por causa da personalidade mais agressiva e "caçadora de tesouro" de seus professores, por suas linhas de pesquisa serem mais alinhadas com o que o resto do mundo e o mercado de trabalho queiram, ou por serem mais diversas e preencherem mais nichos. E apesar disso, ocorre (ou ocorria) um fenômeno social bastante paradoxal com a filiação ideológica dos formandos do curso de graduação. Por causa da antiga estrutura curricular, os graduandos levavam um bombardeio de Psicanálise e Psicologia Social no final do curso, Psicanálise principalmente, e todos (salvo raras e nobres exceções) viravam psicanalistas, ou psicólogos sociais com viés psicanalítico. Como o currículo mudou, e começamos a ver Psicanálise desde o começo do curso, a coisa vai ser bem diferente, mas não dá prever agora.

No CU e na COMGRAD-Psico os professores de todos os departamentos se reunem para discutir questões relevantes para o Instituto e para o curso de graduação. Em outras palavras, são campos de batalha onde se decide quem tem mais poder sobre os estudantes e sobre o Instituto. Não tive muitas oportunidades de ver o pau comendo na COMGRAD, mas já vi - e como! - isso acontecendo no CU (o que torna a coisa muito mais engraçada). A batalha mais violenta que já presenciei foi uma discussão sobre as aulas ministradas para a Fonoaudiologia. Vou passar um breve formulário que os capacitará a entender o porquê da discussão:

Aulas ministradas para a Graduação = Dinheiro
Aulas ministradas para um curso de graduação novo = Mais Dinheiro Ainda
Poder dizer que dá aula para mais de um curso de graduação = Prestígio
Poder dizer que ajudou a fundar um curso novo = Mais Prestígio Ainda

Tendo estas informações em mente, é perfeitamente compreensível o Departamento de Psicanálise ficar fulo da vida por que teve quase todas as cadeiras que tinha planejado para a Fono. Mas a coisa não para por aí, por que um professor do Desenvolvimento perguntou na cara dura "o que vocês tem para oferecer para os alunos da Fono? Só tem lacaniano no departamento de vocês! Que diversidade de idéias vocês podem dar?" (não vou nem apoiar nem contrariar a opinião deste indivíduo. Deixo para vocês deduzirem minhas opiniões). A vice-diretora do instituto e psicanalista ficou louca da vida com essa afirmação, levou tudo para o lado pessoal e ficou falando coisas do tipo "a gente vai embora se não precisam da gente então... eu sei quando sou desprezada". O professor que fez as primeiras reclamações não parou por aí, e escancarou a situação de conchavo entre o Social e a Psicanálise quando ocorriam votações importantes no CU. Os professores destes departamentos mostraram-se indignados, e alguns deles acredito que de forma sincera. Mas é óbvio para qualquer chinelão que participe das reuniões do CU como Representante Discente pode atestar isto como um fato, e não mera teoria da constipação conspiração. Foi necessário que um outro professor trouxesse o bom senso de volta para o recinto, ressaltando que o importante do curso de Fonoaudiologia não era a dominância de uma ou outra teoria da Psicologia, mas que seus conteúdos devem ser sobre Fonoaudiologia!

Os Programas de Pós-Graduação refletem ainda mais o ridículo de nossa situação. Se você se lembra do que eu escrevi sobre eles alguns parágrafos acima, vai lembrar que ambos tem o mesmo nome: PPG Psicologia. Os dois programas têm o mesmo objetivo, de formar profissionais para a área de pesquisa e ensino superior em Psicologia. Apesar das diferenças metodológicas que aparecem em alguns pontos, não é muito diferente. Então por que raio que os parta há dois programas separados? Minha resposta preferida é "frescura", mas a mais acurada é "conflitos pessoais internos". Por causa de brigas internas, um PPG a mais foi criado, e muita verba foi jogada fora. OK, muitas faculdades de sucesso têm vários PPGs com assuntos diferentes. Mas isto acontece por causa dos assuntos diferentes. Não é o caso aqui. Só isso deveria ser motivo o suficiente para reavaliar como os PPGs estão estruturados.

E existe uma outra diferença entre os cursos de graduação e de pós-graduação: a avaliação. Enquanto que nós somos avaliados por uma prova específica do MEC, a pós é avaliada pela CAPES, que adota uma metodologia bem diferente. Não vou ficar especificando quais diferenças existem entre as duas avaliações (por que isso é chato pra caralho), o que importa é que é extremamente difícil uma pós-graduação tirar a nota máxima pelo CAPES (nota 7). O PPG do Desenvolvimento tirou nota 7 na última avaliação. Furaram a parede do lado da entrada do Instituto e penduraram um cartaz dizendo isso com letras enormes, para todo mundo ver. O PPG do Social tirou nota 4 - o que não é uma nota ruim para uma pós que vai só até mestrado, mas não dá pra propagandear por aí também.

Essa história de notas do CAPES tem seu valor, mas não tanto quanto os professores do pós gostam de dizer. Se assim fosse, não teriamos tido aulas tão capengas com doutorandos do Desenvolvimento (e momentos como "Os Soldadinhos da Libido" e "A Foto da Mente" teriam ficado apenas no plano platônico das idéias). E os professores dão a bunda para dar aula para a pós - e nem são aulas tão especiais assim, pois muitos professores passam os mesmos textos para nós e para os pós-graduandos. Por essas e outras, se algum dia eu fizer pós-graduação, não vou fazer na UFRGS.

E no meio dessa bagunça toda, estamos nós, valentes graduandos em Psicologia, representados pelo DAP. Curiosamente, o DAP é a entidade que representa TODOS os estudantes de Psicologia do Instituto, graduandos e pós-graduandos. Só que a última vez que eu vi um mestrando ou doutorando entrar no DAP foi para arranjar mão-de-obra escrava barata para coletar dados pra pesquisa dele. Na prática, os únicos envolvidos no DAP são graduandos. Não posso me esquecer do PET, que é uma fonte de renda para estudantes de graduação dispostos a se prostituírem para a Pró-Reitoria de Graduação por 300 reais todo mês (eu quero vender minha dignidade para a Pró-Reitoria de Extensão). Politicamente, o PET não é grande coisa, mas organiza eventos legais de vez em quando.

