terça-feira, 26 de setembro de 2006

Um breve resumo da minha longa e rica carreira militar

Dia 26 de setembro de 2006. Desde antes de eu ir para os Estados Unidos, este dia estava marcado como o dia em que eu me alistaria no Exército Brasileiro.

Hoje foi o dia.

Me apresentei às 7 da manhã, na sede do Terceiro Grupo de Artilharia Anti Aérea, o Terceiro GAAAe, pois a pátria requeria meu sacrifício.

Desde que me conheço por gente, um dos assuntos mais comuns entre homens brasileiros é o serviço militar: os que já passaram pela experiência falam como foi duro e sofrido ser soldado raso ou ser aluno do NPOR (Núcleo Preparatório de Oficiais da Reserva); os que ainda estão para passar por esta experiência, falam sobre como escapar da vida de quartel, ou como suportá-la. Comigo não foi diferente, e várias vezes já discuti com meus amigos sobre os métodos obscuros de seleção dos soldados, a qualidade do equipamento militar (caindo de podre), a vontade e os meios de não servir ou como seguir carreira.

As opiniões divergem: uns querem servir e seguir carreira, outros tem aversão a tudo que seja oriundo do exército. Já tive as duas opiniões. Hoje de manhã, só queria ir para o quartel, me apresentar e ficar livre de uma vez por todas do terror de ser peão (nome para "soldado raso" em miliquês). Descreverei meu caminho pelo quartel em etapas:

Primeira Fase: A Entrada

Cheguei no quartel, exatamente às 7 horas da manhã, e entreguei meu certificado de alistamento para um soldado que estava ali por perto. A pontualidade provou ser uma desvantagem. De cara, tive que entrar em uma fila e esperar os atrasados, para daí então passar pelos exames de fato. Depois que todos os candidatos chegaram (pelo menos a maioria), nos levaram até o ginásio da base, onde todo um esquema tinha sido preparado para nos receber e nos selecionar.

Segunda Fase: O Paciente Inglês

No ginásio, um capitão ("com grande satisfação") nos explicou sobre a lógica do processo de seleção, que no fim não me pareceu tão abstrata como dizia a lenda: quem tivesse estudado até o Segundo Ano do Segundo Grau concorreria a uma vaga como soldado raso, e quem tivesse cursado ou ainda estivesse cursando o Terceiro Ano do Segundo Grau ou alguma faculdade, seria candidato para aluno do NPOR. "Menos mau" pensei "pelo menos me fodo com honras como oficial". A procura por médicos, dentistas e veterinários parece ser grande, pois perguntaram com bastante ênfase se algum de nós alistandos cursava alguma destas faculdades. A seleção não consiste apenas de escolaridade, contudo. Antes de mais nada, faríamos um exame odontológico, e logo em seguida, um exame médico, ambos muito breves. Depois disto, tiraríamos nossas medidas corporais como peso e altura, para fins de registro. Em seguida, nos passaríam uma prova, provavelmente para confirmar que sabíamos ler e escrever, e logo após, uma entrevista cara a cara com um oficial ou sargento. No final, aqueles que cursam ou cursaram o Segundo Grau faríam mais uma prova, de conhecimentos gerais ("Qual é a capital do Burkina Fasso?" e merdas do gênero).

Depois que o capitão terminou sua breve explicação, começamos a ser chamados para mostrarmos algum documento como carteira de identidade ou certidão de nascimento, e com isso, comprovarmos que realmente nos apresentamos no dia marcado, para então fazermos o exame médico.

Durante a nossa espera, foi nos concedido o privilégio de assistirmos uma fita de propaganda das Forças Armadas do Brasil. Tirando o propagandismo descarado, eram interessantes.

Terceira Fase: O Efêmero Exame

Fui chamado para fazer os exames médico e dental. Claro que tive que esperar novamente, pois sempre iamos em grupos de 10 para o exame. Uma dentista (e única mulher que vi fardada) analisou a nossa saúde bucal, na consulta odontológica mais rápida da minha vida: 10 segundos. O exame médico foi um pouco diferente. Cada candidato ficou em um box, de pé, e um médico (ou pelo menos um enfermeiro) falou pessoalmente por 30 segundos com cada um de nós (foi um aumento de 300% no tempo da consulta). Mostrei alguns exames para este suposto médico. Ele leu algumas linhas, e escreveu algo no crachá que eu estava usando. Quando nos chamaram para o próximo teste, eu e alguns outros ficamos para trás, e fomos imediatamente mandados de volta para as cadeiras da espera. Fui dispensado.

Quarta Fase: A Longa Espera

Fui dispensado, mas continuava dentro do quartel, com a diferença que agora eu não tinha esperança de fazer mais nada a não ser esperar. Essa espera foi o verdadeiro teste de resistência: agüentar 3 horas sentado, olhando pela terceira vez os vídeos de propaganda das Forças Armadas. Rebobinaram a fita e passaram a fita de novo 3 vezes. Acho que o Exército estava nos testando, para ver se seríamos bons espiões e informantes, que não revelariam nenhuma informação relevante sob tortura. Acho que me saí bem, pois não me joguei no chão implorando pela minha mãe depois de ver o mesmo filme sobre a Escola de Sargentos do PQP. Foi duro, mas eu sobrevivi.


Quinta Fase: Quebrando a monotonia

Depois de horas infindáveis, o capitão teve pena de nós CDIs (dispensados do serviço militar) e nos deu uma folga, pois nos foi permitido sair do quartel para pagarmos na agência dos Correios uma taxa de documentação que ainda não entendi porque tivemos que sair para pagar... mas não importa! Pude sair daquele ginásio quente, e pude olhar para... para... bem, qualquer coisa era mais agradável que aqueles vídeos naquela altura do campeonato.