Faltou xingar o DAP. Fica meio difícil para um participante desta baderna como eu criticar o DAP, mas acho um tanto quanto óbvio que muitas vezes ficamos só "problematizando" as coisas e não vamos para a parte prática de mudar as coisas. Algumas de nossas reuniões parecem a reunião da Frente Popular da Judéia, no filme "A Vida de Brian", em que eles discutem animadamente que irão fazer tudo o que dizem - tudo devidamente anotado na ata. Por sermos anarquistas, somos também levemente desorganizados, e cada um faz o que quer ou acha importante. Em algumas coisas fomos capazes de nos unir, mas devo dizer que foram situações de exceção.

Bem, me despeço, depois de tão longo post destruíndo todo o Instituto. Talvez algum dia desses eu critique os departamentos individualmente. Até lá, olhem para o lado bom da vida, como cantou Jesus Cristo.

domingo, 16 de março de 2008

Barras pra que te quero

Nesses meses de treino, correndo no parque dos macaquinhos em Caxias, notei enquanto alongava que a barra fixa é um chamariz para grupos de jovens adultos do sexo masculino, que se aglomeram em torno deste aparelho de exercícios para competir e ver quem é o mais forte. Frequentemente, o campeão é alguém recém saído do quartel, e frequentemente, é este quem incita os outros a entrarem na competição contra ele, com a certeza de que vai ganhar.

"Andarilho, VOCÊ TAMBÉM é um jovem adulto do sexo masculino".

Eu sei. Mas eu tenho padrões de comportamento diferentes, talvez por fazer Psicologia, ou por que decidi fazer Psicologia, não sei. Só sei que, sempre que vejo estas matilhas de homens se aproximando da barra fixa para ver quem é o melhor eu me mantenho a distância. Não é por medo de perder de forma humilhante. Na verdade, há poucos na minha idade que conseguiriam me derrotar num campeonato de barras. Prefiro passar incógnito, apenas observando.

Fico poderando o motivo de tais campeonatos entre amigos. Raramente eles descambam para violência, até por serem entre amigos, mas demonstram claramente a tendência masculina de competir e demarcar território. A exclamação "eu sou o Rei da Barra Fixa" não deixa de ter suas semelhanças com o comportamento dos lobos machos de urinarem em árvores para demarcar seu local de caça e afugentar machos rivais.

Também é interessante notar que este comportamento é mais comum no Parque dos Macaquinhos, em Caxias do Sul, do que no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Até agora, não vi nenhuma matilha de rapazes se aproximando de uma barra fixa para ver quem é seu rei. Há muitas explicações diversas para esta diferença: as barras fixas no Parque dos Macaquinhos são muito mais visíveis do que na Redenção - no Macaquinhos elas estão do lado da pista de corrida, enquanto que na Redenção elas estão no meio do mato. Uma maior visibilidade permite que os competidores possam vê-las mais facilmente, e principalmente, se exibirem com maior facilidade ("Olha como eu sou forte, mulherada!"). Pode ser também que, devido ao tamanho muito menor do Parque dos Macaquinhos, se comparado com o Parque da Redenção, este fenômeno social seja mais visível em Caxias do que em Porto Alegre. Ou eu nunca fui pra Redenção numa hora que os homens jovens se reunam pra cantar de galo.

Vídeos e criatividade

Finalmente aprendi como se posta vídeos em blogs. Isso permite que eu faça posts com mais freqüência, mas também pode me fazer ir por um caminho que não quero trilhar.

É legal postar vídeos e coisas catadas da internet. Mas eu sou um blogueiro com um código de conduta bem restrito: esforce-se para publicar coisas criativas e não saia copiando e colando feito um abobado é meu primeiro mandamento. Quebrei ele a marretadas no mês de janeiro no R&A. E mesmo naquela época sombria (2 meses atrás), eu ainda tentava dar um toque pessoal para todas as porcarias que eu pegava no 4chan. E colocar vídeos que outras pessoas criaram no meu blog pessoal não é criativo (fazer os próprios vídeos e postá-los, por outro lado, é).

Mas enfim, agora que eu posso colocar vídeos aqui, o blog vai ficar mais variado, o que é sempre uma coisa boa. Desde que eu não erre a mão e exagere.

Signal Fire - Snow Patrol

Primeiro vídeo postado com sucesso aqui no Espadachim Cego (eu espero). Música muito bonita, com um vídeo muito bem montado.

Doce quimera

Por alguns instantes, acreditei que consegui postar vídeos no blog, para logo depois ter meu coração despedaçado pela realidade. Não dá pra editar a droga do post sem foder com o vídeo.

Mais um link interessante

Ballastexistenz

Coloquei na guia de links interessantes hoje. É o blog pessoal de Amanda Baggs, adulta autista que defende que sua condição não é uma doença, apenas uma forma diferente de funcionar no mundo. Ela ficou mais conhecida depois que postou um vídeo no YouTube chamado "In My Language", gravado, editado e postado sem ajuda de ninguém. Nele, ela mostra sua forma pessoal de comunicação com o mundo, e reclama que, apesar de ser considerado um déficit grave não falar a língua normal (ela é "muda"), não é considerado um problema não entender a língua autista. Aqui está ele:

http://www.youtube.com/watch?v=JnylM1hI2jc

Eu ainda aprendo como colocar o vídeo no blog, mas até lá, contentem-se com um mero link.

sábado, 15 de março de 2008

Sobre o Naturalismo Científico

Baseado no texto que o Lobo da Estepe escreveu, farei o meu comentário sobre o Naturalismo Científico. Concordo em grande parte com o que o amiguinho disse, tirando algumas questões pontuais. Primeiramente, discordo da afirmação de que "a mente é produto do cérebro", pois está incompleta. Outros fatores também influenciaram nosso pensamento, como nosso ambiente, sociedade e cultura, nossa biologia, a evolução e talvez fatores extraterrenos que ainda desconhecemos e/ou não temos como quantificar.

E me vejo aqui na posição de defender os tais dos "bonecos de palha franceses" e suas filosofias derrotistas (que situação!). Concordo com o Lobo quando ele diz que a posição dos "destruidores de paradigmas" é derrotista, e não poderia ter dito isto de forma melhor. Mas o que me incomoda com a posição deles não é a negação da Verdade Única, pois afinal, não sabemos se ela realmente existe. O que me incomoda é como, usando este argumento de que a Verdade não existe, eles relativizam tudo, colocando todas as pesquisas, úteis e inúteis, boas e ruins, no mesmo patamar. Através dessa falácia argumentativa, eu posso justificar as pesquisas realizadas na Alemanha nazista que "comprovaram" a inferioridade dos judeus e outras etnias perante os Arianos. Para ver esta falácia sendo usada na prática, não precisamos voltar muito no tempo, no máximo até novembro do ano passado, e ver as reações de antropólogos, psicólogos, advogados e outros profissionais sobre a pesquisa ainda por ser realizada pelo Laboratório de Neurociências da PUCRS sobre Neurologia Comportamental com meninos com histórico de comportamentos agressivos. O Jeffbass colocou aqui o editorial da Folha de São Paulo sobre este assunto, e já falamos os suficiente a respeito disso aqui. Por enquanto, falemos de Naturalismo Científico.

De fato, como bem falou o Lobo, o Naturalismo Científico foi crucial para o progresso das Ciências Naturais nos últimos três séculos. Só o fato de eu estar escrevendo este texto no meu computador e colocando-o a disposição de milhares de pessoas ao mesmo tempo* através desta coisa maravilhosa (mas nem tanto) chamada internet é prova disto. As pesquisas de Química e Física tornaram isto possível. As Ciências Biológicas também avançaram a passos largos com esta metodologia, e a Medicina está aí para provar isto.

Mas e as Ciências Humanas? A Antropologia, a Sociologia e principalmente a Psicologia: qual foi o progresso destas disciplinas, se comparadas com suas irmãs mais velhas (Física, Química, Biologia)? Como estudante de Psicologia, não exito em dizer que foi nulo. Em nossa missão para melhor compreendermos o ser humano através, ainda estamos engatinhando, tanto que não foram poucos indivíduos que afirmaram que há mais Psicologia nos livros dos romances do que nos manuais da APA (American Psychological Association). Por quê é assim? Por que não aplicamos de maneira rigorosa o suficiente a metodologia naturalista em nossas pesquisas? Acredito que é justamente o contrário: para as Ciências Humanas, o Naturalismo Científico é de pouca valia. Como bem disse o Lobo, conceitos abstratos, não visíveis e não quantificáveis são deixados de lado na pesquisa naturalista. E os pensamentos**, os sentimentos e as motivações humanas caem justamente nesta classificação, pois ainda não conseguimos desenvolver nenhum instrumento que quantifique satisfatoriamente estes construtos. E mesmo que um dia consigamos fazer isto, eles serão de pouco uso se utilizados isoladamente (pretendo escrever sobre isso futuramente).

Não estou dizendo que o Naturalismo Científico seja inútil para a pesquisa em Ciências Humanas, apenas que seu uso é limitado. Veja por exemplo as Neurociências: de certa forma, técnicas como o MRI (Magnetic Resonance Imaging) e o EEG (Eletroencéfalograma) tornaram possível ver a mente em atividade ("é uma foto da mente!"). 50 anos atrás isto seria impensável, mas graças à tenacidade e criatividade de muitos cientistas, que seguiram os princípios do Naturalismo, isto tornou-se não só possível como muito comum. Entretanto, se fossem utilizados apenas os equipamentos para a pesquisa neurocientífica, teríamos apenas um amontoado de dados e figurinhas bonitas e brilhantes do cérebro em atividade. O finado Franscisco Varela, biólogo, filósofo e neurocientista da mais fina cepa identificou esse problema, e resolveu-o. Segundo ele a pesquisa em neurociências divide-se em três pessoas: a terceira pessoa são os equipamentos e seus resultados, a segunda pessoa é o pesquisador analisando os dados coletados e a primeira pessoa é o relato da pessoa sendo examinada. Varela chamou a técnica de terceira pessoa de "Neurofenomenologia". Sem estas três pessoas envolvidas ativamente na pesquisa, não teríamos progredido quase nada: sem o equipamento não há meio de avaliar o funcionamento cerebral; sem o pesquisador não há quem seja capaz de interpretar os dados; e sem o sujeito da pesquisa não há como dar significado aos dados. É o sujeito quem irá dizer o que e como ele está pensando e sentindo. Sem esta informação, as figurinhas bonitas são insignificantes (sem significado). Por isso que em suas pesquisas Varela tentou investigar o funcionamento cerebral de mestres em meditação, que tem maior prática em descrever seus estados internos.

Como Amolador de Facas que sou, acredito que o Naturalismo Científico foi e ainda é essencial para o progresso científico e da humanidade como um todo, e abomino relativismos extremados e irracionais. Entretanto, também abomino absolutismos, e sei que, um dia, o próprio Naturalismo Científico irá dar lugar para outros pressupostos, mais abrangentes e eficazes. Talvez isto já esteja acontecendo em alguns campos de pesquisa nas Ciências Humanas.




* Não que milhares de pessoas ao mesmo tempo irão lê-lo, mas a possibilidade existe.

** Antes que alguém venha me dizer que pensamentos não existem e citar Skinner, já digo: vai ler de novo. A posição de que os pensamentos são uma ilusão vem do Behaviorismo Metafísico, proposto por John B. Watson, que afirmava que eles eram apenas movimentos imperceptíveis da traquéia. A posição de Skinner é muito mais sofisticada. Segundo ele, os comportamentos internos (termo que ele dava para "atividade mental" e similares) existem, pois qualquer um pode observar os seus próprios pensamentos. O que ele questionava era a relevância desta introspecção para a Psicologia e a influência destes nos comportamentos externos das pessoas (posição que garantirá muitas discussões futuras).


(Senti-me tentado a criar um marcador de "Epistemologia", mas vou deixar como filosofia mesmo. Post original aqui).

Novo Link Interessante

Bem, essa é a primeira vez que faço propaganda de algum link que coloco neste blog, por que é muito interessante.

Unseen Dharamsala é um blog criado por refugiados tibetanos que moram na cidade de Dharamsala, na Índia, que é a sede do governo no exílio da Nação do Tibet e lar do Dalai Lama, seu chefe de estado, monge e uma das maiores autoridades do Budismo no mundo. É um blog de fotos basicamente, sem muita discussão política ou religiosa. O que interessa é mostrar como é a vida e a cultura tibetana hoje em dia, em seu maior centro. O blog principal contém apenas posts contando a história dos fotógrafos envolvidos neste projeto. Para olhar as fotos que eles tiram, clique no perfil deles, no lado direito da página.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 6)

Em duas semanas de faculdade, pude assistir todas as disciplinas em que me matriculei (e ter certeza de quais eu não me matriculei). Foram basicamente aulas introdutórias, sendo que em poucas realmente vimos conteúdo. Entretanto, essas primeiras aulas dizem muito a respeito do professor, do conteúdo e do que esperar para o resto do semestre. Aqui vai minha análise das aulas:

Estatística Aplicada à Psicologia - Obrigatória
Review:
Basicamente, nesta cadeira, aprenderemos a usar um genérico do Excel para compilar tabelas e enché-las de dados. E é isso aí. Duvido que fique mais interessante, mas mais chato sempre pode ficar.