Sexta Fase: Quase um "Sieg Hail!"

Mas faltava uma coisa ainda: o juramento à bandeira, e eu não poderia sair do quartel. Fomos para o lado de fora do ginásio junto com um tenente, que ficou nos falando sobre levar nossa escova de dentes e mamadeira para algum lugar caso fossemos convocados para serviços extraordinários e outras besteiras. Mas isso não importa agora. Ele nos ensinou duas coisas (supostamente) importantes: as posições de ordem unida para o juramento e o juramento à bandeira. Ele ficou bradando "SENTIDO!" e "DESCANÇAR!" por uns 10 minutos. Já conhecia a rotina dos escoteiros. O que aprendi de novo foi o "POSIÇÃO!" para saudar a bandeira. A primeira coisa que pensei quando ele nos mostrou como deveríamos fazer foi "Mas só falta um 'Sieg Hail' aqui pra virar quartel nazista".

O Juramento em si é um caso a parte. Tivemos que ficar treinando o que tinhamos que dizer, com o tenente nos chamando de bichinhas por falarmos baixo demais ou fora de ordem. Demorou, mas foi.


Sétima Fase: A Carta de Alforria

Feito o juramento, recebemos o que me disseram ser a minha "Carta de Alforria": o documento de reservista. Eu sou um reservista do Exército Brasileiro agora! Não é supimpa?

E assim, termina minha carreira militar. Pena que me dispensaram. Com toda a experiência que tenho em jogos de estratégia, eu seria um ótimo general.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

7 de Setembro

Hoje, dia 7 de setembro de 2006, comemoramos a independência brasileira do jugo opressivo da coroa de Portugal, graças a valentia de Dom Pedro I, que bradou às margens do rio Ipiranga "Independência ou Morte!". Como é de praxe, praticamente todos os blogs brasileiros (e talvez alguns portugueses e de algum país africano de língua portuguesa) estão atualizados hoje com um post ufanista, falando da nobreza e grandeza de nossa pátria, ou clamando que nosso país deixou de ser independente de Portugal apenas para se tornar um escravo dos ingleses e dos americanos, ou que ainda temos que corrigir muitas injustiças em nossa terra antes de podermos dizer que somos realmente independentes.


Acho que já escrevi todas as três opções acima como dever escolar, e já li dezenas de outros iguais. Como não é mais original criticar ou elogiar o Brasil neste dia, decidi inovar completamente:


Estou usando meias novas.

Feliz 7 de Setembro, e vá ver a droga do desfile.

domingo, 3 de setembro de 2006

Se a vida é uma festa, não é uma balada

Toda vez que vou em alguma casa noturna aqui em Caxias (são poucas estas vezes, posso garantir) e conto para alguém, sempre me perguntam "A festa foi boa?"

Os padrões que definem uma festa boa sempre foram muito elusivos para mim, afinal, todas as vezes que fui foram iguais: ficar bebendo grandes quantidades de álcool ouvindo música alta, andando em meio a uma multidão caótica e espremida, olhando para luzes fortes demais para meus olhos, envolto por uma nuvem de fumaça de cigarro. Todos os seus sentidos são anulados, e fica apenas a sensação de ter tomado uma anestesia. Estranhamente, não sinto prazer algum nisso tudo.

"Como não? Cair na night é tão bom!" algum leitor incauto deve estar exclamando a esta altura do campeonato; "Eu e meus amigos saímos pra curtir desde os 12 anos de idade*, e sempre gostamos. Como é possível que você não goste?" diz outro.

Claro que gostam: vocês foram condicionados para isso. Se não o fossem, achariam, no mínimo, uma besteira.

Não tenho nenhum motivo para "cair na night", a começar que night é noite em inglês, e substituir a palavra portuguesa pela inglesa sem necessidade é algo de mau gosto. A primeira vez que fui em uma balada (que nome idiota!) foi quando tinha 14 anos. Depois de apenas meia hora lá, já fui carimbado com um jato de vômito alcoólatra. Boas lembranças de uma boa festa? Sinceramente, não sei por que este tipo de festa deveria ser divertido. Festas são divertidas, sim, ou seriam velórios, mas por que uma festa deve ser necessariamente entornando o caneco num lugar fechado, fedido, barulhento e com gente saíndo pelo ladrão? É pelas pessoas que vão lá, nestes buracos de lixo chamados "casas noturnas"?

Aprendi que sofro mais do que a maioria das pessoas nestes locais, pois tenho uma audição mais sensível que o normal, e qualquer som mais alto do que de costume me maltrata; a cachaça me anula a gustação, pois não bebo tanto assim**; todo aquele povo amontoado em um espaço equivalente ao de um box de chuveiro inutiliza o tato; o cheiro do cigarro inibe o olfato. Sem os meus 5 principais sentidos, toda e qualquer habilidade sensorial minha se vai, e meu (ainda) fraco Sexto Sentido é perdido por um longo tempo. A sensação de ficar completamente desnorteado e sem chão por baixo dos pés que sinto em uma balada é terrível.
Claro, claro, depois de um tempo vicia ir nestas porcarias, e se começa a gostar. Vomitar também, se você vomitar sistematicamente todos os dias. Comer merda também. Festa na minha humilde opinião é reunir os amigos, falar bobagem, lembrar do passado, comer churrasco, e não ficar completamente fora da casinha e se sentir péssimo. Mas claro, eu tenho gene recessivo para este assunto.






*Com doze anos vocês deveriam estar subindo em árvores e limpando ranho na manga da camisa. Espera! Vocês faziam isso, só quando ninguém do sexo oposto estava olhando!
**E o nome do blog para qual escrevo é "Roqueiro e Alcoólatra". Que paradoxo.