Processos Grupais I - Obrigatória
Review:
Infelizmente para meu veterano Marcelo, não me sinto inclinado a chinelear esta cadeira como ele disse ser meu dever. O professor não é mal-educado como dizem, e o objetivo da cadeira é fornecer-nos um treinamento em observação de pequenos grupos, o que considero muito interessante. Como não podia deixar de ser, não gostei muito dos autores utilizados pelo professor e as discussões da turma para variar caíram na mesmice superficial que já estou acostumado. Sem falar que temos que apresentar 5 relatórios de observação e mais um trabalho final para passarmos nesta disciplina. Vai ser uma canseira desgraçada, mas espero que valha a pena.

Processos Institucionais - Obrigatória
Review:
Até agora, acertei minha previsão sobre esta cadeira: vai ser uma Psicologia Social III, ensebada e superficial. Mas pelo menos vai ser barbada passar. O método de avaliação principal desta cadeira será um diário de campo, baseado em nossas observações. A professora leu um parágrafo do diário dela para dar um exemplo de como podemos (ou melhor, devemos) escrever: prosa ruim. Vou me divertir horrores com isso. O duro vai ser agüentar as aulas, chatas como qualquer aula de Psicologia Social.

Psicopatologia I - Obrigatória
Review:
O conteúdo é tão delirante quanto eu imaginava e as discussões tão fúteis e superficiais quanto eu esperava. O que eu não esperava era a minha apatia diante de tudo isto. Na nossa primeira aula de Psicopatologia I, nem me dignei a fazer contrapontos ao que se dizia (aliás, estávamos analisando um poema. Um POEMA!). Senti que seria supinamente inútil. Estou indeciso se escolho Psicopatologia ou se escolho Processos Institucionais como minha "Hora do Xerox". Acho que vou fazer um revezamento.

Seminário de Pesquisa em Psicologia - Obrigatória
Review:
Errei minhas previsões sobre o Seminário. E não poderia estar mais feliz com isto. Ao invés de ser mais uma cadeira para discussões inócuas, será um tempo que teremos para assistir palestras de doutores e especialistas dos mais diversos campos da Psicologia, que falarão de suas linhas de pesquisa. Como a disciplina é dividida entre os três departamentos do Instituto, teremos convidados bem diferentes. Tem também a naba de ter que fazer uma análise crítica das palestras, o que, dependendo do assunto do dia, vai me complicar a vida tremendamente (a primeira palestrante tinha um pé na Fonoaudiologia, assunto que entendo xongas). Mas ainda assim, acredito que será uma excelente oportunidade para treinar minhas capacidades cognitivas de escrita e crítica. E nesta cadeira, descobri que segundas-feiras de manhã acontece algo um seminário muito parecido para a Pós-Graduação. Vou dar umas passadas por lá de vez em quando.

Teorias da Personalidade - Obrigatória
Review:
Esta cadeira continua prometendo, e já deu mostras que o que promete não é ruim. Bem pelo contrário. O conteúdo, como eu esperava, vai ser bem superficial, pois não há tempo o suficiente para olhar todos os mais importantes autores da Psicologia (sem falar nos autores de outros campos das Ciências Humanas), mas como introdução aos seus conceitos é boa o suficiente. Além disso, parece que as discussões aqui não vão ser superficiais como em quase todas as outras cadeiras, graças à participação do prof. Jeferson Nobre. Esta cadeira vai ser território dos Amoladores.

Psicologia Humanista - Eletiva
Review:
Esta cadeira ficou para a parte da manhã, como eu temia, o que vai me impedir de cursar Bioquímica (veja bem, cursar apenas), e também limita o número de participantes em apenas sete. Mas isto não é ruim. Como somos poucos, há um ar de maior familiaridade (e também por que dos sete matriculados, seis são da minha turma, contando comigo). Além disso, não há nenhum idiota participando da cadeira, o que eleva o nível das discussões para outro patamar. O assunto é interessante (eu não iria correr atrás da criação de uma cadeira cujo conteúdo fosse uma merda), apesar de superficial. Mas como meu plano maligno consiste em ir criando mais e mais cadeiras sobre Psicologia Humanista ao longo do curso, esta aula é mais uma introdução à Psicologia Humanista.

Terapia Cognitivo-Comportamental - Eletiva
Review:
Apesar de Psicologia Humanista ser muito boa, acho que a favorita para o prêmio de "Melhor Disciplina Eletiva" vai para Terapia Cognitivo-Comportamental. O conteúdo é muito legal, os professores sabem do que estão falando (isso é uma benção para qualquer estudante de Psicologia), e não há idiotas cursando esta cadeira. Bem, tem eu, que já me converti no "chato que faz as perguntas impertinentes", mas acho que na maioria dos casos colaborei para o bom andamento do conteúdo. Se continuar assim, é possível que ganhe o prêmio de "Melhor Cadeira do Ano". Tomara. Tem anos que nenhuma ganha.


No próximo post desta série, falarei das disciplinas que não estou matriculado, mas que estou pegando polígrafos emprestados dos colegas que estão matriculados: Esquizoanálise, Bioquímica e Sistemas de Classificação dos Transtornos Mentais.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Divindades

Quando a Psicologia e a Sociologia degeneram em ciências totalitárias, manifestam-se estranhos fenômenos entre seus adeptos. O desejo de poder domina o desejo de verdade. O conhecimento que se tem do homem passa a ser mais importante que o próprio homem. Adota-se por vezes, atitude de singular superioridade, como a de quem possuísse conhecimento absoluto, capaz de tudo penetrar e de tudo esclarecer. Dessas alturas, olha-se para as misérias humanas. Toma-se a posição de Ser Superior, que domina espiritualmente o mundo - o que se torna de um ridículo todo particular, quando se é pessoalmente um pigmeu.
-Karl Jaspers

A primeira coisa que lembrei-me ao ler este parágrafo do livro "Introdução ao Pensamento Filosófico" de Jaspers foi da atitude de certos representantes do CRP-RS e doutorandos da UFRGS, que provavelmente diriam que não concordam com a obra deste filósofo, o que a invalida automaticamente.

(Sei que já coloquei esta citação no blog dos Amoladores, mas vale a pena repetir)

13 de março de 2008

Passei cinco dias sem atualizar o blog. Wow. Quebrei meu recorde pessoal de procrastinação no Espadachim Cego.

sábado, 8 de março de 2008

Expressões do Português que são simplesmente geniais

"À Bangu". Não conheço nenhuma outra língua que tenha a possibilidade de expressar grandes volumes ou quantidades com tamanha elegância e deboche, pois só o português brasileiro têm uma expressão que parece ter sido inspirada em um presídio lendário pelas suas falcatruas e superpopulação.

"Pois é... Bangu I tinha preso à Bangu".

;)

O Oscar leva o prêmio de... "Pior Perda de Tempo do Ano"

Todo ano é aquele festerê: vai sair o Oscar para os melhores filmes do ano! A Veja faz uma análise dos candidatos, a Globo fala de todas as frescuras tradições da premiação e, no Dia D, exibe ao vivo a cerimônia, lá pela meia noite às três da madrugada. O maior motivo para excitação é o filme brasileiro concorrendo ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" - todo mundo quer saber pra qual país vamos perder desta vez.

O Oscar já passou esse ano, mas esta cerimônia é desprezível o suficiente para receber críticas o ano inteiro. Começa por ter uma categoria de "Melhor Filme Estrangeiro": a partir daí já fica claro de quem vai levar o bolo dos prêmios vão ser os filmes produzidos nos EUA, ou por cidadãos deste nobre país. Nada contra ter um festival de prêmios para o cinema nacional, mas a forma como o Academy Awards é panfleteado parece que não existe festival mais importante e internacional. Importante? Pratica e simbolicamente, por que vencer lá é ser reconhecido como sendo alguém tão bom quanto os americanos (o que para eles é muito). Internacional? Só na fachada.

Sabemos que filmes brasileiros não tem a menor chance de levar o Oscar, mas continuamos a nos empolgar toda vez que um filme brasileiro é indicado para concorrer ao prêmio de "Melhor Filme Estrangeiro". E sempre nos decepcionamos quando ele perde, apesar de já termos previsto este desfecho. Se ao menos os filmes que foram e são indicados fossem ruins. Mas o que acontece é o exato oposto, pois são filmes como "Central do Brasil" que representam o Brasil nessa competição. "Central do Brasil", aliás, recebeu outra indicação: Fernanda Montenegro concorreu para "Melhor Atriz". "Cidade de Deus" concorreu para "Melhor Diretor" e outros prêmios que de tão importantes não vou nem perder meu tempo citando.

"Cidade de Deus", antes do fenômeno "Tropa de Elite", foi o melhor e mais fiel filme retratando a história e a vida em favelas. Uma obra-prima de fato. "Central do Brasil" é um filme emocionante, bonito apesar de não esconder a violência e a miséria, com atores muito bons. Com juízes justos, teriam alguma chance de levar um dos prêmios.


Perderam todos.

É, perderam. Os frescos que anunciam o vencedor dizem "And the Oscar goes to..." ao invés de "And the winner is..." por que, segundo eles, todos que estão ali são vencedores. É. Tipo de explicação que dão para crianças da terceira série quando elas fazem merda e não ganham o campeonato regional de peteca. Deveriam dizer "winner" mesmo, por que eles estão cagando e andando de qualquer maneira.

E perderam por que? Filme brasileiro, por melhor que seja, nunca vai ganhar Oscar. Se ganhar, vai ser o de consolação de melhor filme estrangeiro. O diretor do primeiro filme brasileiro indicado para esse prêmio xexelento, "O Pagador de Promessas", nem se dignou a ir para a festa. Sabia que os bairristas não iriam dar prêmio nenhum para o filme. Pra que fingir que acredita?

Deveríamos fazer o mesmo, e parar de dar audiência para esse festival tacanha, bairrista e previsível, e nos preocuparmos em fazer coisas mais úteis. Dormir, por exemplo. É pra isso que a noite deveria ser usada.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Bixos

É engraçado ver como a entrada da turma de calouros muda completamente a dinâmica social que estávamos acostumados do Instituto de Psicologia. Primeiro, por que eu deixo de ser bixo para virar veterano, e aquela auto-imagem de ser "verde" no curso vai se esvaíndo, mas deixando no lugar uma sensação de ser um impostor, que não merece ser chamado de "veterano".

E segundo, por que são 40 caras novas na "Escolinha de Psicologia do Titio Lacan" que é nosso instituto. 40 só de Psicologia, por que temos mais um curso completamente novo, Fonoaudiologia, e suas 30 bixetes.

Hoje efetivamente começaram as aulas obrigatórias (minha primeira aula foi a infâme Processos Grupais I). Não foi o primeiro dia de aula dos bixos, pois eles tiveram que comparecer ao mal-falado Seminário de Introdução à Psicologia, mas hoje foi a primeira vez que pude observá-los nos intervalos das aulas. É um sopro de vida nova ver o que eles estão lendo e como estão reagindo: já conheço as minhas reações para as disciplinas oferecidas por cada departamento, já conheço as reações dos meus colegas e já mais ou menos sei o rumo que nossas discussões tomam. Nada disto acontece com os bixos. Tirando aquele um que outro que fez um pedaço do curso em outro lugar, são todos realmente "greenhorns" (iniciantes) nos verdejantes campos da Psicologia, e, tirando aquele um que outro que já fez algum outro curso na UFRGS, são todos filhos recém-nascidos da Grande Mãe URGS. Eles não estão condicionados como nós estamos, e as reações deles são (eu acredito) em sua maioria mais espontâneas. Claro, admito que já fizemos a cabeça de vários deles falando bem ou mal de alguns professores, disciplinas e/ou linhas teóricas (eu ainda não falei para nenhum deles como a Psicanálise fede a esterco de vaca), mas isto leva algum tempo. No momento, eles não foram subjetivados enquanto estudantes de Psicologia (o enquanto é obrigatório nessa oração).

Gosto de chegar de mansinho, e ver sobre o que eles estão falando. Segundo uma das bixetes, eu tenho até uma cara especial para isto. Pergunto o que estão achando das aulas, se estão sendo ruins como foram as nossas um ano atrás. Isto fica mais divertido ainda por que somos os primeiros veteranos do novo currículo. Os nossos veteranos podem dizer como foram as cadeiras antigas que foram modificadas do currículo antigo, podem dizer como foram os veteranos deles nessas mesmas cadeiras, mas não podem dizer como foram as nossas. Somos a "turma coringa do baralho", pois ninguém pode prever no momento como as coisas vão sair conosco. É barbada dizer que no currículo antigo 90% dos graduandos virava ou psicanalista lacaniano ou psicólogo social, e que só 10% ia para o Lado Desenvolvimento da Força Psi. Isso é bem diferente conosco, pois a estrutura do curso de graduação foi toda alterada. Isso se estende em menor grau para nossos bixos, mas podemos mais ou menos prever o quê eles terão de encarar na grande maioria das disciplinas (exceto aquelas que foram devidamente remodeladas graças às inúmeras calúnias por nós proferidas).

Com a Fonoaudiologia, o território é ainda mais desconhecido, pois não é só um currículo novo: é um curso inteiro feito do zero, e que não "pertence" apenas à Psicologia, pois eles têm aulas em quase todos os campi da UFRGS. Posso dizer com um grau de certeza bem elevado que eles vão se foder mais do que a gente com o constante remodelar e alterar das disciplinas, e que eles (elas, aliás) vão forjar a personalidade inerente ao curso durante os próximos 4 anos de faculdade. Elas são ainda mais interessantes de bater papo: é um curso que só tem quase mulher, 28 contra 2 homens, sendo que um tem namorada, o que já torna tudo muito mais interessante pra muito cueca por aí, e que cujo conteúdo está numa intersecção da Psicologia com a Odontologia (a outra unidade orgânica envolvida na criação do curso). Com certeza, o curso de Fonoaudiologia terá uma personalidade diferente de Psico e de Odonto, mas vai ter elementos dos dois. Um dos estudantes de Fono (homem mesmo) já procurou o DCE para ver como se faz para criar um Diretório Acadêmico para o curso bebê. Sugeri que o nome seja Centro Acadêmico de Fonoaudiologia - CAFONO, e que ele apareça na próxima reunião do DAP para ver os detalhes burocráticos dessa indiada que eles estão planejando. Pretendo, sempre que possível, bater um papo com os Fonos, apesar de suas aulas serem de manhã e nem sempre no Campus Saúde. Gosto de gente nova, tanto do meu curso quanto de outros cursos, por causa da variedade de idéias novas que surgem com eles. Quase todas estas idéias invariavelmente irão morrer, asfixiadas pelo academicismo e pelas idéias que mandam agora por lá. É melhor aproveitar e falar com estes bixos cedo em seu primeiro ano, antes que o genocídio mental comece.

Em 2009 está prevista a criação do curso de Serviço Social, pelo Departamento de Psicologia Social e Institucional. Daí a coisa vai ficar bem mais interessante.

...

Não, eu não vou escrever um post sobre atualizar o blog :)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Um mistério resolvido

Aqui em casa, toda vez que entrava na cozinha e olhava para o armário da despensa, sempre via duas formigas, daquelas pretas e grandes. Imaginava "devem ter achado comida" e esquecia do assunto. Hoje confirmei de uma vez por todas por que elas estavam sempre lá. Como o preparo da potcheca para o passa ou repassa com os nossos bixos hoje precisava de açúcar, e por eu ser o que mais perto mora da faculdade, pediram gentilmente que trouxesse um pouco de açúcar de casa. Como tem pelo menos 3 kg no armário, achei que não seria problema. Daí que eu descobri que um dos sacos estava aberto, e os grãozinhos brancos se esparramaram por todo o armário. Ajudei uma microcivilização a se desenvolver. Ainda tem uns restos por lá, mas eu vou deixar para as formigas, que elas vão limpar muito melhor do que eu iria. Isto é o que se chama em biologia de mutualismo.

domingo, 2 de março de 2008

Foco

Vou fazer um pequeno exercício, e tentar definir quais são os interesses abarcados por este blog.

Originalmente, o Espadachim Cego foi criado para ser um diário meio emo, em que eu ficaria falando de mim mesmo, como eu sofro, como sou diferente e todos me odeiam e como eu odeio eles de volta. Bem, tirando a parte emo (e a de que eu tenho um certo grau de misantropia), é bem verdadeiro o que falei, pois o blog é sobre minha pessoa. Falo também das minhas aventuras, no meu próprio apartamento e no infinito e além dele, como relatos de viagens e aulas e coisas do gênero.

Então, comecei a falar de assuntos que, apesar de se relacionarem a mim em última análise, são muito mais científicos do que egocêntricos. As ciências abordadas são variadas, mas sempre abordo a parte humana delas. Psicologia, Sociologia, Ciências Políticas e Biologia. Portanto, o blog também é sobre Ciências Humanas, e um pouco sobre Ciências Naturais (tratando do lado animal do ser humano, nevertheless). Mas nada impede que eu comece a falar de Engenharia Elétrica um dia desses, considerando que um colega meu é formado nisso e faz mestrado em Informática (que tem tudo a ver com Engenharia Elétrica, apesar de não parecer).

Mas também levantei questões filosóficas, sobre qual seria o caminho correto a seguir, como devemos estudar o mundo e com que meios. Resumindo: falei de Ética, Epistemologia e Lógica. E devo ter falado bastante de Ontologia nos posts quasi-científicos.

Mas além destes assuntos sérios, também falo de bobagens como o Reino das Formigas, que frequentemente organiza raid parties (incursões de ataque, algo bem diferente de rave parties) na minha cozinha e outras bobagens que parecem ter sido digitadas com a bunda por alguém que acabou de tomar bala (ácido ou chumbo, tanto faz). Falo também de Kung Fu, Espiritualidade e Transcendência (que são coisas sérias, a propósito).

Enfim, o foco deste blog tem a mesma amplitude que meus interesses. E é tão aleatório quanto.

O Jogo Geográfico e Econômico da Política

Política é uma coisa engraçada. Engraçada por que, coisas que por si só não tem grande valor, em certas circunstâncias de relevância política, tornam-se importantes também. E coisas que são importantes em um sentido pragmático tornam-se mais importantes ainda devido ao seu simbolismo.

Tomemos como exemplo as prévias para candidato à presidência dos Estados Unidos da América. Nas prévias, os candidatos dos dois principais e mais poderosos partidos, o Republicano e o Democrata, são escolhidos em algo que poderia se chamar de pré-eleições, e que no fim acabam servindo como um termômetro da popularidade dos candidatos escolhidos. Mas a coisa não é lá muito simples, pois há dois processos diferentes de votação nas primárias: as votações primárias em si, em que eleitores sem qualquer filiação política podem votar em qual candidato eles gostariam de ver concorrendo para a vaga na Casa Branca, e os Caucus, que envolvem votações com apenas membros do partido. Mas apesar disso, não são os eleitores quem decidem diretamente quem ganha: são os delegados de partido. Os delegados de partido são obrigados a votar no mesmo candidato que seu estado votou, portanto, se nas prévias 50% dos eleitores votaram no candidato X, 50% dos delegados vão para X. Só que existem os Superdelegados, delegados comuns que exercem cargos executivos importantes no partido, como presidente estadual. Eles podem votar em quem eles quiserem, não importa o que os eleitores do seu estado decidam. Last but not least, cada estado decide quando as prévias e os caucus serão realizados.

Só as informações contidas no parágrafo anterior são suficientes para dar um nó na cabeça de qualquer um, mas são apenas os dados quantitativos das prévias. Os dados qualitativos complicam o entendimento e o decorrer das prévias de maneiras muito piores.

Como disse antes, algumas coisas ganham mais importância do que realmente deveriam. Nesta eleição, as prévias começaram no estado de Iowa - que possui algo em torno de 65 delegados para os dois partidos, o que não é muito expressivo numericamente. Mas, por ser a linha de largada da eleição, ganhar aqui é fundamental. Hillary Clinton, que antes de toda a inana começar era considerada a favorita dos democratas, tomou um tufo em Iowa e terminou em terceiro lugar - começou com o pé esquerdo. No outro lado da moeda, eventos importantes por si só ganham muito mais importância por causa de seu simbolismo. Foi o que aconteceu com a Super-Terça. A terça que virou super foi 5 de fevereiro - o dia que mais de 20 estados decidiram fazer suas prévias eleitorais, colocando em jogo milhares de delegados. No lado democrata, quem levasse a Super-Terça para casa levava a candidatura para a presidência também - ou pelo menos, sairia tão na frente que seria difícil alcançar. E no fim, o que aconteceu foi um empate técnico, que levou os pré-candidatos a terem que encarar uma luta muito mais prolongada. Para Hillary Clinton e seus aliados, isso foi um banho de água fria - e um tempero amargo para os salgadinhos caros que tinham sido comprados para antecipar sua vitória sobre Barack Obama, o azarão deste ano. Já para Obama, isso foi muito vantajoso, pois mostrou para os eleitores indecisos que valia a pena votar nele, pois ele tinha uma chance real de ganhar. E depois da Super-Terça, dos 11 confrontos democrátas, ele levou todos. Foi uma verdadeira surra de pau mole, que deixou Hillary & Friends desmoralizados e desmotivados. Afinal, quem vai votar num pré-candidato que já saiu perdendo?

A última prévia/caucus que aconteceu foi no Hawaii e no Wisconsin, em 19 de fevereiro, este último meu estado de adoção. Em termos práticos, o Wisconsin não é grande coisa no plano político americano: população pequena, majoritariamente de colarinho azul (trabalhadores assalariados da indústria) e de baixo poder aquisitivo. Em outros anos, ninguém daria a mínima para o resultado do Wisconsin, mas neste ano ele foi crucial, pois eleitores de colarinho azul são parte importante da base de votantes de Mrs. Clinton, e perder ali deixaria claro que este setor importante está migrando para Obama. Além disso, ela precisava mostrar que era capaz de ganhar de Obama e que ainda podia lutar pela cadeira da Casa Branca. Tomou outro tufo, e ficou 17% atrás de Obama.

Depois da Batalha do Wisconsin, uma trégua: as próximas prévias seriam apenas em 4 de março, em Ohio, Rhode Island, Texas e Vermont. Apesar de Ohio e Texas serem os mais importantes em números de delegados para os democratas (161 e 228, respectivamente), os estados de Vermont e Rhode Island (23 e 32 delegados, respectivamente) são considerados importantíssimos. Primeiro, por que se Hillary ganhar lá, ela mostra que a luta para ela não está perdida ainda. Mas há mais por trás disso: Rhode Island é tradicionalmente um reduto democrata nas eleições gerais, e principalmente, é um reduto de eleitores do clã Clinton. Perder ali é perder toda a credibilidade para Hillary. Complicando um pouco mais as coisas neste 4 de março, o sistema de pré-eleições no Texas é provavelmente o mais bizarro dos EUA inteiros, por ser uma mistura de prévias com caucus que ninguém entende, exceto, como disse uma colunista do The New York Times, quem tem doutorado em Física Quântica.

As próximas prévias são consideradas a batalha final de Hillary por muitos, ou no máximo, sua última chance de ganhar alguma coisa e mostrar que tem força para concorrer pela presidência.

Outro fenômeno importante que se tornou mais importante ainda é a arrecadação e administração de fundos para a campanha - Obama quebrou recordes de arrecadação e sua campanha é um exemplo de dinheiro bem investido, ao passo que Hillary, que arrecadou bastante mas ainda assim muito menos do que Obama, tem sido extremamente criticada pelas constantes cagadas da coordenação de sua campanha, que chegou a gastar em um mês 1200 dólares em rosquinhas. Além dela sofrer as conseqüências práticas de ter menos dinheiro, ela tem que responder perguntas dos eleitores do tipo "como posso confiar que a senhora vai administrar bem a economia do país se não consegue administrar a própria campanha decentemente?"

A questão do dinheiro arrecadado também traz outros problemas à reboque, como um trato feito entre o candidato quase certo à presidência John McCain e Obama de usarem verbas federais de campanha e limitarem os gastos. Na época, valia a pena para Obama vender uma imagem de político ético, pois tinha pouco dinheiro à disposição. Mas agora que ele tem pelo menos mais de 50 milhões de dólares à sua disposição, parece ser um tiro no pé. McCain, que apesar de popular tem pouco pila vai encher o saco de Obama com certeza se ele não cumprir com sua palavra.

E, indo na direção contrária do fenômeno que descrevi no primeiro parágrafo, eventos importantes pragmática e simbolicamente, dentro de certos contextos deixam de ser tão importantes quando deveriam ou costumavam. Por exemplo, Hillary Clinton levou as prévias de New York, New Hampshire, New Jersey e California - 281, 121, 127 e 441 delegados respectivamente, e que juntos são os estados que mais representam os EUA - tanto dentro do país quanto fora. E o fato dela ter ganho nestes importantes estados perdeu quase toda sua importância, porque Obama ganhou em todos os outros! O coordenador da campanha de Hillary, depois de uma das 11 derrotas que ela sofreu, frequentemente vinha falar ao público que o estado recém-perdido não representava os eleitores dos EUA - fato que virou a piada dos "40 estados que não representam os eleitores dos EUA".

Há muitos outros fatores na política, especialmente nos EUA, que influenciam os eleitores, mas são demais para um post só. Talvez outro dia eu fale mais sobre isso.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 5)

Como amanhã finalmente começam minhas aulas, acho que agora é uma boa hora para falar das minhas expectativas para com elas. Provavelmente as piores expectativas que tenho serão piores do que espero, e as melhores me decepcionarão. No final do semestre, farei uma análise comparando o que esperava das aulas com o que elas realmente foram.

Terceiro Semestre

Psicopatologia I - Obrigatória
Preview:
Esta cadeira vai ter um viés extremista e unilateral bem psicanalítico, e portanto previsível. Aposto que 90% dos meus colegas vão detestar estas aulas, mas 85% vão arranjar uma desculpa outra para este desgostar que não seja "a aula é realmente uma merda e sou sincero o suficiente para admitir". Garanto que vou me estranhar com a professora. E muitos colegas de arrasto também.

Processos Grupais I - Obrigatória
Preview:
Antigamente, esta cadeira se chamava "Dinâmica de Grupo". No currículo novo, mudou de nome, mas manteve o professor e a controversa metodologia. Esta é uma cadeira divisora de águas segundo muitos de nossos veteranos - e ou se ama as aulas com todo o coração ou se odeia até a última fibra do ser. Outra coisa que ouvimos falar muito é que o professor age como se não tivéssemos outra aula para atender que não seja a dele, pois passa relatórios e mais relatórios, um mais fodido que o outro. Além disso, ele é grosso com os alunos, de acordo com alguns veteranos (que provavelmente odiaram a cadeira, e talvez tenham uma visão muito unilateral dos fatos). De um destes veteranos recebi a sagrada tarefa de chinelear sempre que puder as aulas - ele fez isso e, nas próprias palavras, comprou uma nota B, mesmo sabendo que merecia um A. Considerando minhas experiências anteriores com grupos vivenciais, tenho a impressão de que não vou gostar desta aula. Mas veremos.

Processos Institucionais - Obrigatória
Preview:
Tirando o fato de que esta era uma cadeira do quarto semestre, e que ela foi transferida para o terceiro semestre por uma cagada de comunicação com o professor de Psicofarmacologia, não tenho maiores detalhes desta disciplina. Se conheço bem minha faculdade, esta cadeira vai ser uma "Psicologia Social III", só que com outro nome, e portanto menos sincera. Aposto que vai ser mais uma aula de pura encebação, cheia de discussões vazias (que contradição) e discursos politicamente corretos e anarquistas (de quintal) sobre as instituições. Bleh.

Estatística Aplicada à Psicologia - Obrigatória
Preview:
Matemática. Um pouco de solidez neste mundo de espelhos e fumaça que é a Psicologia. Acho que vou ter que sofrer um pouco, pois sinto que minhas habilidades matemáticas estão meio enferrujadas, mas acredito que, ao contrário da minha turma, vou gostar das aulas.

Seminário de Pesquisa em Psicologia - Obrigatória
Preview:
Mais um daqueles seminários integradores. Aqui estou junto com minha turma, e não tenho grandes expectativas de que esta seja uma aula produtiva. Ainda assim, como tivemos uma experiência com seminários bisonhos no ano passado, talvez seja diferente este ano. Em todo caso, vou ter sempre um livro a mão caso a aula seja insuportável demais.

Prática de Pesquisa em Psicologia - Obrigatória
Preview:
Na verdade, ninguém se matriculou nesta disciplina, por ordem da COMGRAD, mas vamos ter que participar de um grupo de pesquisa existente no Instituto. De certa forma, é uma cadeira eletiva, já que quem escolhia o grupo eram os alunos - apesar de TEREM QUE escolher. Promete ser um tipo de atividade que nunca fiz antes: fazer uma pesquisa e apresentar o resultado em um congresso. Boas expectativas a respeito dessa.

Teorias da Personalidade - Obrigatória
Preview:
Na minha opinião, a obrigatória que mais promete dar certo este semestre, pois seu assunto são as teorias da personalidade, provavelmente mais as que já conhecemos, mas teremos mais teorias de outros ramos que não conhecemos tão bem. Isso é muito bom. Mas a chance de dar errado e ser uma aula de bosta também é grande. Como sempre na Psicologia.

Esquizoanálise - Eletiva
Preview:
Lembram-se que eu disse neste mesmo blog que eu não iria fazer esta cadeira? Pois bem, menti. Vou fazer. Ou melhor, vou ouvir. Pretendo dar umas passadas nas aulas presenciais e participar como aluno ouvinte. Desse modo, posso aproveitar o conteúdo se for bom sem me foder com as notas. E se não gostar do assunto, não preciso mais dar as caras.

Psicologia Humanista - Eletiva
Preview:
Apesar de eu ter sido o maior campeão para a realização desta cadeira, não espero grande coisa. Primeiro por que entendo do assunto mais do que meus colegas, e segundo por que a Psicologia Humanista é, até onde pude analisar, muito parecida com a Esquizoanálise. Claro, há muitas diferenças gritantes e importantes, mas ambas provêm do mesmo antro de psicólogos afrescalhados que gostam de problematizar as coisas. A chance das aulas caírem em chatíssimas discussões teóricas sobre o sexo dos anjos é grande, apesar do potencial que o assunto tem de ser bacana. Outro problema é que, por abordar muitas linhas de Psicologia Humanista diferentes (entre elas a Psicologia do Ser, yay!), o conteúdo vai ficar meio diluído.

Terapia Cognitivo-Comportamental - Eletiva
Preview:
Se os esquizoanalístas e os psicólogos humanistas vêm da Frescolândia, os Terapeutas Cognitivos-Comportamentais vêm do Deserto de Skinner, e são pragmáticos e avessos à frescuras (em sua maioria). Uma cadeira que promete ser mais positiva do que negativa, mas que mesmo assim não me traz grandes expectativas. No início da faculdade, TCC era o assunto que mais me interessava. Ainda me interesso, mas bem menos. Veremos como vai ser.

Bioquímica Aplicada à Psicologia - Eletiva
Preview:
No momento, por causa de colisão de horários com Psicologia Humanista, não pretendo cursar esta cadeira. Mas, se PH mudar para um horário à noite como muitos dos interessados pediram, eu faço. Caso contrário, PH é prioridade. Em todo caso, se conseguir cursar Bioquímica, acredito que vai ser uma das aulas mais instigantes e fierosas, por assim dizer, pois tenho muita dificuldade para entender química. Mas gosto de desafios e tenho quem me ajude a entender essa ponhoca.